- Uma salada de alface com gotas de limão e um suco de beterraba, por favor. – Eu digo. Tenho que manter uma dieta super saudável né? Agora é o recreio da escola de ensino médio em que eu dou aula desde que me formei em História, Sheridan College, o inferno em forma de colégio.

- E eu um hambúrguer com muito bacon e uma coca-cola. – Candice Deen, ou melhor, Cady, minha melhor amiga, professora de sociologia.

Ah, como eu sou desastrada, o meu nome é Rumarvina e eu mênstruo pelos olhos ok? Brincadeira sou Annabeth Liddel e não, não mênstruo pelos olhos, mas pelo nariz sim. Nos momentos mais inesperados meu nariz começa a sangrar. Como agora.

- Cady, pega um pedaço de algodão no terceiro bolso do lado esquerdo da minha bolsa no fundo falso? – Eu viro a minha mochila e ela pega dois pedaços de algodão e me entrega. Sim, eu tenho um estoque de algodões na minha bolsa e renovo a cada sete dias. Eles tem cheiro de sorvete ok? Sintam inveja.

Meu nariz parou de sangrar agora. Eu vou até o banheiro e jogo os algodões no lixo e lavo meu rosto e as minhas mãos e me asseguro que passo o álcool em gel o suficiente para cinco minutos. De uma coisa eu tenho certeza: Doenças que são transmitidas pelas mãos, eu nunca vou ter.

Quando chego à nossa mesa, minha salada e meu suco e a fonte de gordura da Cady – vulgo coca-cola e hambúrguer - já estão nos esperando na mesa.

- Uma banda com nome esquisito vai vir pra cá, sabia? – Cady balbucia com a boca cheia de bacon. – Black Veil Brides.

- Odeio essas bandas adolescentes, valha-me Deus! – Apesar dos meus vinte e cinco anos, meu negócio é Elton John meus caros. “It's a little bit funny this feeling inside”

Elton John lindo e super culto.

Enfim. Nosso almoço é cheio de fofocas e afins e eu não agüento mais Cady me oferecendo coca-cola.

(...)

- Zoey, por favor, em qual dia, ano e mês foi assinada a Abolição da Escravatura? – Péssima escolha, Srta. Liddel. Zoey é o demônio de saia da sala.

- Ainda não foi assinada ‘psora, sou escrava da minha mãe até hoje! – Zoey ironiza. Eu odeio alunos e vou me matar me jogando da ponte do Brooklyn com um saco na cabeça cheia de ratos de esgoto o.o

- Obrigado pela ajuda, Srta. McLouret. Mas a resposta certa é 13 de maio de 1888. E por quem foi assinada, Maggie? – Ótima escolha, Srta. Liddel. Maggie Smith é, basicamente, a nerd da sala e eu amo ela por isso.

- Princesa Izabel. – Maggie diz prontamente e todos a vaiam. Alguém tem uma Winchester 22? Se tiver, por favor, atire em mim? Desde já, agradeço a sua colaboração.

- CALEM A BOCA! – Eu digo histericamente, é, como professora eu posso dar a louca algumas vezes. – Façam um resumo sobre a abolição da escravatura para segunda feira, sem falta. Jogadores de basquete e animadoras de torcida não vão ficar sem fazer por causa do jogo de domingo.

Momento sons de grilo e depois bagunça total. Já é quase cinco da tarde. Toca sinal, toca sinal, toca sinal. Eu preciso alimentar o Miau. Miau pra quem não sabe é o meu cachorro. É um Bulldog Francês que eu achei na rua, pobrezinho. É um dos meus melhores amigos.

TRIIIIIIM!

Sinal lindo, vou casar com ele. Brincadeira. Pego a minha mochila que, agora, triplicou de peso devido ao meu cansaço. Hora de pegar três ônibus e andar um quilômetro e meio a pé.

(...)

- HEEEEEEEY ÔNIBUUUUUUUUS! – Nem grito com o terceiro ônibus. Grito sim. O motorista tem noventa e nove anos e eu acho que é míope por que quando foi parar aquela lata velha quase me atropelou. Lindo dia para tropeçar na escada do ônibus, Annabeth Liddel. Todos estão olhando para você agora. Mas isso virou algo rotineiro.

Logo encontro a merceariazinha. Merceariazinha pra quem não sabe é um quilômetro e meio longe da minha casa e é por aqui que eu continuo a pé. Moro num lugar ótimo, herdei tudo o que era da minha avó. Dentre o meu apartamento, um velho Cadillac conversível e discos do Elvis Presley que estão mofando na minha cômoda, mas são as coisas que lembram da minha avózinha, fazer o quê.

Você deve estar se perguntando por que eu não vou de carro pra escola. A minha resposta é: Sustentabilidade. Sabe quanto esse carro pode poluir o meio ambiente se eu me der o luxo de ir com ele pro meu trabalho? Além do mais, esses um quilômetro e meio me fazem bem à noite, eu até emagreci alguns quilinhos.

Quando chego ao meu apartamento, um grande caminhão de mudança está na frente dele. Ótimo, ótimo não, pandemônio! Odeio vizinhos novos. Bom, tomara que seja a florista trazendo flores novas.

Eu subo as escadas e abro a porta do meu ap lindo. Tudo está em seu devido lugar. Miau se comportou bem e agora eu sirvo a sua ração com molho de carne.

Ser professora não é fácil sabia? Você volta exausta. Morta. Assassinada. E todos esses outros adjetivos feios de sempre. Lago as minhas coisas, e depois de um longo banho, vou fazer a minha sopa de ervilhas. Fazer não, requentar. Eu sou sozinha mesmo, então toda segunda feira eu faço uma panelada de alguma sopa que eu goste e eu como todas as jantas de todos os dias dessa semana entendeu? Não? Ok.

Minha parafernália toca – vulgo telefone celular – e eu atendo.

- Oi mãe, como está o Alaska? – Eu pergunto sem ânimo. Essa é Elizabeth. Minha mãe e de certa forma minha filha, pois a idade mental dela é lastimável. Ela é artista plástica por isso viaja o mundo. Santa paciência.

- Fria. – Ela diz. Nossa impressionante! Achei que o Alaska era o lugar mais quente do planeta! Aff...

- Então tudo bem mãe, divirta-se com a sua monotonia patética. – Monotonia é a minha vida na verdade. A minha mãe é cheia de fotógrafos a paparicando e afins. Santa paciência 2.

Lá está ela, a minha Josefina. Josefina é a minha guitarra, pra quem não sabe. Eu tinha uma banda. The Wine.

Mas então, você me pergunta: Por que não toca mais, e por que é tão antiquada? E eu respondo que é por que eu estraguei a minha vida bebendo e fumando. Não quero voltar a ser como eu era.

- Miau? Gostou do seu banquete? – Sim, eu falo com o meu cachorro. – Espero que sim. Hoje tenho uns minutinhos livres, o que quer fazer? Jogar cartas? Assistir Friends? Tocar... Guitarra?

Os vizinhos não podem reclamar ainda. Sons altos demais só são proibidos a partir de dez da noite. Alguns riffles de guitarra não vão fazer mal algum.

Mas eu ainda sei tocar? Já faz tanto tempo.

Desajeitadamente eu pego a minha Les Paul preta e a coloco. Errando algumas notas, eu consigo tocar Smoke on the Water perfeitamente. Ah, como é bom voltar às origens!

Andy Sixx POV

Cadê aquele puto? A gente mal se mudou e ele já some desse jeito? Vou matar alguém hoje, tudo bem? Ok.

- Ash, cadê o Jinxx? Eu estou com uma música pronta há séculos e aquela baitolinha sumiu com guitarra e tudo, eu preciso de um acústico aqui, amoreco! Se eu esquecer a melodia, ele vai se ver comigo. – Pergunto ao Ashley que está comendo... Miojo.

- Ele deve estar... Passeando, tocando debaixo de um viaduto com mendigos, tirando cabaços. Mas por favor, não gaste sua energia falando comigo. Crie coragem e vá atrás dele. – Ele revira os olhos e some.

Eu pensei em ligar, mas Jeremy Ferguson tem celular? Aposto que não. Aquele filho da puta. Ah eu quero matar alguém, quem se prontifica? Vou sair e procurar ele, então.

- ...Na minha humilde residência, pra gente fazer amor... – CC está bêbado, senhor. Cuide desta pobre alma enquanto eu não estiver aqui, por favor.

Mas... Espera. Quem é que está tocando Smoke on the Water aqui do lado? Jinxx, claro. Deve estar bêbado também por que até CC ficou lúcido com as notas ensurdecedoras. Esse povinho acha que a vida foi feita pra encher a cara? Ai meu pâncreas, Jinxx ta muito mal mesmo, vou ficar surdo.

- CC vem comigo, por favor. – Eu até que estou bonzinho hoje, acho que são os hormônios da minha gravidez. Não, não estou grávido, por favor, apague a última frase. Só estou feliz ok?

Annabeth Liddel POV

Eu toco mal pra caralh... Pra dedéu, pra dedéu! Não posso mais falar palavrões, não sou mais uma rebeldinha da vida. Eu estou cantando o refrão bem baixinho quando dois monstros com a cara pintada invadem a minha casa.

- Cadê o Jinxx, gatinha? – Um dos dois, aparentemente bêbado e com uma bandana na cabeça, diz.

- Juca? Que Juca? – Eu guardo a minha guitarra na caixa, a qual eu nunca deveria ter mexido e me levando na minha cadeira.

- Jinxx, Jeremy, baitolinha, cachorrão se você quiser... Bom, ele está aqui, não está? – O outro, um guri um pouco mais magrelo, de olhos azuis e... Ui ele tem franja, que bonitinho.

- Não sei, ninguém entrou aqui. Saiam da minha casa agora seus putrefatos, por favor. Anda anda, vão embora criaturas. – Eu disse empurrando todos pra fora, odeio crianças. E não estou mentindo quando os chamo de putrefatos, essa tinta na cara deixou-os com uma aparência horrível.

Raciocinando melhor, eles são dois daqueles carinhas da banda que a Cady disse.

- Olha Andrew, ela tem uma Les Paul. – Ah, já era de se esperar. Vão ficar babando na minha guitarra agora! Esses putrefatos imundos...

- Vão embora, por favor e não toque na minha guitarra se não quiser a sua cabeça arrancada, querido. – Eu reviro meus olhos e guardo a caixa da guitarra atrás da mesa novamente. Eu se quer deveria ter mencionado mentalmente a idéia de tocar esta coisa.

- Oi gente. – Outro putrefato entra na minha casa. Oh Merlim. – O que estão fazendo aí?

- Procurando você, criatura abençoada. – O da bandana disse. Ok, agora eu vou chamar ele de ‘o da bandana’.

- Vocês são do Black Veil Brides né? – Eu tento ser um ser civilizado entre eles, vou começar fazendo perguntas básicas.

- Nossa, já tava na hora de tu saber né filha? – O da franja e olhos azuis disse. – Jinxx, ela tem uma Les Paul, baba baby.

Jinxx é o nome do terceiro zumbi. Ok, não vou me esquecer agora. Mas o apelidinho dele vai ser Juca.

- Caralho, deixa eu ver? – O Juca, ops, Jinxx disse. Ai como eu quero tirar todos daqui agora! Perai... O cara da bandana pegou o meu cachorro!

- Larga o Miau por favor! – Eu quase arranco o bulldog das mãos dele. Ok eu sou muito delicada.

- Tira a mão da minha guitarra, Juca! – Quase grito. – Para de tomar a minha sopa de ervilhas ô da franja!

- Meu nome não é ‘Juca’ é Jinxx queridinha. – Ele guarda a MINHA guitarra novamente.

- E o meu é Andrew, ou Andy se você quiser, gatinha.

- Ou gazela. – O Juca diz e eles começam uma discussão agora e eu empurro todos pra fora.

- Saiam daqui! Por favor! Todo mundo vazando, fora! Von! Aus! Van! Ud! Out! – Essa vocês não sabiam. Além do português convencional eu falo mais cinco línguas e quando estou dando a louca costumo soltar algumas palavras aleatórias.

Ok, eles foram embora. Hora de relaxar. Ou não. Não por que eles começaram a ensaiar. Ótimo.