POV. Selena, 23 de Setembro de 2012.

03:29 pm, Filipi City, Texas.

Acho que tinha conseguido dormir lá pelas 01 da madrugada. Algumas vezes eu podia sentir os lábios de Justin perto dos meus, e aquilo me fazia sentir mais culpada ainda.
Todo o meu esforço para dormir foram totalmente em vão, pois algumas horas depois de finalmente meus olhos se colarem um ao outro, algo me fez acordar. Com dificuldade apoiei meu cotovelo sobre meu travesseiro, e no escuro, procurei qualquer sinal de movimento. Um barulho vindo da janela me chamou atenção, e ao me virar, vi que ela estava aberta. A minha fina cortina de seda, balançava de um lado para o outro, e eu tentava me convencer de que tinha deixado a janela aberta antes de dormir. Mais meus pensamentos, foram interrompidos por um nome que de relance passou por minha mente abstrata: Christian!

– Quem está aí? – perguntei em vão. Um medo totalmente aparente tomou conta de mim. De repente, os barulhos do vento, dos poucos carros que passavam na rua, e até mesmo de minha respiração, simplesmente sumiram. Paralisei junto com toda a cena, e enquanto sentia meu coração acelerar, sentir uma sensação de que tinha alguém ao meu lado. Alguém se levantando. Meu coração e cérebro já estavam uma pilha, quando tudo aconteceu.

– BOO! – falou alguém com a lanterna na cara, me fazendo dar um grito de pavor. Era Demi!

– O QUE DEU EM VOCÊ? – falei me recuperando do susto. Demi estava rindo feito louca, enquanto apagava a lanterna e acendia o abajour. Eu estava com a respiração ofegante, e minhas mãos tremiam. Por um lado agradeci por ser Demetria, e não Christian que aparecera! Por outro, aquilo só me preocupou mais sobre Demi.

– Deixa de ser chata... – Demi falou se levantando e rindo. Ela foi pra de frente para o espelho de meu guarda-roupa e ficou se admirando. Acendi a luz, e apaguei o abajour que Demi tinha acendido.

– Demi... – falei arqueando as sobrancelhas e me aproximando. Ela estava com um jeans surrado e um casaco cinza de capus. – O que houve com seu cabelo? – falei atônita. Puxei o capus do casaco deixando a mostra o cabelo dela, que estava preto, liso, e no meio das costas. O cabelo de Demi, que era loiro e tinha ondas belas que remetiam-nos as curvas das montanhas de Filipi City, agora estava parecendo o de uma das meninas góticas da escola.

– Eu pintei e cortei. Tá cega? – ela falou se voltando pro espelho. – Ainda mais... eu fico muito mais gostosa morena. – Ela se virou pra mim, com os olhos arregalados. – Né?

Deitei-me na cama de novo. Eu queria me convencer que toda essa loucura de Demi, era passageira, ou era coisa da minha cabeça. – Tanto faz. – falei apertando os olhos. – Porque veio aqui? É madrugada, e amanhã temos escola.

– A sua melhor amiga não pode mais te visitar agora? – ela riu, e se sentou na beira da cama.

– É sério Demi, é de madrugada, por cargas d’água você tá aqui?

– OK! Eu quero que você ajude a me vingar de Christian.

– AGORA? – falei arregalando os olhos. Demi falava aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Demi, você está começando a me assustar de verdade!

– Descobri onde ele está. A polícia deixou ele ficar em liberdade até o julgamento, e nesse tempo ele fica num clube de stripers, a uns 4 quarteirões daquele restaurante, que a gente foi no meu aniversário. De carro, dá uma hora. É minha chance de me vingar dele, Sel!

– Mas o que você pretende fazer pra se vingar dele? MATAR? – falei irônica.

– Não é má ideia..

– DEMI!

– Foi mal, só to brincando. – ela riu. Por um momento achei que ela tinha voltado ao normal. Erro meu! – Só quero “assustar” ele. Talvez um tiro, ou uns socos.

– Demi! Isso é assustador e perigoso.

– Ele não pode fazer nada comigo, Selena. Se fizer, vai pegar perpetua. – ela fitou o chão de madeira de meu quarto, e pude ver algumas lágrimas descerem por seu rosto. – Selena, só quero mostrar pra ele o quão eu mudei. O que ele fez comigo é impagável. Só quero dar a ele um gostinho da dor que ele me fez. É pedir muito?

Era! Eu queria poder dizer isso a ela. Mas seria inútil. Demi estava cega demais pra enxergar as idiotices que estava pensando em fazer. Mas também não era nada grave. Ela só queria bater nele. Mas o que me assustava era esse desejo doentio de Demi.

– Tudo bem! Mas hoje não. Eu estou muito cansada. Tem muita coisa rolando ao mesmo tempo.

Demi sorriu. Eu não acreditava que estava me metendo mais nessa furada. Deixa de ser imbecil, Selena! Suspirei e fitei Demi.

– Que dia então? – ela falou cutucando os cantos da unha que estavam em carne viva.

– Não sei! Mas me promete uma coisa Demi. – falei a olhando nos olhos castanhos. – Que você vai esquecer essa vingança. Você tá sendo dominada por isso, e não tem noção do quão assustador isso é pra mim.

Demi contorceu o nariz, e se virou pra mim sorrindo. – Prometo! – ela falou. Senti que minha Demi, poderia voltar. Mas eu teria que ter cuidado, para não deixa-la escapar pelos meus dedos.

– Tenho que ir dormir, Demetria! – eu falei esfregando os olhos. Demi se deitou ao meu lado sorrindo. Adormecemos, e pude finalmente ter uma noite de calma. O que naquela época, se tornara um momento tão raro, quanto achar um trevo de quatro folhas. Mas o melhor de tudo, eu dormir, e esqueci de todos e quaisquer problemas que me perturbavam, que cismavam em me enlouquecer.