Zodíaco

0.19 — Garcia, o franguinha


Plena madrugada: a casa

Estava quieta e o mundo estava calmo.

Não havia deuses ou estrelas pesando o firmamento.

Pilhas de livros, maços de cartas, e outras lembranças, evocadas sem piedade ou remorso,

(estas ocupavam realmente o céu do solitário).

Delírio Insignificante, Pauline Morris (Jordan Packson).

Pauline colocou a colher de prata na boca, sentindo o gosto da sopa quente com gosto de galinha que seu pai sempre faz nos domingos a tarde – ainda que seja quinta-feira.

— Vamos pensar como psicopatas ou problemáticos, acho que isso ajuda. — Jordan sentou-se ao ser lado, passando seu braço esquerdo pelo ombro frio da esposa. — O melhor lugar para aprisionar uma dominadora escandalosa e um guarda franguinha é na parte inferior do navio, na minha opinião.

Adler Steven, com seus cabelos grissalhos misturados com castanho e olhos esmeraldas, o olhou estranho; “Pelos deuses, quem em plena Era de Ouro usa a gíria “franguinha”?”.

Os mais velhos se encontravam na cozinha, com enormes baldes cheios de álcool para se esbaldar enquanto os mais novos estavam no porão, planejando algo ou fazendo uma guerra de bolinhas de papel – nunca se pode confiar na responsabilidade de Scarlet Morris em conjunto com Achila Moore.

— Talvez esteja certo, Packson. — O Garcia de cabelos alaranjados apoiou esperançoso, passando as mãos na madeira lisa da mesa aonde todos se encontravam.

— Cale a boca, franguinha. — Alethea Maclaine resmungava como sempre, tirando das mãos do Steven, o enorme mapa do Arbex² - onde seus preciosos filhos estavam. Ela jogou seus cabelos encaracolados e marrons para trás, olhando com expressão raivosa – de sempre – para o pedaço de papel, pensativa. — Meus guardas podem se espalhar pelo mesmo metade dessa parte aqui. — ela virou o mapa para que todos vissem par aonde seu dedo anular apontava. — É a área hospitalar.

— Ayla, não. — Jordan riu secamente, passando as mãos pelos cabelos. — Pare de bancar a sangue-suga fanática, e vamos pensar como iremos passar por todo o canto norte do navio.

— Difícil? Com certeza. Impossível? Não para nós. — o Steven sorriu cafajeste para Alethea, recebendo um olhar furioso da mesma, como resposta. — Eu e Frederick damos um jeito nesse canto, vocês vão para o sul e a sangue-suga e seus soldadinhos de chumbo para qualquer lugar nesse... papel cheio de desenhos estranhos.

Pauline revirou os olhos, largando a colher e olhando todos com repreensão.

— Não podemos ficar apenas no navio, alguns devem também vigiar o litoral. — suspirou pesadamente. — Ainda há uma chance de Selene e Oliver estarem presos fora do Arbex².

— Provável, mas não podemos ficar com poucos guardas dentro do local. Você sabe que há mais chances de haver mais coisas dentro e não fora. —Alethea sussurrou, pela primeira vez, desarmada.

A porta atrás de Jordan foi aberta, revelando um grupo de jovens amarrotados e desleixados no chão, todos resmungando de como a porta não aguentava muito tempo sobre “pressão” e corando por estar em cima um dos outros.

— Ouvindo a conversa dos outros, que coisa feia. — Steven balançou o copo de Whisky nas mãos, rindo debochadamente.

Alethea revirou os olhos, puxando Caco – seu sobrinho – pelo braço, sussurrando baixo – para que só ele ouve-se:

— Já lhe disse para olhar pela janela.

O albino riu fraco, olhando-a com suas enormes órbitas vermelhas.

— Desculpe-me, titia. — sussurrou de volta, recebendo um bufo como reposta.

Scarlet – a loira alta e magrela – se levantou, junto com a morena, que virava á todo momento – com medo – os olhos pretos que puxara dos pais e irmão.

— Poderíamos ajudar nisso. — a loira disse animada, se virando para a morena. — Não é mesmo, Achila? — recebendo um olhar nervoso, mas insignificante para a mesma, Scarlet revirou os olhos: — Vou entender isso como um sim.

Diocles, o garoto com pele escura e olhos azuis eletrizantes, gaguejou enquanto tentava se explicar:

— Oliver... Oliver talvez esteja em perigo, acho um dever ajuda-lo. — ele olha para os lados, vendo seus amigos concordarem com a cabeça. — Também há Selene e Kalyn. Elas não nos ajudaram bastante? Não chegou a outra de retribui o favor?

— Não estamos dizendo isso, Diocles. — Frederick disse calmamente. — Pode ser muito perigoso vocês todos...

— Ajudarem? — Alethea levantou suas sobrancelhas delineadas. — Eles são capazes, franguinha. Todos eles merecem uma chance. — jogou desleixadamente o mapa nas mãos de Jordan – que a olhou assustado. — Aposto três dracmas que iram encontrar mais do que um chinelo sem par nas areias!

— Só três dracmas? — Scarlet perguntou.

— Não abuse, garota. — resmungou a dominadora.

Albert Kaiser, de pele branca e enormes óculos arredondados, se virou para Jordan, com expressão orgulhosa.

— Podemos conseguir entrar nos computadores do navio, se ele acabar ficando sem eletricidade após todos saírem.

Alethea bateu as palmas com animação.

— Ótimo, já resolvemos o porte físico. — suspirou, virando-se para Pauline, preocupada. — Temos que enfrentar o espiritual.

Os olhares do Garcia fez Scarlet engolir em seco. A relação dos dois não estava nas melhores, e o sumiço de sua irmã fazia-o ficar sem tempo para a relação que ambos queriam reerguer, ficar sem tempo pra ela.

— Quando acharmos Selene e Oliver, devemos pedir para que um deles nos levem para seu Nemo Past, lá, o portal entre a morte e a vida não tem mais diferença. — sorriu maldosamente. — Lá poderemos matar.

— E ser mortos, é claro. — o Steven resmungou, colocando um cigarro na boca seca. — Não se esqueça disso, garotinha.

— Seu filho é mesmo seu projeto de gente, Steven. — Pauline revirou os olhos. — Problemático e irônico, igualzinho o pai.

— Temos que ficar prontos para tudo. — Frederick se virou para Adler, que ainda mantinha o cigarro na boca, olhando para as paredes. — O que acha de brinquedos novos, velho?

— Não irá adiantar em nada. — retrucou, para a surpresa de todos, Achila Moore, começando a passar as mãos pelas mechas escuros do cabelo, surpresa por ser o centro de atenção. — Estou dizendo que espíritos não podem ser mortos por armas do mundo mortal no Nemo Past.

— Só dominações. — Alethea completou. — Mas aí vai o problema; a maioria aqui não domina merda nenhuma. — olhou para o casal de escritores.

— Olha a indireta, Maclaine. — Jordan riu. — Ainda temos os Contra-corpos. Isso foi feito por um ser vivo, claro, mas podemos desconectar alguns fios ali ou aqui. Poucos sabem que os “contras” querem dizer "várias coisas".

— Como fazer mortos viverem novamente. Pelo menos por algumas horas. — Achila murmurou, esperançosa.

— Acho que isso já basta. — balbuciou Frederick.

O Steven tirou o cigarro da boca, exclamando:

— Temos aqui; três dominadores, sete não-dominadores e um franguinha. — direcionou com a cabeça para o Garcia, fazendo o clima tenso ir embora. — Espero que aqueles fantasminhas tenham medo de nós.