Bento e Fabinho saíram correndo, enquanto Malu e Maurício vinham do bar às pressas. As primeiras gotas de chuva começaram a cair quando os quatro irromperam para dentro do consultório.

_ Sai de perto da minha mulher. – gritou Fabinho. O recém-chegado estava com um sobretudo preto com capuz, escondendo o rosto. Ele ergueu a arma e disparou, passando de raspão no braço do publicitário.

_ Fabinho. – Giane gritou, enquanto Amora a puxava para o chão. Bento e Maurício foram para cima do encapuzado, que acertou uma coronhada no florista e empurrou o playboy, saindo correndo – Fabinho.

_ Bento, Maurício, vão atrás dele. – pediu Malu, correndo até o irmão, que estava caído no chão segurando o braço. Maurício puxou Bento, ainda meio zonzo, e os dois saíram correndo – Tira a mão, deixa eu ver.

Malu puxou a mão do irmão, observando que a bala só havia feito um corte de raspão. Suspirou aliviada, mas isso logo sumiu quando Giane gritou.

~*~

Bento e Maurício saíram correndo na direção do matagal, começando a se embrenhar atrás da figura misteriosa.

_ Cuidado que ele está armado. – lembrou Maurício, e Bento concordou.

_ Maurício, tem um carro esperando ele. – gritou Bento, após um tempo correndo. A luz da lua dificultava a visibilidade, assim como a chuva intensa, mas eles podiam ver um farol de carro – Corre mais rápido.

Os dois começaram a correr o mais rápido que podiam, mas a terra estava escorregadia e o mato mais denso. Quando afinal conseguiram chegar ao carro, a pessoa já estava no interior e o motorista arrancando.

_ Vamos voltar... Acho que vamos precisar levar a Giane e o Fabinho para o hospital. – Maurício puxou o florista pelo ombro, voltando a correr pela chuva.

~*~

_ Fabinho. – Giane guinchou, e o rapaz levantou de supetão, correndo até a esposa. Se ajoelhou ao lado dela, puxando o rosto delicado em sua direção e selando seus lábios.

_ Eu to bem meu amor. Nós três estamos bem. – garantiu ele, beijando o rosto inteiro dela.

_ O Lucas tá nascendo fraldinha. Nosso filho vai nascer. – ela choramingou, mas sorria de orelha a orelha.

_ A gente precisa levar vocês dois pro hospital. – Malu lembrou, mas Giane negou.

_ Não dá tempo Malu. As contrações tão muito fortes. O Lucas vai nascer no caminho.

_ Ainda mais com essa chuva. – Amora olhou para fora da janela – Vamos pro meu apartamento. Lá pelo menos temos o que usar.

Os três concordaram, e Malu e Amora foram ajudar Giane a levantar, mesmo com Fabinho protestando. O rapaz abraçou a esposa pela cintura, ajudando-a a caminhar apesar da dor. Assim que saíram para a rua ensopa, Maurício e Bento apareceram ofegantes.

_ Tinha um carro esperando por ele ou ela. Fugiu. – Malu se atirou sobre o noivo, enquanto Bento arfava.

_ Depois a gente pensar nisso, a Giane está tendo o bebê. – explicou Amora.

_ Então vamos pro hospital.

_ Não dá tempo Bento, o Lucas vai ter que nascer no apartamento da Amora mesmo. – Giane gemeu de dor, fraquejando nos braços de Fabinho.

_ Deixa que eu levo ela. – o florista pegou a amiga no colo, enquanto todos começavam a ir o mais rápido que podiam para o apartamento. A chuva aumentava de intensidade, castigando os seis, mas eles não se importavam.

_ Deita ela no sofá Bento, pelo menos para eu arrumar a cama. – pediu Amora, enquanto ela e Malu corriam para os quartos do fundo.

_ O que a gente pode fazer? – perguntou Bento, afoito.

_ Pega o meu celular. Eu baixei um aplicativo sobre gravidez. Tem uma coisa sobre parto, veja o que precisa. – pediu Fabinho, sentado com Giane apoiada em seu peito. Os dois rapazes assentiram, pegando o celular e correndo para a cozinha – Respira cachorrinho maloqueira, devagar.

_ Cadê aquela anestesia legal? – perguntou Giane, e os dois riram.

_ Vai ficar pro próximo.

_ Que próximo? Cê sabe como isso dói? – a garota guinchou, e Fabinho beijou o topo da cabeça dela – Mas vai valer a pena. Eu sei que vai valer a pena.

Ficaram em silêncio, enquanto ela respirava lentamente. Fabinho levou a mão até a barriga dela, apreciando aquela sensação pela última vez. Giane sorriu, colocando a mão junto com a dele.

_ Ninguém vai separar a gente, não é? – perguntou a corintiana, e Fabinho concordou.

_ Se essa pessoa, seja lá quem ela for, voltar a aparecer... Eu acabo com a vida dela antes que ela consiga encostar em um fio de cabelo de vocês dois. – prometeu Fabinho, beijando os lábios da esposa. Sorriram um para o outro, mas logo o sorriso dela se transformou em uma careta de dor.

_ Eu preciso empurrar. – ela arfou.

_ Malu, tá na hora. – gritou Fabinho, e logo os quatro estavam na sala. Carregaram Giane para a cama de casal do quarto e Fabinho sentou com ela entre as pernas. Quando Bento e Maurício fizeram menção de sair, o publicitário os impediu – Viemos até aqui juntos, vamos até o final.

_ Já que vão ficar, vocês puxam as pernas dela para trás. – pediu Malu, após cobrir as pernas de Giane – Giane, quando as contrações vierem, você empurra o máximo que conseguir.

Os trovões retumbavam do lado de fora, a chuva castigava as janelas, e os gritos de dor da corintiana preenchiam o quarto. Maurício e Bento se esforçavam para segurar as pernas dela, tamanha força que ela aplicava, enquanto Fabinho contava o tempo de empurrar e sussurrava as provocações usuais, que eram melhores que qualquer palavra de incentivo.

_ A cabeça já saiu maloqueira, empurra mais uma vez. – Amora pediu, enquanto Malu puxava o cobertor ao lado.

_ Vai lá pivete, só mais uma. Mais uma e nosso filho nasce. – sussurrou Fabinho, beijando o rosto encharcado da esposa. Ela assentiu, segurando as duas mãos do rapaz e empurrando o corpo todo para frente, enquanto gritava.

Logo o grito de Giane e os trovões eram substituídos por um choro alto e forte, que causou outros seis choros. Malu segurou o bebê, enquanto a irmã adotiva limpava o nariz e a boca dele, e amarrava o cordão umbilical.

_ Parabéns papais... O Lucas é lindo. – sussurrou a pedagoga, levantando e dando a volta na cama, para entregar Lucas para a mãe.

Giane estendeu os braços trêmulos, onde Malu colocou o bebê com cuidado. A corintiana trouxe o filho para junto do corpo chorando, e ao entrar em contato com a mãe, o choro do pequeno cessou.

_ Oi meu amor. Oi Feijãozinho. – a mãe acariciou o rosto do bebê, que piscava os olhos castanhos para ela – Você tem os olhos da mamãe é? Mas pelo visto, puxou o papai em todo o resto, não é papai?

Ela virou o rosto para o lado, encarando o marido. Fabinho tinha os olhos encharcados, cravados no rosto do bebê que acabará de nascer. Em seus lábios, o sorriso mais lindo que Giane já havia visto na vida.

_ Vamos deixar os dois babões sozinhos. – propôs Bento.

_ Mas primeiro, precisa cortar o cordão. – Malu lembrou – Fabinho, quer fazer isso?

_ Acho que a madrinha dele pode ter esse privilégio. – o moreno saiu do transe, sorrindo para a irmã. Ela sorriu emocionada, pegando a tesoura e cortando o cordão umbilical. Com a ajuda de Amora cobriu as pernas de Giane, antes dos quatro se retirarem do quarto, deixando apenas a família Queiroz ali.

Fabinho saiu de trás de Giane, a acomodando nos travesseiros, e sentou ao lado dela, acariciando o rostinho de Lucas.

_ Eu posso segurar ele? – pediu em voz baixa, fazendo a garota rir.

_ Que pergunta bocó, você é o pai dele. Claro que pode. – Giane se virou na direção dele, que apanhou Lucas assim como segurava Marcos. Só que parecia tão mais natural segurar o próprio filho, Lucas parecia tão bem encaixado ali, em seus braços.

_ Oi filho, oi Lucas. – o ex-badboy desabou ali mesmo, encarando o par de olhos idênticos aos da esposa – Oi garotão. Você é lindão hein, que nem o papai? Mas tem esses olhões lindos da mamãe. Não vai usar eles contra mim hein?

Fabinho observou o rosto do filho, que o fitava intensamente. Beijou a testa do garoto, deixando seu rosto colado com o dele.

_ Eu te amo tanto Feijãozinho, tanto... Eu não vou deixar nada de ruim te acontecer, eu prometo. – sussurrou emocionado – Eu vou estar sempre aqui, sempre. – ele encarou Giane, que chorava copiosamente – Obrigado por isso pivete.

_ Sempre as ordens bezerrão. – ela garantiu, puxando o rosto dele e lhe dando um selinho. Logo depois fez uma careta – Eu acho que minha placenta está saindo.

_ Quer que eu chame a Malu? – ela negou.

_ Lembra o que a parteira disse. Vai sair rápido. – Fabinho concordou, os dois voltando a observar Lucas. Alguns minutos depois, Giane gemeu de dor – Ok, acho que saiu.

_ Quer ele de volta? – o rapaz perguntou, e a esposa concordou rapidamente, fazendo-o rir – Pronto leoa, tá ai sua cria.

_ Cê acha que ele está com fome? – perguntou a corintiana.

_ Sei lá pivete, cê que tem leite. – respondeu Fabinho, recebendo uma careta – Mas você lembra o que a médica disse... É bom amamentar logo depois do parto.

A garota concordou, arrumando Lucas em seu colo e abrindo a camisa de botões (vulgo de Fabinho, vulgo pijama) que usava. Ela levou Lucas até perto de seu seio, e antes que percebesse, o menino já mamava, fazendo-a arfar de surpresa.

_ Que foi? Tá tudo bem? – perguntou Fabinho preocupado, e ela concordou rindo.

_ É estranho, bem estranho. – explicou ela, observando o filho – Mas é gostoso.

Fabinho sorriu, observando o rostinho de Lucas, os olhinhos piscando, os cabelinhos castanhos.

_ Gente? – Malu entrou no quarto sozinha, sorrindo para a cena que via – Chamamos uma ambulância. Os paramédicos estão ai.

_ Pode falar para eles entrarem. – concordou Giane, e a cunhada assentiu.

Os médicos esperaram o bebê mamar, para examinar a mãe. Nesse meio tempo, analisaram o raspão da bala em Fabinho e deram os pontos. Depois, examinaram mãe e bebê, antes de levar todos para a ambulância.

Naquela noite, Fabinho não pregou o olho, observando a mulher da sua vida descansando de seu maior desafio, e tendo em seus braços, sua maior conquista.