– Isso faz cocegas, Ma-Masada Sensei, não consigo respirar – Me contorci na cama tentando escapar dos dedos esguios que me provocavam risadas involuntárias.

– Mas sua risada é tão linda que não consigo resistir – Ele fez mais algumas cocegas, fazendo com que minha respiração ficasse descompassada, mas não posso dizer que não gostei. Ficar na cama assim com Masada Sensei não é ruim. Ser capaz de senti-lo novamente, poder admirar seu sorriso, poder passar meus dedos por sua pele macia, poder beija-lo novamente e gozar de seu amor o quanto quiser só me deixa extremamente feliz.

Ele se curvou em minha direção e selou nossos lábios em um beijo cálido e demorado, me envolveu em seus braços e ficamos assim, deitados lado a lado naquela cama enorme.

– Eu te amo – Disse em uma voz manhosa, depositando um beijo no topo de minha cabeça –Senti sua falta.

– Eu também – Respondi enterrando a cabeça em seu peito. Depois do incidente com Masada Sensei passou-se pouco mais de uma semana. Para baixar suspeitas de meus pais eu fiquei alguns dias longe do Sensei, o que foi um tanto torturante, queria ficar junto dele o máximo que os dias nos permitiam.

Ele me afastou levemente de seu corpo e me encarou com uma expressão enigmática, algo entre incerteza e receio. Senti suas mãos deslizarem até onde nosso bebê deveria estar. Meu corpo já começou a dar sinais de que o bebê estava crescendo, mas ainda assim não era possível senti-lo. Senti minhas bochechas ruborizarem com o ato.

– A-Ainda não pode senti-lo, eu já tentei – Disse provocando uma reação de surpresa, não parecia que ele estivesse pensando sobre isso, seus olhos estavam submersos em pensamentos que estavam muito além de meu alcance. Procurei em suas orbes qualquer coisa que pudesse me dizer o que se passava em sua mente.

– Ah, você ainda está pensando sobre isso não é? – Disse irritada, colocando minhas mãos em suas bochechas e as apertando levemente – Ainda está pensando que isso é um fardo para mim, não é?

– E-Eu... – Começou, mas o cortei logo de inicio.

– Pode ir parando por aí – Aliviei a pressão que fazia em suas bochechas, mas sem retirar minhas mãos de seu rosto, apenas abri um pequeno sorriso e passei meu polegar em sua pele gentilmente – Essa criança vai ser amada por mim e pelo pai, sem o menor arrependimento ou duvida, e eu não poderia estar mais feliz por isso.

Seus olhos arregalados mostravam a surpresa de me ouvir falar de uma forma tão firme e confiante, já que não era de meu feitio. Essa é uma das coisas que notei de uns tempos pra cá. Não me sinto mais tão impotente e amedrontada quando antes. Me sinto mais forte.

– Você está certa, sinto muito – Respondeu com seu corriqueiro sorriso e voltou a me envolver em seus braços, dessa vez mais forte. Ficamos alguns momentos assim até que a voz suave do Sensei quebrou o silêncio – Quais serão os nomes?

A pergunta me pegou de surpresa, nunca tinha parado para pensar sobre esse tipo de coisa. Toda menina tem no mínimo um ou dois nomes que gostaria que seus filhos tivessem, mas nunca levei nada do tipo em consideração. Nunca pensei que teria de escolher tão cedo.

– Eu ficarei feliz com qualquer um que escolher – Continuou brincado com as pontas de meu cabelo. Não sei quanto tempo fiquei sem respondê-lo, mas cheguei a uma conclusão que fez meu peito se apertar um pouco.

– Então o que acha de... Shitai se for um menino e Monoko se for uma menina? – Falei de forma assustadoramente neutra, sem ser depressiva ou animada. Ele parou de brincar com as mechas de meu cabelo, não sou capaz de ver seu rosto na posição em que estou, não sei que tipo de reação está estampada em seu rosto no momento.

Monoko e Shitai foram as pessoas que me tiraram do pesadelo que era minha vida, e aqueles que me ensinaram o que era ter amigos e como ser feliz, e os amei do fundo do coração, mas o mundo não os tinha como preciosos quanto eu, e os levaram muito cedo. Dando o nome de um deles a meu bebê, gosto de pensar que de alguma forma eles ainda estarão vivos, e tendo uma segunda chance de viver o tempo que não tiveram antes.

– Eles significam muito pra você não é? – Não respondi, apenas assenti levemente com a cabeça – Eles me parecem perfeitos.

– Mado-chan... – Sua voz estava pesarosa novamente, despertando certo desconforto em minha mente – E-Eu quero assumir esse bebê.

Parei de sentir meus batimentos por um instante. O choque de suas palavras me deixou estática. “Assumir o bebê” ele não pode estar falando sério.

– S-Sensei – Levantei-me subitamente e encarei seus orbes assustada – Você não pode estar falando sério.

Ele me encarou atônito. Eu entendo que eu deveria ficar feliz por isso, mas não é assim tão simples. Esse não é apenas um caso de gravidez acidental, tudo o que fizemos, apenas de eu não gostar da ideia de admitir, é um crime. Masada Sensei é meu professor, e eu sou uma menor de idade, isso desencadearia em tantos problemas e complicações que nem consigo visualiza-los como um todo agora.

– Isso está fora de cogitação – Disse elevando minha voz, mesmo que sem intenção.

– V-Você não quer que eu assuma nosso filho? – Ele perguntava com incredulidade, mas não tem relação com o que eu quero ou não, e sim com o que poderia acontecer se nós o fizéssemos.

– Não é isso – Disse colocando as mãos em seu rosto o forçando a me encarar diretamente – Pense no que irá acontecer se você fizer isso. Você perderá seu emprego, e pode ser preso, não quero isso, não quero que seja levado para longe de mim.

Masada Sensei segurou meus pulsos gentilmente, e suspirou, parecia ter ficado sério.

– Eu sei, Eu sei de tudo isso - Respondeu, e eu não conseguia entender, se ele sabe de tudo isso por que insistia em uma ideia tão absurda – Mas...

– ...Mas eu quero poder ficar junto de vocês dois, sem que você ou eu nos escondamos dessa maneira – Suas palavras me fizeram ficar com a visão embaçada, suas palavras doem tanto, mas eu sequer sei o por que – Não quero mais ter que ver você suportar tudo sozinha.

– M-mas, mas, se isso acontecer vão te levar para a cadeia, e então não poderá ficar comigo ou com o bebê – Disse entre soluços, e me agarrando avidamente a ele novamente, sua reciprocidade foi tão urgente quanto a minha, me fazendo pensar que ele está com tanto medo quanto eu – Se o Sensei fosse levado pra longe, eu não poderia deixar de me culpar.

– Seus pais estão te pressionando não estão? – É verdade que eu havia dito que eles têm feito muitas perguntas ultimamente. Eles foram pacientes e compreensivos no começo, mas agora estão exigindo respostas, não posso culpa-los por isso, eu tenho protegido o Sensei esse tempo todo, mas não poderei fazer isso por muito mais tempo. É difícil encarar meus pais com os mesmos olhos depois daquele dia, só de pensar que eles cogitam tirar meu bebê de mim, já me deixa emocionalmente instável – Me deixe falar com eles sobre isso, me deixe assumir a responsabilidade do que fiz.

Não quero pensar no que pode lhe acontecer se meus pais tomarem conhecimento disso, só de pensar que ele pode se machucar de verdade por minha causa só destrói mais ainda meu coração... mas acho que não há outra maneira no final das contas.

– T-Tudo bem, mas deixe que eu fale com eles primeiro – Disse um tanto pesarosa, eu realmente não gosto da ideia – Deixe que eu os antecipe, assim não será tão ruim.

– Tudo bem – Colocou suas mãos sobre meu rosto e colou nossa testas – Eu confio em você.

Mais uma vez a conversa foi selada com um beijo dado com urgência, eu não quero solta-lo, não quero que vá pra longe, não quero que se machuque, quero apenas que fique ao meu lado, para sempre.

– Essa conversa toda me deixou um pouco desanimado, o que acha de sair um pouco, um pouco de ar te fará bem.

– Certo.

[...]

Estamos na *estação de metrô, esperando pelo trem. Não sei aonde vamos, Masada Sensei disse que é uma surpresa. Queria poder segurar sua mão e agir como um casal normal como qualquer outro junto ao Sensei, mas não posso segurar sua mão, isso poderia causar problemas a nós dois, isso é de certa forma triste.

O trem chegou a estação e nós embarcamos, haviam muitas pessoas, e acabei sendo levada pela onda de pessoas, Sensei me segurou pelo braço e me trouxe para junto de si, estamos tão próximos que sinto seus batimentos, senti-me ruborizar nesse instante. Olhei para sua face e tudo o que fez foi me oferecer um sorriso gentil como se dissesse “Está tudo bem agora”.

A viajem não foi longa, mas eu não acharia ruim se fosse, só de poder ficar perto do Sensei assim em público já o suficiente para me deixar contente. Saímos em uma estação que reconhecia ser um centro comercial bem movimentado.

– Sensei, o que viemos fazer aqui? – Perguntei curiosa para o mais alto.

– É um segredo – Respondeu afagando minha cabeça – Mas por hora por que não vamos comer alguma coisa?

– C-Certo.

Fomos a um restaurante familiar¹ qualquer, é um pouco embaraçoso dizer que não foi a coisa mais romântica do mundo, já que eu estava comendo por dois, e tirando o fato de as coisas que eu pedi serem meio estranhas. Eu já ouvi falar de que mulheres que estão esperando bebês têm desejos bizarros, mas não esperava que fosse verdade.

Masada Sensei apenas achou estranho quando eu coloquei ketchup na banana Split que havia pedido, mas eu não me importei muito, por que no fim ficou gostoso... ou quase. Deixamos o estabelecimento e nos dirigimos a uma rua com várias lojas que aparentavam ser bastante caras, eu observava as vitrines fascinada com muitas das coisas que via até que fui surpreendida com um movimento súbito do Sensei que agarrou minha mão e me puxou para sei lá onde.

– E-Espere Masada Sensei, onde está me levando? – Perguntei enquanto tentava acompanhar seus passos largos.

– Você vai ver – Respondeu animadamente. Qual o sentido de tudo isso, para onde ele poderia estar me levando? – É aqui, chegamos.

Eu não entendi direito aonde exatamente era o “aqui” a que se referia, só via mais lojas por todos os lados, mas ao contrário da rua anterior, essa continha uma quantidade enorme de lojas de joias. Não poderia estar mais confusa.

– O que estamos fazendo aqui? – Perguntei em confusão – O que eu deveria ver?

– Isso – Ele pegou meu queixo e a direcionou para uma das lojas a minha direita. Assim como as outras não passava de uma loja de joias qualquer, o que não esclarecia em nada minhas duvidas, apenas fiquei a observando sem saber muito bem o que eu deveria ver, mas meus devaneios foram interrompidos pela voz suave do Sensei – Eu irei lhe comprar um anel.

Como é que é?

– EHH??? – Espera aí, como assim? Me comprar um anel? Só Pode ser brincadeira – M-Mas, por quê?

– Como assim “por quê”? Não é obvio? – Perguntou divertido, minha reação parece tê-lo divertido – Claro, que é por que quero que seja minha noiva.

Isso é um sonho, só pode ser um. Fiquei sem reação, sem saber o que fazer, o choque das palavras foi tão grande que não consegui fazer nada mais do que encarar seu sorriso gentil e rosto ruborizado atônita sem poder impedir que as palavras me escapassem.

Senti meu rosto ficar molhado, aparentemente comecei a chorar e sequer me dei conta disso. Quando finalmente recobrei meus sentidos, apenas o abracei fortemente. Se isso realmente for um sonho, não quero acordar, quero que dure para sempre.

– Eu sabia que você ia gostar – Disse passando seus dedos por meu cabelo de forma carinhosa.

– M-Mas, está tudo bem com isso mesmo? Quero dizer essas coisas são caras, não quero que faça algo assim por mim por obrigação ou coisa parecida – Sequei algumas das minhas lágrimas com as mangas do casaco e olhe para sua face sorridente esperando ver qualquer resquício de arrependimento. Não havia nenhum.

– Eu não estou fazendo isso por nenhum desses motivos – Respondeu secando algumas das lágrimas que restaram – Estou fazendo por que te amo mais que tudo, e quero que fique ao meu lado para sempre.

Aquelas palavras só fizeram-me chorar mais, não me importei com mais nada, nem com o fato de estarmos em público, ou com o fato do que as poucas pessoas em volta pudessem pensar, apenas selei nossos lábios com urgência. Eu não consigo conter a felicidade que estou sentindo no momento, sinto como se fosse capaz de explodir em emoções a qualquer momento.

Nos soltamos e ficamos um tempo nos encarando, examinando um ao outro cautelosamente, dialogando um com o outro sem palavras.

– Então o que acha de escolhê-lo agora? – Perguntou-me já me puxando com sigo para dentro da joalheria.

[...]

Fiquei observando o Anel em meu dedo por tanto tempo que sequer consigo mensurar se passaram-se segundos, minutos ou até mesmo horas. Ele era lindo, simples e discreto, mas não poderia ser mais perfeito.

– Tem certeza de que está tudo bem com isso? – Perguntei ainda me sentindo um tanto culpada por fazê-lo comprar algo tão caro.

– Está tudo bem, eu não poderia ficar mais contente em te dar isso – Respondeu depositando um leve beijo no topo de minha cabeça.

Noiva do Sensei, não é? Ainda não me acostumei muito bem a essa ideia, mas não posso negar que sou provavelmente a pessoa mais feliz da terra no momento.

– ...Mado-chan, está ouvindo – Voltei a realidade ao ouvir a voz do Sensei – O trem chegou.

– A-ah sim – As portas se abriram e segui Masada Sensei até seu interior, Devido ao horário o trem estava bem lotado.

– Você está bem? – Perguntou o mais velho me puxando para si novamente.

– Sim, tudo bem – O trem começou a se mover e finalmente as pessoas pararam de embarcar.

– Né, Masada Sensei, por que decidiu me dar isso agora – Perguntei fazendo menção ao anel. Ele não respondeu de imediato, parecia estar refletindo sobre a resposta.

– Sabe eu, fiquei pensando sobre contarmos aos seus pais sobre nós e queria fazer o máximo para provar que eu estou sério quanto a isso, provar que te amo de verdade e não que foi qualquer outro tipo de coisa. Poder provar que eu vou amar você e a esse bebê mais do que tudo no mundo.

Sua reposta fez com que meus olhos voltassem a ficar marejados. Então ele me ama tanto assim? Eu deveria ficar feliz com isso não é? Então por que tudo o que tenho é vontade de chorar?

Segurei sua mão e encostei minha testa em seu peito e nada foi dito por vários instantes.

– Eu te amo Mado-chan.

– Eu também te amo Sensei.

Fiquei imersa em seus olhos negros que tanto amava, até que algo desviou minha atenção. Um barulho de metal contra metal, tilintar de correntes e vários gritos. Senti o chão tremer e tudo girar a meu redor, o vagão estava se virando. Me agarrei a Masada Sensei, mas não houve muito o que pudemos fazer, em um minuto estávamos de mãos dadas como o casal mais feliz do mundo, e no outro estávamos sendo arremessados para a frente do vagão bruscamente junto a dezenas de outros corpos.

Tudo o que pude sentir foi medo, desespero e pânico. Senti uma dor imensa em todo corpo ao atingir o chão e cair em cima de algumas outras pessoas, e então nada mais além de escuridão.

[...]

Acordei atordoada... onde eu estou?... Que lugar é esse?... Por que meu corpo não se move?

Minha visão estava completamente turva e embaçada, não conseguia entender o cenário ao meu redor, está escuro de mais, meus sentidos estam confusos, sinto como se tivessem substituído meu sangue por chumbo. Depois de um tempo meus olhos começaram a se acostumar com a pouca luz das luzes de emergência² e o que vi fez com que meu estomago se embrulhasse na hora. O vagão havia sido virado e deformado em algumas das paredes, havia sangue nas janelas, e corpos de pessoas por todos os lados, um verdadeiro *balde de sangue. Senti o gosto de bile invadir minha boca de imediato e acabei vomitando no primeiro lugar que meus olhos puderam encontrar.

O que é tudo isso? Como foi que isso aconteceu?

Tentei engatinhar para fora da pilha de corpos que estava me prendendo no lugar. Olhei para o lado e vi algo que fez com que meu sangue não apenas congelasse, mas também que parecesse ter disso completamente drenado de meu corpo.

Masada Sensei...

Tentei me soltar mais desesperadamente ainda dos corpos que prendiam meus pés, cravando as unhas do metal, vedo-as escorregarem e deslizarem na quantidade absurda de sangue espalhada pelo chão. Puxei meu corpo para fora da massa de carne humana e atirei-me para perto de Masada Sensei.

Isso é mentira, certo?...

Empurrei o corpo de um homem que estava em cima de Masada Sensei e tomei seu rosto em minhas mãos. Senti todo o resquício de vida restante de meu corpo se dissipar ao encarar sua face. Sua pele alva estava manchada de vermelho. Não pode ser verdade...

Senti minhas mãos trêmulas e meus olhos arderem, sem cerimônias a torrente de lágrimas começou a cair. Abracei Masada Sensei o mais forte que pude desejando que fosse apenas um pesadelo, que e acordaria daqui a alguns segundos a seu lado na cama e tudo voltaria a ficar bem, tudo iria ficar bem...

– Ma-Mado-chan – Parei de soluçar ao ouvir meu nome ser sussurrado. Olhei para a face de Masada Sensei, eu deveria estar aliviada, mas tudo o que senti naquela hora foi desespero. Seus olhos eram iguais, iguais aos de Monoko e Shitai naquele dia.

Não consegui responder, apenas colei minha testa a sua, ouvindo sua respiração extremamente fraca.

– Ma-Masada Sensei, Por favor, não me deixe sozinha – Implorei segurando sua mão tão forte que as juntas de meus dedos ficaram brancas. Masada Sensei não responder, apenas emitiu alguns gemidos praticamente inaudíveis, sequer conseguia formar uma palavra.

Isso é cruel de mais, isso é cruel de mais para qualquer ser humano suportar. Tem que ser um pesadelo, tem que ser um...

Meus gemidos de desespero ecoaram pelo vagão metálico junto de mais alguns outros gemidos agonizantes de pessoas que provavelmente ainda estavam vivas.

Não sei quanto tempo se passou, quanto tempo fiquei naquele chão frio chorando desconsoladamente, sei que podem ter sido apenas minutos, ou até mesmo horas, mas isso realmente não importa, só quero que essas mesmas horas e minutos regressem, regressem e impeçam todo esse pesadelo de acontecer.

Ouvi mais uma vez sons vindos de cima, parecia barulho de terra sendo removida, logo o barulho se intensificou seguido de fortes baques no metal do vagão, até que foi aberto um buraco na carcaça metálica acima de minha cabeça. Meus olhos ficaram atordoados pela forte luz que vinha de cima. *Uma luz intensa e vermelha, piscando como a de uma ambulância.

– S-Sensei, veja, vamos sair daqui, tudo vai ficar bem, tudo vai... – Minha fala foi interrompida por uma dor agúda em minha cabeça, como se algo tivesse caído com força sobre ela, novamente minha consciência foi tomada pela escuridão.

[...]

Acordei amedrontada, apavorada e gritando, sequer assimilei as coisas ao meu redor, apenas sabia de uma coisa.

“Precisava saber se ele estava vivo”

– Mado-chan se acalme, está tudo bem agora – A voz que gritava por mim era extremamente familiar, mas o pânico não me permitia distinguir de quem. Meus pulsos foram segurados e olhei apara a pessoa que me prendia. Era minha mãe, foi então que percebi onde estava: Em um leito de hospital.

– Está tudo bem querida, está tudo bem, estamos no hospital, nada mais vai te acontecer – Disse ela, mas eu não queria ouvir, apenas queria saber o que havia acontecido com Masada Sensei.

– Madotsuki-san, está tudo bem? Ouvimos os gritos do corredor – Quis saber um homem de jaleco branco que entrou apressadamente no quarto acompanhado de uma enfermeira – Talvez precise de um calmante ou então um... – Não o deixei terminar, o interrompi súbita e afobadamente.

– Masada, Seccom Masada, me diga onde ele está!! – Exigi sem nem respirar direito.

– Mado-chan acalme-se, por favor, você está delirando– Interveio minha mãe.

– Eu sei muito bem o que estou dizendo – Soltei meus pulsos bruscamente. Voltei a olhar para o médico –Por favor, deve saber de alguma coisa.

O médico pareceu um pouco assustado, mas checou a prancheta que trazia com sigo, folheou alguns papéis até parar em uma determinada folha.

– Seccom Masada, de 24 anos³, foi dada sua entrada com todos os outros pacientes vitimas do acidente, as 19:45 da noite de ontem e... – Ele deu uma pausa lendo o restante do documento com um semblante nada encorajador, sua voz era melancólica e pesada, como se as palavras queimassem sua língua – ...Foi dado como morto as 20:05 do mesmo dia.

Senti como se a vida de meu corpo fosse arrancada por completo em um segundo, não senti meu coração se rachando e se partindo, senti que tinha tornado-se puro pó e escorrido por meus dedos sem que eu pudesse fazer nada para impedir.

... “Morto?”

Eu poderia ter gritado, berrado, chorado, ou até mesmo vomitado, mas outra coisa desviou minha atenção no mesmo instante, algo que fez meu sangue parecer sólido, incapaz de circular pelas veias. Havia alguma coisa errada, senti uma dor incomum em meu abdômen e levei minha mão até meu ventre... E lá havia uma cicatriz.

Senti-me desabar por completo, sem conseguir pensar direito apenas sentindo meu corpo se enrijecer de pânico e tremer mais do que já havia tremido na minha vida inteira. O que isso significa?

– O-o-o quê é isso? – Perguntei de forma entrecortada e fraca, quase em um sussurro –Por que estou com uma cicatriz??

O médico desviou o olhar e fitou o chão com um olhar de desconforto evidente em seu rosto. Olhei para minha mãe a procura de um resposta, mas ela também virou seu rosto, como se me encarar fosse a pior coisa do mundo no momento.

– Mado-chan tente manter a calma – Disse ela ainda sem olhar para mim.

– Madotsuki-san – Dessa vez foi o homem de jaleco quem falou – Não há uma maneira fácil de dizer o que irá ouvir, mas, por favor, tente manter a calma...

O terror tomava cada vez mais conta de mim a cada segundo.

– O acidente que presenciou na noite passada, causou a morte de mais de 30 pessoas e mais de 50 pessoas gravemente feridas, por sorte você conseguiu escapar... – Mais uma vez fez uma pausa –...Mas infelizmente o acidente causou sérios danos a seu bebê... e você acabou sofrendo um aborto espontâneo. Tivemos que fazer uma cirurgia de emergência para evitar danos mais graves a seu corpo.

Isso é bem pior que um pesadelo... É a realidade!