Capítulo 6

apresentacao:

vesti a mesma roupa de sempre, minha mae havia preparado um palco para mim, tinha varias cadeiras a frente, realmente pareciam 500, holofotes prontos para virar para minha direção, como sempre, tanto minha mae quanto a treinadora me colocavam mais tensão/pressão impossível, meus olhos estavam cheios de agua, assim como no dia interior nao havia dormido bem aquela noite, deve ser a ansiedade pela viajem, nao sei, nao comi praticamente nada o dia todo, na verdade, passei o dia com uma barra de cereal, um iorgute ligth, e uma maca, so, ate aquela hora, ja estava de noite, a apresentação começaria as 8:00, as cortinas se fecharam, logo eu vi, a primeira pessoa na platéia a ocupar o lugar em uma cadeira, o ou a, primeiro publico, havia chegado, e a partir dali era questão de tempo para chegar todos os outros, eu nao estava preparada, era simples, eu nao conseguia, me sentia dura, tensa, como se todos os músculos do meu corpo tivessem decidido enguiçar justo naquele momento, justo quando menos podia, minha mae sorria, um sorriso vitorioso, ela tinha apenas 34 anos, havia sido bailarina, a vida toda, porem ela havia ficado gravida de Rachel, exatamente na idade em que ela estava agora, aos 17 anos, teve que parar a carreira para cuidar da filha no momento auge , ela iria pro mundial, mas nao pode, o destino interferiu, depois disso, mesmo que quisesse voltar as competições, nao podia, sua gestação foi de alto risco, meu pai diz se lembrar bem de quando o medico disse, "ou ela ou o bebe", lagrimas e mais lagrimas, nao se sabe por qual milagre as duas estão vivas, era quase certo que uma iria partir, so nao se sabe qual, e agora sabemos, nenhuma, por conta de tudo isso, sonhos fracassados, realizações inacabadas, ela decidiu, sem sequer me consultar ,que tudo o que ela nao pode fazer, eu faria, dali para frente, era basicamente isso, ela nunca disse, nunca avisou, ela simplesmente jogou seus sonhos em cima de mim, cruzou os bracos e ficou ali, esperando eu realizar-los para ela, e caso eu conseguisse, a vitoria seria dela, caso eu errasse em algo, o fracasso seria meu, o holofote se concentrou para as cortinas, formando um circulo de luz, me avisaram, era a minha hora, deixei uma lagrima escapar dos olhos quando pisquei-os, mas apenas uma, engolhi seco, enxuguei minhas bochechas, tudo novamente, um passo para esquerda, um para direita, mais tres para esquerda, senti o peso do meu corpo inteiro sobre os meus pes, estavam cansados e sobrecarregados, parecia que eu ia desabar no chao a qualquer momento,quatrieme devant , quatrieme derriere , a la seconde , efface derriere , croise devant , efface devant , ecarte , epaule , giro, GIRO, quando fui girar para fazer o "grand finale" penultimo, quatrieme devant e por fim a abertura,bom, nao deu, ao girar,meus ossos do pe foram se quebrando, um por um, aos poucos, lentamente, e dolorosamente, pelo menos essa foi a sencacao, cada pedacinho do meu pe quebrando, nao suportei meu proprio peso apenas em um pe, ele dobrou, meu pe havia dobrado como se tivesse quebrado realmente casa osso, ou ate, que nunca tivesse existido osso ali.., eu desabei no chao, e junto com meu corpo, meu psicologico tambem se abalou, cai, meio deitada, uma perna esticada, outra dobrada, a ponta forcada pela sapatilha ainda estava la, porem meu pe havia virado, praticamente ao contrario, aquilo doeu,muito, o resto do meu corpo estava deitado no chao, apoiei meu peso com as duas maos tentando levantar, tentativas fracassadas, percebi que nao conseguia me levantar, ja estava chorando, o publico havia ido a loucura, eles, ou pelo menos a maioria deles, estavam de pe, com os olhos esbugalhados, provavelmente querendo saber se aquilo era um imprevisto ou apenas parte da coreografia, minha treinadora estava com a mao sobre o rosto como se estivesse com vergonha de mim, minha mae desfez o sorriso em um segundo, e o que tomou o lugar dele, foi uma expressão clara, uma expressão decepcionada, deixem entao que todos notassem minhas lagrimas escorrendo pelas bochechas, levantei a cabeca e os encarei, comecei

" Procurando bem, todo mundo tem infancia, so a bailarina que nao tem..."

"Todo mundo tem um primeiro namorado,só a bailarina que não tem..."

"Procurando bem,problema na família quem não tem?..."

"Procurando bem, todo mundo tem uma vida, so a bailarina que nao tem.."

"Procurando bem....."

"todo mundo tem? So a bailarina que nao tem...."

eu disse, meio cantando no ritmo da musica, enxuguei minhas lagrimas, claro aquela era minha versao,consegui me levantar, depois de tantas tentativas, no palco mesmo, eu retirei minhas sapatilhas e as deixei la, no palco, se perceberem bem, havia gotas de sangue la, aquilo era comum de acontecer, claro, para mim, que me via obrigada aquilo tudo desde os seis anos, mas para aquelas pessoas? elas nao tinham nem ideia, uma danca pode ser linda, mas pode tambem guardar muitas lagrimas dentro dela sabia? Bom, logico que nao, mas agora ficaram sabendo, assim que retirei minhas sapatilhas, as deixei no palco, assim que as gotas de sangue ja eram visiveis o bastante para faze-los pensar, me levantei, nao esperei nem um segundo de pe, nao estava interessada nos aplausos, ou vaias, eu realmente nao sabia a reacao que o publico iria ter, nao liguei muito, assim que me levantei, sai correndo para bem longe,nao me lembro direito o que aconteceu, as coisas estavam meio embaçadas, com certeza era pelas lagrimas que nao deixavam de cair, assim embaçando os olhos, quando dei por mim, estava no meu quarto, com a cabeca no colo de Rachel que parecia estar dormindo.