Zodíaco

0.6 Bônus — Outrage, o grito solene


Algumas pessoas escolhem viver matando outras. E outras, escolhem morrer para salvar algumas pessoas.

Delírio Insignificante, Pauline Morris.

— Sabe o porquê de eu gostar tanto de amendoins, Ollie? — a menina dos olhos azuis penetrantes encosta suas costas na grande árvore e pergunta para o amigo sentado ao seu lado.

Ele ri.

— Por que és viciada neles? Por favor, Christine, me dê alguns, vai.

— Primeiro; irei lhe contar o porquê de eu ser tão solidária... — ela mexe em seus cabelos loiros, fingindo metidez. — ao ponto de lhe dar um dos meus amendoins.

— Um só? — Oliver bufa. — Eles não são tão bons assim.

Christine levanta uma de suas sobrancelhas, mexendo em seu vestido florido.

— Não queres mais? O.k, também não lhe daria mesmo.

— Para de falar essa linguagem estranha, Chris. — o amigo revira os olhos. — Me passa logo o único amendoim, garota solidária.

— Pare de me zoar, Sr. Moore. — Christine continua com a brincadeira, mas começa a rir quando vê o amigo revirar os olhos. — Aqui, pegue logo.

Oliver viu em sua mão três amendoins e ironizou:

— Três? Sua solidariedade está se superando a cada domingo, Srta. Xavier.

— Nós temos apenas treze anos, Ollie. — os olhos azuis cor-do-céu revira-se. — Pare de falar essa linguagem estranha comigo.

O amigo ri.

— Mas você que...

— Xiu. — ela pega um dos amendoins ainda na mão de Oliver e coloca em sua boca, mastigando cuidadosamente. — Minha mãe me disse que quando ela conheceu o meu pai, bem, sua primeira refeição juntos fora amendoins queimados com suco de laranja. — diz. — Para ela, os amendoins são como amar. Só podemos dar para pessoas que amamos.

— Só os que amamos?

— Ou pode dar para uma pessoa que queira conhecer. Sei lá. — responde ela. — Eu sei que isso é uma idiotice, mas... amendoins me lembram isso. Amar uma pessoa e protege-la até o fim da sua vida.

— Você deveria fazer novelas em Collinwood. — assobiou o amigo. — Sério. Você sabe fazer aquelas pausas dramáticas e...

Christine se levanta, irritada. Arruma a alça de seu vestido, coça seu pescoço já vermelho e olha Oliver indiferente.

— Seu idiota.

Ele também se levanta, arrumando seu terno cheio de folhas alaranjadas e secas por causa da estação que estavam — o outono.

— Eu também te amo, o.k? — puxa o cabelo de sua nuca, nervoso. — Agora vamos parar logo com essa melação, temos que voltar para o casamento.

— Se a um lugar que á uma melação sem fim, é a dos seus pais, Oliver. — ela sorri, mesmo assim, entrelaça seus dedos junto aos deles. — Mas vamos, temos que bancar as crianças delicadas e anjinhas para os nossos pais.

...

— Por que eles ainda não chegaram? — Christine bate na porta da Sala da Isolação, ouvindo apenas o barulho de suas mãos contra a madeira. — Eu já pedi desculpas. Não preciso ficar aqui enquanto eles treinam os outros. — fala. — Eu sou uma dominadora e irei matar todos vocês, seus desgraçados!

— Por favor, Chris. — Oliver puxa a amiga, namorada... hm, ele ainda não sabe, pelos ombros. — Todos nós sabemos que você não domina nada. Pare antes que eles briguem com a gente.

A garota se revolta.

— Eu não quero te machucar, Oliver. Ah! Eu te machuquei com a minha dominação! — Ela grita um pouco mais perto da porta, rezando para que alguém de fora escutasse algo– com sorte, um guarda. — Fale algo logo. — sussurra para o amigo, ainda intacto e com os braços cruzados olhando sério para ela. — Oh, vai, Ollie. Por favorzinho.

O garoto bufa.

— Isso é ridículo, ninguém vai...

A porta se abriu, preenchida por um homem com roupas brancas, mas claramente, dava para se ver que ele era um deles — um guarda. Ele ignorou Christine e chegou a Oliver, colocando sua mão direita no ombro do garoto.

— Você está bem? Está machucado?

Por trás do guarda, Christine balançava suas mãos, alegre, comemorando sem sair nem ao menos um som um “Isso! Haha”. Era estranho como quase todos os planos da amiga davam certo. Como eu disse, quase.

— O que está acontecendo aí, Peter? — uma voz soa perto da porta. Todos olharam para trás, vendo um homem carrancudo com sua túnica preta.

— Eu... houve um crime de dominação aqui, senhor. — gaguejou o tal Peter.

— Eu mandei você não abrir essa porta. E quem disse que você me ouviu?

Silêncio.

— Diga, soldado!

— Eu ouvi o senhor, senhor! — diz ele desajeitado.

— Olha o que você fez, Chris. — Oliver sussurra no ouvido da amiga, enquanto o homem de túnica briga com o soldado.

— Ei, eu não mandei ele abrir a porta, meu amigo. Sou inocente nesta parada. — defende-se ela.

— Quem é aquela ali? — a garota ganha a atenção do homem de túnica, que pergunta para o seu soldado.

— Eu tenho apenas quatorze anos, se me tocar, direi que és um pedófilo sem caráter. — Christine insinua mais do que devia.

— Abri a porta por que essa garota. — Peter aponta para ela. — Abusou da sua dominação, senhor.

O homem levanta uma de suas sobrancelhas, olhando-a.

— Abusou é? Leve ela para a o Arbex, soldado.

— Mas...

— Faça o que eu mandei, Peter. Agora. — diz sério.

O soldado pega Christine – que se debatia e tentava lhe morder- pelos braços e a leva para fora da sala. O homem de túnica ainda estava lá dentro, olhando Oliver sem nenhuma expressão. O garoto tenta passar pelos braços enormes do homem para fora da sala, mas é parado.

— Ela vai, você fica.

— Eu vou, ela vai também. Deixe-me passar. — Oliver faz mais força para sair de perto do homem e esmagar-se sobre a pequena brecha que o corpo musculoso do homem deixava.

— Você fica. — diz antes de bater a porta fortemente e deixar o garoto dos amendoins sozinho.

...

Oliver esmurrava a porta cada vez mais forte, os gritos de Christine ajudavam-no a perceber; ela estava em perigo. E a cada esmurrada, os gritos dela ficavam ainda mais fracos, como se a morte estivesse pegando ela lentamente, fazendo sua voz ficar entrecortada e por fim, apagada.

Depois de ser deixado sozinho naquela pequena sala, ele pensou por alguns minutos que o convite do homem fosse apenas para levar a amiga de volta para o treinamento — no centro do campo de concentração. Mas pelo visto, estava errado.

Quando seus ouvidos escutaram os gritos, seu corpo não se lembrou de mais nada ao não ser se levantar e correr para a porta. E era o que estava fazendo agora, deixando suas mãos roxas e seu cérebro maluco.

Percebeu que a porta não iria se abrir, mesmo com tantas esmurradas. Sua respiração ficava cada vez mais fraca – oh como ele odeia tanto o problema pulmonar que tinha, e ainda tem. Colocou sua testa na porta e sentiu a madeira gélida.

— Por favor. — sussurrou. — Christine, por favor, aguente.

Silêncio.

Lágrimas soltaram de seus olhos negros, escorregando sobre sua bochecha rosada pelo abuso de movimentos físicos. Lá fora, silêncio. Dentro da sala, apenas os ruídos e soluços do garoto que começou novamente a esmurrar a madeira da porta.

— Pare com isso.

Uma voz doce soa atrás de Oliver, que olha rapidamente para trás, vendo sua amiga com um sorriso torto olhando-o.

— Chris...

— Pare de tentar abrir a porta, Oliver.

— Mas... – ele tenta falar.

— Pare.

— Como você...? Oh meus deuses, você está viva. — o amigo chega um pouco mais perto da garota, não o tanto para poder conseguir abraça-la. Ele não sabia como ela apareceu ali, mas isso não importava no momento. Ela estava ali com ele, só isso importava.

— Pare de chegar perto, Oliver.

— Por que não? — ele dá mais um passo a frente e vê que não era o corpo físico da amiga que estava ali no momento, era o espirito.

— Você me deixou morrer! — ela se ajoelha, abaixando sua cabeça e sua figura de adolescente, se transforma na mesma garota de treze anos, com seu vestido florido. Sua cabeça se levanta para olha-lo, sua maquiagem borrada e suas bochechas rosadas. — Você prometeu que cuidaria de mim! Você prometeu.

— Ás vezes as pessoas prometem coisas que no momento, não podem ser cumpridas. — Oliver se ajoelha com um pé só e segura o queixo do espirito, não se importando de como aquilo era estranho, na cabeça dele, ela era apenas sua melhor amiga, seu primeiro amor.

O espírito limpa suas lágrimas e tenta –sem sucesso- arrumar sua maquiagem também.

— E por que elas fazem isso? — pergunta.

O amigo suspira e a responde.

— Não sei. Eu realmente não sei.