Estou na sala de jantar da Mansão Wayne, minha cartola no chão, virada para cima. Bruce e Tim não estão aqui, apenas Alfred, que diz que seu patrão não virá. Acho estranho esse afastamento de Bruce. Ele realmente havia me passado certeza quando eu lhe pedi ajuda pela primeira vez, mas agora estou um tanto quanto em dúvida.

O portal que abri em meu chapéu nos levará para uma vila pequena no norte da Turquia. Trata-se de uma vila afastada de qualquer cidade grande do país, onde minha mãe está vivendo. Pelo que Nimue me disse, minha mãe é de lá e foi numa montanha nos arredores dessa vila que meus pais se conheceram.

A história deles é bonita. Quer dizer, pelo que Constantine me contou, é sim. Meu pai, um mago de prestígio (é difícil enxerga-lo assim, mas tudo bem), estava em uma montanha na Turquia batalhando com um inimigo seu, e foi enfraquecido e largado para a morte nas neves da região.

Foi quando uma mulher, que vivia em uma vila por lá, o resgatou e o acolheu. Essa mulher, como você pode imaginar, era minha mãe. Quando ele acordou, foi amor à primeira vista. Iniciaram um relacionamento longo, e acabaram por se casar. Ela veio com ele para a América.

De acordo com Etrigan, porém, assim que minha mãe me mandou com Tong para a mansão onde estava Constantine, ela retornou para a Turquia. Por isso mesmo iremos para lá.

— Espero que passem bem, meus caros — diz Alfred, me arrancando dos meus devaneios.

— Obrigado, Alfred. Desejo o mesmo para você e para o seu patrão.

Ele sorri. Por algum motivo, eu gosto de Alfred. Sinto que é feliz com o que faz, mesmo que esteja sempre sob a sombra enorme de Bruce Wayne. Todos nos despedimos dele e passamos pelo portal. Escuto o som de propulsores antes de passar, mas já é tarde demais.

Quando olho em volta, estamos em uma montanha de neve. Ajeito a cartola na cabeça e estremeço, sentindo o frio me atingir. Nimue me entrega uma carta de tarô com o desenho de uma bola de fogo, e logo o frio desaparece.

— Obrigada, tia — digo. — Ah, desculpe. Quis dizer Madame. Ou Nimue. Ah, droga. Desculpe.

Ela sorri em resposta, arrumando seu baralho nas mãos e ajeitando a bola de cristal embaixo do braço.

— Pode me chamar de Nimue, querida.

Sem graça, passos olhar em volta. Vejo Jason Blood, já na forma de Etrigan, e o Monstro do Pântano à nossa frente, gesticulando para que os sigamos. Conforme descemos a montanha, Nimue nos explica sobre a vila.

— Trata-se de um dos poucos lugares habitados pelos Homo magi, exclusivamente. A vila está oculta por um feitiço, para que alpinistas turcos não os encontrem. Posso ajudar vocês a localizar a vila, mas o problema será entrar.

Acho que não será um problema — diz Etrigan. — Olhem.

Mais à frente, é possível ver algumas casas de madeira. Não há ninguém por ali, o que é assustador. Pode ser um sinal de que Allura chegou antes de nós.

— Oh, isso não é bom. Algo deve ter acontecido! — diz Nimue, soando realmente preocupada.

— Rápido, vamos até lá! — digo.

Monstro do Pântano começa a dar passos enormes, enquanto Etrigan nos acompanha correndo.

— Vá na frente, Zatanna — diz Nimue.

Entendo o recado.

— Edadicolev! [Velocidade!] — grito.

Sinto meu corpo se mover muito mais rápido do que de costume. Quando percebo, estou muito à frente deles. Chego à vila quase que imediatamente, e sinto olhos me observando pelas janelas.

— Lamron [Normal].

Minha velocidade se reduz. Então, entre todas as casas, vejo uma cuja porta está aberta. Lá dentro, usando um vestido branco rasgado e uma capa vermelha, está minha mãe, Sindella Zatara.

— Mãe! — grito.

Ela olha para mim e balança a cabeça negativamente, com desespero nos olhos.

— Mãe...?

Então, Allura surge de algum lugar lá dentro.

— Você vem comigo, Zatanna.

Ela gesticula e abre um portal atrás de minha mãe. É quando Etrigan, Nimue e Monstro do Pântano chegam, atrás de mim.

Afaste-se de Sindella, Allura — ordena Etrigan.

— Ah, Etrigan. Agora acha que pode mandar em mim?

Allura caminha lentamente para mais perto de minha mãe.

— Dispense-os, Zatanna. Ou Sindella morre. Será uma batalha entre nós duas.

Olho para Etrigan. Meus olhos estão se enchendo de lágrimas.

Zatanna, não faça o que ela diz.

Eu não respondo, mas a resposta está explícita no meu olhar para ele. A expressão de Etrigan muda, e percebo que ele entendeu. Não posso deixar com que Allura fira minha mãe.

— Arap sàrt [para trás] — eu digo, e eles congelam. Então, começam a andar para trás. Quando estão a uma distância razoável, digo: Sodarap [Parados].

Então, eu passo o olhar lentamente para Allura.

— Eles estão longe agora, Allura. Afaste-se dela.

De repente, Allura toca na nuca de minha mãe, que é consumida por um brilho. Quando a luz some, não há mais ninguém sentado na cadeira. De dentro da casa sai Constantine, com um semblante sério. Percebo que ele me observa, mas estou foca na cadeira em que minha mãe estivera. Tenho nojo de John neste momento.

— Olá, Zatanna — diz Constantine.

Dou um passo para trás, nervosa.

— Vocês me enganaram... — penso em voz alta.

Allura desaba em gargalhadas exageradas, se divertindo às minhas custas. Estou sem chão. Etrigan estava certo, eu não deveria ter me deixado levar. John começa a se aproximar.

— Afaste-se — eu mando.

— Zatanna, mantenha a calma.

— Etsafa-es! [Afaste-se!] — eu mando.

Uma rajada de energia joga-o para trás. Pego minha cartola e enfio a mão dentro dela. Imagino um coelho saindo dela, como nas apresentações de mágica do meu pai.

— Ohleoc [Coelho] — eu sussurro.

Quando tiro a mão, uma energia roxa sai da cartola, formando um coelho espectral que começa a correr na direção deles. Allura então sorri, achando aquilo ridículo.

— Um coelho. Acha que um coelho vai me deter?

Então, o espectro explode, se desfazendo em partículas roxas. Allura é jogada para chão.

— Satrac! [Cartas!] — grito rapidamente, e um baralho de cartas surge em minha mão. Com movimentos rápidos, jogo cartas neles, e elas se desfazem em pequenas explosões, machucando Allura e Constantine. Ambos caem, mas ela logo se coloca de pé e começa a avnçar em minha direção.

Continuo jogando cartas nela, contudo ela desvia de uma grande quantidade e manda outras de volta com magia. Desvio e caio no chão, ralando o braço. Fico de pé rapidamente, e Allura se aproxima cada vez mais.

É quando algo a atinge, jogando-a para trás e acertando-a em Constantine. Então, eu a vejo. Minha mãe, Sindella Zatara, está pairando no ar ao meu lado.

— Mãe... — digo, com surpresa no rosto.

— Zatanna, saia daqui. Vá com Etrigan, Monstro e Xanadu. Não posso segura-la por muito tempo, e Constantine irá atrás de você.

Começo a correr, mas não deixo de fazer uma última pergunta.

— Verei você de novo?

Ela não me responde, mas já tenho minha resposta. Obviamente não a verei. Sua capa e seu vestido estão detonados, e sua aparência sugere que esteja doente e fraca. Allura sairá vitoriosa naquela luta.

— Zatanna, vá! — ela ordena, enquanto troca rajadas de energia com Allura.

Escuto Constantine chamando por meu nome ao fundo. Então, volto para junto de Etrigan, Nimue e Monstro do Pântano.

— Es-maxem [Mexam-se] — digo.

Todos saem da posição em que estavam congelados.

Eu avisei — diz Etrigan.

Ignoro-o e taco a cartola no chão com pressa.

— Oãsnam Enyaw [Mansão Wayne] — ordeno, e o vórtice se abre.

Todos nós entramos, e saímos no interior da Mansão. Alfred nos recebe de prontidão, com um recado rápido.

— O patrão Wayne saiu. Recebeu uma mensagem de... de seu pai, senhorita Zatara. Ele o chamou para um encontro no meio da estrada.

— Tim foi junto?

— Sim.

Então, uma ideia me passa pela cabeça e me volto para Etrigan, na forma de Jason Blood.

— Constantine — dizemos, em uníssono.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.