“Quem é você?” Foi sua primeira pergunta. A segunda foi: “Você é uma deles, não é?”

“Uma deles?”

Robb suspirou e agradeceu por estar sozinho naquela tarde. Winterfell andava silenciosa desde que o pai e as meninas foram embora e Bran caiu da torre. As alucinações – que acabaram por se revelar não tão alucinações assim – voltaram esporadicamente, mas ele sempre estava acompanhado de alguém. A garota bonita da Campina tinha passado alguns minutos com ele no quarto do seu irmãozinho, ela foi gentil e desejou que ele se curasse. Um garoto moreno que se disse príncipe de Dorne o observou treinar no pátio com outros rapazes e uma menina loira muito bonita tinha rido de sua habilidade com o arco e flecha. Robb não podia conversar com nenhum deles sem se passar por louco, mas com aquela menina ele pode falar.

“Sabe, as alucinações, ou melhor, as outras pessoas que ficam aparecendo.”

“Oh sim, sou. Você já conheceu Harry?”

“Harry? Não. Quem é esse?”

“Um rapaz do Vale. Ele é um tanto exibido, mas é engraçado.” A menina se vestia de forma estranha e sua aparência era impressionante. Os cabelos prateados e os olhos violetas deixavam claro sua ascendência.

“Qual seu nome?”

“Daenerys Targaryen”

“Robb Stark.”

A menina o olhou um tanto desconfiada.

“Você está relacionado com o usurpador.”

“Rei Robert?”

“Ele não é Rei! Ele é um assassino que matou minha família e persegue eu e meu irmão!” Ela gritou furiosa. Robb ficou chocado com sua reação, mas imaginou que deveria ser algo esperado, afinal, Robert Baratheon tinha de fato destronado os Targaryen.

“Para ser honesto, o seu pai tem tanta culpa na destruição da sua família quanto Robert. O Rei Louco queimou vivo meu avô quando ele foi pedir para que o príncipe Rhaegar devolvesse minha tia Lyanna e matou meu tio Brandon no processo.” Ele teria continuado a listar os crimes do antigo Rei se não fosse pela a raiva misturada com tristeza que se apoderou dele. Lagrimas encheram os seus olhos do mesmo jeito que encheram o dela.

“Essa é a dor que sinto pela minha família Stark. Pela a infância que eu nunca pude ter e pelo fato de ter que pagar por crimes que nunca cometi.”

As lagrimas desceram pela suas bochechas como desceram pelas delas.

“Eu sinto muito.” Ele disse simplesmente. “Assim como você não teve culpa do que seu pai fez, eu também não tive nenhuma participação no que aconteceu.”

Ela ponderou por alguns instantes antes de responder.

“Acho que está certo.

.

.



Margaery podia sentir areia nos seus pés e a brisa do mar contra o seu rosto, o céu estava com aquele tom rosado que só aparecia pouco antes do sol se pôr, e a esquerda o Despenhadeiro. A casa Westerling pode ter perdido muito do seu prestigio e poder nas últimas gerações, mas a sua residência ainda era majestosa, um enorme castelo de frente para o mar dava uma vista muito bela...

“Mas não tão bela quanto o Jardim de Cima” Jeyne terminou o pensamento que ela estava tendo.

Margaery decidiu ignorar a estranheza e continuou:

“Sim, mas você não devia se sentir mal, o Jardim de Cima é o castelo mais belo dos Sete Reinos”

“Engraçado, Harry fez o mesmo comentário há alguns dias atrás, só que sobre o Ninho da águia”

“Eu temo que Harry fala bastante sobre coisas que ele não entende de verdade”

Jeyne riu, isso agradou Margaery.

“Jeyne eu sinto muito por estar sendo intrometida mas você não devia voltar para casa ? Está ficando meio tarde”

“Eu vou, mas antes eu tenho que tentar encontrar minha bisavó”

“Ela está desaparecida?”

“Sim, mas não se preocupe, ela faz isso com freqüência, ela é bem velha e ela geralmente vai para os mesmos lugares , meu irmão Raynald foi procurar nessa gruta que ela as vezes se esconde, meu irmão Rollam num vendedor de bebidas que mora por perto, e antes de você aparecer eu estava indo pra essa caverna que fica perto da praia.”

“Não me deixe impedi-la, vamos procurá-la” Jeyne pareceu meio hesitante.

“Algum problema?” Margaery perguntou.

“Não exatamente, bem a minha bisavó tem uma aparência um tanto incomum, a pele dela é um tanto esverdeada e ela não tem dentes, nós todos aqui já estamos acostumados, mas a última vez que um de vocês a viu ele gritou muito, e aparentemente quando ele gritou eu gritei também e acordou todo mundo do andar e eu precisei que inventar que eu tive um pesadelo”

“Eu não vou gritar, eu sou mais corajosa do que eu pareço”

E Margaery não gritou, embora um frio tivesse corrido pela sua espinha quando elas entraram na caverna, ela já tinha visto pessoas com aparência bem pior nas suas visitas a hospitais e orfanatos, mas havia algo um tanto sinistro sobre a postura da velha, ela estava sentada no chão com uma garrafa ao seu lado, mas ela não estava bebendo, ela parecia paralisada, seus grandes olhos amarelos sem piscar. Jeyne se aproximou da mulher, se ajoelhou ao seu lado e disse:

“Vó Maggy vamos pra casa, está ficando tarde” Nenhuma reação.

Isso continuou por alguns minutos, Margaery podia ver pela entrada da caverna que o sol já tinha se posto.

“Você quer que eu tente falar com ela?” Margaery disse.

“Eu acho que só eu posso te ver”

“Sim, mas eu acho que eu posso falar através de você, como o rapaz que gritou na outra noite, se você me permitir é claro”

“Certo, você pode tentar”

Margaery se ajoelhou ao lado de Jeyne e depois de alguns segundos de ajuste elas trocaram de lugar.

“Vó Maggy, sou eu Jeyne. Vamos pra casa, Rollam foi buscar um pouco de bebida pra você e minha mãe está tão preocupada, está ficando bem frio” Margaery disse.

O rosto de Maggy se virou rápido na sua direção, tão subitamente que Margaery se assustou um pouco, a velha disse:

“Mentirosa”

“O quê?”

“Pequena rosa, tão bonita e tão inteligente, você vai enganar muitas pessoas mas eu nunca serei uma delas, você seria sábia de se lembrar disso”

“Do que você está falando vó?”

“Pare com isso, você não é a minha Jeyne, mas ela vai achar que você é”

“Ela?”

“A menina loira, ela veio me visitar uma vez, fez três perguntas e eu dei a ela três respostas, isso vai acabar te causando problemas, eu sinto muito por isso. Pobre menina você vai conseguir tudo que você quer dessa vida, ela vai acabar notando e isso vai ser a sua ruína”

“Para!” Jeyne gritou.

Margaery não sabia dizer se a garota estava falando com ela ou com sua bisavó, só que ela não estava mais no lugar de Jeyne.

“O que foi isso?” Margaery perguntou.

“Nada, ela é muito velha e ela não fala coisa com coisa, não significa nada. Eu acho que você devia retornar para o Jardim de Cima, eu posso cuidar das coisas sozinha.”

“Eu vou, mas você me permite dizer uma coisa antes?”

“Diga”

“Sua bisavó está certa, eu sou uma boa mentirosa, e isso me torna muito boa também em saber quando outras pessoas estão mentindo pra mim Jeyne”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.