Pela segunda vez em dois dias, abriu os olhos enxergando tudo embaçado. Ouviu diversos suspiros de alívio.

_ Giane, amor... Você está bem? – ela virou a cabeça devagar, encontrando Fabinho ajoelhado do lado da cama. Em um ímpeto, se arremessou sobre ele, o apertando contra si e começando a chorar – Calma, calma... Eu to aqui.

_ Querida, o que aconteceu? – perguntou Irene, mas ela não encarava ninguém, apenas abraçava o namorado e chorava.

_ Hã, gente... Vocês podem nos dar uns minutinhos. – pediu Fabinho, sentando na cama da garota, com ela ainda agarrada nele.

_ Fabinho, nós precisamos saber o que aconteceu e... – Malu começou a protestar.

_ Malu, por favor. Ela tá assustada com alguma coisa, pode ter sido um pesadelo. – lembrou o rapaz – Eu já chamo vocês, ok?

Malu, Plínio, Irene, Margot e Silvério concordaram a contragosto, saindo do quarto de Giane e fechando a porta atrás de si. Quando eles saíram, a garota começou a se acalmar.

_ O que aconteceu? – perguntou Fabinho, acariciando as costas dela, mas agora sua voz transparecia o nervoso que ele sentia – A Malu disse que tinha algo errado com o bebê, e quando chegamos aqui, você estava desmaiada, cheia de vomito por todo o lado, e sangrando.

_ Sangrando. – a garota se afastou nervosa, observando as manchas de sangue no lençol e começando a chorar – Fabinho, o bebê, ele...

_ Ele está bem, calma. – ele disse segurando o rosto dele – Chamamos uma ambulância, e os paramédicos te examinaram. Fizeram um ultrassom, o normal mesmo, e está tudo bem com o bebê. Eles disseram que sangramentos são “normais”, e que tudo que aconteceu nesse final de semana pode ter causado isso.

_ É, foi isso mesmo. – ela tentou mentir, mas devia saber que para ele era impossível.

_ Giane, alguém esteve aqui, não é? – ela desviou os olhos – Foi quem trouxe isso?

Ele pegou o macacãozinho branco, e ela recomeçou a chorar, novamente o puxando para si.

_ Foi a Amora, não foi? – ela confirmou, fazendo o namorado rosnar – Eu vou matar aquela vagabunda.

_ Fabinho, nós precisamos ir embora. Agora. – ela sussurrou – Se eu contar para a polícia que ela foi a responsável pelo incêndio, ela vai te incriminar pelo incêndio na Toca. E o Bento é a única testemunha, e acredita que foi você. Se te pegarem, você tá ferrado. E ela ameaçou sumir com o nosso filho. – ela estava em pânico – Fabinho, vamos embora, agora.

_ Calma, por favor. – pediu ele, com medo que ela passasse mal de novo – Giane, eu vou chamar nossos pais, ok?

Ela concordou, e ele correu até a porta. Abriu e chamou o restante do pessoal, que esperava na sala. Ele explicou rapidamente o que Giane havia falado, deixando todos em choque.

_ Mas ela não pode fazer isso. – indignou-se Malu – Nós não podemos deixar ela fazer isso. Giane, você tem que denunciar ela pelo sequestro e incêndio.

_ Malu, não sei se você entendeu, mas o que tá em jogo é a liberdade do Fabinho e a vida do meu filho. – lembrou Giane, nervosa – Essa garota quase matou meu filho duas vezes em um único final de semana.

_ Mas ela não tem como provar que o Fabinho tocou fogo na Toca. – tentou argumentar a pedagoga.

_ E nem eu que foi ela que me arrastou pra Acácia. Só tenho minhas suspeitas, assim como o Bento tem as dele sobre o Fabinho. – rebateu a corintiana nervosa – Desculpa, eu quero ver a Amora se ferrar tanto quanto qualquer um aqui, mas eu tenho que pensar primeiro na minha família.

_ E está certíssima, vocês dois estão. – garantiu Irene – Por mais que vá me doer, é melhor vocês dois sumirem por um tempo.

_ Plínio, o que podemos fazer? – perguntou Fabinho – Eu sei que documentação para o exterior é complicada e demanda tempo.

_ Não para países daqui do sul. – o cineasta lembrou, apanhando o celular – Eu tenho um amigo na Bolívia, ele pode arrumar tudo para receber vocês dois lá amanhã cedo.

_ Pera, então ela nem vai falar com a polícia? – Malu parecia indignada.

_ Vai por mim maninha, nada me agradaria mais do que ferrar a vida da cocotinha. Mas agora, eu tenho outras pessoas para me preocupar. – Fabinho, segurou Malu pelos ombros – Você quer ser uma boa tia? Então ajuda a gente a arrumar o que precisamos, para podermos sumir daqui e proteger o Feijãozinho.

Ela não parecia concordar ainda, mas aceitou ajudar. Enquanto Fabinho levava Giane para o banheiro para tomar um banho, Margot correu para a própria casa, fazer a mala de Fabinho. Malu ficou guardando o que Giane precisaria levar, e Irene saiu comprar algumas coisas com Silvério. Plínio ligava para todos que precisariam, armando tudo para que o casal decolasse em um jato particular de madrugada.

No chuveiro, Giane enterrava a cabeça no peito de Fabinho e chorava.

~*~

A madrugada chegou fria. Haviam despistado a polícia, alegando que Giane ainda estava bem debilitada. Plínio já havia conversado com um advogado, que preparava uma defesa para o sumiço do jovem casal, assim como os documentos para a segunda viagem deles, que seria definitiva, rumo à Holanda.

A rua estava deserta quando os dois carros alugados por Plínio estacionaram. Colocaram as malas no porta-malas de um, e malas falsas no porta-malas de outro. Já haviam se despedido dentro de casa, e se aproveitaram da escuridão para causar um embaralho de quem iria em qual carro, caso alguém estivesse observando a casa.

Por fim, Giane e Fabinho acabaram com Malu e Maurício, que havia ido dar uma força. O carro deles iria direto para o aeroporto particular, enquanto o com Plínio, Irene, Margot e Silvério iria para o Viracopos.

Quando o carro estava saindo, Giane observou o lugar onde havia crescido, sentindo o peito apertar ao pensar em quando veria aquele lugar de novo.

_ Nós vamos voltar, eu sei disso. – Fabinho sussurrou, a abraçando pelos ombros. Ela repousou a cabeça no ombro dele – E vamos voltar em três.

Ela assentiu, sem forças para falar. Imaginava a reação de todos quando descobrissem o que havia acontecido pela manhã, o bafafá que aquele lugar ia virar, mas isso não importava... Não mais.

Maurício dirigia o carro de mãos dadas com Malu, mas ela não sabia se os dois haviam se acertado. Esperava realmente que sim.

O aeroporto era afastado da cidade, e o avião particular já os esperava na pista de decolagem. Um homem, que se apresentou como o piloto, ajudou Maurício a tirar as malas do carro, enquanto Malu se despedia dos dois.

_ Bom, o advogado disse que consegue os documentos até semana que vem, mas que é pra vocês esperarem a Giane entrar no terceiro mês para viajar, já que só podem ficar lá três meses. – Malu parecia ansiosa e o casal riu – Eu não quero que vocês vão embora.

_ É só até vocês conseguirem acertar as coisas por aqui Malu. – prometeu Fabinho – Assim que vocês conseguirem, nós voltamos.

_ Pegou os dados da conta? – ele concordou, e ela suspirou – Se precisar de mais dinheiro, é só ligar para o pai.

_ Eu sei Malu, relaxa. – ele abraçou a irmã, se despedindo dela – E juízo aqui com o Maurício. Não quero voltar e encontrar um sobrinho.

_ Mas eu quero que vocês voltem com o meu logo. – ela fez bico, puxando Giane para um abraço – Se cuidem, ok?

_ Nós vamos, pode ficar tranquila. – prometeu a corintiana, e a pedagoga se abaixou, beijando a barriga dela – O Feijãozinho está falando para a tia Malu ficar tranquila, que logo ele está de volta.

_ É bom mesmo. Porque eu quero mimar muito ele. – ela abraçou novamente a cunhada – Agora vão... Ficar aqui no sereno não faz bem pra Giane.

Os dois acenaram, se afastando rumo ao avião. Maurício abraçou Giane, e virou-se para apertar a mão de Fabinho.

_ Boa sorte cara.

_ Valeu. – o ex-badboy agradeceu – E cuida bem da Malu, por favor.

_ Pode deixar comigo.

O playboy caminhou para junto de Malu, enquanto o casal marrentinho subia no avião. Eles acenaram da porta, antes de irem sentar. Observaram pela janela o carro saindo, e Giane suspirou mais tranquila, deitando a cabeça no ombro de Fabinho.

_ Pode descansar pivete. – garantiu o publicitário, beijando a testa dela. Ela apenas concordou, fechando os olhos – Eu não vou deixar ninguém machucar vocês...