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As cartas na mesa, parte II


Capítulo 7

As cartas na mesa, parte II

- Bill, eu exijo saber que diabos foi isso! – disse Tom raivoso – Eu estava me dando bem com a gatinha... Meu Deus, que mulher! Por que você teve que cortar meu barato?

- Tom... Vamos voltar para o hotel – Bill disse levando uma das mãos à cabeça.

- O que aconteceu? – a raiva de Tom esvaiu-se – Você está se sentindo mal?

- Eu não sei... Vamos.

- Não se preocupe, Alexia. Mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer com ela, e com você também – ressoou uma voz grave que parecia vir de todos os cantos da casa, até que a silhueta de um belíssimo homem de longos cabelos negros, olhos violeta e pele extremamente branca surgiu das sombras – Está na hora de eu contar uma coisa a vocês.

- Emmus! – as duas disseram em uníssono.

- Emmus, o que está acontecendo?! – Sel levantou-se em um pulo – Por tudo o que você acredita, me fale o que está acontecendo!

- Acalme-se criança. Eu direi. Mas agora acalme-se – ele disse indicando o sofá, fazendo um gesto para que ambas sentassem-se, pois a conversa seria longa. E elas assim o fizeram – Muito bem... O que Selene teve com o garoto nós costumamos chamar de “reconhecimento”...

- “Reconhecimento”? Não tinha um nome mais original não? – disse Alexia.

- Não – o vampiro respondeu um pouco irritado por ter sido interrompido – Como eu dizia, isso é bastante raro, pois só acontece quando encontramos pessoas puras que, como vocês sabem, elas estão extintas desde o massacre da Transilvânia. Um vampiro sempre vai reconhecer um puro quando olhar nos olhos dele e vice versa.

- Então quer dizer que o tal Bill Kaulitz é mesmo puro? – perguntou Alexia.

- Sim, ele é um dos últimos.

- E o que eu faço agora? – perguntou Selene.

- Agora? Protejam-no.

- O que? – Alexia perguntou revoltada – Proteger pessoas puras é trabalho para os anjos. Nós as matamos!

- Pode tentar se quiser, Alexia. Mas duvido que consiga – o vampiro disse ironicamente.

- Está duvidando de mim?

- Hei! Podem parar vocês dois! Esse assunto já me encheu! Vou dormir, amanhã conversamos, e não quero brigas aqui! – disse Selene enquanto subia as escadas – Boa noite.

Assim que a escritora sumiu e seus passos não puderam mais ser ouvidos, Emmus soltou um suspiro.

- Sabe que eu nunca duvidaria de você Alexia. Eu te criei e sei como você é. Mas Selene não vai deixar você matá-lo.

- Por quê? Qual é a parte que você omitiu?

- Ele a fascina, ele a atrai, ele é a luz e ela a mariposa, ela não consegue machucá-lo porque ele tem exerce uma força invisível sobre ela e sobre qualquer outro vampiro. Entende o que eu digo? Selene es...

- Não-termine-essa-maldita-frase. – A vampira disse pausadamente e com os dentes cerrados - Isso é impossível.

- Aí depende do que você considera impossível. Você é uma vampira, não? – disto isso, Emmus sumiu, como se nunca estivesse estado ali, deixando uma Alexia furiosa.

Ela olhou para fora vendo a lua incidir majestosa no céu, deixando sua luz prateada entrar pela janela de vidro.

- Puro hein? Por quanto tempo mais?

Como se não fosse feita de matéria, Alexia saiu pela janela e deslizou pelas ruas de Berlim com uma velocidade além do normal. Por vezes, parava e inalava profundamente o ar, procurando o já conhecido cheiro.

Alexia sabia que se seguisse o cheiro de Tom, que para ela era mais apelativo do que o do irmão, encontraria Bill.

A velocidade com que se deslocava permitia esquivar-se das pessoas sem que elas sentissem. Os seus movimentos eram tão ágeis que chegavam a serem felinos. Tinha um único objetivo em mente, e o seguiria cegamente.

O cheiro de Tom levou-a a um hotel de quatro estrelas não muito longe do seu escritório. Sorriu maliciosamente ao perceber que conhecia aquele local como a palma da sua mão. Em frente ao hotel, havia um prédio não muito alto que poderia ser facilmente escalado por alguém como ela.

Inspirou profundamente ficando satisfeita com o resultado. Não demorou muito tempo até chegar à parte superior do prédio cinza. Agradeceu mentalmente por estar vestida de preto, assim a escuridão da noite ocultava a sua presença.

Desta vez não foi necessário procurar nada. O cheiro de Tom entregou-se como se a ela pertencesse. Alexia só teve que olhar para a janela do hotel, um pouco mais a baixo de onde estava, e podia avistar Tom.

A porta da sacada estava aberta permitindo as cortinas esvoaçassem com o vento como se tivessem vida própria e as luzes fortes do interior do quarto permitiam uma visão melhor para a predadora.

Sorriu vitoriosamente percebendo-se que o jovem não passava de uma simples presa indefesa vulnerável a qualquer predador. Mas com a mesma rapidez que surgiu, seu sorriso desvaneceu-se quando reparou que Tom preparava-se para tirar a camisa.

- Isto não está certo. - resmungou para si mesma. - Pareço uma espiã... - abanou a cabeça tentando apagar tal ideia. - Eu não sou perversa... Eu não sou perversa... – repetiu tentado acreditar nas próprias palavras.

Voltou a olhar para Tom que se encontrava com o todo o peso do corpo sobre a grade da sacada, fazendo-a assustar-se devido à possibilidade de ele poder vê-la. Afastou-se da borda do prédio, mas continuou observando-o intensamente.

Bill já não ocupava sua mente, tinha-se esquecido dele e da razão que a levara a procurar Tom. Apenas observava as feições do rapaz que olhava as ruas de modo vazio, sem perceber que estava a ser observado.

A ruiva achava a sua figura digna de perfeição. Sem sorrisos forçados e perdido em seus pensamentos, Tom tornava-se ainda mais irresistível e belo.

- Com tanto poder que deram aos vampiros, não foram capazes de lhes oferecerem a capacidade de ler os pensamentos das pessoas. - Resmungou para si mesma.

Tom desencostou-se lentamente da grade e deu meia volta em direção ao interior do quarto.

Os olhos de Alexia arregalaram-se e com uma velocidade além do normal, correu para a borda do prédio, quase caindo. Piscou os olhos repetidas vezes para ter a certeza que a sua visão não a enganava, e tal como uma prova de que a visão dos vampiros era mais aguçada do que a de uma águia, lá estava o nó celta com um Yin Yang no meio, na parte de trás do ombro esquerdo do guitarrista. A marca que o distinguia dos simples e medíocres humanos. A marca que o denunciava como Puro.

A expressão da Alexia era de uma confusão extrema. Não entendia o que aquilo significava. Simplesmente parecia que a lógica tinha desaparecido. Lembrou-se de que Emmus anteriormente havia dito que vampiros reconheciam puros quando olhava em seus olhos e vice versa. Não lembrava-se de ter visto nada nos olhos dele, e ele tampouco pareceu notar o que realmente ela era.

- Se o Tom tem a marca... Significa que ele é um Puro? - abanou a cabeça. - Isso não é possível, eu teria percebido. E alem dos mais o Bill... - Alexia levantou-se em um salto lembrando-se da sua missão. - O Bill! Me esqueci completamente! - lamentou-se – Como vou fazer para encontrá-lo agora? – perguntou a si mesma enquanto colocava os óculos escuros.

Como por obra do destino, alguém bateu na porta do quarto do guitarrista, chamando a atenção da vampira. Bill entrou no quarto com um olhar sombrio.

- Bill? Aconteceu alguma coisa? Está estranho desde que chegamos – disse Tom olhando para o irmão de modo preocupado.

Mas quando o mais novo ia abrir a boca para falar, os seus olhos ficam presos na figura esbelta que se encontrava atrás do irmão, na entrada da varanda.

Por trás dos óculos escuros, os olhos de Alexia faiscavam se satisfação contra os olhos de terror do cantor.

Achando estranho, Tom virou-se e deu de cara com a vampira ruiva.

- VOCÊ?! - exclamou Tom. - Como é que? Você? Onde? Mas... Como?

- Afaste-se dele! - ordenou Bill ficando entre Alexia e o irmão, ao mesmo tempo que tentava controlar o seu temor.

Graças aos óculos escuros, o contato visual direto dos dois foi quebrado, imunizando a ruiva ao olhar do cantor.

- Então Bill? - começou a ruiva com uma voz doce. - É assim que você trata uma convidada?

- O que está acontecendo entre vocês dois? - Tom perguntou confuso.

- O que você quer? – Bill não deu atenção ao que o irmão disse e continuou na sua frente em posição defensiva

- Sabe muito bem o que eu quero – Alexia continuava sorrindo.

- Você e a sua amiga... É impossível! Vocês não podem existir!

- Você que não deveria existir.

- Não fale assim com o meu irmão! Quem você pensa que é? Não é só porque me beijou que tem esse direito! – disse Tom.

- Cale-se insolente! Cuido de você depois.

- Não fui eu que entrei no seu quarto de uma forma tão... Estranha. - replicou um rapaz de dreads. - Como conseguiu subir até aqui? Não sabia que era uma fã maluca.

- Ou você é burro ou é muito inocente – a advogada disse com uma entonação de incredulidade na voz.

- Olha aqui sua...

- Eu não vim para discutir contigo. – a garota o cortou e o seu olhar passou para Bill. - Eu vim para acabar contigo.

- Você louca. - exclamou Tom seriamente.

- Eu sei o que você e a sua amiga são. - disse Bill por fim, depois de ficar calado por tanto tempo.

- Mais uma das razões para te matar.

- Mas você... – Tom ia falar de novo, mas...

- CALE-SE! - exigiram Bill e Alexia ao mesmo tempo sem parar de se fitarem.

- Por que você...

- Por que eu te quero matar? - a vampira sorriu de uma forma radiante, e diante do gesto afirmativo do rapaz, continuou - Simples. Tal como eu disse antes, a tua existência é um erro.

- Por quê? – diante da pergunta, o sorriso de Alexia dissipou-se e a sua expressão tornou-se séria.

- Vocês humanos são mesmo ignorantes. Não espere que te responda. - Alexia de um passo à frente preparando-se para aniquilar a sua vitima. - Eu apenas estou aqui para corrigir um erro.

Dito isto impulsionou-se para a frente dando apenas tempo para Bill dar um passo para trás, mas uma figura nova surgiu em sua frente.

- Afaste-se deles Alexia – ordenou com voz imperativa.

Continua...