Capítulo 36

A Última Romanov

Cluj-Napoca, Romênia...

Saindo da floresta que cercava o palacete, os dois vampiros centenários ocultaram sua presença. Nenhum guarda na entrada os percebeu devido à sua destreza e rapidez de seus movimentos.

Só no interior é que encontraram problemas, mas nada que um golpe na nuca do oponente não resolvesse. Não usariam armamentos, eram humanos ali.

No entanto, o estranho silencio que se prolongava desde a sua chegada fazia com que trocassem vários olhares preocupados.

- Algo não está certo… - ela murmurou acompanhada pelo som do batuque dos seus sapatos de salto no soalho de mármore.

Emmus rapidamente deteve-se. Detectara algo, algo familiar. Encheu os pulmões de ar captando inúmeros cheiros de todos os cantos que o rodeavam até que o doce aroma o alarmou.

- Sangue! – Amélia concordou.

- E não é pouco, melhor nos apressarmos. – Emmus aconselhou mudando o seu passo apressado para corrida. - Não é de nenhum deles, mas sinto o cheiro de poeira e pedra rachada. Houve alguma luta.

Amélia assentiu concordando com a análise do companheiro.

Continuaram correndo e ao constatar que nenhuma criatura atravessava o seu caminho, aumentaram a velocidade.

- Por aqui. – Emmus avisou sentindo perfeitamente o cheiro de sangue de um humano e o das suas crias: Selene, Alexia e o seu herdeiro, Vincent.

Ao aproximarem-se de um corredor que os levava a uma porta que nascia do chão prolongando-se até ao teto um cheiro diferente assolou-lhe o corpo obrigando ambos a parar.

Outro cheiro a sangue, mas não o mesmo. De um humano? Sim, mas não só. Não era um aroma simples, muito pelo contrário, era bastante complexo. Apesar de transportar a doçura sempre presente de um humano em plena juventude, trazia também um toque fresco completamente purificador fazendo imaginar qualquer criatura pisar as fofas nuvens brancas que cobriam o céu num fim de tarde primaveril, acompanhado com o cheiro das flores mais delicadas e frescas que um jardim poderia ter. Mas não só, ao mesmo tempo que transpunha um tom completamente delicado, tranquilizador e purificador capaz de fazer todos vergarem-se, também atacava com um poder completamente arrebatador, parecendo que chamas percorriam o seus corpos envolvendo-os com o seu calor num abraço abrasador mas ao mesmo tempo acolhedor. Como tal coisa seria possível? Doce e amargo, frio e quente, preto e branco, dia e noite, céu e terra, bem e mal. Tudo junto numa mistura, completamente equilibrada e tentadora. Se ao sentir tantas emoções apenas pelo cheiro, não admirava que ao provar, qualquer vampiro acabaria por se destruir. Era algo completamente proibido.

Sem mais demoras e com a preocupação ao máximo, ambos abriram a porta com uma brutalidade tremenda e o que viram não lhes agradou.

Markus subjugava Bill à sua ferocidade, cravando as suas presas no pescoço do moreno enquanto este desfalecia ficando cada vez mais pálido. Ninguém se movia. Todos observavam escandalizados incapazes de fazer qualquer movimento devido ao choque.

Emmus que, com os olhos marejados de ódio, arrancou Markus do corpo de Bill tão rapidamente que cravou o vampiro no chão sem que este oferecesse qualquer tipo de resistência e ao mesmo tempo Amélia apanhava Bill em plena queda sem dar tempo a que o seu corpo tombasse na pedra.

Rapidamente tomou a pulsação e examinou os olhos âmbar sem qualquer brilho e poder.

Selene finalmente conseguiu soltar-se de Kirian e avançou dois passos hesitantes com a mão esticada na direção daquele que significava tudo para ela, mas o olhar devastado que Amélia lhe dirigiu fê-la parar lutando contra a asfixia de um nó na garganta.

- Não hà forma de voltar atrás. – a mais velha lamentou passando a sua mão na testa do desfavorecido. – Perdeu muito sangue, está condenado…

- Não… - pediu num sopro enquanto os seus joelhos perdiam as forças deitando-a para o chão. – Não, por favor, não. – a voz de Selene saiu esganiçada. – NÃO! –gritou fixando as mãos com força de encontro ao chão. – Não pode… - a sua voz baixou de nível transformando-se num leve sussurro. Encostou o queixo ao peito como se assim pudesse amenizar a sua dor, mas tal só fez que gotas grossas, de um vermelho escalarte, caíssem dos olhos da morena manchando o chão. – Não pode… Não pode, não pode, não pode! – repetiu de forma rápida.

- Selene… - Alexia aproximava-se para consolar a amiga, mas deteve-se com a interrupção da morena.

- Você… - começou olhando para Amélia como uma criança perdida para sempre. – Você pode transformá-lo, não pode? É a única que pode, a última Corvinus! A única com poder suficiente.

Amélia baixou a cabeça negando.

- Eu lamento muito Selene…- olhou-a nos olhos comovida. – Eu posso, mas não devo. Bill não está mais nas mãos de quem habita esta Terra. Ele é um Puro e deve continuar como tal, não seria justo eu transformá-lo em uma criatura das trevas.

Selene permitiu-se deixar-se levar por um copioso e doloroso choro, não se importando por ser recebida nos braços da amiga que lhe falava palavras reconfortantes. Sentia-se inútil, não tinha feito nada para impedir, nada, meramente ficou parada vendo tudo acontecer.

- Porquê que ele não chega nunca! – desabafou a vampira milenária sendo olhada por todos.

- Ele quem? – Vincent questionou posicionando-se ao lado de Kirian.

Emmus observava o último suspiro de Markus sendo consumido pelo sangue de Bill. Alguns diziam que era uma morte agradável, como se todos os pecados fossem finalmente perdoados, e outros diziam que o sangue ao percorrer todas as veias da vítima, deixava um rasto de destruição queimando tudo que se atrevia a cruzar o seu caminho. A dor agonizante permanecia até ao último momento impossibilitando qualquer movimento, expressão ou grito devido À sua propriedade de paralisia.

- Bill morreu como humano – Amelia explicou – Mas como sabem, ele é só metade humano...

- Então ele ainda pode viver? – Selene perguntou esperançosa.

- Depende do seu ponto de vista – Corvinus disse misteriosamente.

- Mas convém ele ser rápido. – disse Emmus – Markus apesar do seu ato repentino conseguiu não deixar de ser vingativo. A mordida está com um péssimo aspecto. Ficou de uma forma que Bill continuará sofrendo morrer.

- Como? Mas ele está inconsciente! – Selene sabia que era verdade. Ainda conseguia pressentir a vida de quem amava presente, ouvir o seu fraco coração e sentir o cheiro do que antes mais desejara, mas que se convencera de que nunca teria.

- A mordida que Markus, inconsciente ou não, não o impede de sentir qualquer dor. A família de Dracul sempre foi conhecida por gostar de ver as suas vitimas sofrerem conseguindo provocar isto… - Emmus apontou para o pescoço de Bill. – sem qualquer dificuldade.

- Eu não quero. – todos olharam para a escritora com o seu rosto marcado por dois vermelhos rastos disformes que iam dos seus olhos até ao seu queixo. – Não vou permitir. – com certa dificuldade, levantou-se e em passos lentos e cambaleantes, caminhou em direção de Bill – Ele já sofreu o bastante.

Alexia semicerrou os olhos não gostando do modo de agir da amiga.

- Não consegui salvá-lo, nem de mim mesma consegui salvá-lo. Eu fiquei parada enquanto ele se oferecia a Markus para nos salvar. Eu falhei completamente nessa missão. – deixou-se cair de joelhos perto do corpo dele que se encontrava pousado sobre os braços e joelhos de Amélia. – A última coisa que posso fazer é oferecer-lhe uma morte calma sem mais torturas.

- Não! – atirou Alexia precipitando-se para junto da morena pondo-se entre Selene e Bill – Sei muito bem o que está pensando e não vou permitir.

- Amiga... Irmã, por favor, não tente me deter. Ele se sacrificou por nós, agora eu quero me sacrificar por ele. – a escritora respondeu com a voz embargada.

- Exatamente porque ele se sacrificou por mós que eu não vou permitir que você o faça! – disse a ruiva – Sejamos realistas, ele não o fez por mim, pelo Kirian e nem pelo Vincent, ou melhor, pode até ter pensado em nós, mas o motivo principal foi você, ele queria que você ficasse bem!

- E agora eu quero que ele fique bem! Até essa tal pessoa misteriosa chegar eu não vou deixá-lo sofrer! Nunca! Alexia, eu não quero ir brigada com você. Se fosse o Tom, você não faria o mesmo?

A advogada calou-se, sim, ela faria qualquer coisa para ver Tom bem, nem que precisasse matá-lo e matar a si mesma para que não sofresse.

- Vamos nos ver de novo? – a ruiva perguntou enquanto as lágrimas tintas marcavam seu rosto.

- Nada pode nos separar – Selene repondeu abraçando-a – Vejo você na minha outra vida.

Alexia afastou-se e encolheu-se ao ver a amiga morder Bill.

O sangue de Bill era milhões de vezes melhor do que Selene poderia ter imaginado, era uma confusão de sabores, algo realmente impossível de se descrever. A sensação era tão boa... Pelo menos para ele, sentia que tudo em Bill lhe pertencia, cada célula de seu corpo e seu coração pareciam ter voltado à vida, viu sua vida e morte passarem na frente de seus olhos e gostou disso.

Então tudo explodiu em milhões de fragmentos de miríades e pirâmides, e escurecer logo em seguida.

Minutos se passaram em silêncio, até que pouco tempo depois, um clarão entrou pela janela e o vidro se estilhaçou e um magnífico ser envolto de uma luz ofuscante planou graciosamente dentro da sala.

Diante do olhar atônito dos demais, e aliviado de Amélia, ele dirigiu-se até o corpo franzino no colo da vampira e o tomou nos braços.

- Por que demorou tanto? - Amélia perguntou brava - Tem ideia de como ele teria sofrido se não fosse por Selene?

- Eu sigo ordens, Amélia, não tenho culpa nisso - o ser respondeu calmamente vendo o estado de Bill.

- O que você vai fazer com ele? - Alexia perguntou de repente, não obtendo resposta - Céus, a minha melhor amiga morreu por ele, eu exijo saber! - ela gritou.

- Tenha calma, filha - Emmus respondeu pondo a mão no ombro dela enquanto via o estranho ser sair pela janela carregando Bill consigo - O Bill ainda não completou seu objetivo. Ele precisava morrer uma vez para poder chegar ao ponto máximo de seu poder.

- Como assim? - a ruiva o encarou furiosamente - Está dizendo que a Sel morreu por nada?

- Não, estou dizendo que Bill precisava morrer. Elena se doou para que ele fizesse uma travessia mais agradável - o príncipe respondeu duramente - Deveria estar orgulhosa.

- Idiota, idiota, idiota. – Alexia já não sabia a quem suas palavras eram dirigidas. A ela própria ou à Selene.

Depois do corpo de Bill ter sido levado pelo lindo ser angelical, Selene fora deixada deitada no chão sem qualquer apoio ou importância.

Estava orgulhosa. No fundo estava muito orgulhosa do que fizera, mas ao mesmo tempo transbordava de raiva.

Podia ter evitado. Era a única coisa que conseguia pensar. Não queria saber se estava sendo egoísta, não queria saber que poderia ter ficado o resto da sua miserável eternamente vendo Selene sem qualquer brilho no olhar ou um vestígio de felicidade a transparecer na voz, não queria saber de nada. Apenas queria ela de volta.

- Alexia… - murmurou Amélia aproximando-se.

- Não! – gritou a advogada revoltada pressionando mais a morena contra sim. O simples tom desesperado na voz fez as vampira milenar parar. – A culpa é sua. – afirmou com o rosto completamente marcado pelo vermelho. – Você podia tê-lo transformado, mas não quis! – acusou. – Ela está morta por sua causa.

- Alexandra Nikolaevna Romanov!- repreendeu Emmus – Com quem pensa que está falando?

Alexia não se importou, ignorou a repreensão, decidindo-se que não iria passar por uma menininha arrependida.

- Vocês deveriam ir... - aconselhou Vincent desviando o olhar de Alexia focando em Amélia, extremamente magoada, e Emmus. – Iremos tratar de tudo. Mas agora é melhor apressarem-se. Esses problemas serão resolvidos depois.

Ambos os superiores concordaram e Emmus não conseguiu evitar um sinal de orgulho pelo ato do seu pupilo.

Ao retirarem-se, Alexia limpou as lágrimas vermelhas manchando ainda mais o rosto e olhou ao seu redor vislumbrando os estragos de uma só tarde. Como era possível que em pouco mais de duas horas tanto ter sido lhe tirado?

Sentia-se completamente vazia como se a morte a estivesse escolhido outra vez como vitima principal.

O barulho de vidros partindo-se obrigou Alexia a olhar para Vincent que se dedicava a espalhar óleo dos inúmeros candeeiros no chão, bem como as garrafas de bebida alcoólica.

Não demorou muito para perceber o que o herdeiro planejava fazer e com um ultimo olhar para a morena, Alexia levanta-se ajudando-o.

Deixavam rastos de oleo e alcool pelo chão de maneira a percorrer todo o perímetro, incluindo também todas as tapeçarias, quadros e moveis. Deixaram alguns candeeiros ainda acessos com as chamas acesas, mas todo o resto encontrava-se completamente numa perfeita arma.

- Ainda falta o resto do edifício! – avisou indo em direção à saída do salão agora quase irreconhecível. – Você vai por ali… - apontou para a esquerda. – Eu trato do resto. Eu só quero as divisões que possibilitam algum ponto de fuga. – ele disse e a ruiva assentiu. – Não quero falhas nem que sejamos descobertos antes do tempo. Depois de estar tudo preparado nos encontramos aqui. Tem que ser tudo feito o mais rápido possível. – declarou com uma voz totalmente inquebrável digna de um grande líder. A ordem e o aviso estavam bem explícitos: Não iria admitir falhas, contradições e muito menos desobediências.

Quase de imediato a vampira iniciou o seu trabalho aproveitando-se de todas as capacidades melhoradas que a sua raça detinha.

Vincent fazia tudo de forma planejada e eficaz. Apenas se ocupara das divisões necessárias agradecendo por não ter até aquele momento confrontado com nenhum membro aliado às ideias de Markus.

Era definitivamente mais sensato fazer tudo pela calada de modo a que quando percebessem que o seu fim estava próximo, seria tarde demais.

Alexia sabia que a única forma de terminar com esta ameaça de uma vez por todas era exterminá-la por completo.

Nada lhe escapava. Aquele lugar era repleto por candeeiros de óleo recusando-se qualquer método de eletricidade. Caso contrario tudo seria mais fácil, bastaria criar uma explosão e tudo acabaria.

O que Vincent queria fazer era das poucas formas de acabar com todos os aliados de Markus, no entanto, a duvida de se tudo iria correr como planejado corroia-lhe o corpo. Seria algo arriscado e sabia perfeitamente que o plano continha inúmeras falhas podendo tornar-se num fracasso total.

O seu desejo? Que o que estavam fazendo fosse o mais certo e que corresse de maneira como ela idealizava.

Mal começassem com a destruição teriam muito pouco tempo para sair, mas dessa forma correriam o risco de que alguns membros do clã sobrevivessem e continuassem aquilo que Markus não conseguira acabar.

Ambos os vampiros não demoraram mais do que poucos minutos a realizar aquela tarefa encontrando-se nas portas do salão.

- Bloqueou tudo? – o príncipe perguntou com uma expressão fria.

- Sim. – respondeu segurando um candeeiro com a chama ainda acessa. De seguida, todas as palavras foram pronunciadas num leve sussurrar.

- Não deve faltar muito para perceberem o que está acontecendo e soarem o alarme… - ele disse, e Alexia olhou instintivamente para todas as entradas dos corredores. – Você tem que ser rápida.

Olhou para o interior do salão encontrando apenas o corpo de Markus e de Selene no centro da sala e no lado oposto da entrada, o corpo da caçadora.

Era possível ver o rasto de sangue das lutas que tinham acontecido anteriormente. O lugar cheirava a morte, um autêntico cenário resultante de uma brutalidade fatal. A luz mortiça iluminava escassamente aquele local tornando-o ainda mais sombrio, era possível ver as paredes quase partidas e cobertas de manchas de vermelho escarlate, os destroços e pedaços de vidro espalhados pelo chão frio e sujo e por ultimo os três corpos.

Cerrou os olhos tentando controlar de novo as lágrimas ao observar Selene estendida naquele lugar completamente não adequado para ela, no entanto…

Um bater fraco.

Manteve-se alerta.

Segundos depois outro. Abriu os olhos de imediato. Algo não estava certo.

Alexia deu um passo ouvindo os cacos partirem-se mais sob os seus pés. Passou por cima do corpo do magnífico vampiro ignorando-o por completo tal como os chamados de Vincent e contornou a amiga.

Algo não estava certo Conseguia ouvir um som que estava completamente errado naquela paisagem e isso intrigava-a.

Vincent começava a ficar impaciente. Odiava utilizar o tom de voz desagradável e autoritário e principalmente dar ordens daquela maneira a uma amiga como a ruiva era, mas ser ignorado era pior ainda.

A sua decisão já era difícil e ser desrespeitado no ultimo momento provocava-lhe um desconforto incontrolável.

- ALEXIA! – gritou precipitando-se para a vampira – Mas qual foi a parte que não entendeu de que deveria ser… - calou-se no momento em que Alexia se ajoelhou e se debruçou sobre Jeanne - O que… - Um bater. Cerrou os olhos apurando as sua audição. Lento, pesado, quase imperceptível, mas existente.

- Ela está viva! – exclamou olhando para cima em direção a Vincent. Ambos estavam perplexos. Tinham assistido à brutalidade do ataque e sabiam que era praticamente impossível um humano sobreviver a tamanha ferocidade – O que faremos? – o rosto perplexo do vampiro deu lugar a uma expressão óbvia.

- Deixamos ela aí! Quer fazer o quê?

Alexia piscou os olhos. De fato era o mais certo a fazer e num dia normal nem teria perguntado, mas naquele momento, depois de tudo o que tinha acontecido…

- Não!- ouvira-se pronunciar. ‘Errado, errado, errado! Completamente errado!’ gritava para si. Tentava lembrar-se de quem era Jeanne Du Pont e dos problemas que ela causara a todos. De como ela queria Tom, de como ela o tivera, do que ela tentara conseguir dele. Tinha que pensar nisso, devia pensar nisso, mas…

- Não. Por hoje já chega de mortes. Já é o suficiente. – completou vencida.

- Não sei Alexia, ela é um Van Helsing, não se esqueça disso.

- Acredite que não é só disso que eu não esqueço. Vamos leva-la, além disso ela estava ligada a Markus. Poderá ser talvez uma ótima fonte de informação. Não temos nada a perder.

Vincet ponderou no que a amiga lhe dissera. Em parte ela tinha razão, mas no fim de tudo Jeanne era uma Van Helsing. Não sabia como os restantes iriam aceitar aquela decisão, mas numa coisa ela estava certa: Bastava de mortes naquele dia. Markus, Selene, Bill e mais tarde os restantes aliados naquela conspiração. Não acrescentaria mais ninguém. Nem mesmo uma caçadora da sua raça.

Alexia segurou Jeanne nos braços censurando-se por isso.

Pensar que ela já tinha estado com Tom despertava-lhe um sentimento possessivo que declarava o humano como ‘seu’. Tinha a certeza absoluta que se estivesse no seu perfeito juízo ela própria faria questão de separar a cabeça do corpo da humana com as suas próprias mãos. Era um pensamento tão delicioso que teve que abanar a cabeça para voltar a si e controlar-se. Teria muito tempo para tratar desse assunto. Afinal tempo era o que não lhe faltava.

Olhou em volta: Selene morrera, Bill também, Markus não tinha tido um destino muito diferente e mais tarde, naquele dia, mais da sua própria raça encontraria o mesmo fim.

Poucos anos depois da sua transformação, de forma a mostrar o seu poder recém- adquirido, batalhas eram o seu passatempo favorito. Cada morte que fazia, depois da repulsa e horror das primeiras vezes, um prazer parecia que lhe voltava a aquecer o corpo. Mais à frente, a sua superioridade começou a apoderar-se da sua mente, declarando os humanos como seres inferiores devido à sua fragilidade, esquecendo-se completamente do que em tempos tinha sido e de onde pertenciam as suas raízes.

Escapou com facilidade ás perseguições devido à sua capacidade de disfarce e controle para viver entre seres-humanos, mas fora a pouco tempo que percebera que ainda mantinha alguma parte da sua humanidade. Sentimentos humanos voltaram acompanhados com as suas fraquezas. Ao perder dois amigos, todas as suas fortalezas que construíra a seu redor foram de imediato consumidas. A fragilidade, que ha muito desaparecera tinha voltado e com ela a clemência. Se tinha oportunidade para evitar uma morte, iria agarrá-la até ao fim.

- Está certa disso? – quis saber um Vincent mais calmo e compreensivo. Não foi necessária resposta. Alexia apenas seguiu em frente em direção à saída.

Foi ao chegar à última porta, a que dava acesso para o exterior que Vincent colocou a mão no ombro da amiga fazendo-a virar-se para si.

- Vai fazer-me um favor Alexandra. – pediu com uma expressão séria. Ao ouvir o seu verdadeiro nome a vampira colocou-se alerta sentindo-se desconfiada. – Nunca vai se esquecer de que foi uma ótima amiga para mim. E quero também que…

- O que é que está falando! – interrompeu com uma sobrancelha arqueada.

- Volte para La Rochelle sem olhar uma única vez para trás. Quando mais cedo chegar, melhor para você e…

- Você não vem comigo? – começava a sentir-se desconfortável pelo tom presente nas palavras do amigo. Observou Vincent a ponderar nas palavras seguintes, e o que se seguiu não agradou de todo a vampira.

- Pensei muito nisso. – declarou passando uma mão pelo cabelo. – A única forma de termos a certeza que nenhum dos aliados de Markus vai escapar é alguém ficar aqui e tratar do serviço que as chamas não conseguirão... Eu decidi tratar eu próprio di…

- Não! – exclamou a advogada tomando uma postura completamente diferente. – Está completamente louco. – abanou a cabeça não acreditando no que estava a acontecer. – Se ficar aqui, nenhum de vocês vai sobreviver. Você está completamente louco!

- O meu dever como herdeiro é proteger o meu povo! – protestou completamente ofendido.

- Não! O seu dever como herdeiro é chegares são e salvo a La Rochelle para depois governar como sabedoria. Não se suicidar na primeira oportunidade. - rebateu já perdendo o controle.

- Alexia…

- Não! – gritou. – Não, não e não.

- Não é hora de ser teimosa! – ele ralhou.

- Mas é a hora perfeita de ser sensato! – ingnorou a expressão fulminante do rosto de Vincent continuando com o seu discurso. – Pense bem Vincent, o que iria acontecer se La Rochelle ficar sem herdeiro? Não entende? Será um desastre! Não pode fazer isso. Você foi treinado para deter esse cargo e mais do isso, foi treinado para ocupar o lugar do Emmus no Conselho! É o único que tem os conhecimentos, perfil, qualidades e ofícios adequados para um ótimo líder. Mais ninguém tem, você foi escolhido.

- Não vou permitir que eles sobrevivam. – decidiu-se.

- Tente entender, Vincent, estamos ficando sem tempo e só você é que pode ser o herdeiro, só você é que está preparado e não dá tempo de treinar outro! – ao longe foi possível ouvir uma agitação.

Ambos sabiam que não tinham muito tempo. Encontravam-se num beco sem saída. Mas sabiam que para aquela missão acabar com êxito um deles teria que ficar para ajudar o outro a subir o muro.

Vincent recusou logo essa ideia, não arriscaria a vida da ruiva, devia haver outra saída, outra maneira. O problema era que não tinham tempo para pensar sensatamente e Alexia já se tinha decidido e nada a faria mudar de ideia.

- Será um ótimo líder. – declarou tentando formar um sorriso no rosto e engoliu em seco antes de continuar. – Me prometa que eu irei me orgulhar de você!

- Alexia eu não…

- Eu fico, você vai!

- Não! Não vou permitir. Não tem qualquer cabimento. A responsabilidade não é tua. – informou revoltado. Alexia ignorou por completo olhando para Jeanne enquanto encontrava as palavra indicadas que fosse mostrar aquilo que sentia.

- Nos tempos de humana, desde que eu era apenas a Alexandra, a filha mais nova e a favorita do meu pai, a que todos tratavam por Adini… - soltou uma gargalhada seca por ainda se lembrar de partes pouco importantes do seu passado. – …até ao dia da minha morte, eu aprendi o significado de fidelidade e submissão. Como membro da realeza que em séculos eu fora, aprendi a diferenciar os deveres e prioridades de cada. Você é o herdeiro, é alguém demasiado importante para La Rochelle, e eu faria tudo para defender a casa que me acolheu, faria tudo para defender o herdeiro, o futuro líder e acima de tudo, o amigo. Não há nada a que eu seja necessária. Talvez seja esta a forma para que a minha longa existência seja útil. Vi a minha família morrer de velhice até à ultima geração ser chacinada sem qualquer piedade. Não fiz nada para parar tal coisa. Agora Selene morreu. Era a única familiar de vida que eu tinha.

- Alexia eu não vou permitir. – olhou para o fundo do corredor tendo a certeza que ainda não foram descobertos e com essa distração, a vampira aproveitou para passar a humana para os braços do amigo e retirar-lhe o pequeno candeeiro de óleo que tinha nas mãos. Recebeu um olhar cortante do amigo, mas não recuo na sua decisão.

- Deixe-me fazer isto. Eu quero. – insistiu.- Por favor.

Observou Vincent a engolir em seco pestanejando repetidamente fazendo com que um vestígio de uma lágrima vermelha se impedisse de aparecer. Por fim, o olhar fulminante deu lugar a um profundo e com uma voz vacilante:

- Nós…

- Não há outra forma. Além disso… - atirou uma mecha de cabelo para trás das costas com um movimento teatral. – Alguém tem que fazer o trabalho como deve de ser e ai daquele que se atrever a me desobedecer. Não perdem pela demora! – sorriu no final tentando ser tranquilizadora e confiante, no entanto o que aconteceu depois de alguns segundos foi algo que ela não estava definitivamente à espera.

Num movimento gracioso Vincent inclinou-se ligeiramente para a frente fazendo uma referência cheia de respeito. Receber tal gesto, principalmente do herdeiro de La Rochelle, era uma honra incalculável. De seguida, num movimento mais familiar, afetuoso e sem qualquer formalidade, realizado não pelo herdeiro mas sim pelo amigo, Vincent pousa os lábios na testa da ruiva.

- Fará falta a todos. – afirmou tristemente afastando-se. – E as gêmeas vão me matar. – tentou gracejar.

- Isso já não é problema meu. – sorriu. – Talvez um dia voltaremos a nos encontrar.

- Estaremos à tua espera, prometo.

- Considere-me informada. – novas lágrimas ameaçavam surgir no rosto de ambos e ao aperceber-se disso Alexia empurrou-o para fora do edifício. – Diga a ele que o amo e que lamento por tudo. – suplicou, tornando assim as ultimas palavras que dissera antes de fechar a porta e dar inicio à segunda parte do plano.

Há sempre um inferno na Terra.

La Rochelle, França...

- Não, não, NÃO! – Melanie gritou enquanto Gustav a abraçava ternamente – Ela não podia, não podia! – disse enquanto as lágrimas tintas manchavam a camiseta dele – Tinha que ter outro jeito!

- Mel... – Ariel disse afagando o cabelo dela – Cada um tem que tomar suas próprias decisões. Os argumentos que Alexia usou foram mais do que válidos. Ela vai fazer o que é preciso. Lembra daquele livro que você leu na semana passada? Aquele da Persia Wooley...

- Guinevere-O Outono da Lenda – Mel respondeu entre soluços.

- Sim, e você se lembra do que a mãe da Guinevere sempre dizia? – a princesa perguntou calmamente.

- “Quando você souber o que tiver que fazer, simplesmente faça, não importando como seja difícil ou doloroso”.

- Assim é a vida, pequena. Alexia se sacrificará para que nós possamos sobreviver.

- Mas, Ariel, e o Tom? – a gêmea mais nova perguntou olhando para o corpo inerte do guitarrista sobre os lençóis vermelhos.

- Ele vai aprender a viver até que eles possam estar juntos de novo, mas ele vai precisar ser forte. Felizmente ele ainda tem a nós.

Cluj-Napoca, Romênia.

Alexia abandonou o corredor principal encostando a chama em uma tapeçaria pregada à parede. Foi uma questão de segundos para que o grosso tecido se despedaçasse caindo em pedaços no chão, transformando-o, assim, num rio de densas chamas dançantes pelo óleo estrategicamente caído.

Deixaria o salão onde Selene morrera para o fim. Lembrava-se que aquele local detinha uma varanda que permitia acesso ao exterior. Seria uma ótima forma de atrair todos os seus oponentes em busca de qualquer escapatória. A tarefa não era difícil, de fato, foi com bastante facilidade que provocara vários incêndios nas divisões adequadas.

O seu plano fora interrompido por aliados de Markus que agora tentavam atacá-la. Uma boa parte eram conhecidos seus, muitos já tinham cruzado o seu caminho em La Rochelle, trocando somente palavras de cortesia.

Tendo a ideia de que todos os passos dos seus próximos poderiam ter sido espiados ao longo dos tempos, acordava por completo o seu espírito selvagem tornando-a ainda mais violenta.

Com facilidade e golpes certeiros, ela separava a cabeça de seus corpos, empurrando-os para as chamas. Um deles acertou-a na barriga fazendo-a retrair-se, não perdendo tempo, golpeou-a nas costas fazendo-a estatelar-se no chão e, com suas longas garras expostas e direcionadas para perfurar a ruiva, o vampiro de cabelos encaracolados investiu, encontrando o chão e não um corpo sangrento com a marca das suas unhas.

Com um pé, Alexia empurrou-o, obrigando-o a tombar junto de si no chão e ficando da sua altura e de imediato subiu para cima do seu corpo.

Subjugado pelo peso da vampira e pela força que ela possuía, o homem tentou socá-la no rosto, mas em vão, Alexia agarrou seu punho fechado iniciando uma competição de força. Em poucos segundos, com os dentes, a ruiva rasgou a pele do pescoço da criatura atirando-a de imediato para as chamas que se alastravam cada vez mais. Assim que o viu inerte, precipitou-se para combater todos os outros adversários que ansiavam a sua destruição. Porém, todos eles seguiam o mesmo caminho que o anterior.

O ar estava quase irrespirável e o ambiente completamente escuro devido à fumaça que se dispersava das grandiosas chamas vermelhas que aclamavam mais vitimas.

Ao encaminhar-se rapidamente de volta ao salão, um garoto de olhos dourados e careca teve intenções de atacá-la, mas rapidamente Alexia derramou em cima dele o conteúdo do candeeiro (óleo bem quente) que em contato com uma mínima faísca incendiou suas roupas.

Abandonou o último corredor, com os sons agonizantes da sua ultima vítima, dirigindo-se, finalmente, ao seu destino final.

Sabia que morreria, estava certa, mas se o corpo seria consumido pelas chamas, desejaria estar junto de Selene. Juntas na vida e juntas nas mortes.

Mal chegou ao salão, arrancou uma lança de ouro, pertencente a uma armadura exposta na entrada e, de imediato arremessou-a contra o vampiro que se atreveu a aproximar do corpo da morena.

O vampiro de cabelos castanhos não teve tempo de reclamar, pois mal tinha acabado de arrancar a arma do seu corpo, soltou um grito que se propagara pelo espaço entre as quatro paredes, pois a ruiva se atirara contra ele, lançando-o contra a parede. Um golpe certeiro no pescoço fê-lo ficar quieto sem criar quaisquer problemas. O cheiro do sangue brotando do corpo da criatura declarou de imediato a suposição, não tardaria muito para que o resto do clã viesse em seu encontro.

Pegou a amiga nos braços, colocando o seu corpo no centro exato do salão, cruzando-lhe os braços sob o peito.

Com uma garrafa de bebida ainda intacta, desenhou um círculo me volta da amiga, atirando-a no fim contra uma parede, espalhando ainda mais pedaços de vidros pelo chão.

Percebeu que tinha mais dois candeeiros acesos, teria duas oportunidades, e se tudo ocorresse como devido, só necessitaria de um.

Um rugido fê-la voltar-se para a porta, encontrando cinco vampiros, talvez sete, prestes a entrar. Não importava, estava pronta.

Todos os vampiros rapidamente cercaram-na, formando um circulo espaçoso. Declaravam-na culpada de toda a destruição e, depois de terem visto o corpo do seu líder, constatando que já tivera o seu fim perpetuo, não descansariam até eliminar a ameaça.

Nas suas expressões contraídas era possível observar o ódio e a raiva que sentiam. Sentia-se totalmente pequena no meio daquele grupo enorme e para dificultar tudo, estava completamente longe dos dois candeeiros, impossibilitando qualquer tipo de matança imediata.

Dois, quatro, seis, oito e dez. Ao rodar sob si conseguiu contar o número exato dos seus oponentes e analisá-los o melhor que podia. Dois deles, não mais do que cinquenta anos poderiam ter, devido ao desenvolvimento das suas presas e garras. Seriam os mais fáceis de aniquilar, mas não deviam ser menosprezados.

Atacariam por impulso, tornando-se previsíveis, mas demasiado violentos. Não descansariam até desferirem qualquer ferimento, não parando para ponderar e consequentemente, tornando a luta mais exaustiva.

Outros deles deveriam ter aproximadamente a sua idade, e três com muita facilidade seriam mais velhos do que ela.

Teria muito trabalho pela frente.

- Cria insensata! – Reclamou um dos mais velhos com a voz de veludo – Nunca devia ter saído de perto do teu criador, pequenina.

- Não sou cria nenhuma, sua coisa deplorável! Muito menos insensata. – ela rebateu, odiando a provocação. Cria! Como é que ele se atrevia?

- Para falar assim com o nosso superior, insensata é pouco. – Cuspiu o mais novo, já exaltado. Os cabelos eram tão loiros, que Alexia encontrou semelhanças com a criatura que levara Bill. – Só demonstra que é realmente muito estúpida.

Alexia mordeu a língua tentando controlar a raiva que sentia, sabia que aquilo tudo não passava de provocações e, se era aquele jogo que queriam jogar, aceitava-o.

- E quem é você para falar, pequenino? Sinto o cheiro dos seus dentes de leite daqui. – a vampira ainda viu os olhos dele brilharem e com um balançar de cabeça, investiu. Alexia desviou-se na hora exata para que corpo dele atacasse o outro. Eles estavam em fogo cruzado, tolinhos. Sem mais delongas e sem grande esforço, Alexia o agarrou pela parte de trás do pescoço, e com um só impulso empurrou a cabeça do loiro contra o chão deixando uma pequena cratera. Não foi o suficiente para aniquilá-lo, obrigando-a a perfurar o corpo do adversário na zona do coração, arrancando-o. E logo como a máquina de café do seu escritório, a criatura desligou-se.

Tal acontecimento enfureceu ainda mais os outros e logo o outro mais novo, de olhos vermelhos e posição de um touro enraivecido atacou a ruiva. Deveria ter algum tipo de relação com o outro, visto o outro ainda tinham características iguais, assim como o indicio da sua tenra idade.

Dominado pelo ódio, sem qualquer pingo de inteligência, não foi mais difícil aniquilá-lo do que o anterior. Congratulou-se mentalmente, tendo a ideia de que cada morte que faria no meio daqueles desprezíveis, seria um passo na vingança pela morte de Selene. Não deixaria que ninguém saísse impune.

Faltava oito para tudo terminar.

Os seus pés emergiam no chão a cada passada larga e ávida que dava. A sua postura era firme, concisa e destemida.

E todo o seu sangue fervilhava nas suas veias ao ritmo da vingança.

Selene e Bill.

Iria vingar-se. Oh, como iria se vingar. Não descansaria até matar os restantes, nem que fosse a ultima coisa que fizesse.

Aproximou-se lentamente de um com um sorriso insinuante nos lábios. Tinha cabelos negros e os olhos eram pateticamente redondos. Algo nele a irritava profundamente.

Tinha visto dois dos seus companheiros a morrerem e mesmo assim ainda tinha sorria.

- Está achando graça? – a ruiva perguntou controlando a sua raiva. – Quer ser o próximo para que eu possa rir também?

O vampiro soltou uma gargalhada seca e passou a mão na testa.

- Serei? Com a competência que eles tinham, comigo não durariam metade do tempo que duraram com você. Afinal de contas o Jazz tem razão, você não passa de uma cria patética.

- Tem a certeza? – ela perguntou aproximando-se mais. – Eu tenho as minhas dúvidas. – viu o maxilar do seu oponente se comprimir. Afastou-se lentamente criando uma distância considerável – Eu sei diferenciar e descobrir quem não passa de lixo.

Quase de imediato já estava se defender dos ataques provocados por ele. Para sua surpresa era forte de mais, sendo obrigada a recuar completamente.

Apanhando-a no seu momento de vulnerabilidade mais dois se juntaram ao amigo, iniciando um combate de três contra um.

Seus movimentos eram agora totalmente defensivos tendo dificuldade de manter o equilíbrio. Os golpes provocados pelas garras dos três resultavam em feridas que sangravam abertas e saravam lentamente devido ao tempo que não ingeria sangue, ao gasto de energia e ao esforço que fizera para se controlar a não aniquilar Tom quando este estava nos seus braços durante um ato tão próximo. Havia muito tempo que não se alimentava direito e as consequências, antes adormecidas, despertavam agora.

Gritou quando o seu cabelo foi puxado de maneira a que a sua cabeça fosse torcida bruscamente para trás perdendo o equilíbrio. Dois corpos a agarraram, enquanto um, o mais forte de todos a esbofeteava no rosto.

Seu cabelo confundia mais a sua visão e qualquer tipo de graciosidade que tinha anteriormente estava agora perdida.

- Para quem falava tanto, está muito calada agora. – ele disse agarrando-lhe bruscamente o queixo. – Então? Onde está a sua força? – ele sorriu.

- Se duvidar, nunca existiram realmente. – insinuou outro, roçando o seu nariz no pescoço da ruiva inspirando o seu cheiro, ato que provocou uma ligeira repulsa na vampira. – Curioso. Até cheira a humano.

Alexia contorceu-se tentando soltar-se, mas foi em vão. Apenas fez com que os seus braços fossem ainda mais apertados por dedos que feriam.

- O que foi? Já quer ir embora? – gracejou outro tentando soar desiludido. – Você chegou agora!

- E tem que estar presente para a festa começar! O que seria de uma festa dessas sem a protagonista?

- Nem quero pensar! – respondeu um tentando ser dramático.

- Não se sinta insultada pelo o que ele disse. – pediu o que estava a segurando-a do lado oposto ao que a tinha cheirado. – É normal uma vampira fraca como você se bem com os filhos de Adão.

- Mas nós aqui não descriminamos ninguém. Se é uma vergonha para a nossa raça nós poderemos tratar do assunto… Ou até mesmo acabar com ele.

O vampiro que outrora a esbofeteara passou o dedo pelos lábios dela e acrescentou com o rosto perto do dela.

- É lamentável como uma vampira tão apetecível como você, um bom partido para os vampiros machos, levar o mesmo rumo que a amiguinha morta.

Alexia sentiu o pouco controle que lhe restava desaparecer. Como se atreviam a falar assim de Selene? Não eram ninguém, não passavam de colegas da sua raça que lhe provocavam nojo. Não conseguiram defender o seu líder por mais miserável que ele tenha sido.

Eles sim eram uma vergonha. Não ela. Eles sim, é que deveriam ser insultados e rebaixados e não ela. Ela deu sua vida pelo príncipe que jurou proteger. Os papéis estavam invertidos. Não podia deixar-se abater pelas emoções. Eles queriam-na fora do controle, sem capacidade para ponderar e reagir. Como se fosse uma barata tonta.

Enganavam-se. Alexia demonstraria todo o controle que adquirira ao longo dos séculos. Os obrigaria a engolir os insultos que lhe fizeram. Se arrependeriam tanto...

Com um movimento de cabeça, atirou os cabelos para trás fazendo um, abrindo um de seus melhores sorrisos sedutores e aproximou também o seu rosto unindo os seus lábios aos daquele que a chamara de “apetecível”.

Surpreendido com tal gesto ele não hesitou em corresponder, mas o seu prazer foi cortado pelos dentes da ruiva que imediatamente perfuraram o seu lábio inferior fazendo um fio de sangue escorrer-lhe pelo queixo.

Os olhos ele arderam de raiva e exibiu as garras novamente, mortíferas como sempre. Com um movimento repentino, o corpo do vampiro ao seu lado foi puxado para a sua frente servindo-lhe de escudo contra a investida do outro. Ainda nem tinha caído no chão quando Alexia tratava do da sua esquerda enlaçando-lhe o pescoço com o braço e partindo-o.

A morte de dois em tão curto espaço de tempo fez com que todos os outros, que observam de longe, se alertassem.

- Não pense que eu vou aguentar as suas provocações durante muito mais tempo. – ela o informou olhando em seguida para as feridas que o ultimo lhe fizera. – Vocês todos vão se arrepender por tudo.

- Veremos se isso é só garganta. – ele disse atacando a vampira.

Era um dos mais desenvolvidos, no entanto movia-se cegamente pelo orgulho tornando-se assim tão fraco como os outros.

Alexia não se deixou vencer desta vez, o primeiro ataque do homem foi logo defendido e usado contra ele. Desta vez quem comandaria tudo seria ela. Ninguém lhe falava tudo aquilo e sobrevivia.

Estava uma desvantagem enorme, seu corpo queixava-se pela fraqueza devido à falta de alimentação e a sua visão ficava por vezes turva. Os seus músculos doíam, tornando cada golpe doloroso tanto para o inimigo como para ela. Contudo, nada disso a fez perder o combate aniquilando-o por fim.

Os seus joelhos quase a fizeram cair, se não fosse a parede na qual se apoiou. Precisava se alimentar ou então poderia se considerar condenada.

- Vamos acabar logo com isto. – resmungou um deles virando-se para o amigo. – Já vi que temos que ser nós a tratar do assunto.

Os dois da idade da vampira logo se atiram a ela e estaria tudo perdido se a acertassem. Foi com dificuldade que com um impulso do braço, conseguiu içar da parede para longe.

As investidas continuaram, contudo os ataques que a vampira infligia nos adversários eram certeiros e eficientes. Ao aniquilar o primeiro, sugou um pouco do sangue dele.

Não era perfeito, já que não alimentava, apenas permitia restabelecer um poucos das suas forças, mas teria que servir.

Passou a mão pelo rosto, de modo a retirar os cabelos desgrenhados da frente. Teria que ser forte e acabar com aquilo tudo. O que estava em jogo era muito mais do que um simples ataque de orgulho. Não poderia desistir. Por todos os que morreram, por isto ela iria levar a sua missão até ao fim. Vincent acreditara nela, não o desapontaria, nem a ele nem aos outros e muito menos a ela mesma.

Com a raiva pulsando novamente energia por todo o seu corpo, foi a vez de Alexia investir, projetando o corpo do outro ao lado oposto da sala. Esmagou-o contra a parede e arrancou-lhe um bom pedaço do pescoço, o suficiente para ele não ser mais nenhum problema.

- Mais alguém acha que eu sou uma vergonha? – ela perguntou voltando-se para os outros três vampiros que já se encontravam numa posição de ataque.

A vampira encontrava-se ensopada de sangue. Os seus cabelos, outrora lisos e sedosos, encontravam-se agora pastosos e pegajosos colando-se à pele de marfim também manchada de vermelho. As suas roupas, agora irreconhecíveis, estavam rasgadas permitindo ver um pouco da pele com cortes violentos e manchada de sangue, pedaços de vidro e pedra.

Não se importou. Acabaria com aquilo o mais rápido possível.

Não esperou que a atacassem, os que restavam eram os mais velhos e se o primeiro passo fosse deles, estaria definitivamente perdida.

Numa corrida ofensiva, Alexia atirou-se ao mais próximo que, com uma velocidade inacreditável conseguiu esquivar-se, fazendo-a aterrissar no vazio. Praguejou quando sentiu o pé de um outro adversário chocar-se nas costas.

Caiu no chão, virando-se imediatamente de frente. A expressão daquele que lhe tinha chamado cria era completamente confiante, deixando Alexia decidida a mudar-lhe de opinião. Rebolou sobre si quando viu a mão dele ir na sua direção, levantando-se de imediato. Saltou para trás, escapando de outra investida do que lhe tinha escapado, mas logo sofreu um golpe no estômago por parte de um que se mantivera quieto o tempo todo. Este dispunha de uma força extraordinária, superior à de Klaus, e por sorte, ou até por milagre, não partiu nenhuma costela.

Estava ficando sem tempo e sem forças, o sangue que tinha sugado não a ajudara muito e ela não tardaria muito a cair no chão sem ser força alguma.

Não podia vencê-los sozinha, precisava de uma pequena ajuda. Um era forte, outro era extremamente rápido e o ultimo parecia ser o mais ponderado dali.

O fogo alastrava-se por todo o palacete e rapidamente chegaria ali. Poderia ver a luz provocada pelas chamas no corredor, mas seria tarde de mais.

Dentro de si, mesmo no fundo, guardava a esperanças de sair dali viva e ir para La Rochelle com todos e abraçar Tom, mas a sua existência estava decidida a não permitir que tivesse um final feliz, de modo que tudo se tornasse completamente inútil e impossível. Morreria, mas não iria sozinha. O seu nome seria lembrando com orgulho e não como vergonha, esse sim, seria um bom fim.

Ao ver os três vampiros em posição de atacá-la, Alexia começou a recuar para trás muito lentamente. Tinha que ganhar tempo sem levantar suspeitas.

Ela dava um passo para trás e eles davam para frente, não deixando assim muita distância, no entanto quando alcançou a parede, abriu um sorriso.

- A brincadeira acaba aqui! – e dito isto, pegou o primeiro candeeiro, atirando-os aos três. Ouviu-se o estilhaçar do objeto no chão, e de imediato uma onda de chamas laranja percorreu a divisão deixando pouco espaço para fuga.

Não perdeu tempo e imediatamente dirigiu-se ao outro fazendo a mesma coisa obtento um resultado igual.

- Você louca! – gritou o mais forte, sentido as suas roupas a desaparecerem.

- Assim morrerá conosco também. – disse o outro com o nome de Jazz, observando um que ao tentar escapar pela janela se viu engolido pelas chamas. – Não está no seu juízo perfeito.

- O que foi? Assim morremos todos juntos, como os ótimos amigos que somos. – Alexia abriu um sorriso amarelo, ignorando o calor que percorria o seu corpo.

- Eu não vou ficar aqui. Você é louca. Morra se quiser!

Ambos os vampiros viram-no desaparecer pelo meio da fumaça, tendo a certeza que partilhariam todos os mesmo destino.

O edifício estremeceu e Alexia a custo dirigiu-se para perto de Selene cercada por um perfeito circulo de fogo azul devido ao álcool. Abraçou a amiga beijando-lhe a testa.

Era agora.

No entanto, instintivamente os seus dentes mostraram-se ao sentir a aproximação de Jazz.

- Não se preocupe. – ele disse atirando a camisa para longe, de maneira a que não fosse consumida no seu corpo. – A nossa luta acabou aqui. Você provou que é uma vampira de valor e não fugiu como aqueles covardes. Enganei-me a seu respeito. – ele fez um ligeira reverência com a cabeça dizendo por fim. – Os do seu clã foram muito afortunados em tê-la no seu grupo. – o teto estremeceu e um pilar caiu destruindo uma boa parte do chão e caindo com a ponta sobre o vampiro. Alexia assustou-se, mas nem fez questão de ajudá-lo. O fim era assim mesmo, não tinha nada agradável. Os olhos tranquilos, mas em pleno sofrimento não largaram Alexia só fechando-se depois dos lábios pronunciarem: – Você foi o que faltou aqui.

De seguida o ar até se tornou irrespirável para a vampira, e teve que se contorcer para tossir. As suas roupas pegavam agora fogo e a sua pele queimava. Mas não estava sofrendo. O seu objetivo tinha sido completo. A sua tarefa estava cumprida.

Será que algum dos que fugiram conseguiram sobreviver? Mesmo que tivesse consguido, isso não significava que tivesse havido vitórias. Aliás, numa guerra ninguém vence. Todos perdem. Familia, amigos de longa data, almas gêmeas... Ninguém fica imune à destruição que a guerra pode provocar.

O fim... Sempre foi algo tão esperado pelos humanos... Eles ficariam horrorizados caso soubessem como é terrível a sensação de seu corpo não lhe pertencer mais... Sabem aquilo que dizem sobre na hora do fim, vermos nossa vida passar diante dos nossos olhos? É mentira, a única coisa em que você pensa é em quem deixou para trás e se valeu a pena ter morrido por isso. Bom, eu não me arrependo, faria tudo de novo se fosse necessário. Eu sei que um dia voltarei a vê-los, e sei que nunca se esquecerão de mim.

Emmus, Vince, Meganie, Melanie, Ariel... Tom. Me aguardem.

Grã Duquesa Alexandra Nikolaevna Romanov a.k.a Alexia Ravenshelter, Vampira.