Gabrielle se condenou no dia seguinte.

Nicolas estava distante novamente. Deus, ela não podia ter imaginado tudo o que sentiu noite passada. O que ele pensava que ela era?

Tomou um banho demorado, esfregando cada parte do seu corpo, tentando apagar as lembranças da noite anterior não porque foram ruins, mas por terem sido preciosas demais. Ela não suportaria lembrar aquela noite como um sinal de esperança para seu casamento, era doloroso demais.

***

Após colocar o vestido mais leve que possuía e os sapatos mais confortáveis, ela decidiu que não ficaria presa dentro de casa resmungando. Levou Stirling para passear, o que parece ter agradado o pequeno yorkshire.

Os dois estavam quase chegando ao portão gigante da mansão quando Victor os alcançou.

— Posso saber onde estão indo? – ele perguntou, com um sorriso que fez o pobre coração de Gabrielle saltitar.

— Estamos fazendo uma pequena fuga. Gostaria de nos acompanhar? – a moça sorriu e o pequeno cachorro começou a dar leves latidas, o que fez com que Victor se abaixasse para acariciá-lo.

— Claro. – ele voltou seus olhos para Gabrielle. – Aliás, acho que conheço um lugar perfeito para isso.

Juntos, Gabrielle e Victor seguiram para o chalé. Stirling adorou o passeio, mas se acomodou perfeitamente num jardim que ficava próximo do lugar.

— “Para os momentos em que se quer sumir”.— Gabrielle sorriu, triste.

— Quer me explicar o que aconteceu desta vez? – ele a encarou, sério. A moça soltou um longo suspiro antes de responder.

— O que você acha? Meu casamento é uma fraude, é quase impossível se manter sã dentro daquela casa, com Nicolas por perto. Estou sufocada, Victor. – ela lançou um olhar pesado e prendeu a respiração. – São esses momentos que me fazem aguentar os dias. – Gabrielle apontou para o cunhado e ele a encarou com seriedade, não daquelas céticas, mas seu olhar era pura brasa.

Victor se aproximou de Gabrielle e a beijou.

Não entendeu o porquê de tê-lo feito, apenas sentiu uma necessidade enorme de beijá-la, de protegê-la. Queria fazê-la respirar, fazer com que tivesse uma vida mais leve.

— Victor? O que...? – Ela disse assim que seus lábios se separaram dos dele.

— Me desculpe, Gabrielle. – ele a encarou, seus olhos ardendo em fogo. – Não pude me conter. Não pude ver você triste e não fazer nada. Tenho me controlado há dias e ainda assim, não consigo vê-la triste.

— Ah, Victor... – ela o beijou novamente.

Sabia que era errado. Pelo amor de Deus, eles eram casados com outras pessoas. Eram traidores agora. Se Melissa descobrisse... pior, se Nicolas descobrisse, estariam mortos.

— Não podemos. – Gabrielle se soltou do cunhado e colocou certa distância entre eles.

— Não, não podemos. – Victor concordou.

Apenas alguns minutos se passaram após o beijo entre eles, mas pareceram horas. Até Victor trazer à tona um assunto não tão agradável:

— Vou viajar. – Ele suspirou.

— Viajar? Mas... – A mente de Gabrielle começou a raciocinar novamente e ela lembrou que o cunhado era casado. Pensar em Melissa a deixou enciumada. Ela se recompôs. – E quando volta?

— Não sei. – Victor evitava olhá-la. Sabia que se o fizesse, iria beijá-la novamente. – Gabrielle, eu preciso ir.

— Por quê?

— Porque não aguento vê-la sofrer e não poder protegê-la. Não aguento sentir tudo isso dentro do meu peito e não poder fazer nada a respeito. Pelo amor de Deus, você é casada! E eu também! Não podemos fazer isso com eles.

— Nicolas seria capaz de me trair. – Ela soltou, mas não acreditava inteiramente nisso. Seu Nicolas não a trairia nunca, mas nunca se sabe o que o monstro seria capaz.

Ela se condenava por gostar do que estava ouvindo de Victor. Pobre Melissa, não fazia ideia dos sentimentos de Gabrielle para com seu marido. Gabrielle também pensava em Nicolas, por mais que sua mente dissesse que não, que ele voltara a ser o monstro. Ela não sabia se seria capaz de trair o marido.

— Ele não o faz. – Victor suspirou pesadamente. Por um momento queria que Nicolas tivesse a covardia de traí-la, só para ele tomá-la em seus braços. Ele já fora traído, pela própria Melissa inclusive, mas Gabrielle não precisava saber disso. Não agora que ele estava tão envolvido por ela e sabia que, por mais que ela o desejasse, era o seu irmão a quem ela amava.

— Como pode ter tanta certeza?

— Eu o conheço a vida toda. Sei do que é capaz. – Victor finalmente levantou os olhos para a moça a sua frente. – Por favor, Gabrielle, não torne tudo mais difícil. Eu preciso ir.

— Eu sei. – O olhar triste de Gabrielle quebrou o coração de Victor, odiava vê-la sofrer e odiava ainda mais ser a causa de seu sofrimento.

— Por favor, tenha cuidado enquanto eu estiver fora. Não deixe que ele a machuque. – Victor pediu.

— Ele não vai me machucar mais do que já o fez. – Ela tentou sorrir, mas fracassou. – Prometo que irei me proteger. Prometo que serei forte até você voltar.

— Eu vou voltar, Gabrielle. Jamais a deixarei desprotegida.

Ela o beijou. Não conseguiu resistir. Já o tinha beijado momentos antes, que mal faria beijá-lo novamente?

***

Gabrielle ficou mais um tempo no chalé, mesmo após Victor ter ido embora. Fora uma despedida dolorosa. Ela não parava de se perguntar por que seu pai não podia tê-la prometido em casamento a ele. Porque tinha que ser a Nicolas?

Tinha a certeza de que Nicolas a odiava. E ela, por mais que lutasse, por mais que dissesse não, sabia que o amava. Amava aquela parte doce do seu marido, aquela que fazia seu rosto ser calmo e sereno enquanto dormia. Aquela parte que o fazia ser seu. Mas odiava o monstro que ele se tornava. Odiava essa maldita máscara que colocava no rosto todo santo dia para fazê-la sofrer.

Por que não podia ter casado com Victor? Estava apaixonada por ele, isso era óbvio. Por mais que lutasse para que não, ela havia se apaixonado pelo cunhado. E sabia que ele se apaixonara por ela também. Mas, assim como ela, ele amava a esposa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.