O dia do casamento chegou e Gabrielle estava uma pilha de nervos.

Seu vestido era o mais lindo que já vida, mas, só a ideia de ir para a cama com Nicolas a assombrava. Ela passou o dia inteiro se arrumando, seu casamento seria às 17h e, com a ajuda de Ava, ela teve seu dia de princesa.

Ficou sabendo por Elena que Victor tinha ido passar uns tempos com Melissa na França e que ela e Louis viajariam após a cerimônia, deixando a mansão vazia para a lua de mel dos dois.

Gabrielle estremeceu ao sentir a última laçada de seu vestido ser dada, mas, mesmo assim, a esperança de ver os pais depois de anos era o que consolava a menina.

Porém, Charles e Olivia não apareceram. Ou melhor, ninguém da sua família estava lá. Se não estivesse tão nervosa com a ideia de se tornar mulher de um ogro, teria chorado.

Alexander, um dos funcionários da casa, foi buscá-la.

A única coisa que Gabrielle não esperava era que Paris inteira estivesse ali para vê-la casar. A menina tremia quando entraram na igreja, e, os flashes incomodavam seus olhos claros e lacrimejados. Só o fato de pensar que em breve estaria casada com ele fazia com que todo o seu corpo estremecesse, nada mudaria isso.

— Nicolas Marchand, você aceita Gabrielle Pottier como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da sua vida? – o padre de meia idade parecia nem prestar atenção neles.

— Sim. – ele respondeu friamente, o que começava a assustar Gabrielle. Ela não conseguia entender o motivo para ele agir daquela maneira.

— Gabrielle Pottier, você aceita Nicolas Marchand como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de sua vida?

Gabrielle travou. Não sabia o que dizer.

Se dissesse “sim” estaria ferrada nas mãos de Nicolas, mas, se respondesse “não” seu pai a mataria. Mas como dizer “sim” ao homem que mais lhe apavorava?

— Não vai adiantar. – Nicolas murmurou. Ele havia percebido o estado da menina, então sussurrou com a voz doce, em seu ouvido. – Não há saída, Gabrielle.

— Sim. – ela murmurou, e repetiu em um tom mais alto. - Sim, eu aceito.

Ouviram vários suspiros aliviados atrás dela. Nicolas sorriu e duas lágrimas juntaram-se ao suor dela enquanto sentia a pesada aliança deslizar pelo seu anelar esquerdo.

O padre concluiu o casamento e eles seguiram para a festa.

***

— Tenho um presente para você, chérie. – Nicolas aproximou-se dela, com um sorriso de canto. Eles ainda estavam na comemoração do casamento e o salão de festas estava lotado.

Ele abriu a caixinha de veludo vermelha e tirou de lá mais uma joia. Uma gargantilha prateada, com a palavra “eterno” escrita em seu interior. Para Gabrielle, por mais bonito que fosse o presente, parecia uma coleira, porém, como negar?

— Será assim, chérie: sempre que for inteligente e sábia, como hoje, será banhada de joias e presentes – ele deu uma leve mordida no pescoço dela após fechar o colar, fazendo-a se arrepiar. – Se não o fizer, terá problemas. – Nicolas a beijou e saiu dali.

A festa invadiu a madrugada. A pobre Gabrielle adiou a partida o máximo possível, mas a hora de ir havia chegado. Elena abençoou a moça, que foi embora apenas com seu vestido de noiva. O salão onde acontecia a festa ficava no centro da cidade.

Nick, como insistia em ser chamado, estava absorto olhando pela janela do carro. Depois de meia hora de viagem eles chegaram à mansão Marchand, e a menina estremeceu.

A mansão era ainda mais bonita à noite e podia ser facilmente confundida com um castelo e parecia ter no mínimo três andares. Gabrielle nunca teve a oportunidade de conhecer a casa como ela é, realmente, já que todas as vezes que fora até ali ela não podia sair de perto de Ava.

O interior da casa era claro e muito bem iluminado; tinha a decoração mais fantástica que os olhos da menina já haviam visto: poltronas, sofás, tapeçarias, lustres, lareiras e porcelanas compunham o local.

Nicolas a levou para um pequeno tour por todas as salas e cômodos e, quando estavam saindo de um quarto de hospedes, uma sombra lhe chamou atenção:

— Quem é ela? – Gabrielle perguntou intrigada. Não sabia da existência de uma mulher, de uma menina na mansão. Sempre achou que ela, Andrea e Elena eram as únicas.

— Alina? – ele chamou a menina em voz baixa, mas Gabrielle ouviu os passinhos apressados cessarem. Pouco tempo depois a pequena menina apareceu.

— Sim? – respondeu timidamente.

Era uma menina pequena, tinha o cabelo longo e loiro, porém mal cuidado, vestia-se com uma roupa simples, mas ainda assim tinha as feições finas, iguais as dos irmãos.

— O que eu disse sobre sair do quarto? – Nicolas perguntou seco e grosseiro, como sempre.

— Victor disse que eu poderia sair se precisasse. – Alina se defendeu com timidez.

— Victor está aqui? – o tom ameaçador de Nicolas assustou Gabrielle, mas não o suficiente. Havia se encantado com a pequena menina. Alina tinha a afeição tão doce, era pequena demais para ser maltratada.

— Olá, pequena forasteira. – Gabrielle avançou um passo na direção de Alina, sorrindo. A enorme calda de seu vestido de noiva se arrastou pelo chão encerado da mansão.

— Olá, grande forasteira. – Alina correspondeu o sorriso que lhe era ofertado por Gabrielle.

Nicolas evitava virar seu olhar para as duas ali, como se aquela cena lhe causasse nojo, repulsa.

— Vá para o seu quarto. Logo estarei lá. – ele disse com frieza.

Gabrielle viu a pobre menina estremecer, acenar para ela e sair. Logo Nicolas virou-se para ela.

— Eu imagino que você queira ficar sozinha antes de... – ele passou a mão no cabelo, confuso. Esse não era um Nicolas interesseiro, era um que falava sem pensar.

— Este é o nosso quarto. – apontou para a porta em frente a Gabrielle. – Eu já volto.

O quarto era enorme. Tinha uma linda cama, com dossel, um colchão que parecia absurdamente aconchegado. Gabrielle estava despencando de cansada, mas não trocou o vestido de noiva, aliás, nem sabia o que ia vestir.

Estava presa em sua angústia quando ouviu outro murmúrio, vindo do corredor.

— Tão pequena... Ah, Deus... – uma das empregadas lamentou, passando pela porta do quarto.

— O que houve? – Gabrielle apareceu na porta, aflita.

— Ah, senhora. – a empregada sussurrou. – O senhor viu a menina Alina no corredor. Ela o desobedeceu.

— Ele não ficou muito contente. – Gabrielle falou, ainda sem entender.

— Ah, ele vai castigá-la, senhora. – a empregada disse triste.

Nesse mesmo momento, ouviu-se um gritinho afável vindo do outro corredor e Gabrielle franziu o cenho. Nicolas estava batendo na menina?

Antes que pudesse pensar, Gabrielle segurou a barra do vestido e disparou correndo. O quarto de onde vinham os gritos era longe e seu vestido era muito pesado. Ela chegou à fonte dos gritos e invadiu o quarto.

Alina estava encolhida num canto e Nicolas a acertava com um cinto, com uma expressão dura no rosto.

— PARE! – Gabrielle gritou, segurando o braço dele com as duas mãos.

Alina tinha os braços na frente do rosto, defensivamente. A menina chorava e tremia, o que só deixava Gabrielle ainda mais nervosa. Várias marcas vermelhas começavam a aparecer nos braços e ombros da menina.

Mas Nicolas não parava. Nada que Gabrielle dizia conseguia fazer com que ele conte-se.

— NICOLAS, PARE!

Gabrielle se jogou na frente da menina, tapando-a com seu corpo, e recebendo um golpe que não pode ser refreado.

— MONSTRO! VOCÊ NÃO É HUMANO! – gritou, encarando-o, antes de abraçar Alina. Nicolas mantinha a expressão vazia, parecia nem estar ali.

— Tá tudo bem. – ela não sabia por que, mas havia se afeiçoado a aquele pedaço de gente que a abraçava fortemente. – Ele não vai mais voltar. – Gabrielle acariciava os cabelos da menina com fervor.

— Obrigada. – Alina murmurou, soltando Gabrielle. A menina esfregou os olhos com as costas da mão. – Victor não teria deixado. – Resmungou deitando-se na cama.

— O que você é do Nicolas? – A curiosidade de Gabrielle tomou conta e ela não conseguiu conter a pergunta.

— Ele é meu irmão, mas finge que eu não existo. – A menina lhe contava sua vida enquanto Gabrielle lhe ninava.

— Me escuta: não importa o que você ouvir hoje, não saia desse quarto, por favor. – Gabrielle pediu. Alina a encarou com temor, mas assentiu.