You are not alone...

I ain't going anywhere


Emma e Regina foram diretamente para o hospital. Emma estava ansiosa para conhecer Henry e a morena doida para rever seus filhos. Quando chegaram, Emma achou melhor fazer os testes primeiro enquanto Regina conversava sobre a situação com os filhos.

Regina olhou pela janela na lateral do quarto de seu filho e viu Alycia deitada na cama, abraçando seu irmão de lado e fazendo carinho em seus cabelos. Henry estava bem mais pálido desde a última vez que Regina havia o visto. Parecia menor e mais fraco também, mas nem isso tiraria o sorriso de seu rosto enquanto conversava com sua irmã.

Ela chegou mais perto da porta do quarto e ficou parada encostada na parede, ouvindo a conversa dos filhos.

— Ally, me conta uma história? - ouviu a voz fraca de Henry.

— Humm… qual? - ela respondeu.

— Qualquer uma – a menina pareceu pensar um pouco e quando decidiu a história abriu um imenso sorriso.

— Okay então… Era uma vez…

— Sério? - interrompeu Henry.

— O que? - perguntou abaixando a cabeça para vê-lo melhor.

— Você vai começar a história com “Era uma vez”?

— E qual é o problema disso? - perguntou divertida.

— As pessoas só começam a contar histórias assim quando é pra criança.

— E você é o que exatamente?

— Um homenzinho – respondeu com um sorriso fraco, mas grande. A resposta arrancou uma leve gargalhada de sua irmã e uma risada contida da mulher atrás da porta.

— Okay, homenzinho, mas eu sou a mais velha e eu começo a história do jeito que eu quiser.

— Ah, são só 3 anos… - reclamou.

— Bom, não sou eu que ainda uso meias dos Padrinhos Mágicos— Disse apontando para os pés do irmão que estavam cobertas com a tal meia.

— Ei! Você também usa – Apontou para os pés da irmã.

— Não uso não – O menino ergueu as sobrancelhas e com esforço levantou a cabeça mirando a irmã. “com quem será que ele aprendeu isso?” pensou irônica – São os Power Rangers! - tentou se defender. - É diferente.

— Sei, sei… - Disse Henry em tom de deboche voltando a mirar a parede do quarto.

— Shiu. Deixa eu continuar.

— Vai em frente – o menino se aconchegou melhor nos braços da irmã, abraçando sua cintura, e esperou o começo da história.

— Era uma vez… - Henry revira os olhos. – uma menina. Ela era a menina mais linda de todo o reino, morena de olhos castanhos. Ela era animada, cheia de felicidade. E uma coisa que ela sempre quis fazer, era cavalgar.

— Eu amo cavalos… - Disse Henry baixinho, não querendo atrapalhar a história.

— Eu sei. Ela também amava. - Disse sorrindo. - Um dia, ela decidiu que iria aos estábulos e montaria em um cavalo pela primeira vez. Lá ela conheceu um rapaz, e eles se apaixonaram a primeira vista – Alycia olhou para o irmão, que não dava nenhum sinal que adormeceria, então continuou. - Os dois passaram dias e noites juntos, cada vez mais apaixonados. Mas a mãe da menina não gostava nada disso. Ela queria que a filha virasse uma Rainha e não a esposa de um camponês – Alycia viu Henry fazer uma cara feia que fez ela rir. - Um dia, quando os jovens apaixonados pararam para descansar depois de uma longa cavalgada, os dois viram um cavalo descontrolado com uma garota montada gritando passar correndo! - Mesmo conhecendo a história, Henry ainda fazia caras e bocas, se surpreendendo com o decorrer da história e soltava uma gargalhada infantil fraca quando sua irmã gesticulava exageradamente com as mãos. - A morena não perdeu tempo e foi ao resgate da pequena menina.

— Então ela é uma heroína!

— Ela é muito mais que isso garoto – Disse Alycia dando um sorriso para Henry. - Mais tarde, a morena descobriu que a menina que havia salvado era uma princesa. O pai da princesa, o rei, em agradecimento, pediu a mão da jovem menina em casamento. Sua mãe prontamente aceitou por ela, mesmo sabendo que não era o desejo de sua filha e que ela amava outro…

— Nossa que mãe mais…

— Henry… - advertiu sua irmã, que já sabia o que o menino tinha em mente.

— Ahnnn… que mãe mais… boba… - sorriu inocentemente. Alycia apenas levantou a sobrancelha e riu.

— Continuando… - Disse voltando a história. - A morena, nada feliz com a decisão de sua mãe, decidiu fugir com o rapaz por quem estava apaixonada. Mas naquela noite, a princesa que a menina havia salvado, viu os dois se beijando e planejando a fuga. A princesa prometeu guardar segredo, mas a mãe da menina enganou a princesa que, no fim, revelou o segredo. - A boca de Henry formava um perfeito “O”. O menino estava morrendo de sono, mas não perderia o final da história por nada. - Na noite da fuga, a mãe da morena… arrancou o coração do rapaz, deixando sua filha inconsolável – Sua cabeça estava baixa, ela odiava essa parte da história, assim como Henry. - A menina descobriu que havia sido a princesa quem revelou o segredo, e nunca a perdoou…

— Essa história é sempre muito triste…

— Sim… mas tem mais.

— Tem? Você nunca me contou o resto.

— Bom, está na hora de você saber – Respirou fundo. - Depois disso ela acabou se casando com o rei e virando madrasta da menina. Anos mais tarde a morena mandou matar o rei e virou a única governante do reino. Ela prometeu que iria se vingar da princesa, não importava as consequências. A princesa cresceu e fugiu da madrasta para não ser morta. Enquanto fugia, encontrou um príncipe. Mas seu pai estava o forçando a casar sem amor. Os dois se apaixonaram e fugiram juntos, ficando noivos. No dia do casamento a madrasta da menina, que era conhecida como a Evil Queen por todos os seus súditos, invadiu o casamento. Ela prometeu lançar uma maldição que arrancaria a felicidade de todos.

— Então ela virou uma vilã?

— Calma que tem mais história – o menino assentiu com a cabeça e voltou a prestar atenção na história. - Meses depois, um bebê nascia. Era a filha dos recém-casados e a única esperança de salvar todos da maldição da rainha. Eles tiveram que mandar o bebê por um portal, para que anos depois ela pudesse salvá-los. A maldição chegou e mandou todos para outro reino, um reino sem magia. Você sabe qual reino? - Perguntou olhando para Henry.

— Hmm… - ponderou por alguns segundos. - Não…

— O nosso – Henry arregalou os olhos de um jeito que fez sua irmã rir. - Pois é. A maldição fez o tempo parar e apagou a memória de todos, as substituindo por novas. Assim, ninguém nunca mais conseguiria seu final feliz.

— Uau! Ela é muito má…

— Mas tem uma outra coisa que você não sabe…

— O que?

— Alguns anos se passaram e a rainha começou a se sentir sozinha. Assim, ela adotou duas crianças que trouxeram alegria e amor para a vida dela e agora ela quer achar a filha de sua ex-enteada para quebrar a maldição e se redimir.

— Hmm… E como a história acaba?

— Eu ainda não sei, mas quando eu descobrir eu te aviso - os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Alycia quebrou esse silêncio. - Henry.

— Sim… - Disse ele meio sonolento.

— Se você fosse um dos filhos da rainha… Você perdoaria ela?

— Ally, eu não teria nada o que perdoar.- Ele se ajeitou e olhou nos olhos da irmã.- Ela quer se redimir, e tudo que aconteceu não foi exatamente culpa dela. Não importa o que ela teria feito no passado. Ela ainda seria a minha mãe - Os olhos de Alycia lacrimejaram. Ela se segurou para não apertar seu irmão e dar vários beijos por todo seu rosto. Então ela só sorriu. - Por que? - perguntou ele, se ajeitando na cama e fechando os olhos.

— Um dia eu prometo que te falo – Alguns segundos passaram e o menino já estava em um sono profundo. - Eu tenho muito orgulho de você Henry. Você é um ótimo filho… e irmão - Sussurrou e colocou seu ajeitou seu irmão na cama, saindo dela logo em seguida.

Regina chorava e sorria ao mesmo tempo, ouvindo a história contada por sua filha. Quando ela havia começado a contar, ficou triste e apreensiva, mas a resposta de seu filho fez toda a dor, que acabará de reviver, valer pena.

Ela limpou as lágrimas dos olhos e abriu a porta cuidadosamente. A primeira coisa que viu foi Henry dormindo na cama, agarrado a um cavalo de pelúcia. “Obra de Dona Alycia, presumo”. Pensou.

Seu sorriso abriu ainda mais quando viu sua filha sentada na poltrona no canto do quarto, olhando o irmão dormir. Ela se encostou no batente da porta e ficou olhando para ela até ser percebida.

— Mama? - Seu sorriso ficou enorme.

Ela levantou e andou rapidamente até sua mãe, tentando não acordar Henry. Ela envolveu Regina em um forte abraço, que foi retribuído na mesma hora. As duas foram para o corredor ainda abraçadas e quando Alycia levantou a cabeça para olhar a mãe, viu que seus olhos estavam vermelhos. Ela se afastou e abaixou a cabeça.

— A senhora ouviu… - Um sorriso triste tomou conta dos lábios da mais velha. - Mama…Desculpa…

— Hey… - Pegou no queixo de sua filha para fazê-la encará-la. - Não se desculpe - A mais velha abriu um sorriso genuíno tão bonito, que fez sua filha sorrir também. - Obrigada… Por tudo - As duas se abraçaram de novo, dessa vez por mais tempo.

Quando finalmente se separaram, elas se afastaram um pouco do quarto e Regina explicou tudo sobre a mãe biológica de Henry. Quanto mais ela falava, mais a menina se contraia. Regina achou estranho, afinal, Emma estava ali para salvar Henry.

— Regina, eu já acabei de…- a loira chega na hora exata em que a morena tinha acabado de explicar tudo para a filha. - Oi…

— Então, você é a mãe biológica do meu irmão?- Perguntou Alycia sem cerimônias.

— Ahnn… sim, eu sou – a menina não demonstrou nenhuma expressão e não respondeu nada, apenas saiu andando para outra parte do hospital. Regina ficaria preocupada se não soubesse que Mary estava trabalhando como voluntária naquele mesmo momento. - Eu disse algo errado?

— Não… ela é assim mesmo… depois eu vou conversar com ela. Conheço a minha filha e nesse momento ela precisa andar para se acalmar – Explicou a morena – Qualquer coisa, minha amiga Mary me avisa. Ela trabalha como voluntária aqui e eu tenho certeza que é para lá que ela está indo – a loira deu um sorriso triste, mas entendeu.

— É aqui? - perguntou meio apreensiva, apontando para a porta que estava mais afastada.

— É aqui sim – Sorriu. - Eu ainda não tive a chance de conversar com ele, pois esta dormindo. Mas se você quiser ver ele, podemos entrar mesmo assim – Emma apenas assentiu com a cabeça e abriu um sorriso nervoso. As duas entraram no quarto e os olhos da loira começaram a lacrimejar.

— Ele é tão pequeno… - Ela se aproximou e tocou o rosto dele cuidadosamente para não acordá-lo. - Tão frágil… - Quando se deram conta, as duas já estavam chorando.

Regina sorria amavelmente. Ela chegou mais perto dos dois e segurou a mão de Henry na cama e botou a outra mão no ombro de Emma. A loira, em um movimento automático, segurou a mão da morena em seu ombro e ficaram assim por alguns minutos até que o celular de Regina começou a vibrar.

Ela pediu licença e foi atender o celular do lado de fora, enquanto Emma ficava com Henry.

— Mary? - Disse ao atender.

Regina!

— Algo de errado com a Alycia?

Eu não sei exatamente. Ela foi pro canto…

—Ela foi pro canto?!- Exclamou Regina um tanto mais alto. Passou a mão pelos cabelos em um ato de nervosismo. - Obrigada por me avisar Mary, já estou indo – A morena desligou o celular e respirou fundo.

— Aconteceu alguma coisa? - Emma pergunta saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. - O que é o canto?

— Alycia…- começou a explicar, mesmo não entendendo o porquê de estar se abrindo com uma recém-conhecida. - Sempre que alguma coisa muito séria acontece ou quando ela não consegue lidar com seus próprios sentimentos, ela vai pro canto dela no telhado do hospital.

— Por que o telhado?

— Lá ela consegue ver a maior parte da cidade. Não tem movimento e o ar é mais puro. Isso acalma ela – Regina estava claramente preocupada. Sua voz trêmula entregava isso. - Eu preciso ir falar com ela…

— Eu vou.

— Emma…

— Regina, isso é obviamente por minha causa – chegou mais perto da morena, a olhando bem fundo nos olhos e segurando seus braços, fazendo a morena se arrepiar com o toque. - Pode deixar que eu falo com ela. E você fica aqui com Henry, talvez consiga falar com ele… Ainda mais que os testes que eu fiz vão demorar algumas horas para ficarem prontos.

A mais velha pareceu pensar. Ela respirou fundo, aproveitando o toque macio de Emma e, por fim, assentiu com a cabeça.

— Okay… acho que você pode tentar…- a mais nova sorriu em agradecimento e saiu na direção das escadas. - Miss SwanChamou Regina em um tom mais alto.

— Sim, Madame Prefeita? - respondeu Emma, se virando para encarar a morena.

— Não traumatize a minha filha.

— Hmm… Não posso prometer tal coisa – disse com um sorriso sapeca no rosto enquanto andava de costas, recebendo um olhar reprovador de Regina e uma revirada de olho. Mesmo assim, a loira sabia que a prefeita estava segurando o riso.

Quando chegou no telhado, Emma não teve dificuldade para encontrar a menina. Ela estava sentada longe da beirada, encostada em um dos tubos de ventilação. Ela olhava para todos os cantos. Olhava para a cidade, para o céu ou até mesmo para o chão.

A loira se aproximou lentamente de Alycia e quando percebeu que a menina não reclamaria de sua presença, se sentou ao seu lado. Ficaram em silêncio por alguns minutos. Emma tinha se voluntariado para ir conversar com ela, mas não sabia o que falar.

— Você vai tirar ele de nós?- perguntou Alycia em um tom tão baixo que Emma não conseguiu entender.

— O quê? - a menina levantou o olhar até encontrar com o de Emma.

— Você vai levar o meu irmão embora? - Emma finalmente entendeu o que estava incomodando a garota.

— Não! É claro que não… - a menina nada respondeu, apenas virou o rosto e voltou a encarar os altos e baixos prédios da cidade.

— Alycia… - hesitantemente, a menina se virou para Emma. - Eu nunca faria isso com você ou a sua mãe. Nem com Henry. Vocês são uma família, e eu nunca interferiria nisso. - Alycia sorriu com esforço, mas sorriu.

— Quando tudo acabar, você vai embora? - Emma lhe deu um olhar interrogativo. – Quando você e Henry se conhecerem, ele provavelmente vai gostar de você. Se você for embora, vai partir o coração dele… - Emma se virou totalmente para ela.

Kid… Eu não vou a lugar nenhum.

26 anos se passaram. Depois de 26 anos, os ponteiros da torre do relógio, começaram a se mexer.