Clarion parou. Ela tinha ouvido a voz mais algumas vezes, mas agora estava tudo silencioso novamente.

Ela se sentia mal por ter fugido dos amigos, mas se tinha alguém em perigo ela precisava ajudar.

Ela sentou-se e esperou, mas depois de uns minutos no total silêncio ela mudou de ideia. Era melhor voltar. Então levantou-se e tomou o caminho de volta.

Dezesseis salas, fora o tanto que ela percorrera para chegar a onde estava, e o mesmo tanto que ela percorrera de volta. Tinha gravado bem as direções, mas ela não chegou de volta à saída.

Ela não podia dizer que era uma sala diferente, pois todas as salas pareciam exatamente iguais, mas certamente não era a saída.

"Não posso ter me perdido." Ela murmurou. "A não ser que as salas mudem de lugar."

Ela refez seus passos, mas parecia que quanto mais andava, menos ela sabia para onde ir.

"Por que não dei ouvidos ao Ralph?" Ela perguntou frustrada. "Por que nunca dou ouvidos a ninguém?!" Ela parou. "Okay, calma Clar, ainda não é o fim do mundo, apenas continue." Se eu marcar as salas que já passei, não vou andar em círculos e me perder. Pensou. Mais cedo ou mais tarde eu acho a saída.

Ela nunca perdia a calma nem a confiança. Estava pronta para qualquer aventura. Fora assim que ela fora parar ali para começar.

O Arcade finalmente fechara. O dia tinha sido um dos mais cansativos e preocupantes para todos. Com Clarion perdida em um jogo que, apesar de aparentar pacífico a primeira vista, tinha algo de sinistro por trás, os deixavam preocupados.

James tinha se voluntariado para ir procurá-la quando o quarteto anunciou que não tinham visto nem sinal da garota e o Arcade estava prestes a abrir, mas Vanellope o lembrou que ele deveria estar em Sugar Rush naquele dia e ele não teve outra escolha se não ir. Se bem que ninguém ia deixá-lo entrar lá sozinho, ainda mais com o Arcade aberto.

Então, agora estavam os cinco reunidos novamente, à caminho do novo jogo onde Roxane, Trinity, Josh e Derick esperavam por eles.

"Olha, eu sinto muito, mas não vimos nem sinal da sua amiga o dia inteiro." Trinity logo avisou, sem dar tempo até mesmo para eles perguntarem.

"Se é que ela ainda está viva." Resmungou Derick, então levou uma cotovelada de Roxane.

"Ele tem razão." Josh respondeu. "O que garante a vocês que ela ainda está viva?"

"É a Clar." Os cinco responderam em unisom.

Para eles que a conheciam, isso era suficiente, mas a responta não pareceu deixar os rapazes satisfeitos.

"Ela deve estar perto do centro do labirinto." Falou Roxane.

"Ficou maluca, garota?!" Derick praticamente gritou. "É de uma criança que estamos falando! Até mesmo nós temos problemas por aquelas áreas!"

"Ela poderia ter chegado lá enquanto o labirinto estava inativo noite passada." Josh apontou.

"Se chegou, não teria sobrevivido a um dia inteiro lá."

"Escutem, não é de uma garota qualquer que vocês estão falando." Tamora interrompeu a discussão.

"Eles deviam saber disso." Trinity comentou. "Todo mundo só fala em vocês e na batalha que aparentemente tiveram semana passada. Aparentemente, a garota que estamos procurando foi tanto a vilã quanto a heroína da história, uma guerreira nata para a idade." Ela contou para os colegas de jogo.

"Além do mais, ouvi dizer que unofficiais que carregam seus códigos não podem morrer, e que ela é uma deles." Falou Josh.

"Podem se forem mortos por um pesadelo." Trinity corrigiu. "É por isso que temos que achá-la e rápido." Ela determinou. "Vocês três podem vir com a gente se quiserem, mas as crianças vão ter que voltar pra casa."

"O que?!" Exclamou James.

"Por que?" Vanellope perguntou.

Ralph se ajoelhou ao lado das crianças.

"Ela está certa. É muito perigoso e não queremos outro de vocês perdidos por aí."

"Mas..." James começou a protestar.

"Sem mas, James. Pra casa." A Sargento o cortou.

"Mas..." Vanellope começou.

"Isso vale pra você também."

"Okay, okay." diante do olhar dos adultos, Vanellope rapidamente se rendeu. "Vamos Jay!" Ela começou a puxar o menino em direção à saída.

James ficou desconfiado com a maneira que a amiga desistira tão fácil, mas preferiu não discutir.

"Vamos torcer para que o labirinto esteja adormecido hoje." Roxane comentou.

"Tem certeza de que estão prontos para encarar seus maiores pesadelos?" Derick perguntou.

"Pesadelo seria se a perdêssemos." Felix respondeu, mesmo um pouco nervoso.

"Boa resposta." Trinity sorriu. "Acho que estão prontos para ir."

Roxane entregou um pequeno dispositivo em forma de relógio para cada um.

"Vai ajudar a guiá-los de volta se nos separarmos." Ela explicou.

"Vamos torcer para o labirinto estar inativo outra vez." Murmurou Trinity.

"Não está." Respondeu Roxane. "Já checamos e... Bem, na verdade eles parecem ter ficado bem agitados de repente."

"Devem ter sentido alguma coisa." Comentou Josh.

"Melhor irmos rápido então, pelo bem da menina."

Clarion acordou com o típico som de mais um dia em uma cidade movimentada.

"O que aconteceu?" Perguntou a si mesma em um sussurro.

Sentia uma forte dor de cabeça, e o barulho não ajudava em nada. Mesmo assim ela estava disposta a voltar a dormir, isso antes dela notar alguém entrando no quarto.

Ela rapidamente se pôs em pé, alerta. Desde pequena aprendera a não confiar, podia ser perigoso.

Mas era apenas Colin. Ela o conhecia desde que chegara ali e...

Clarion olhou em volta surpresa. Estava de volta à 'base' onde ela morara desde pequena. De volta ao mundo real. De volta à sua antiga vida.

Ela não pode deixar de pensar que sabia que aquilo ia acontecer, mas depois da noite passada... Não, retrasada, ela estava tão segura que tudo aquilo tinha realmente acontecido, então, de repente, ela estava ali novamente.

"O que quer aqui?" Ela perguntou, séria. Depois da última realização ela não estava com humor para conversas.

"Escuta aqui garota, tô te dando uma chance de deixar esse lugar em segurança, então não seja rude." Ele respondeu zangado.

"Por que?" A menina não pode deixar de perguntar.

"E não perca tempo com perguntas idiotas. Se ainda estiver aqui quando eles entrarem você está morta, entendeu?"

"Tá, tá." Ela também não quis discutir, apenas deixou o quarto e correu para a janela mais próxima. A polícia cercava o lugar.

"De novo não." Ela murmurou, enquanto corria para sua saída secreta.

Ela correu, o mais rápido que pode, para chegar e constatar que não havia passagem nenhuma. Correu para a pessoa mais próxima, que por azar era Colin outra vez.

"O que eu te disse sobre ficar aqui, pirralha?" Ele perguntou.

"Quando fecharam o túnel?" Clarion perguntou firme.

"Não sei de túnel nenhum. Se não consegue sair, fique fora do caminho, ninguém aqui vai proteger você." Ele jogou uma pistola para ela e saiu correndo.

Sem saída, em meio ao que parecia que ia ser o segundo maior tiroteio de sua vida, por algum motivo Clarion estava um pouco nervosa.

"Isso só pode ser um pesadelo!" Ela murmurou.

Então as palavras a atingiram, ao mesmo tempo e com a mesma intensidade que os om dos tiros. Sua última lembrança do Arcade, ela tinha propositalmente ficado para trás em um jogo chamado Labirinto dos Pesadelos. Não se lembrava de ter dormido ou qualquer coisa do gênero, mas só podia ser, aquele lugar estava criando pesadelos reais à partir de suas memórias.

Então ela fez a primeira coisa que lhe veio a mente, fechou os olhos e deu um forte beliscão em seu braço.

Apesar da atividade que Roxane relatara, nas primeiras salas eles não encontraram mais do que simples monstros que pareciam saídos dos mais variados tipos de filmes de terror, mas o quarteto afirmou ser apenas o nível mais fácil do jogo. A 'Morada dos Monstros' como Josh chamara. Trinity disse que eles começariam a enfrentar problemas quando a magia começasse a funcionar.

"Acha que sua amiga seria capaz de passar todo esse tempo acordada?"

"É possível." Tamora respondeu. "Por que?"

"Dormir por aqui pode ser perigoso. Na morada dos monstros porque eles não vão parar de aparecer, e se sua amiga alcançou mesmo o território dos Pesadelos enquanto a labirinto está inativo... Bem, isso torna a magia deles mais forte e você pode ficar preso em um pesadelo para sempre."

"Ou morrer nele, o que te mataria de verdade também." Josh acrescentou, recebendo uma cotovelada de Roxane.

"Falam de pesadelos como se eles fossem pessoas." Ralph não pode deixar de notar.

"Criaturas, seria o termo correto." Trinity corrigiu. "Se alimentam do medo, da dor e do desespero. Eles só atacam pequenos grupos, transformando-se em algo que imaginam que possa alimentá-los e só são vistos em suas verdadeiras formas quando mortos, mas é difícil conseguir matá-los e quando um é morto exala um cheiro que atrai os outros. É por isso que é quase impossível chegar ao centro do labirinto."

Finalmente eles alcançaram uma sala onde as portas tinham uma estrela vermelha e havia uma placa no centro. O trio se aproximou da placa, mas então ouviram a voz de Roxane:

"Você está entrando no território dos Pesadelos, onde seus maiores medos ganham vida. Só os mais corajosos sobrevivem aqui, tente sua sorte se achar que está pronto." Ela recitou. Conhecia o texto decor e recitá-lo ao entrar ali tinha se tornado como um ritual para ela.

"Pra onde agora?" Derick perguntou a Roxane.

"Norte. Sempre o caminho mais longo mas mais seguro." Ela instruiu.

"Se ainda não percebeu, estamos em uma missão urgente aqui." A Sargento protestou com firmeza.

"Se ainda não percebeu, 'eu' estou no comando dessa missão, Sargento." Trinity contestou, calma. "Acredite em mim, não temos chances pelo caminho mais curto."

"Na verdade, acho que temos." Derick protestou. "Veja bem, nós somos sete e se a garota chegou até aqui, eles devem estar mais concentrados nela e vão demorar a realmente notarem nossa presença. É seguro passar, ao menos por algumas salas. Economizamos tempo."

"Mas e se ela passou pelo caminho mais longo?" Roxane lembrou.

"Não podemos nos separar." Falou Roxane. "Vamos pelo caminho longo, cobrimos mais áreas. Voltamos pelo caminho curto."

Ninguém pode contestar. Ela estava certa. Não sabendo onde Clarion estava eles precisavam cobrir a maior área possível sem dividir o grupo.

Com tudo determinado, Trinity abriu uma das portas e o grupo atravessou.