Zatanna: O Conceito de Magia

A Morte de Giovanni Zatara


Meu nome é Zatanna Zatara. Sou a filha do mágico ilusionista Giovanni Zatara, conhecido como John Zatara pelo público. No momento estou sentada ao lado de minha tia, Martha Zatara, assistindo uma apresentação de meu pai.

Minha mãe, Sindella Zatara, entra no palco, como assistente de meu pai, e anuncia ao microfone:

– Senhoras e senhores, apresento a vocês John Zatara, mestre ilusionista!

As luzes se apagam. No centro do palco, uma luz branca e uma luz roxa giram em círculos. Fumaça cinza surge no centro do círculo feito pelas luzes, enquanto uma silhueta preta aparece em meio às luzes. Uma voz sussurra algo nos auto-falantes sobre um mundo místico, mas não presto atenção. Quero mesmo é ver meu pai aparecer.

A luz se acende por uma fração de segundo, fazendo a plateia ter um vislumbre do mágico. Algumas pessoas na plateia começam a gritar:

– Zatara! Zatara!

Então meu pai diz, sua voz baixa e séria:

– Como é? Não entendi direito.

– Arataz! Arataz! – gritam as pessoas.

Deixe-me explicar: meu pai, como mago, adotou um estilo de apresentação. Para falar seus feitiços, ele fala as palavras ao contrário. Portanto, para chamá-lo, seus fãs gritam "Arataz", o sobrenome da minha família ("Zatara") ao contrário.

As luzes então se acendem, meu pai no centro do palco. O círculo roxo e branco feito por holofotes continua girando em volta dele.

– Àlo, seum sogima! [Olá, meus amigos!] – cumprimenta ele, um tanto sombrio.

– Mareiv arap rev aigam? [Vieram para ver magia?] – ele pergunta, um sorriso macabro aparecendo em seu rosto. – Oãtne aigam ie-sehl-ratsom! [Então magia mostrar-lhes-ei!]

Ele caminha até a ponta do palco e estende sua cartola para a frente. Então, curva o braço que segura a cartola e coloca-a em frente à boca.

– Ogof! [Fogo!] – declama, sorridente, meu pai.

De repente, fogo sai de sua cartola. Ele segue diretamente até a plateia, mas então sobe a té o teto. Para nossa surpresa, o fogo muda sua direção e retorna até meu pai. ele corre, mas o fogo pega em suas roupas. Em alguns minutos, meu pai está pegando fogo.

Isso não está certo, penso, me levantando. Minha tia tenta pegar minha mão, mas corro até o palco por entre os assentos. Estou acostumada com as apresentações de meu pai, e isso não parece ser um truque dele. Ele nunca fez algo do tipo.

Avisto minha mãe no palco. Ela está ao lado do enorme nativo-americano Tong, guarda-costas de meu pai. Minha mãe gesticula para que eu pare, mas não obedeço. Subo no palco e vou até meu pai.

– Iap! [Pai!] – grito, apelando ao apelido carinhoso que dei a ele.

Tong me puxa pelo braço com força. A dor do puxão e a dor por ver meu pai daquele jeito me fazem chorar. Me ajoelho perto do meu pai em chamas e choro, desesperada. Então, sinto a mão carinhosa de minha mãe repousar em meu ombro. Ela se aproxima de meu ouvido e sussurra:

– Venha comigo.

Enxugando meu rosto com as mãos, sigo-a até o camarim do meu pai. Ela sussurra algo para Tong e depois se vira para mim.

– Filha. Não sou boa com despedidas, mas creio que voltaremos a nos encontrar. Sendo assim, não é necessário dizer adeus. Creio que seu pai gostaria que eu lhe desse isso – ela coloca um livro grande e grosso nas minhas mãos. v Leve suas roupas de recordação, se quiser. De qualquer forma, Tong te levará até a casa de um homem. Você precisa obedecê-lo. O nome dele... é John. John Constantine.

Caminho até uma das mesas do camarim e pego as roupas que costumava usar em apresentações de meu pai. Viro-me novamente para minha mãe, mas ela não está lá.

– Senhorita Zatara? –chama Tong, se referindo a mim – Sua mãe pediu que partíssemos.

– Ah... Então vamos – digo, tímida.

Sigo-o pela saída do camarim, que leva a uma escada de incêndio. Lá embaixo, uma limusine nos aguarda. Tong apressa os passos, e corro atrás dele. Entramos na limusine, que se move assim que terminamos de nos sentar. Me inclino para a frente, tentando espiar o motorista, mas me surpreendo ao ver que NÃO HÁ NINGUÉM DIRIGINDO. Me viro para Tong, com dúvida nos olhos. Ele apenas pede para que eu me acalme com gestos.

Abro a pequena maleta onde guardei minhas roupas de assistente de mágico. Busco bem fundo nela e encontro minha pequena varinha de mágico (preta com pontas brancas). Aperto-a bem junto ao meu peito, tentando fazer as lembranças felizes ligadas a ela acalmarem a dor.

Mal coloco ela na maleta, frustrada, a limusine para. Olho pela janela e vejo uma enorme mansão avermelhada. Mais uma vez me pergunto: quem é John Constantine? Talvez um milionário playboy e filantropo como Bruce Wayne de Gotham... Provavelmente não.

Me viro para Tong, e indico a mansão com um dedo. Ele faz que sim com a cabeça, enquanto se aproxima para abrir minha porta.

– Uau! – exclamo, surpresa. Tong simplesmente me ignora.

Ele abre minha porta e desço do carro. Quando olho para trás, a limusine já está indo embora com Tong. Engulo em seco e me aproximo da entrada da mansão, maleta em uma mão e livro na outra.

Relutantemente, levanto o braço para bater na porta. Antes mesmo de eu encostar, ela se abre. Lá dentro, em uma sala ampla e mobiliada, vejo uma escadaria. Subo-a, imaginando que o quarto fique lá em cima. Vejo um quarto roxo e macabro com a porta aberta, provavelmente o meu.

De repente uma voz fala, me fazendo estremecer.

– Zatanna Zatara, é um prazer conhecê-la. Sou seu anfitrião, John Constantine. Este belo quarto que está vendo é o seu. Durma aí por uns dias, até que eu tenha certeza que posso confiar em você. Enquanto eu não tiver essa certeza, temo que não poderemos nos ver. Aproveite a estadia!

A voz de meu anfitrião se esvai aos poucos.