—Sim. – disse ela com aquela risada que só ela tem.

—Mas como está aqui? – disse ela.

—Você nem sabia onde eu morava.

—Eu só precisei de achar algumas pessoas e conseguir as informações certas.

E em um momento de lucidez, veio outra pergunta.

—Ele está com você?

Silêncio.

—Ele não sabe que estou aqui e muito menos que consegui seu endereço. Na verdade, nem se eu quisesse eu conseguiria falar com ele.

—Por que?

—Tem quase duas semanas que ninguém ouviu falar dele. – disse ela. – Ele juntou as malas assim que chegou no aeroporto internacional e seguiu para algum outro lugar que ninguém sabemos.

Dessa vez eu fiquei sem palavras.

—Eu não sei o que dizer.

—Sabe sim. – disse ela. – Ele me ajudou muito quando eu precisei e devo isso a ele. Nunca vi ele sofrer tanto por alguém e nesse almoço eu espero que você me explique exatamente o porquê está agindo assim.

—Conversaremos mais tarde então. – disse para ela e desliguei o telefone.

Eu não conseguia mais pensar no que estava trabalhando. Minhas mãos tremiam sobre a ansiedade e meus pensamentos viajavam sobre as possibilidades do que poderia a Demi me falar, afinal ela veio ao Brasil me falar algo e isso parecia sério demais. Por mais que eu olhasse no relógio, o tempo insistia em não passar, por isso eu tentei focar no trabalho para que não ficasse mais pilhado com tudo que se passava na minha cabeça. As 11h39 minutos a espera se tornou ainda maior para dar meio-dia. Então apenas desliguei o computador e sai daquela sala. Eu apenas não podia esperar mais.

Quando eu cheguei ao hotel que Demi havia me passado o endereço. Tinha alguns minutos adiantados ainda, mas lá estava ela me esperando.

—Acho que estou adiantado. – disse para ela.

—Eu também já não aguentava mais esperar. – disse ela vindo ao meu encontro me abraçando. Acho que nunca ia me acostumar com isso. Que eu conhecia ela.

—Me conte Demi, o que fez com que você viesse ao Brasil?

—Eu que devo te perguntar isso. – rebateu ela. – Quero toda a história.

Suspirei fundo. Não sabia se podia falar mal de Carlos com Demi. Isso parecia tão errado, mas ainda era a verdade. Será que ela entenderia? Mordi o lábio, pensando sobre isso.

—Você pode confiar em mim. – disse ela. – Pode dizer qualquer coisa. Foi algo que ele fez e que não gostou?

—Não tem nada a ver com ele. – disse para ela. – Apenas acho que estávamos indo rápido demais com as coisas e não queria que isso prejudicasse a carreira dele. Você sabe como as pessoas podem ser preconceituosas.

—Agora eu entendo. – disse ela. – Carlos falou isso com você. Ele queria que você se afastasse de Joe e sabia que você não se perdoaria se destruísse a carreira dele por uma paixão assim.

—De onde tirou essa conclusão? – disse para ela, tentando parecer que foi uma ideia bizarra.

—Porque não foi a primeira vez que ele fez isso com Joe. Sebastian. Um ex quase namorado de Joe, foi pago por Carlos para se afastar dele. Sebastian o humilhou de tal forma que destruiu completamente Joe.

Eu não consegui demostrar a surpresa ao ouvir aquela história. Apenas ódio, por pensar que existiam pessoas no mundo que eram tão baixas assim.

—Você conhece ele?- disse para ela.

—Infelizmente sim. – disse Demi. – Sebastian recebeu uma minifortuna, na visão dele, de Carlos. E com esse dinheiro ele montou uma casa noturna muito conhecia na Califórnia, o sucesso foi tão grande que ele já abriu mais duas filiais.

Ela conseguiu ver a pergunta na minha expressão sobre como ela podia saber tanto e logo completou.

—Joe passou meses indo lá, acreditando que conquistaria novamente Sebastian. Ele apenas parou quando a nova turnê mundial começou.

—E Sebastian?

—Para ele tudo era um jogo, ele dava esperanças para Joe que eles voltariam e na semana seguinte estava ficando com algum modelo ou cantor pouco conhecido.

Joe usava bebidas e drogas para esquecer isso, até que chegou em um ponto que ele bebia todos os dias e seus irmãos apenas o deixavam de lado, contando que ele se apresentasse da melhor maneira possível em shows.

Carlos não se importava com ele também e seus pais poucos sabiam sobre os problemas dele. Mas você o mudou em tão poucos dias. Você ser novamente aquele Joe que ele foi um dia. O Joe antes de Sebastian.

—Eu apenas não sei o que dizer. – disse para ela.

—Não sabia que ele havia passado por tantas coisas.

—Algumas pessoas acham que a fama nos leva um outro nível. Que estamos livres dos problemas, mas é apenas pior. – disse ela. – Você não pode fazer nada de diferente sem que pessoas estejam observando você e comentando sobre.

Eu apenas olhava. Como qualquer fã dela, eu sabia que as coisas para ela também nunca foram tão simples. Ela havia passado por um inferno também.

—Eu não sei o que posso fazer. – disse para ela. – Eu quero ajudar ele, mas...

—Mas?

—Eu não sei como. – disse para ela. – Eu não sou o tipo de pessoa que sabe lidar com esse tipo de situação.

—Não é apenas você. – disse ela.

—Nenhum de nós sabemos. Mas podemos aprender, na hora certa tudo sai daqui. – disse ela apontando para meu coração.

—Você tem razão. – disse para ela com as lagrimas que estavam nos meus olhos.- Mas ainda temos um problema.

—Qual?

—Como vamos encontrar ele?

—Você confia em mim? – disse ela.

—Sim. – eu disse sem pensar.

—Eu preciso de algum tempo. – disse ela. – Talvez alguns dias para achar ele. Mas eu vou.

—Tem alguma ideia de onde ele esteja?

— Sim. – disse ela. – Mas preciso ainda ter certeza. – disse Demi com aquele olhar de lado, como se me escondesse algo.

— O que está pensando? – disse para ela.

—Sobre todos os lugares que ele poderia estar sem ser percebido.

—Vai ser uma longa pesquisa. – disse para ela. – Não conheço os Estados Unidos, mas acho que deve ser como procurar uma agulha no palheiro.

Ela me olhou e riu com a expressão.

—Agulha no palheiro?

—Uma expressão que utilizamos aqui, quando queremos dizer que é algo muito complicado.

Ela gargalhou.

—Mas não acho que ele esteja tão longe. – disse ela.

—O que quer dizer?

—Que se eu conheço bem Joe, ele está em algum lugar dessa cidade. – disse ela.

—O que? – disse para ela.