Me mexi desconfortavelmente na cadeira. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Três meses haviam se passado, Lakewood estava em paz. E foi depois da aula que Audrey me chamou para ir no cinema.

— Eu fui demitida de lá — ela comentou. — mas não podem me proibir de entrar se eu pagar pelos ingressos.

E aquilo era um encontro? Ou ela só queria fortalecer nossos laços, que tínhamos desde pequenas?

Pensar que era um encontro me fazia ficar quente e vermelha de imediato. Nem quando Will me chamou para sair eu fiquei nervosa daquele jeito. Eu queria que aquilo fosse um encontro?

Os trailers passavam. Eu tamborilava o braço da cadeira, mudava de posição no assento, encarava o relógio. Era um encontro? Era um dia de amigas? Era simplesmente a porcaria de um filme que ela simplesmente queria ver comigo?

De repente, Audrey se sentou ao meu lado, com o balde de pipoca e uma caixinha de chocolates em mãos. Ela me estendeu o balde, e ofereceu:

— Mistura mágica?

— Com certeza — respondi, sorrindo, tentando disfarçar minha expressão de claro nervosismo.

Virei os chocolates sobre a pipoca, e ela sacudiu o balde para misturar.

Os trailers passavam, e nossa simples mistura de doce e salgado estava deliciosa como sempre. Nosso completo silêncio me incomodava mais do que uma conversa incomodaria quem estava lá para ver o filme. Em alguns momentos abri a boca para dizer algo, mas logo desistia. O que eu iria falar?

— Por que não chamou o Noah? Ele curte filmes de terror... — deixei escapar, me arrependendo logo em seguida.

— Achei que seria mais divertido ter uma noite só nossa, de melhores amigas.

Respirei fundo. Noite de melhores amigas. Pelo visto não era um encontro.

E por que eu me incomodava de não ser um encontro? Eu queria que fosse um encontro?

O filme era do estilo slasher. Nele, haviam ao menos sete personagens principais, e entre eles, um casal de garotas. Durante boa parte do filme, eu observava as duas de mãos dadas, sorrindo uma para a outra, apaixonadas. Meu peito se apertava, meu rosto esquentava. Eu encarava a mão de Audrey, que repousava no braço da cadeira, e me questionava se seria estranho se a segurasse. Quem sabe apertasse nossas palmas uma contra a outra, até entrelaçasse nossos dedos...

Em um momento do filme, uma delas era morta. Durante a cena em que a outra a encontrava, senti um soluço se entalar em minha garganta, e lágrimas ousaram brotar. Sem pensar, estendi minha mão até a de Audrey, e a segurei. Então apoiei minha cabeça em seu ombro.

Audrey hesitou para segurar minha mão e apoiar sua cabeça sobre a minha. Mesmo assim, o fez. Ficamos ali, daquele jeito, até o final do filme, onde o irmão do herói se revelava o assassino mascarado.

Depois do filme, fomos até o carro de Audrey. Eu estava claramente nervosa, ao menos me sentia assim. Meu coração parecia que estava fazendo polichinelos constantemente. Durante o trajeto até a minha casa, comentei:

— O filme foi muito bom, hein?

— Sim, foi mesmo. Eu podia jurar que aquela patricinha era a assassina.

— Eu suspeitava da tal de Natasha..

— Mas a namorada dela foi morta!

— Eu suspeitava dela até a namorada morrer. Depois eu achava mesmo era que o irmão do herói era o assassino.

— Deduziu certo então. Mas eu tenho certeza que o Noah suspeitaria dele desde o começo.

— É, ele é muito bom nisso.

De repente, o silêncio se fez. Um silêncio ensurdecedor. Era uma sensação constante de tensão. Parecia muito com o clima de um encontro, naquele momento em que não tem mais assunto para se falar.

Mas era mesmo um encontro?

— Isso é um encontro? — questionei.

— Ahn... É... Eu... — Audrey se assuntou, e sua voz travou de repente. — Você... Acha que foi?

— Eu não sei, foi você quem convidou e... Ah, esquece. Eu não deveria ter falado nada.

— Não, mas... Okay. Vamos deixar isso para lá...
De novo, o silêncio, que decidiu se manter até chegarmos em casa. Audrey parou o carro e desceu comigo, me acompanhando até a porta. Quando alcançamos a ponta das escadas da varanda, virei-me para ela e perguntei:

— Quer entrar?

— Ah, não precisa. Vou voltar para casa, meu pai deve estar se sentindo sozinho... Fale para a sua mãe que eu disse oi.

Assenti, enquanto acenava para Audrey. Ela acenou de volta, e deu alguns passos até o carro.

Enquanto eu a via ir, minha mente pensava na mesma velocidade que meu coração batia. Um pensamento insano me contagiou, e reuni forças para realiza-lo.

— Audrey! — chamei-a, a fazendo dar meia volta e vir em direção a mim.

— O que houve...

Não a deixei terminar de falar. Agarrei-a pela jaqueta, e a puxei para perto. Nossos lábios se tocaram, e um arrepio me percorreu o corpo. De repente, eu estava mais quente. Minha mente funcionava melhor, meu coração reencontrou seu ritmo. Audrey, depois de hesitar um pouco, levou as mãos até minhas costas e me envolveu em um abraço, enquanto retribuía o beijo. Estávamos em completa sintonia, mais próximas do que nunca.

Nossos rostos se afastaram, e a olhei nos olhos naquela mínima distância em que estávamos. Eu ainda a segurava pela jaqueta, e seus braços não se afrouxaram de mim, segurando-me bem perto. Ela era tão linda...

— Eu gostei do nosso encontro — comentei, rindo delicadamente em seguida.

— Foi... Revelador? — ela brincou.

— Eu... Tenho sentido que gosto de você desde quando corri o risco de te perder naquele dia no orfanato — meu olhar caiu para as minhas mãos, que seguravam com firmeza a jaqueta de Audrey. Afrouxei um pouco os dedos. — tenho me contido tanto quanto a isso, porque quando você me disse que se apaixonou por mim, e eu parti seu coração... Eu senti que não haveriam mais chances. Senti que eu não conseguiria consertar o que quebrei.

— Eu te amava... — ela murmurou, levando uma das mãos ao meu rosto, e fazendo-me olha-la nos olhos de novo, enquanto deslizava o polegar sobre minha bochecha com delicadeza. — e ainda te amo, Emma Duval. Juro que isso nunca vai mudar.

Nossos lábios se tocaram em um beijo mais uma vez, e de repente, tudo parecia certo.

— Eu também te amo, Audrey Jensen.