Witch

Capítulo Único


Há muito tempo havia um certo reino não muito grande, ele era governado por um rei bastante bondoso e seus habitantes viviam suas vidas alegremente. Essa é a história de um desses habitantes em especial, seu nome era Chara, uma jovem garota de olhos vermelhos como o sangue, ela vivia em uma pequena casa que ficava no meio da floresta. Apesar de gostar bastante de ir à cidade, a mesma tinha preferido viver na floresta, pois lá era tranquilo e lhe trazia uma sensação de paz.

Chara estava terminando de arrumar sua casa, então se lembrou de que precisava ir à cidade para comprar comida. Ela foi até a cômoda de madeira onde guardava suas coisas, pegou algumas moedas de ouro, em seguida foi até a cozinha e pegou um cesto que estava sobre a mesa, se dirigiu até a porta e começou a caminhar rumo à cidade.

A floresta não ficava muito longe da cidade, então Chara conseguiu chegar ao seu destino rapidamente. Chegando lá, ela foi até a feira e comprou algumas frutas e legumes. Quando terminou de fazer suas compras Chara começou a fazer seu caminho para a floresta, mas o vento forte bateu em seus cabelos, fazendo com que a tiara de pano que estava usando voasse, ela tentou pegá-la de volta, mas não obteve sucesso e resolveu desistir.

─ Com licença, acho que isso é seu. ─ Ouviu alguém falar atrás de si, ao se virar viu que se tratava de um rapaz de cabelos brancos, ele estava segurando sua tiara.

─ Muito obrigada. ─ Ela pegou a tiara e amarrou em seu cabelo. O rapaz estendeu sua mão para um aperto de mão, que foi retribuído. ─ Eu sou Chara, e você?

─ Meu nome é- ─ Ele se interrompeu e desfez o aperto de mão. ─ Me desculpe senhorita, mas eu tenho que ir agora. ─ Ele começou a caminhar para longe em passos largos, Chara olhou para trás e avistou não muito longe dali uma jovem freira que parecia estar procurando alguém, então logo entendeu a situação. Ela correu até o rapaz, demorou um pouco, mas conseguiu o alcançar.

─ Você está se escondendo da freira, certo? ─ Falou quando conseguiu ficar lado a lado com ele, o rapaz assentiu com a cabeça. ─ Eu sei de um lugar aonde ela não vai te achar. Vem comigo. ─ Chara segurou a mão dele e o puxou pelas ruas da cidade, até que eles chegaram à floresta.

─ A floresta? Eu devia ter pensado nisso antes, mas de qualquer forma, obrigado pela ajuda. A propósito, por que me ajudou?

─ Ah, apenas para retribuir o favor. Bem eu tenho que ir agora, está na hora do almoço. ─ Disse levantando o cesto.

─ Você mora na floresta? Sozinha?

─ Sim.

─ Não se sente meio solitária aqui?

─ Não. Eu gosto da cidade, mas esse lugar me traz uma paz, gosto daqui. Bem até outra hora. Eu até te convidaria para o almoço, mas acho que você está acostumado com coisas mais chiques.

─ Como assim? ─ Fez uma expressão de confusão, o que fez Chara dar uma risadinha.

─ Suas roupas. Elas não parecem roupas de alguém comum, eu diria que você é no mínimo algum nobre. ─ O rapaz coçou a cabeça e riu.

─ É, você me pegou. Acho que ainda não lhe falei meu nome, eu sou o Sans. ─ Ao ouvir o nome Chara fez uma reverência, pois se tratava do príncipe do reino. ─ Por favor, não precisa dessas formalidades, apenas me trate como alguém normal.

─ Tudo bem, se é assim que prefere. ─ Ela sentiu seu estômago roncar devido à fome. ─ Agora eu realmente tenho que ir. ─ Sans puxou sua mão e depositou um beijo nela.

─ Foi um prazer conhecê-la milady ─ Disse fazendo uma reverência. Chara sorriu e acenou, em seguida foi para sua casa.

[...]

O dia seguinte correu normalmente. Depois de fazer seus afazeres domésticos, Chara decidiu passear um pouco pela floresta. Ela saiu de sua casa e caminhou um pouco, admirando a paisagem. As árvores estavam cheias de belas flores e em seus galhos haviam pássaros das mais variadas cores e tamanhos. No meio de sua caminhada, Chara avistou uma pessoa sentada no chão com as costas apoiadas em uma árvore, ela se aproximou e viu que se tratava de Sans.

─ Está fugindo daquela freira de novo? ─ Falou enquanto se sentava ao lado dele.

─ Bom, mais ou menos.

─ Não quero me intrometer, mas por que estava fugindo dela?

─ Sabe, ao contrário do que as pessoas pensam, a vida no palácio é bem chata, então eu fujo sempre que consigo. Frisk e eu nos conhecemos há muito tempo, então meu pai pediu para que ela me vigiasse.

─ Tenho que concordar que deve ser chato ter alguém te vigiando, mas em compensação deve ter ótimo ter pessoas fazendo tudo para você, comer comidas deliciosas, etc.

─ Mas chega de falar de mim, vamos falar de você.

─ Não tem muito o que falar sobre mim.

─ Bem, por que vive sozinha? Você não tem pais? ─ A expressão de Chara mudou e por sua mente passaram vários fragmentos de memórias. Ela ficou totalmente imersa em seus pensamentos, tudo o que conseguia ouvir eram gritos, um choro distante, e ao olhar para frente, visualizou uma fogueira. ─ Você está bem? Chara! Chara! ─ A voz a despertou de seus pensamentos, Chara olhou para Sans e notou que ele estava a encarando com a preocupação visível em seus olhos. ─ Me desculpe, eu não queria te magoar.

─ Não se preocupe. Você não me magoou. ─ Ela se levantou pronta para ir embora, mas Sans segurou seu braço impedindo que ela fosse.

─ Espera! Aqui, vem comigo.

─ Onde?

─ Você verá. ─ Os dois saíram da floresta e chegaram até a cidade, onde tiveram que tomar mais cuidado para não serem notados. Então eles pararam em frente aos portões da igreja. A igreja era enorme, parecia mais com um castelo, as paredes eram pintadas de branco, as janelas eram feitas de vitrais coloridos e os portões tinham alguns detalhes feitos de prata.

─ Por que me trouxe aqui?

─ Eu já explico. ─ Eles adentraram o lugar sem serem percebidos e seguiram até os fundos, onde Sans retirou um dos tapetes, revelando o que parecia ser um alçapão. ─ Essa passagem vai dar no castelo, meu pai mandou a construir para caso o castelo fosse atacado. ─ Ele abriu o alçapão, relevando escadas que levavam a um túnel. Sans desceu alguns degraus e se virou para Chara. ─ Pode vir. ─ Ela hesitou, mas logo desceu as escadas, então Sans fechou o alçapão e os dois seguiram pelo túnel escuro. Depois de alguns minutos de caminhada finalmente uma luz foi vista, eles haviam chegado ao porão do castelo.

─ Não acha que irá arrumar problemas me trazendo aqui por uma passagem secreta?

─ Claro que não, a menos que nos peguem. ─ Os dois riram, em seguida saíram do porão e caminharam sorrateiramente pelo castelo até chegarem ao quarto de Sans. ─ Espere aqui, eu já volto. ─ Chara aproveitou para olhar ao redor, o quarto era cheio de moveis luxuosos e tinha até um piano. Sans voltou dentro de alguns minutos carregando uma cesta cheia de doces, os olhos de Chara brilharam.

─ Que doces lindos! Parecem estar deliciosos.

─ Pegue, são todos seus. ─ Disse entregando a cesta para Chara.

─ Obrigada, mas por que está me dando isso?

─ Você parecia ter ficado triste, então pensei em lhe dar algo para te animar. ─ Chara sorriu e pegou a cesta. ─ Venha, tenho que te levar de volta antes que nos vejam. ─ Eles foram até o porão sem serem notados e caminharam de volta pelo túnel até que chegaram ao outro lado. ─ Então até amanhã. ─ Deram um aperto de mão e Chara lhe deu um beijo na bochecha, em seguida se retirou do local deixando ele sozinho com um sorriso bobo no rosto.

Sans e Chara passaram a se encontrar na floresta sempre que podiam, então viraram grandes amigos, mas com o tempo esse sentimento foi mudando aos poucos, até que acabou se tornando em algo a mais.

[...]

Chara estava sentada com as costas apoiadas em uma árvore, ela fechou os olhos enquanto aproveitava o som dos pássaros cantando, a brisa estava refrescante e o aroma das flores perfumava o local que mais parecia o paraíso.

─ Ei Chara, tenho uma surpresa para você. ─ Disse Sans se sentando ao lado dela, então lhe entregou um envelope.

─ O que é? ─ Chara pegou o envelope e o abriu, nele tinha um convite para um baile de máscaras.

─ O baile vai acontecer daqui a alguns dias, então eu pensei em te chamar para me fazer companhia, você aceita?

─ É claro que eu aceito.....mas eu acho que não tenho nenhuma roupa apropriada para ir.

─ Eu imaginei que você diria isso, então eu te trouxe outra coisa. ─ Sans foi até a parte de trás da árvore e pegou um saco de pano que estava escondido lá. Chara pegou o saco e o abriu, dentro dele tinha um vestido negro e uma mascara da mesma cor.

─ É muito lindo, obrigada. ─ Ela se levantou e lhe deu um abraço de surpresa que fez com que os dois caíssem no chão. Eles ficaram rindo da situação por alguns segundos até que começaram a aproximar seus rostos.

─ Sans? Sans! ─ Ao olharem na direção da voz avistaram uma garota vestida como uma freira, ela estava se aproximando de onde eles estavam e parecia não estar nada contente. Os dois rapidamente se levantaram e ficaram um pouco constrangidos. ─ Então é aqui que você vem para se esconder? E quem é essa?

─ Ah, essa é a-

─ Bem não importa. Temos que ir, o rei está te esperando. ─ Sans se despediu de Chara e Frisk lhe direcionou um olhar mortal, então logo os dois saíram do lugar.

[...]

No dia seguinte Sans não conseguiu escapar do castelo, então não pode ir até a floresta, mesmo assim Chara resolveu dar um passeio enquanto observava os pássaros e as borboletas, ao olhar para baixo avistou um pássaro caído no chão com uma de suas asas quebrada.

─ Isso deve estar doendo, não é? ─ Ela segurou o pássaro em suas mãos, em seguida fechou seus olhos e recitou um feitiço. Quando abriu seus olhos sorriu ao ver que o pássaro estava com a asa curada, então ela o soltou para que ele voasse. Chara ouviu um barulho entre os arbustos que a fez se virar bruscamente, mas ao ver que não tinha ninguém ali deduziu que deveria ser apenas algum animal, então ela apenas deu de ombros e voltou para sua casa. Infelizmente Chara estava errada.

Algumas horas depois a casa de Chara foi invadida por um pequeno grupo de homens que a encurralaram. Ela tentou resistir, mas acabou levando socos em seu rosto e estômago, eles a arrastaram para fora onde Chara avistou Frisk.

─ Você? Por que está fazendo isso comigo? Sua...

─ Silêncio pecadora! Você está sendo acusada de bruxaria e sua sentença é a morte na fogueira.

─ Isso não é verdade! Eu não sou bruxa! ─ Frisk ficou furiosa e desferiu uma tapa no rosto de Chara.

─ Como ousa a me chamar de mentirosa? Tirem essa maldita bruxa daqui, AGORA! ─ Chara foi levada até a praça principal da cidade, onde uma cruz de madeira, rodeada por uma multidão, a esperava. Sans logo chegou ao local e ficou furioso.

─ O que vocês estão fazendo? Soltem-na agora.

─ Está mulher é uma bruxa! Se você soltá-la, estará colocando todo o seu povo em perigo.

─ Bruxa? Frisk não diga besteiras, eu sei que não gosta dela, mas isso é demais.

─ Está duvidando de mim para acreditar em uma desconhecida? Eu vi com meus próprios olhos. Ela é uma bruxa. O que os cidadãos vão pensar de você se deixá-la viver? O que o rei vai pensar? Quer arriscar tudo para salvar uma pecadora imunda? ─ Sans abaixou a cabeça e ficou em silêncio. ─ Foi o que eu pensei. Amarrem-na a cruz, rápido. ─ Chara não resistiu e deixou que a amarrassem, ela não tinha mais forças, sentia-se traída e queria chorar, mas segurou suas lágrimas, não daria esse gosto para aquelas pessoas. Enquanto esperava que a fogueira fosse acessa, memórias invadiram a sua mente, as memórias do dia em que sua mãe morreu.

Uma multidão havia se formado na frente da pequena casa, pessoas estavam tentando de tudo para arrombar a porta da frente, que apesar de estar reforçada com alguns moveis, não iria resistir por muito tempo.

─ Vocês dois tem que se esconder ou serão mortos.

─ Eu já disse. Não vou te deixar aqui para morrer! ─ Na época Chara era apenas uma criança e não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas conforme foi crescendo, conseguiu compreender o porquê de tudo aquilo. Sua mãe era praticante de magia e mesmo que nunca tivesse feito mal a ninguém, todos que praticassem a magia eram sentenciados a morte na fogueira.

─ Querido você precisa salvar a si mesmo e a nossa filha. ─ Um estrondo foi ouvido da porta, o que acabou assustando Chara fazendo com que ela abraçasse seu pai. ─ Vocês precisam ir, eu ficarei aqui e servirei de distração para que vocês fujam.

─ Mas querida....

─ Por favor...não percam tempo. ─ Lágrimas começaram a sair de seus olhos, ela as enxugou e se aproximou do marido, lhe dando um último beijo. ─ Eu te amo. ─ Em seguida se abaixou e deu um abraço em Chara.

─ Mamãe...eu estou com medo...

─ Vai ficar tudo bem querida. ─ Disse interrompendo o abraço. ─ Chara, você precisa ser forte. Vá com o papai e viva uma vida feliz por mim.

─ Por que você vai nos deixar? ─ Chara começou a chorar.

─ Não vou deixá-los, sempre estarei com vocês. ─ Disse dando um beijo na testa de Chara. ─ Seja boa.

Chara assentiu e eles deram um último abraço, em seguida o pai de Chara a pegou nos braços e se trancou com ela no sótão. De lá eles ouviram a multidão furiosa arrombar a porta e quebrar tudo o que estivesse no caminho, quando tudo ficou silencioso eles saíram do porão, pegaram as poucas coisas que lhes restaram e fugiram da cidade por uma trilha na floresta. No meio do caminho eles conseguiram ver a fumaça que a fogueira estava soltando.

Os dois conseguiram fugir para uma nova cidade, onde viveram pacificamente por muitos anos, mas um dia o pai de Chara ficou gravemente doente, os médicos nada podiam fazer por ele, então ela decidiu aprender magia para tentar salvá-lo, infelizmente isso não deu certo e ele acabou morrendo. Chara ficou sozinha no mundo e resolveu se mudar para a floresta de uma cidade próxima, onde planejava viver o resto de seus dias.

E lá estava ela, tendo mesmo fim que sua mãe lutou para que ela não tivesse, a vida era uma piada cruel. As últimas palavras de sua mãe ecoaram pela cabeça enquanto a fogueira era acessa. “Seja boa”, “Seja boa”, “Seja boa”, “Seja boa”, “Mas por que ser boa?”. Ela sussurrou um pedido de desculpas para sua mãe, então em um minuto o fogo se alastrou, atingindo Frisk e aqueles que haviam a ajudado, Sans encarou Chara e ela sorriu para ele, então usou seus poderes para aumentar o fogo, que a consumiu rapidamente. Sans ficou horrorizado com a cena, ele estava com nojo de si mesmo, havia abandonado a única garota que ele amou e a deixou morrer de uma forma tão cruel.

─ Eu te amo. ─ Ele se jogou na fogueira que ainda estava acessa então as chamas começaram a queimar seu corpo lentamente, antes de perder totalmente a consciência, Sans teve o vislumbre de uma Chara sorrindo para ele, então tudo ficou escuro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.