Zatanna: O Conceito de Magia

O Monstro do Pântano e o Demônio


– Chame-a! – Constantine grita, já longe.

Estamos em meio a um pântano na Louisiana, olhando para uma poça gosmenta. Constantine já me explicou como invocar o Monstro do Pântano, mas disse que não pode estar junto comigo. Imagino que haja alguma rixa entre os dois, coisas que não são da minha conta. Antes de prosseguir, me pergunto se vale a pena fazer isso por meu pai.

Eu e meu pai nunca nos demos muito bem. Eu o amava quando era vivo e ainda o amo, mas não fui próxima dele como sou (ou fui) de minha mãe. Sempre senti que ele escondia algo de mim. Agora sei o que era, mas também sei que minha mãe, em quem sempre confiei, também mentiu. Na verdade, até Constantine parece estar mentindo. Ele ainda não me contou nada sobre Allura, além, é claro, que ela é uma ex-aluna de meu pai. Me pergunto se Allura sabe algo sobre o incidente de meu pai, dias atrás.

Certo, já estou demorando. Pego minha varinha e ajeito a cartola na cabeça. Antes de prosseguir, estremeço por causa do frio. Tenho mesmo que usar esta roupinha de noite em um pântano? Está bem, vamos prosseguir.

– Ortsnom od Onatnâp, ue a ocovni! [Monstro do Pântano, eu o invoco!] – grito, me sentindo idiota por falar com uma lagoa de água verde e um monte de árvores.

Por alguns instantes, nada acontece. Então, bolhas começam a brotar na água, indicando um ser vivo respirando. Assustada, ando para trás, mas escuto um sussurro de Constantine ordenando que eu fique calma. Uma cabeça preta coberta por algas surge na água, logo dando lugar a um enorme ser verde coberto por musgo, alga e folhas. Ele parece não ter nada por baixo das plantas, o que me leva a crer que ele seja feito delas.

– Quem ousa incomodar o Monstro do Pântano?!

– Meu nome é Zatanna Zatara, e acho que deve conhecer...

– Zatanna... Zatara?

Ele se aproxima de mim, me analisando da cabeça aos pés com um olhar que não consigo decifrar. Não consigo deixar de ficar constrangida conforme ele passa o olhar pela minha cintura e avança na direção dos ombros.

– Sim, esse é o meu nome.

– Filha de Giovanni... Zatara?

– Sim.

– John Constantine.

– Como?

– Sinto o cheiro de Constantine!

O Monstro do Pântano funga, deixando muco escorrer pelo nariz. Ele ignora a gosma, pois está analisando o cheiro.

– Quem é John Constantine?

De repente, algo atrás de mim cai, me derrubando no chão. Quando me viro, é Constantine. Ele olha para as árvores, como se houvesse alguém ali.

– Constantine! – grita o Monstro, furioso.

– Alec.

Espere, Constantine acaba de chamar um monstro enorme coberto por plantas de "Alec"?

– Zatanna, é melhor você fugir. Vá para longe do pântano. Este assunto é entre eu e Alec.

– Quando passou a ser tão gentil, John?

– Quando Zatara pediu minha ajuda.

Meu pai pediu a ajuda dele? Ele tinha me dito que foi a minha mãe! Há algo de errado nisso tudo, mas não tenho tempo de juntar as peças agora. Obedecendo Constantine, corro para longe. Até que esbarro na coisa que, creio eu, fizera Constantine surgir do meio das árvores.

Caio no chão e, antes que possa pedir desculpas, fico sem palavras. Estou encarando uma criatura escamosa amarela, de capa azul, com roupa vermelha e que está segurando algo que parece ser uma espada misturada com foice. Os olhos da criatura parecem querer me matar.

– Quem é você?

Meu nome é Etrigan, o Demônio!

Me lembro desse nome. Acho que Constantine o citou em algum momento.

– Olá, Etrigan. Sou Zatanna Zatara.

Zatara? Filha de Giovanni Zatara?

– Parece que todo mundo quer saber isso, não? Sim, sou eu mesma.

– Por que anda com Constantine?

– Oras, ele não era amigo de meu pai?

Era. Até que Constantine, arrogante, negligente e egocêntrico, acabou com nossa equipe.

– Arrogante, negligente e egocêntrico? Constantine? Ele não é nada assim.

Com você, talvez. Conosco não.

– Você vai me matar agora?

Fazê-lo seria desonrar a memória de seu pai. Mas isso não me impede de matar Constantine.

Etrigan corre na direção do pântano. Querendo impedi-lo, grito, com minha varinha na mão:

– Erap! [Pare!]

Um brilho roxo sai da minha varinha, acertando-o em cheio e paralisando-o. Escuto uma voz grossa gritando, vinda de onde Constantine está. Corro até lá, deixando Etrigan para trás. Quando chego lá, vejo uma cena perturbadora: Constantine com uma bola de fogo na mão, mirando uma Criatura do Pântano, já fora d'água, que está gritando como aquele quadro famoso, "O Grito".

– Augà! [Água!] – eu grito, indicando Constantine com minha varinha.

Um jato d'água brota da minha varinha, mirando Constantine. Assim que o acerto, apago o fogo.

– Zatanna, eu posso explicar...

– Se explicar? John, você quase matou ele!

– Zatanna...

– Não! Etrigan tem razão. Você é negligente, arrogante e egocêntrico!

– Zatanna, por favor, espere...

– Venha, Monstro do Pântano.

A criatura me segue.

– Zatanna...

Quando ele começa a vir atrás de mim, aponto a varinha para ele e grito:

– Erap! [Pare!]

Assim como Etrigan, Constantine fica parado no lugar. Corro na direção de Etrigan, seguida pelo Monstro do Pântano.

– Avom-es! [Mova-se!]

Por um momento, ele parece querer prosseguir com seus planos. Então para e olha para mim.

Como você fez isso?

– Não sei. As palavras simplesmente vieram à minha boca.

É o sangue Homo magi em suas veias.

– É, pode ser. Mas isso não muda o fato de que John era o único disposto a me ajudar a descobrir quem matou meu pai.

Podemos ajudá-la com isso, Zatanna.

– Podem?

Sim. Como foi que sue pai morreu?

– Em uma apresentação, um de seus feitiços mudou de direção e o atingiu. Mas eu tive a impressão de algo, ali, mudando o rumo do fogo.

Deve ter sido um espírito.

– Acha que virá atrás de mim?

Acho. E isso me dá uma ideia. Só um instante.

O corpo de Etrigan muda, até que ele se torna um humano.

– Agora sou Jason Blood, está bem?

– Certo. Qual o seu plano?

– Acho que podemos organizar um show de mágica para você. Se o espírito quiser matá-la, ele virá.

– Onde arrumaremos um palco vago?

– Em Gotham City.

– Gotham?

– Sim. Lá vive um ricaço que me deve um favor, Bruce Wayne.

– E como chegaremos lá?

– Monstro, agora é com você.

– Comigo.

O Monstro estica a mão, soltando alguns cipós que mergulham no musgo das árvores. Os cipós que saem da outra mão me envolvem, e a Etrigan, quero dizer, Jason, também. O Monstro então mergulha no musgo, nos levando junto.

Tudo fica verde e com cheiro de grama molhada. Tenho a impressão de que tudo é feito de plantas, mas a sensação é de estar nadando. Consigo identificar Jason e o Monstro, mas então vejo uma abertura, na qual o Monstro entra (na verdade, sai).

Quando abro os olhos novamente, estamos em uma estufa. A princípio, penso que estamos sozinhos. Mas não deixo de notar uma mulher ruiva vestida de faxineira, mas com brincos caríssimos. Não deve ser nada.

– Seja bem-vinda a Gotham, Zatanna.

Não respondo para Jason, pois noto que a faxineira sumiu. Ignoro, pensando que deve ter ido limpar outro local, e volto a prestar atenção em Jason.

– Próxima parada, Mansão Wayne.