Yu-Gi-Oh: Contos de Fadas

Capítulo 5 – A garota misteriosa. Mais um passo para nosso herói.


— E é por isso que costumamos usar Foolish Burial ou Dragon Shrine para mandar o Darkwurm para o cemitério. – Explicava Hayl.
Nas segundas-feiras a aula ficava por conta de Hayl, que costumava explicar o deck de Pendulum Magician, além das estratégias contra o deck e coisas do gênero.
— Nesse caso, estando com o campo mágico Orcustrated Babel, você pode ativar efeitos dos seus monstros Orcust mesmo durante o turno do adversário. – Respondeu Dexter, calmamente.
Eduardo nunca perdia as aulas das terças-feiras. Dexter sempre dava as melhores dicas para qualquer um que quisesse usar o deck.
— E é por isso que é importante sempre se lembrar de usar os efeitos dos seus Thunder Dragon’s quando eles são enviados do campo para o cemitério ou mesmo quando são removidos de jogo. – Yusei explicava.
As aulas de quarta-feira eram bastante interessantes, ainda mais porque o deck de Thunder Dragon era um dos que mais tinha variações, por isso Yusei era sempre bombardeado com perguntas de todos os tipos.
— Vocês prepararam o relatório sobre o meta como eu pedi na semana passada? – Perguntou Eien, com um tom ameaçador.
As quintas-feiras eram bastante tensas porque Eien estava sempre passando tarefas e provas muito exaustivas.
E finalmente chegava a sexta-feira.
— DUELOOOOOO!!!! – Gritou Jovenil, ao entrar na sala.
As aulas com Jovenil eram, na maior parte das vezes, práticas. Na realidade ninguém reclamava porque era sexta-feira e todos queriam mesmo é jogar e se divertir, mas como sempre, ninguém era páreo para Jovenil.
— Bem, Jovenil, seria natural eu questionar seus... – Eien buscava as palavras mais adequadas. – Métodos de ensino... – Disse Eien, vendo os garotos exaustos após os incontáveis duelos contra o mestre. – Mas aparentemente a derrota é uma ótima professora e se aprende muito com a prática, então pode continuar.
Jovenil então voltou sua atenção para a turma, mas todos desviaram o olhar, ninguém queria mais uma derrota naquele dia.
— Parece que seremos eu e você novamente, Eduardo. – Disse Jovenil, chamando o garoto para a arena.
E mais uma vez chegamos ao tão aguardado final de semana. Em razão das aulas e trabalho de muitos, os finais de semana eram os dias ideais para treinamentos intensivos. Todos chegavam cedo na galeria onde ficava a sede da Fairy Tales e voltavam para suas casas tarde da noite.
— Dulci, hoje eu tenho aula de xadrez à noite, você pode organizar a papelada para mim, por gentileza? – Perguntou Eien. – Artur, você poderia ficar para ajudar a Dulci com essa tarefa?
Os dois balançaram a cabeça em sinal positivo. Artur não sabia como seria arrumar essa papelada, mas imaginou que não seria nada difícil, afinal, Eien fazia aquilo toda semana.
Era domingo, todos haviam ido embora, restaram apenas Artur e Dulci para organizarem a famosa papelada.
— Certo, se me lembro bem, temos que colocar todas as cartas no lugar e atualizar nosso banco de dados. – Disse Dulci, mais pensando sozinha do que falando com Artur.
Dulci entrou em uma sala, sendo seguida por Artur. A sala tinha pilhas e pilhas de papéis. Os olhos de Artur se arregalaram.
— Ok, você cuida da papelada da esquerda e eu da direita, depois vamos organizar as cartas. – Ordenou Dulci.
Artur estava quase chorando com o volume de trabalho. “A Eien faz isso toda semana? E sozinha?” pensou ele.
Os dois começaram os trabalhos em silêncio, conversar apenas atrasaria mais ainda.
— Ei, Dulci. – Disse Artur, quase uma hora depois de já terem começado. – O que são esses clãs?
— Esses são outros clãs. Assim como o nosso existem vários espalhados por toda a cidade. – Dulci explicava. – De tempos em tempos os clãs se enfrentam nos torneios regionais para conseguirem uma vaga nos Nacionais. É muito divertido.
Artur estava pensativo.
— Eles são fortes? – Perguntou Artur.
— Alguns sim, outros não... Essa é a ficha com as informações que temos de um deles, a Dark Side. – Explicou Dulci, apontando para a pasta na mão do garoto. – Nós reunimos todo tipo de informação que conseguimos sobre os outros clãs, para que possamos o que vamos enfrentar.
Artur folheava as páginas de dentro da pasta.
— No último torneio que participamos nós ficamos em segundo, por isso não pudemos ir para o Nacional, e foi justamente a Dark Side que nos eliminou. – Disse Dulci, com uma cara mais triste.
— Então eles são bons? – Perguntou o garoto.
— Não, na verdade o que aconteceu é que, no duelo decisivo, o deck da Eien sumiu e ela não pode jogar, então tivemos que mandar o Brutus. – Disse Dulci, com a cara mais triste ainda.
— Brutus? – Artur estava confuso, nunca havia ouvido falar esse nome no clã.
— Brutus era um colega nosso, mas ele... – Dulci respirou fundo, mas Artur percebia a fúria invadindo o corpo da garota. – Ele era um espião da Dark Side.
— Um espião? Como assim, o que ele fazia?
— Basicamente, como um espião normal, ele passava informações sobre nossos membros e nossos baralhos e, naquele dia do Regional, ele foi para a final e... Ele cometeu um “erro”. Ele entregou o jogo para a Dark Side e nós perdemos.
Artur não conseguia acreditar naquilo.
— Poucos dias depois ele sumiu da Fairy Tales e hoje ele está na Dark Side.
— Nossa, eu não sabia...
— Bem, chega de relembrar dessas coisas ruins, vamos terminar logo isso e vamos passar para as cartas.
Em pouco tempo eles terminaram a papelada e passaram a arrumar as cartas nas prateleiras. Todas eram muito bem divididas conforme sua categoria, de modo que ficasse mais fácil encontrá-las depois.
— Ufa, terminamos! – Exclamou Dulci, com um ar cansado.
— É verdade. – Disse Artur, sorrindo. – Dulci, eu queria te perguntar uma coisa.
— Diga.
— Bem... Você é uma garota, né?
— Meu Deus, você descobriu meu segredo! – Exclamou Dulci, sarcástica.
— Não foi o que eu quis dizer, eu-
— Eu sei, relaxa... Então, qual o nome dela?
— “Dela” quem?
— Da sua crush. Qual é, sempre que os homens vêm com esse papo de “você é uma garota” é porque provavelmente quer um conselho sobre uma garota. Então, qual o nome dela?
Artur estava completamente sem jeito depois de Dulci ter feito toda essa análise certeira sobre o que ele iria perguntar.
— Bem... É que eu...
— Você não sabe o nome da sua crush? – Perguntou Dulci, em tom repreensivo.
— Não, é que eu a vejo no trabalho e...
— Você trabalha? – Perguntou Dulci, surpresa.
— Sim, eu trabalho em uma livraria que é também um café... Fica aqui perto da galeria, então eu consigo vir à pé depois do serviço.
— Certo, vamos voltar a sua crush, você não sabe o nome dela, isso é ruim, mas tudo bem... Você a viu no seu trabalho...
— Isso, ela sempre aparece lá nas terças e quintas e toma um café enquanto lê um livro.
— Qual o nome do livro? – Perguntou Dulci.
— O nome do livro? – Repetiu Artur.
— Você não sabe o nome do livro? – Dulci estava perdendo as esperanças. – Eu não acredito como o nosso mundo tem sido governado por homens por tanto tempo... Vocês são muito desligados.
Artur estava se arrependendo de ter pedido a ajuda da colega.
— Certo, missão para você, descobrir o nome da sua crush. Veja o livro que ela está lendo, procure saber do que se trata, tente ver se te interessa.
Apesar dos olhares de reprovação no início, Artur estava se sentindo bem depois de ouvir os conselhos de Dulci.
— Agora vamos, já está ficando tarde.
Logo era terça-feira novamente, dia em que a crush aparecia no café em que Artur trabalhava e, como sempre, ela estava lá, sentada tomando um café e lendo seu livro.
Artur se aproximou da garota.
— Olá, meu nome é Artur.
Ele estava muito nervoso e suava bastante.
— Olá. – Respondeu a garota.
— Eu trabalho aqui.
Ele definitivamente não sabia o que estava falando.
— É mesmo? – Perguntou a garota, em tom irônico. – Eu não tinha reparado no seu crachá ou no seu uniforme.
— Ah sim, esse é o meu uniforme, e aqui é o meu crachá.
A coisa estava indo pior do que o esperado.
— Então, se você precisar de ajuda na loja, eu posso te ajudar, é só você falar.
Artur tentava não parecer esquisito, ao mesmo tempo em que virava a cabeça tentando ler o nome do livro que a garota estava lendo.
— É um livro sobre economia. – Disse a garota, percebendo o interesse dele pelo livro.
— Ah, que legal. Bem, agora eu preciso ir, tenho que atender uns clientes.
A garota deu um sorriso.
— Lyla! – Gritou a garota, agora que Artur estava longe.
— O quê? – Perguntou ele, confuso.
— Meu nome é Lyla.
— Ah sim. Prazer, meu nome é Artur.
A garota riu.
— Você já disse seu nome.
— Ah, verdade... Agora eu tenho que ir.
E ele voltou para o balcão, para atender os clientes da livraria.
Ao final do expediente, Artur correu para a Fairy Tales, entrou na sala em que Dulci estava. Ele estava tão animado que nem bateu na porta e nem cumprimentou ninguém, nem sequer reparou que Eien estava lá.
— O nome dela é Lyla, ela estava lendo um livro sobre economia! – Disse Artur, animado.
Dulci queria rir, mas conseguiu segurar o riso com a mão na boca. Artur se virou e reparou que Eien o olhava com um olhar extremamente ameaçador. Artur entendeu o recado e saiu de lá o mais rápido que pode.
— Que história é essa, Dulci? – Perguntou Eien.
— É a crush dele. – Respondeu Dulci. – Ele me falou dela no domingo e pediu um conselho, falei pra ele conversar com ela, perguntar o nome...
Eien deu um sorriso e uma risada discreta.
Ao terminarem a conversa, Dulci foi se encontrar com Artur, que contou tudo para a colega.
— Eu não sei o motivo, mas tenho quase certeza de que essa conversa com sua crush quase foi um fracasso total. – Disse Dulci, depois de ouvir toda a história.
No dia seguinte, Artur decidiu procurar alguns livros de economia na livraria, queria tentar entender um pouco do assunto para ter o que conversar com Lyla.
— Olá, você poderia me dar uma ajuda. – Perguntou uma cliente.
Artur estava agachado procurando um livro, mas logo se levantou para atender a cliente.
— Mas é claro que... LYLA!? – Artur levou um susto ao ver a garota.
— Olá. – Respondeu ela, rindo do susto que o garoto levou.
— Desculpe, eu não esperava você aqui, você só vem nas terças e quintas. – Artur logo percebeu que aquilo poderia soar estranho. – Não que eu esteja te observando nem nada, eu só... – Ele percebeu que a coisa só estava piorando. – Tudo bem, vou chamar outra pessoa para te atender enquanto eu me enfio em um buraco pelos próximos 50 anos.
— Ei, relaxa. – Disse ela, rindo. – Você é engraçado. E sim, hoje eu deveria estar em um lugar, mas... Eu não quis, então vim para cá.
Artur estava feliz de ouvir aquilo, mas estava se sentindo um pouco desconfortável por não ter planejado nada.
— Então, o que você está fazendo na sessão de livros de economia? – Perguntou Lyla.
— Bem, eu... – Ele pensou em uma desculpa, mas achou melhor falar a verdade. – Bem, eu vi você com um livro sobre economia e pensei em ler um pouco sobre...
— Não perca seu tempo, eu estou lendo só para um trabalho da faculdade... Eu gosto mais é de literatura inglesa... Gosto muito de Shakespeare, “Contos de uma noite de verão” é incrível.
Artur estava aliviado que não teria que ler sobre economia.
— Ei, o que acha de tomarmos um café amanhã? – Perguntou Lyla.
— Um café? – Artur estava completamente desnorteado.
— Isso, depois do seu trabalho aqui, podemos tomar um café e conversamos.
— Claro, seria ótimo. – Respondeu ele.
— Beleza, então te encontro aqui amanhã. – Disse Lyla, enquanto olhava uma mensagem que acabara de chegar em seu celular. – Droga, agora eu preciso ir. Até amanhã.
Artur ainda estava processando a informação.
Assim que acabou o serviço, Artur correu para a Fairy Tales e, novamente, invadiu a sala para falar com Dulci, sem sequer ter reparado que todos os titulares estavam lá.
— Dulci! Eu chamei a Lyla para um encontro! – Na verdade ela que o chamou, e na verdade era só um café...
Dulci riu mais uma vez.
— A Eien está atrás de mim, não é? – Perguntou Artur, com uma cara de desespero.
Ao reparar que estavam todos ali, Artur ficou mais vermelho que um tomate.
— Ok, já paguei o meu mico do dia, estou de saída.
Encerrada a conversa, Dulci foi falar com Artur.
— Então VOCÊ a chamou para sair? – Perguntou Dulci, dando muita ênfase ao “você”.
— Exatamente! – Respondeu Artur, demonstrando confiança.
Dulci sabia que não tinha sido ele e que provavelmente ela o chamou para sair, mas ela não deixava de ficar feliz com a vitória do amigo.
No dia seguinte, Artur foi para o trabalho e encontrou Lyla. Logo após o fim do expediente, Artur trocou seu uniforme e os dois se sentaram para conversar. Eles conversaram por horas, até que Artur se levantou para ir ao banheiro e derrubou sua mochila, deixando o seu baralho todo esparramado no chão.
Apesar de envergonhado, Artur começou a juntar as cartas. Lyla ajudou também.
— Nossa, você joga Yu-Gi-Oh!? – Perguntou ela.
— S-Sim... – Respondeu ele, um pouco sem jeito.
— Que legal, esse é o deck de HERO? Nunca aprendi a jogar, eu gosto muito das Harpie Lady. – Disse a garota, com uma animação excessiva na voz.
Artur estava bastante confuso agora.
— Isso, eu gosto muito de jogar com os HERO, mas ainda estou tentando melhorar o meu baralho.
— Ei, o que acha de jogarmos no sábado? Eu conheço uma loja bem maneira, podemos jogar lá.
Artur aceitou imediatamente o convite. De uma hora para a outra, parecia que ele havia encontrado sua alma gêmea. Ele já não estava mais tão nervoso.
No sábado os dois se encontraram na porta da loja, conforme combinado. Os dois foram recepcionados por um homem de quase 50 anos.
— Como vai, Lyla, então esse é o seu namorado? – Perguntou o homem.
— Não tio, ele é meu amigo. – Disse a garota, corando. – Tio, você separou o que eu te pedi?
— Sim, está nos fundos da loja, vamos lá. – Disse o homem, animado.
Lyla pegou a mão de Artur. Ele sentia o calor da mão da garota aquecendo seu coração. Por ele, aquele momento poderia durar para sempre.
— Aqui! – Disse o homem, entregando uma pequena caixa para a garota.
— Obrigada, tio!
— Tudo pela minha sobrinha favorita.
A garota logo entregou a caixa para Artur.
— O que é isso? – Perguntou ele.
— Abra. – Ordenou ela.
Artur abriu a caixa e não acreditou no que viu.
— Meu Deus, é o deck de HERO do Legendary Hero Decks! Você me vende ele? Quanto que é? – Artur estava eufórico.
— É seu, bobo. Meu pai e meu tio são donos dessa loja, perguntei se eles tinham um desses sobrando e decidi dar ele para você.
Artur estava muito contente.
— Nossa, tem os novos Xtra HERO, e tem ainda os Destiny HERO e ainda tem a Shadow Mist, Mask Change. – Seus olhos brilhavam.
Artur então deu um abraço na garota. Foi quase uma reação involuntária. A garota o abraçou de volta.
— Certo, não vou ficar segurando vela aqui, vou lá para os fundos. – Disse o tio, voltando para os fundos da loja.
Os dois então se soltaram, ambos estavam bastante corados.
— Certo, o que acha de abrir esse deck para podermos jogar? – Perguntou Lyla.
— Sim, vou abrir agora.
Durante aquela tarde os dois jogaram bastante. O sorriso no rosto da garota era contagiante.
Enquanto isso, nos fundos da loja.
— Você não vai acreditar... O namorado da sua filha é incrível, eu nunca a vi tão sorridente em uma partida desde... Bem, você sabe...
Já no fim da tarde, Artur correu para a Fairy Tales.
— Siin! – Gritou Artur, enquanto procurava seu mestre.
— Olá, xuxu, o que foi?
Artur mostrou seu novo baralho. Siin sorriu.
— Como você... – Siin estava surpreso com a novidade.
— Uma garota me deu, eu a conheci no trabalho, nós saímos e ela também joga e o tio dela tem uma loja e... – Artur não percebeu, mas ele estava falando tão rápido que mal dava para entender.
— Bem, você não vai acreditar no que eu consegui. – Disse Siin, tirando algo do bolso. – Eu conheci um cara que tinha umas cartas sobrando e...
Siin tirou uma carta do Elemental HERO Stratos e uma do Vision HERO Vyon do bolso. Os dois ficaram muito animados e foram testar o deck.
Eien observava os dois de sua sala, mas dessa vez, sua cara esboçava uma certa preocupação e um pouco de frustração.