Eu acordei, estava me sentindo tão bem, tão descançada, com bom humor e tudo. Pois é, milagre. Fiquei uns 5 minutos só olhando meu quarto, observando cada detalhe lá da cama mesmo.

Meu quarto era de um rosa clarinho, quase lilás na verdade, os móveis eram todos brancos, menos uma poltrona do computador, que era roxa. Minha cama era de casal, com muitos travesseiros e almofadas fofinhas em cima, o que eu notei, com um teste que eu fiz (ou vários seguidos) que era muito legal de vir correndo lá da porta e pular, me jogando em cima. Tinha um banheiro enorme, e enfim a parte que eu mais gostava: meu closet. A gente entrava em um comodo com várias roupas, sapatos e acessórios, queria ver até quando iria ficar assim tudo organizadinho. Há.

Enfim me levantei de minha cama, tomei um banho e me arrumei, apenas com uma calça jeans rasgada, meu vans preto e uma blusa. Desci e encontrei meu pai sentado tomando uma xícara de café e lendo o jornal.

-Oi pai, nossa estou tão descançada, parece que dormi por dias - sorri - fazia tempo que não me sentia assim, mas pai, você sabe que horas são ?

-A faladeira acordou de bom humor hoje né ? - meu pai riu um pouco da minha cara, porque sabe, todos amam rir de mim e não comigo - Que bom que descançou querida, ah Nina, antes que eu me esqueça, vou viajar a trabalho amanha cedo, espero que não se importe de ficar sozinha, vou pedir para os meninos, não, melhor, vou pedir ao Liam, porque ele é mais responsável, para ficar de olho em você...- ele olhou no pulso e acrescentou - são sete horas querida.

-Pai! - eu estava indignada- Eu tenho quase 17, daqui a um mês e meio na verdade, faço 17, não preciso de nenhuma babá, muito menos o Liam como babá, por favor né, ele tem mais do que fazer. Nossa, nem parece que dormi só cinco horas, eu ainda tenho uma hora para me arrumar até o jantar com os meninos.

-Nina, querida, acho que você não entendeu, são sete da manhã - ok, eu fiquei de boca aberta, e meu pai, vendo que eu não iria responder, continuou - você dormiu durante o jantar, os meninos até tentaram te acordar, mas não funcionou nada, você dorme igual a uma pedra, falei para eles, mas, se você quizer fazer alguma coisa com eles pode, é só ir mais tarde ali na casa do lado, eles moram ali. Bom, eu tenho que ir para o escritório organizar as coisas para a viagem. Qualquer coisa é só ligar! - meu pai me deu um beijo na testa e foi trabalhar.

Vei, que otária que eu era. Eu tinha dormido durante o jantar que eles me convidaram, agora, provavelmente não queriam nem mais me ver pintada de ouro, quanto menos ser meus amigos. Devem me odiar por eu ser uma dorminhoca furona. Ótimo, afastei meus únicos amigos.

Resolvi subir e falar com a minha mãe pelo Skype. Ela tava meio louca da vida comigo porque eu tinha prometido que assim que chegasse daria noticias a ela. Ops. Mas poderia ser bem pior né ? Só fiquei um dia sem dar noticias, ela só não soube se eu cheguei aqui ou se eu fugi para a Cordilheira dos Andes. Tanto faz, não estava com humor de ficar chateada com a minha mãe por ela brigar comigo.

Assim que acabei de falar com a minha mãe, uma chamada da Gabi, minha prima e melhor amiga, veio pelo Skype. Ai senhor, a vovó com certeza estaria do lado da Gabi, ela deveria estar fula da vida comigo. Eu não tinha medo da minha mãe, mas da minha avó, eu tinha, e muito. Pensei seriamente em recusar a ligação, mas ai seria muito pior depois e eu estava morrendo de saudades da Gabi, precisava falar com um amigo. Aceitei. Quando finalmente o sermão aos berros de minha avó acabou, e depois do sermão que a Gabi levou por ficar fazendo careta por tras da minha avó enquanto ela gritava comigo, eu finalmente pude falar com a criatura da minha prima.

-Oi Bisheeeeeeeeee!!!!!!!!!! - falei. Bishe, para nós duas significava "bitch", mas como nossa família toda sabia falar inglês fluente, e com isso sabia os palavrões não ficava muito feliz ao ver duas primas se chamando de vadias toda hora. Minha avó me deu uma bronca quando viu eu chamando a Gabi de vadia uma vez que eu nunca esqueci. Ai ai, bons tempos. Então, como solução, inventamos o Bishe e ficou.

-Ai Bishe, que saudades, anda, pode ir falando tudo ai, sei que o porque de você não falar com a gente não era por estar cansada, porque quando se sabe que a vó vai brigar com você por não fazer alguma coisa, isso acaba com qualquer cansaço. Além do mais, te conheço Nina, e essa carinha não é boa, anda, pode abrir o bico de bishe ai. - é, ela realmente me conhecia. Falei tudo para a Gabi, ela me ouviu primeiro, cada segundo ela estava atenta,ou isso ou a imagem estava travada. Enfim, no final ela só me disse para relaxar, que eu não estava aqui a um dia só, claro que eu iria fazer amigos, que eu estava de férias ainda, mas que quando começasse as aulas, eu teria um monte de amigos como no Brasil. Ela também disse alguma coisa parecida que também não deveria ser assim e que eu deveria estar dramatizando as coisas, como se eu dramatizasse alguma coisa né, por favor.

Terminei de falar com a Gabi. Estava com água nos olhos por não poder abraçar ela, por saber que esse seria o meu primeiro ano na escola sem ter ela sentada do meu lado para passar bilhetinhos, mensagens, conversar em voz alta, me animar, fazer trabalhos comigo e todo esse bla bla bla. Droga, um dia sem a bishe da minha Bibis e já estava assim.

Olhei as horas e quase era hora do almoço, iria ao supermercado mais perto comprar algumas coisas para fazer, não sabia se meu pai vinha almoçar comigo, mas mesmo assim, iria fazer alguma coisa para ele também, queria fazer um agradinho. Mentira, era porque não tinha mais nada para fazer, e quando eu estou no tédio, ou quando eu preciso estudar para uma prova, eu começo a colocar para fora minhas habilidades culinárias.

Já iria aproveitar para passar lá na portaria do condomínio e começar uma amizade com o porteiro, porque já estava até vendo, ele seria minha única amizade por aqui. Tomara que ele não seja um velho rabugento e que ele não corra atrás de mim com uma vassoura levantada gritando "SAIA DA MINHA PORTARIA". Isso não seria nada agradável, e ai sim, eu não teria nenhum amigo aqui na Inglaterra.