Desistir estava quase se tornando a única opção. Depois de algumas horas de paz, sinais de Kitty começavam a se fazer visíveis por toda parte, mas era tudo o que ela deixava para trás, feridos, alarmes tocando, personagens assustados, desaparecidos ou assaltados, e aqueles policiais nunca pareciam estar no lugar certo para ajudar. Ela parecia desaparecer cada vez que o trio chegava ao lugar de qualquer incidente.

"Qual é a intenção dela afinal? Tirar o maior número de personagens do caminho até o Arcade abrir semana que vem?" Perguntou Ralph confuso.

"Algo assim." Calhoun respondeu. Eles tinham acabado de deixar o jogo do Mario, onde Kitty tinha a pouco entrado em uma batalha contra Bowser. "Kitty é uma espécie de vírus, programada para destruir tudo a sua volta. Ela não vai parar até não restar mais nenhum jogo de pé. Ela é pior do que qualquer Cy-Bug, ela tem uma escolha, mas é maligna. Além disso é esperta e calculista."

"Se ao menos Clarion não tivesse fugido, poderíamos tomar conta dela." Ralph resmungou.

"Ela é só uma criança, está assustada." Comentou Felix. " Fez o que achou que era certo."

"E ela estaria pronta a fazer o possível para nos proteger." Tamora continuou. "Mas aparentemente não deu certo. É uma garota bem forte, mas nem mesmo ela consegue resistir. Como consegue desaparecer assim? Kitty tem que ter um esconderijo em algum lugar nesse Arcade."

"Já conferimos todos os jogos por aqui. Zelda foi a única que viu Clarion depois de nós, mas ela não está mais lá, ela não pode ter desaparecido."

"Juro que ela está nos desafiando." Protestou Calhoun. "Ela desaparece cada vez que chegamos perto de onde ela está. Pra onde ela foi agora?"

Nesse momento um dos soldados do Hero's Duty os alcançou correndo.

"Sargento! Estamos com problemas. Os Cy-Bugs despertaram e estão completamente fora de controle."

"Já estou indo. Fix-It! Wreck-It! Vocês ficam aqui e de olho naquela peste peluda, e na garota também."

Era o que faltava! Como se Kitty já não fosse vírus suficiente para um único Arcade. E pior, eles pareciam muito interessados em sair do jogo, o que era estranho já que eles não tinham muita inteligência para pensarem sozinhos.

"E quanto ao farol?"

"Por algum motivo não está funcionando e alguém bloqueou todos os acessos à torre."

Ela sabia bem quem era esse alguém.

"Eu vou entrar. Me dê cobertura!"

Kitty podia ter trancado todos os acessos principais da torre, mas havia uma passagem que ela não tinha chance alguma de conhecer.

O caminho até o topo da torre estava cheio de Cy-Bugs mortos. Alguns deles pareciam ter sobrevivido, mas não estavam condições de atacá-los, eles tiltavam em pixels negros, como tinha acontecido com Vanellope.

"O que é isso?"

"Ela esteve aqui." Calhoun passou a ficar mais atenta do que nunca ao caminho. "Se vir qualquer sinal de vida não atire para matar."

Não atirar para matar? Com certeza havia algo muito errado ali.

Pelo visto Kitty já tinha dado o fora, mas as marcas de garras não deixavam dúvidas.

"Como eu imaginava. Ela sabotou o farol. Vai levar muito tempo para consertar isso."

A menos é claro... Mas era uma ideia arriscada, com os Cy-Bugs agitados daquele jeito. Mas era a única maneira de detê-los.

Foi quando uma sombra veloz virou o canto do corredor correndo. Calhoun correu atrás dela, volta e meia atirando para tentar detê-la, mas parecia quase impossível de acertar Kitty. Ela era veloz e parecia prever cada ataque.

Calhoun conseguiu acompanhar a gata na saída da torre, mas perdeu-a quando tiveram que atravessar o bando de Cy-Bugs na saída do jogo. Quando a Sargento finalmente conseguiu sair, Kitty a estava esperando do lado de fora.

"Não dá conta nem de me acompanhar?" A gata zombou divertida. Calhoun apontou a arma para ela. "Tem mesmo coragem de atirar em mim? Você se atreveria a machucá-la?"

Era óbvio que ela estava falando de Clarion, mas se aquela fosse a única maneira de salvar o Arcade...

A resposta da Sargento foi atirar, forçando Kitty a sair do lugar.

"Parece que sim. Mas você não é párea para mim."
Em um movimento rápido, quase imperceptível, a gata derrubou a arma, que deslizou para alguns metros dali.

"Isso é o que vamos ver." Tamora puxou sua faca, Kitty sorriu maldosamente antes de atacar.

A batalha que se seguiu logo ganhou platéia, mas, assim como Calhoun estava evitando ao máximo machucar Kitty, a gata parecia estar se segurando também. Ela estava apenas se divertindo? Ou havia algo de Clarion lutando ali dentro para controla-la? Difícil dizer.

A batalha não durou muito, logo Felix e Ralph as alcançaram.

"A cavalaria chegou!" A gata zombou, divertida. "O que foi? Não dá conta de mim sozinha?"

"Não se metam!"

"Sabe, me escutar pode ser o pior erro da sua vida sabia?"

As garras de Kitty se chocaram contra a armadura de Calhoun, mas não pareceram causar nenhum dano, apenas deixaram uma marca na superfície de metal. Aparentemente ela não era tão poderosa quanto fazia aparecer.

"Parece que eu venci."

"É o que você pensa. Mas eu tenho que ir, a gente se vê por aí."

E num instante Kitty tinha desaparecido.

"Não entendi. Porque ela fugiu?" Perguntou Ralph.

"Não sei, mas não temos tempo para perseguí-la. Fix-It! Preciso de um conserto urgente. A gente pega ela depois."

Clarion acordou com uma terrível dor de cabeça.

"Essa não!" Ela deixou escapar um resmungo. Tinha certeza que tinha deixado Kitty tomar o controle novamente. Ela nem percebera quando isso acontecera.

Mas era a única explicação para ela ter aparecido em um lugar completamente diferente do último em que ela se lembrava de estar que fora... Claro, estava a caminho do Sugar Rush da última vez que lembrava.

Ela deixou o jogo em que estava, que ela nem mesmo sabia qual era e parou um pouco na Central para decidir para onde ir.

Acabou encontrando-se de volta à Fix-It Felix Jr. Sem saber o motivo de estar ali mas com medo de que algo ruim acontecesse ela decidiu dar meia volta e voltar para a Central.

Por que tudo sempre tinha que dar errado para ela? Por que ela não podia ser apenas uma garota de nove anos normal?

Estava saindo quando foi surpreendida pela entrada de Ralph, Felix e Calhoun.

"Ei pessoal!" Ela tentou parecer tranquila e forçou um sorriso.

"A quanto tempo está aqui Pestinha?" Ralph perguntou. A menina parecia ainda pior, mas estava de volta a si. Por estranho que parecesse, não tinha qualquer sinal da batalha.

"Cheguei agora a pouco. Tudo bem? Ou melhor, que pergunta boba. Kitty estava a solta por aí, qual a dimensão dos estragos?"

Olha só, nem fazem ideia não é? Clarion ouviu a voz de Kitty em sua mente

"Cale a boca!" ela rosnou baixinho.

"Você está bem?" Perguntou Felix.

"Claro! Por que não?" Ela disfarçou com um sorriso infantil. Um tanto infantil de mais para uma garota como ela.

"Você disfarça bem." Calhoun respondeu "Mas não engana ninguém."

"Mesmo?" ela perguntou, dessa vez com um sorriso maroto.

Aquele brilho selvagem nos olhos dela, era difícil dizer se era Clarion ou Kitty falando.

"Não está conseguindo controlá-la. Faz ideia do que aconteceu?"

"Se eu soubesse não teria perguntado. Ela te machucou?" A menina notara a marca na armadura de Calhoun.

"Não. Mas foi por pouco. Ela quase soltou um bando de Cy-Bugs no Arcade, e você sabe o que aconteceria depois não sabe?"

"Faço ideia dos estragos. Mas está tudo bem agora, né?"

"Por enquanto, mas você é a única que pode impedi-la de tentar de novo."

"Você tem que manter Kitty sobre controle." Falou Ralph.

"Sei que está tentando ajudar, mas falar é fácil. Acha que eu quero isso? Um pouco de bagunça é normal, mas essa destruição... Não entendo porque Kitty quer isso."

"Ela mesma disse, foi programada para destruir."

"Ela não entende que depois daqui acabou?"

Você não entende? Kitty perguntou a ela Eu a trouxe aqui por vingança, mas depois, voltaremos ao mundo real e destruiremos tudo. O Universo não é chamado de Infinito à toa. Milhões e milhões de mundos para destruir.

"Não se eu puder impedir." A menina retorquiu.

"Vamos ajudar." Ralph ofereceu, mesmo que não tivesse ouvido Kitty. Aparentemente só Clarion era capaz de ouvi-la naquele momento.

"Vocês vão ajudar me deixando em paz." Ela começou a se afastar.

"A onde você vai?" Felix perguntou.

"Descolar uma dose de alguma coisa que me dê um 'up' e me mantenha acordada o máximo possível para evitar problemas." Mas ela finalmente se rendeu e admitiu. "Isso tudo está me deixando maluca! Sou uma guerreira solitária, e de repente vocês aparecem. Acho que minha vida está finalmente perfeita e Kitty chega para estragar tudo. Eu não aguento isso! É um milagre que eu ainda não tenha enlouquecido. E eu ainda só tenho esses momentos acordados porque o período em que Kitty está mais forte é pouco antes de sol nascer e quando ele começa a se por ela perde as forças. Vou ficar louca se isso continuar assim."

"Vamos garota, acalme-se!" Ordenou Calhoun.

"Me acalmar?! Ainda me pede uma coisa dessas?! Não é você quem está constantemente em uma batalha interna contra si mesma tentando evitar que tudo com que pela primeira vez você se importou seja destruído e se vendo falhar cada vez mais a cada hora que passa! Ainda me pede para ficar calma?"

Ela estava gritando, agitada o que levou Calhoun a pensar na única maneira de trazê-la de volta a si e acertar-lhe um forte tapa no rosto, para sua surpresa os olhos da menina se encheram imediatamente de lágrimas e, como se á não fizesse mais nem ideia de onde estava ela murmurou:

"Mamãe, estou com medo."

Está vendo a resposta? Perguntou Kitty, trazendo-a de volta a realidade. Vendo o quanto se importam?

"Me deixe em paz!" Clarion gritou furiosa, mas estava perdendo o controle, entre tilts ela alterava de sua forma normal para a forma da felina, a menina tentou inutilmente arrancar a máscara enquanto ouvia as vozes distantes dos amigos chamando por ela, até que sua mente se apagou por completo.

"Você está bem?" Felix perguntou preocupado.

Mas quando a menina olhou para eles, com certeza não era mais ela no controle.

"Pobre e ingênua garota." Comentou Kitty rindo. "Ela só estava preocupada com vocês, faria tudo para salvá-los, mas ela jamais poderia resistir a mim. E vocês, também não."

O medalhão dela brilhou com uma luz ofuscante e essa era a última coisa de que os três se lembravam.