— Um baile é bem o estilo Mikaelson — Hayley comenta.

— Máscaras? — Gianna sugere.

— Estou abrigando dois homens odiados por praticamente todos. Eu mesma sou uma pária. Como um baile vai nos ajudar? — questiono.

— Você não está abrigando — Niklaus retruca com desprezo na última palavra — essa casa é nossa.

— Pode ser no Lado Original, mas aqui ela é minha. Em um estalar de dedos, você é transportado para fora da propriedade e só entrará novamente se eu permitir — o encaro, sustentando seu olhar. Orgulho ferido é uma merda.

— Demonstração de poder — Abaccus me responde, fazendo finalmente eu quebrar o contato com o loiro — é assim que um baile vai nos ajudar.

— Todo aquele negócio de manter os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda — Gianna acrescenta.

— Bom, não funciona comigo. Fui dormir com o inimigo e acabei morta! — retruco.

— A segunda tentativa é sempre melhor — Gianna da um sorriso amarelo — e olhe pelo lado bom: você já está morta!

Como eu já estar morta é algo bom?! Encaro ela incrédula. Eu entendo seu ponto, mas é tão sem noção que eu bebo mais vinho para me acalmar.

— Oh, Gia — Abac resmunga, fechando os olhos em negação por uns instantes.

— É primitivo, ok? Se mostre dominante e ganhe respeito. Ou medo, tanto faz. — Gianna continua, sem se abalar.

— Eu não quero medo. Um cachorro com medo não é leal — cito.

— Um cachorro faminto não é leal — Hayley me corrige — mas um cachorro com medo é capaz de fazer coisas que um com faminto não é — pondera a morena.

— Não queremos cachorro nenhum! — tento dar alguma razão conversa — temos que ficar é bem quietinhos aqui. Esperar a poeira abaixar.

— Seja realista, essa poeira nunca vai abaixar — Gianna aponta para Niklaus e Elijah — a Hayley está no ar até hoje.

— Eu pensei que esses joguinhos iriam acabar após a morte — Elijah suspira, parecendo conformado — mas até mesmo depois da morte terei que lutar. Jogar o jogo.

— Você sempre será um Mikaelson — Hayley olha penalizada para ele — é para sempre.

— Sempre e para sempre — Niklaus troca um olhar com o irmão e eles assentem um para o outro — vamos fazer esse baile.

— O quê? Estão todos loucos? — reclamo.

— Seja razoável — Abac me pede — esse baile vai fazer todos verem que não devem se meter com vocês.

— Que você e os Mikaelson têm uma aliança, que eles estão sob sua proteção e vice e versa. É perfeito! Eles tem a fama, você o poder — Gianna parece realizada — ninguém vai se meter com vocês. Não agora que estão unidos. Dar o primeiro passo vai mostrar quem está no controle.

— Eu não quero pessoas que me odeiam de baixo do meu teto — detesto que minha voz falha — eu não vou cometer esse erro novamente.

Me levanto, pegando a garrafa de vinho pelo caminho e saindo da sala de jantar com pressa. Penso em ir até o ateliê, mas penso melhor e vou até os fundos, sentando-me em uma espreguiçadeira e bebendo. Encaro a lua e as estrelas enquanto divago.

Eles só podem estar insanos. Só porque estão mortos não quer dizer que podem ser inconsequentes. Ainda existem meios de serem torturados e presos. Por que se arriscar? Fortalecer esse terreno é nossa melhor opção. Construir mais barreiras mágicas, fazer saídas de emergência, criar planos de fuga... Não dar um maldito baile e convidar todos para dentro.

— Fui o escolhido para te checar — Niklaus se aproxima.

— Sorte a sua — dou mais um gole do vinho.

— Educado — diz irônico. Dou de ombros.

Ele se senta a minha frente, em outra espreguiçadeira.

— Diga seu ponto logo e acabe com isso — peço.

— O baile é uma estratégia para alcançarmos alguns pontos — sua voz é quase entediada, como um professor que ensina algo que já sabe há muito tempo — primeiro: estabelecer dominância. Gianna estava certa sobre isso. Precisamos mostrar que somos poderosos e ninguém pode mexer conosco. Dar um showzinho na frente de todos eles é essencial — diz como se tivesse PhD em dar showzinho.

— Que tipo de showzinho? — franzo as sobrancelhas, curiosa.

— Não se preocupe, eu cuido disso — ele sorri, mas não é nada bonito. É ameaçador e meio psicótico — segundo: conhecer nossos inimigos. Precisamos reconhecer quem é uma ameaça, quem só está pelo drama, quem é neutro...

Uau. E até agora eu só classifiquei todos como "ameaça até que se prove o contrário".

— Terceiro: fazer algo aqui, o mais cedo possível, irá mostrar que nós estamos no controle e sabemos o que estamos fazendo.

— Os contras parecem bem pesados — comento, mas no fundo já estou cedendo a ideia — se armarem algo para nós, poderemos ser capturados e presos. Estamos só facilitando trazendo eles para dentro de casa.

— Se não atacarmos primeiro nós viveremos presos aqui — Niklaus diz.

— Aqui temos conforto e segurança. Com eles, não teremos nada além de dor e miséria — retruco.

— Arriscar é a melhor maneira de conseguirmos algo. Sem isso, vamos acabar encurralados na casa.

— Você tem vários pontos, reconheço isso — admito, bebendo mais — só é difícil jogar esse jogo — imito Elijah, fazendo o loiro sorrir.

— Ser como nós não é fácil, querida. O poder vem com preço e temos que abrir mão de várias coisas para mantê-lo — diz.

Todo esse tempo eu quase me escondi. Fui discreta e cautelosa. Mas os Mikaelson estão apresentando uma nova perspectiva, uma mudança. Eles são intensos e estão abalando minha morte não fazendo nem dois dias que eu os conheço pessoalmente. Preciso descobrir qual o meu lugar no meio disso tudo, mas algo me diz que eu já tenho um lugar. Hayley está completamente envolvida e Gia e Abac parecem interessados nessa bagunça. Todos atraídos pelo drama Mikaelson. Quem sou eu para resistir? Por que resistir?

— Não acredito nisso — comento derrotada, me levantando e sendo seguida — preciso fazer algumas coisas. Muitas coisas. Feitiço para bloquear poderes dentro do território, saídas de emergência para escaparmos caso algo dê errado, reforçar o feitiço de segurança, achar um lugar seguro como abrigo secundário...

— Te garanto que pelo menos será divertido — Niklaus me interrompe, impaciente.

— Vai acabar em morte, isso sim — resmungo.

— Como eu disse, divertido — ele sorri mais uma vez e eu sinto uma arrepio cruzar minha coluna.

No que eu fui me meter?