– É por isto que não podemos ficar juntos, Hiccup. É por isto que eu tenho que ir embora.

– O q-que?

Senti minhas pernas ficarem fracas e meu coração bater mais rápido.

xXx

– Os guardiões me procuraram há alguns dias, eu fui vê-los quando lhe disse que iria sair rapidamente por causa do tempo ruim...

– Jack! Você tem que nos escutar!

– NÃO!

– Deixe de ser teimoso!

Voei até a porta principal a qual os yetis rapidamente fecharam. Olhei para eles furioso, cada um olhou para um lado assobiando. Ah, vou me lembrar disso na próxima vez que os ver! Voei para a outra porta, que levava até a área de montagem de brinquedos, os duendes vermelhos já haviam a fechado fazendo caretas para mim mexendo seus sininhos barulhentos.

– Vamos Jack, não precisa agir assim, queremos ajudar você!

Olhei para cima avistado uma.... Janela! Devem abrir às vezes para manter uma temperatura boa para a secagem da pintura dos brinquedos! É enorme, posso passar por lá facilmente! Voei na direção da janela determinado a me livrar dos outros guardiões, até uma poeira dourado formar uma barreira em minha frente. Olhei para Sandman que estava de braços cruzados olhando-me reprovador.

– Sandy! Achei que fosse meu amigo!

Fada voou até meu lado, mexendo seus dedos nervosamente falando com sua voz paciente.

– Jack, todos nós somos seus amigos.

– Não! Se fossem meus amigos não diriam coisas como estas!

Ouvi Noel gritar do chão olhando para cima assim como Coelho.

– Vocês querem nos separar! Não vejo o que há de ‘’ ajuda’’ nisto!

– É Jack! Nós só queremos ajudar a você e a Hiccup!

Contornei a barreira de Sandyman, começando a abrir a janela.

– Foi o Homem da Lua que pediu para falarmos com você!

Parei no mesmo instante. O Homem da Lua...? Por que ele...? Olhei para cima, vendo a lua parcialmente escondida pelas nuvens, como se estivesse espiando escondida.

– Oras pirralho, desça dai logo, estou ficando com torcicola!

Coelho gritou impaciente, ouvi Fada suspirar a poucos metros de mim. Respirei profundamente, soltando a tranca da janela. Flutuei até o chão, sentando sobre o globo de metal apoiando-me em meu cajado.

– O que O Homem da Lua falou sobre mim...?

Fada pousou e Sandman acomodou-se sobre uma nuvem de areia dourada próxima de nós. Todos se entreolharam rapidamente, provavelmente deixando para o outro a responsabilidade de falar. Norte finalmente virou-se para mim.

– Ele falou comigo... Disse que deveríamos... Fazer algo sobre você e Hiccup.

– Fazer algo?

– É. Jack, nós guardiões temos uma... Regra. Nós nunca nos envolvemos com as crianças, e quando elas nos veem tomamos todo o coitado para não voltar novamente ao local que esta criança nos viu.

– Por que?

Fada explicou ainda com seu tom de voz paciente, apesar de parecer nervosa.

– Não é bom para nós Jack, elas vão crescer e consequentemente vão se esquecer de nós.

– Hiccup NÃO vai esquecer de mim!

– Eles crescem Jack, esquecem...

– NÃO!

Norte pronunciou-se novamente.

– Você pode acabar o machucando Jack, olhe para você, você é frio, é gelo, frio pode causar a ele uma gripe ou febre forte, e o gelo ainda pode queima-lo.

– Eu cuido dele! Isso não vai acontecer! – levantei-me irritado, quanta besteira! - Quem inventou esta regra estupida?!

– Fui eu.

Olhei para ele sem acreditar, Coelho levantou-se, sério e nostálgico, como nunca o vi.

– Você... Por que?

– Foi a trinta anos atrás. Eu estava escondido admirando as crianças durante a caça aos ovos. Estavam todas rindo, correndo e se divertindo. Mas, havia um garotinho, um garotinho de cabelo loiro sentado em uma pedra olhando para o chão. Parecia tão triste diferente das outras crianças que corriam para todos os lados rindo alto. Fiquei tão frustrado, havia um ovo escondido próximo mas ele não se mexia para pega-lo! Não resisti e pulei para o lado dele, cuidando para que eu ficasse atrás de outro arbusto, assim ele me veria, mas não as outras crianças. Perguntei por que ele não estava participando da caça aos ovos como os outros, ele não ergueu os olhos quando respondeu, falando baixinho que não achava graça.

Tinha uma voz muito doce e suave. – falou Coelho nostálgico, sorrindo olhando para o chão enquanto lembrava do menino – Eu fiquei muito confuso, nunca vi crianças não gostarem da pascoa. É claro que sempre tinham alguns pirralhos mais velhos que adoravam pisar nos ovos para irritar os menores, mas nunca uma criança daquela idade. ‘’ Por que? O que há de errado? Escondi demais desta vez? ‘’ , ele fez uma careta, então me olhou, sua expressão foi muita engraçada quando me viu. ‘’ Você é o coelho da páscoa! O coelho! De verdade! ‘’ eu concordei orgulhoso, ele ficou tão encantado que começou a conversar, falamos por muito tempo. Ele se chamava Will e infelizmente sua visão estava ficando cada vez mais embaçada, seu médico só o atenderia daqui três meses e as outras crianças riam quando ele tropeçava ou batia em alguém. Na mesma hora eu prontifiquei-me de ajuda-lo a procurar pelos ovos. Fora muito divertido e nós passamos a nos encontrar uma vez por semana...

O sorriso de Coelho desapareceu, suas orelhas estavam mais baixas e ele olhou para cima. Não disse mais nada por alguns segundos.

– E...? O que aconteceu?

Perguntei curioso, não consigo imaginar o que poderia haver de errado entre eles. Fada me olhou feio, como se me repreendesse. Dei de ombros para ela, voltando minha atenção para Coelho. Ele olhou para mim novamente.

– Passamos anos nos encontrando, Will perdeu a visão algum tempo depois de nos conhecermos, após vários remédios e óculos especiais. Mas não importava muito para nós. Ele sabia reconhecer a minha voz e apesar de ter sido duro vê-lo chorar quando tropeçava ou não conseguia realizar alguma tarefa da escola, nós continuávamos nos divertindo juntos. Mas... Quando ele fez doze anos, estava mais teimoso, se irritava facilmente e não ligava para a caça aos ovos. Nossas brincadeiras de sempre já não o atraiam mais. Mesmo assim, eu tentava ser o mais paciente possível. Ele sempre começava a chorar ou a bater o pé quando não me ouvia mais após brigarmos... No ano seguinte, eu decidi que faria algo especial para ele, estava quase fazendo quinze, faltariam apenas dois anos. Portanto passei um tempo sem vê-lo, queria surpreende-lo e lhe dar o melhor presente possível. Esperei a sua festa de aniversário acabar... E... Fui encontra-lo em seu quarto, quando estava indo dormir. Fui ao seu lado gritando parabéns. Will... Ele não reagiu, não me olhou... Falei várias coisas, mas ele não respondia. Estava quase desistindo quando o ouvi falar ‘’ Você vai ir embora ou não vai?! Desculpe, Coelho, mas eu não tenho mais idade para isto. ’’. - Coelho olhou para o chão – Eu... Simplesmente fui embora... Não conseguia... Absorver a ideia de que o meu Will, meu pequeno Will falara daquele jeito...

Pela primeira vez, vi os olhos de Coelho tristes, molhados, estava usando de todas as suas forças para não chorar.

– Depois de dois anos eu... Eu fui à procura dele. Ele estava sentado em sua cama, seu quarto havia mudado bastante e uma musica agitada tocava em um rádio velho. Foi tão bom vê-lo outra vez, sorrindo com seu corte de cabelo mau feito que caia sobre os olhos. Quando eu chamei por seu nome um garoto abriu a porta do quarto, falando algo sobre a escola, aproximou-se e beijou os lábios de Will...

As orelhas de Coelho estavam baixas e eu tentava pensar em algo para dizer. Não consigo imaginar Hiccup simplesmente me ignorando, decidindo não pensar em mim, beijando outra pessoa na minha frente.

– Eu... Sinto muito Coelho... - os outros guardiões me olharam – Mas isto não vai acontecer comigo.

– Jack...

Impulsionei-me com o cajado e voei pela janela.