6.– No calor do frio de Orcus.

Capítulo sexto

Ano 2376 no cinturão de Kuiper num planetóide trans netuniano, chamado Orcus.

Os trajes espaciais eram desconfortáveis, mesmo após todos os avanços tecnológicos ainda era extremamente desconfortável andar em um planetóide tão gelado, sem quase nenhuma gravidade e num lugarzinho esquecido na borda do sistema sol, um lugar que não tinha atrativos, nem metais caros, e que por algum motivo sua exploração era proibida a pelo menos duzentos anos.



— Comandante Pinheiro! Posso perguntar uma coisa? O hálito quente da alferes Mhirnal embaçava temporariamente a frente de seu capacete espacial, com alguns cachos de seu cabelo lilás caindo sobre a testa, enquanto caminhava aos pulinhos na direção indicada pelos tricorders.

— Não faz parte de nosso trabalho fazer perguntas, ainda mais quando se trata de nosso departamento, ele devia ser o mais discreto da frota alferes, mas sei que fará de qualquer jeito, sendo assim, que pergunte pra mim — respondeu .

Ela deu um sorrisinho maroto, para o lindo humano de pele negra, que tentava fazer uma cara de indiferença e perguntou:

— Nunca se perguntou, o por que depois de tantos anos esse pedaço de rocha está aberto a exploração?



O dr. Pinheiro deu um sorriso brando e perfeito e respondeu:



— Não é exploração alferes, é resgate, e, também rever um velho conhecido.



A moça parou diante da entrada de uma caverna e enquanto seu tricorder apitava. Ela olhava para seu superior em busca de autorização para continuar.



Ele tomou a frente, e passando a mão por uma das paredes da caverna acessou um painel. Digitou alguns comandos e a caverna se iluminou, e onde jazia uma enorme parede de rocha, uma caverna. Dezenas de vezes maior ficou visível, mostrando o que tirou o fôlego da jovem, uma nave da classe Intrepid escondida na caverna, e protegida por paredes holográficas.



Ainda estava se recuperando do choque quando, um homem se materializou na frente deles, ele era careca, usava um uniforme antigo de ciências; era familiar, a lembrança veio muito rudemente e ela sem segurar a surpresa exclamou:



— EMH1. Como assim?



O Médico abanou a cabeça em desaprovação e o dr. Pinheiro tentou não rir.



— Bem Doutor, desta vez foram cinco anos, mas agora finalmente a data chegou, o resto da equipe médica chegará em algumas horas, você terá alguma ajuda na tarefa de tirar a tripulação do estase criogênico.



— Quem sabe assim finalmente possa conhecer o resto da tripulação! — Observou o médico com um sorriso que logo se apagou. — Apesar de estarmos regularmente averiguando os pods de estases, tem certos problemas que só vão se manifestar quando cada um acordar, espero que nenhum se perca.



— Temos que ter cuidado

A aproximadamente quatrocentos anos atrás.

Mais tarde, nos aposentos da capitã;



Após o jantar ambos sentados no sofá ela com café, ele com chá:

Por causa dos acontecimentos eles adiantaram seu jantar semanal. Era um jantar de trabalho, pelo menos era o que o comandante Chakotay pensava, por isso ficou surpreso quando chegou e a capitã estava com roupas civis; uma calça jeans preta com uma Blusa de Alça Branca, para seu prazer ou desespero, ela estava visivelmente sem sutiã.



Ele estava tentando bravamente não olhar para os mamilos que, livres do sutiã, marcavam o fino material da blusa, será que ela não tinha ideia do que fazia com ele se vestindo assim? Depois de seis anos ele já tinham passado por tantas coisas, ambos já tinham tidos tantos outros amantes, e mesmo assim ela ainda tinha esse poder sobre ele, e vê-la num corpete e cinta liga não ajudou muito, e ele estava com muita raiva de si por isso.



Ele estava ainda perdido em seus pensamentos, enquanto a capitã falava, e falava…



— Não me arrependo de ter liberado a maestrina sem lhe tirar a memória, ela merecia isso afinal de contas, além do mais quem acreditaria nela? O nosso problema é outro, a decisão já foi tomada, e não temos outra opção, Entrar em estase, é arriscado devido ao longo tempo que vamos ficar congelados, passa em pelo menos duzentos anos o último recorde de estase bem sucedida… Chakoyay está me ouvindo?



— Desculpe capitã. É que estou muito cansado, ainda tenho que terminar o relatório, posso me retirar? Amanhã vai ser um dia cheio teremos que fazer as últimas verificações…

Ele estava irritado e visivelmente cansado, desde quando Kathryn se deixou assimilar para dar liberdade aos drones da Unimatrix, ele está fazendo o máximo para manter apenas o profissional, doía demais ser apaixonado por uma mulher como ela.

Ironicamente as mesmas qualidades que a faziam tão atraente e admirável, também tornava o ato de amá-la tão perigoso.



— Eu entendo comandante, boa noite.



Kathryn ficou decepcionada, ela tinha se vestido para ele, tinha adiantado o jantar, mas ele estava sempre tão distante, com certeza não queria estar ali, como em todas as outras vezes ela sinalizava e ele ignorava, ou fugia, nunca tomava a iniciativa que ela não poderia tomar, pois seria abuso de autoridade e assédio, pois ela era seu superior.



Era hora dela aceitar !



Foi tudo imaginação, ilusão de seu coração solitário, ele nunca lhe quis de verdade, Nova Terra? É brincadeira? Ele estava completamente sem opções, no desespero ele pegaria até o Tom, inferno.



“Se enxergue, você nem é o tipo de mulher que ele gosta.”

Disse uma vozinha irritante, que veio do fundo de sua cabeça.



De repente ela se sentiu exposta, e se abraçou como que se cobrindo.



Ele viu sua expressão corporal, e o familiar olhar triste que às vezes piscava como um relâmpago em seus olhos, mas logo ela estava bem e sorridente.

Ele estava quase saindo quando ela o chamou.



— Chakotay espere. — Ela ficou na frente dele e tentando esconder o medo falou:

— Vai ser muito arriscado, se formos realistas poderemos não acordar desse sono.

Ela levantou a mão levemente e acariciou seu rosto, mas devido ao olhar de surpresa dele tirou a mão rapidamente;

—Desculpe, acho que estou muito emotiva, mas saiba que você é muito importante para essa tripulação e todos te amam, e eu não conseguiria chegar aqui sem você…você é o melhor amigo que alguém poderia ter.



“Amigo” é isso então — pensou ele e sorriu, ela se levantou nas pontas dos pés e lhe deu um beijo na bochecha.



Em dois dias eles estavam em estase.



Ele já tinha ficado em estase antes, mas dessa vez o retorno foi dolorido e ele quase se perdeu, ele ouvia toda a movimentação desesperada que acontecia ao seu redor mas não conseguia mexer um músculo sequer. Uma horrível sensação de morte em vida, mas aos poucos seu cérebro se reconectou com seus nervos e os movimentos estavam de volta, ele abriu os olhos na esperança de que um rosto amado estivesse esperando por ele, mas lá estava o Doutor, acompanhado de uma bela alienígena e um outro oficial de ciências, ele se desesperou.

— Kathryn— ele gritou com tudo que tinha.

O Doutor, com um rosto sério, o ajudou a se sentar no Biocama.

— Calma comandante, esse aqui é o doutor Pinheiro e sua assistente, ele e sua equipe estão nos ajudando a acordar a tripulação.

— O Capitão deveria ser o primeiro a ser acordado — disse ele preocupado com a falta de objetividade do médico.-— Ela ordenou que ela fosse a primeira a ser acordada.

Os médicos se entreolharam.

— Comandante Chakotay, quando esse plano foi elaborado, todos estavam cientes dos riscos.



Chakotay escutou a frase como um mantra desde que seu cérebro acordou, ele foi tão estúpido, ele sempre vai ser um maldito contrário?



” Vai ser muito arriscado, se formos realistas poderemos não acordar desse sono... você é muito importante ´para essa tripulação e todos te amam, e eu não conseguiria chegar aqui sem você…”

— Por favor Doutor, onde está Kathryn?



O doutor, soltou a respiração que ele nem precisava ter:



— Ela não conseguiu comandante, fizemos de tudo mas ela está num coma profundo, com atividade cerebral próxima do zero, fizemos de tudo para acordá-la, sem sucesso, você também quase se perdeu, mas conseguimos reanimá-lo.



E eu deveria ser grato por isso? — pensou Chakotay mas felizmente não verbalizou o pensamento.



— A sua recuperação foi difícil comandante, enquanto isso quase 91% da tripulação já estão reanimados e descansando em seus próprios aposentos — disse o Dr. Pinheiro



— Baixas?



— Apenas a capitã…— começou o Doutor, mas foi interrompido rispidamente por Chakotay.



— Ela está morta?



— Não, mas…



— Nesse caso não houve baixas até o momento.



— Certo, mas…



— Sem mais Doutor, você sabe que ela já se livrou de coisa muito pior.



Os doutores se entreolharam mas decidiram não comentar nada no momento.



— Quando posso sair daqui?



— O senhor já está liberado.



Ele foi direto para o refeitório.O clima estava pesaroso e triste, muitos estavam ali reunidos esperando notícias dos que ainda estavam lutando para acordar, a sua presença trouxe uma onda de alívio a quem estava presente, B”ellana logo apontou o lugar que estava vazio ao lado dela e ele se sentou.



— Venha se sentar com a gente, estávamos preocupados. Pegue um chá para ele Tom!



Ele se sentou ainda calado, esperando as perguntas que certamente viriam:



— E como está a capitã? Algum progresso? — perguntou B”ellana.



Ele pegou o chá que o Tom lhe trouxe agradeceu:



— Ainda está em coma profundo, mas eu acredito que ela vai sair dessa, ela já se livrou de coisa muito pior, confio em sua teimosia. Ele acabou a frase meio que sorrindo. Isso deu um pouco de confiança a equipe, pois o clima de tristeza parecia ser trocado por esperança.



E a cada um que aparecia no refeitório o clima melhorava, foi quando Mori chegou e jogando a timidez de lado, foi diretamente a mesa aonde estava os seniores que já tinham acordado.



— Aqui estão todos os arquivos que o senhor pediu — disse ela ainda de pé entregando os arquivos solicitados a Tom. —Espero que seja o suficiente pois pouco foi salvo depois da guerra, quase tudo foi destruído.…

— Ah! Mais eu tenho um ou dois ases na manga….e minha memória é claro!



— A capitã ficaria tão feliz com a festa,se ao menos ela acordasse.



Chakotay se levanta bruscamente da cadeira e responde com autoridade.



— Ela vai gostar Alferes, ela vai acordar e vai participar!



E sai do refeitório rapidamente. Ele vai para seus aposentos, não quer desmoronar no meio da tripulação tem que ser forte para eles, tem que ser forte por ela,