Cof cof - Acordei assim, tossindo, cair na piscina de noite e ainda dormir com o cabelo todo molhado não foi uma boa idéia, Axl ainda estava deitado, nem se mexia. Tirei o cabelo que insistia em cair no meu rosto, nesse momento senti um leve arrepio, estava ouvindo passos vindos lá de fora, comecei a balançar o Axl pra ver se ele acordava.

– Axl, acorda, vamos! - Ele parecia que estava morto. - Vamos Axl, acorda caramba. - Não podia fazer muito barulho, não sabia quem estava lá fora, finalmente Axl deu sinal de vida.

– Ah, me deixa dormir mulher. - E colocou o travesseiro na cara, peguei o travesseiro e comecei a bater nele.

– Acorda, anda logo, tem alguém aqui, ouça! - Eu disse, ficamos em silêncio e ele também começou a ouvir os passos.

– Ih, caralho, hum... Se vista! - Ele disse, as roupas ainda estavam um pouco molhadas, mas nem ligamos, nos vestimos rapidamente e ele esperou que os passos parecessem mais distantes e abriu a porta. Quando saímos percebemos que havia um barco ali do lado do Iate, eu segurei no braço de Axl.

– Devem estar lá em cima. - Ele ficou procurando algo, não sabia o que era.

– Tá procurando o que? - Perguntei.

– Algo pra bater em quem quer que esteja aí, mas não tem nada... - Axl iria continuar, mas nesse momento ouvimos os passos de novo, estava descendo, Axl estava muito mais calmo que eu, finalmente conseguimos ver a cara dele, era um homem de altura normal, tinha uma pança enorme, tinha uma barba mal feita, vestia uma calça preta um pouco larga e uma camiseta azul escura, parecia que era de alguma empresa e depois percebi que ele também comia o resto do salmão que eu e Axl deixamos ontem.

– Quem é você? - Axl perguntou firme e o encarando.

– Meu nome é Alan e você é... - Ele olhou melhor - Ei eu conheço você, como é mesmo? - Ele estalava os dedos, parecia que assim se lembraria melhor do que queria - Ah sim! Guns N' Roses, aquela banda de rock, você toca bateria na banda né?

– Não - Axl o olhou torto.

– É guitarrista?

– Não.

– Baixista?

– Também não.

– Vocalista?

– Sim! - Finalmente.

– Ah, eu sabia - Ele sorriu, seus dentes estavam sujos por conta do salmão.

– Por que entrou aqui? - Perguntou Axl.

– Bom, não é normal encontrarmos Iates parados no meio do nada, então resolvi ver se estava tudo bem, já notei que estão sem combustível, se quiserem posso levar vocês até a base, afinal não tenho sobrando no meu barco. - Ele se aproximou. - E me desculpe bela dama, mas ainda não me disse seu nome.

– É Tracy. - Sorri torto. Ele pegou minha mão e deu um beijo ali, Axl puxou minha mão de volta e deu um sorriso forçado.

– Nós vamos com você. - Pedi para que esperassem, fui até lá e cima do Iate e peguei minha bolsa que estava em cima da mesa. Não demorei nada.

– Tudo bem, conseguem subir no barco? - Era um barco de luxo, bem bonito, nas suas laterais haviam as inicais "J.H"

– Claro - Respondeu Axl, ele me ajudou a passar do Iate pra lá, ele veio logo em seguida e depois veio o Alan mais desengonçado.

– Não sejam timídos, fiquem a vontade. - Ele disse sorrindo.

– Onde é o banheiro? - Perguntei

– Desça aqui, a porta dos fundos, uma cinza. - Alan disse, desci devagar, estava um pouco escuro ali, tinha uma sala e a porta cinza era bastante visível no final dessa sala, fui logo até lá, joguei uma água no rosto e sequei com a toalhinha cinza que tinha ali, tomei a pílula e sai dali. Olhei na sala com mais atenção, ela era bem bonita, havia alguns porta retratos ali, nenhum me chamou atenção, a não ser um no qual me pareceu familiar de longe, podia jurar que era uma foto do meu pai, me aproximei e peguei o retrato na mão, na mesma hora o deixei cair no chão, era mesmo ele, peguei os outros retratos e vi que era ele, um pouco mais velho, e tinha uma mulher ao seu lado, bem bonita por sinal.

– O que é isso? - Estava assustada, com a mão em frete a boca, meu olhos já enxiam de lágrimas, não via nada que era relacionado ao meu pai desde os meus 18 anos, quando fugi de casa, hoje tenho 25. Ouvi passos vindo das escadas, era Axl.

– Ei, se perdeu? - Ele riu, mas logo depois parou ao ver que estava tremendo. - O que foi Tracy? - Ele disse chegando mais perto.

– Olha essa foto - Ele olhou.

– O que tem?

– É meu pai. - Ele me olhou assustado. - Eu perdi contato com ele quando fugi de casa aos 18 anos.

– Larga isso, vamos subir. - Ele pegou o retrato que estava na minha mão, jogou em cima do sofá e subimos.

– Ei! Alan, esse barco é de quem? - Perguntou Axl.

– Não viu as iniciais nas laterais do navio? - É claro, como não tinha reparado. - J.H de John Harver, o empresário.

– Ah ta. - Axl se virou pra mim, eu tomei rumo até a beirada do navio e fiquei ali segurando a grade de ferro olhando a água, senti o braço de Axl envolver meus ombros.

– Empresário - ri - Sei bem...

– O quer dizer com isso? - Ele me perguntou.

– Nada - Sorri fraco, me virei para Alan - Ei, falta muito para chegarmos? - Perguntei.

– Não, olhe, já dá pra ver os outros barcos e Iates - Ele apontou pro horizonte, e realmente já dava pra ver.

– Por que está com o barco desse moço? - Perguntei.

– Ele me pediu para buscar algumas coisas pra ele. John está do outro lado da cidade com sua esposa, Jennifer. - Ele disse sem se importar com as perguntas.

– Entendi. - Voltei a olhar para a água e Axl a me abraçar de novo.

Ficamos em silêncio até chegarmos, Axl providenciou o "resgate" do seu Iate e me levou até o carro.

– Está com fome? - Me perguntou.

– Não.

– É claro que está, vou te levar pra comer, vai acabar desmaiando de novo. Hey! - Ele levantou o meu queixo delicadamente - Não fica assim, de verdade, se quiser conversar, estou aqui tudo bem? - Assenti com a cabeça dando um sorriso de canto, ele me deu um selinho e ligou o carro.

[...]

Axl me levou até uma lanchonete que não era muito cheia, na verdade era bem distante de qualquer grande cidade e eu preferia assim, as vezes L.A. se tornava irritante por isso...

– Axl... - O chamei.

– Fala.

– Eu vou ficar doente por sua culpa, vai ter troco. - Ele sorriu.

– Pensei que me molhando daquele jeito já fosse a vingança.

– Do que adianta eu ter te molhado, se depois por conta própria você se jogou na piscina? Assim não tem graça. - Rimos.

– Ficarei atento a partir de agora.

– É bom mesmo. - Falei e ele riu um pouco.

Fiquei o encarando, ele tomava seu copo de coca-cola, mas parou assim que percebeu que eu não desvia o olhar dele.

– Que foi?

– Hum - Resitei primeiro. - Lembra quando disse que eu podia conversar com você? - Lhe perguntei.

– Sim. - Agora ele prestava mais atenção.

– Pois bem, eu quero conversar com você.

– Tudo bem, aqui mesmo?

– É.

– Então começa.

– Vai ficar melhor se você me perguntar algo e eu responder.

– Tudo bem. - Ele pensou um pouco - Por que fugiu de casa?

– Meu pai, na verdade eu fugi junto com meu irmão, que era dois anos anos mais velho que eu. - Lhe respondi.

– Era? Por que?

– Ele morreu, há um ano atrás.

– Eu sinto muito.

– Tudo bem. - Sorri fraco. - Fugimos porque meu pai havia se tornado no ser mais despresível que já havíamos conhecido, ele começou a mexer com tráfico e roubos, isso foi depois da morte da minha mãe que havia falecido fazia um mês, ela sustentava aquela casa, meu pai nunca quis arrumar um emprego, sempre chegava tarde em casa, embriagado. - Meu olhos já enchiam de lágrimas. - Eles sempre brigavam, era insuportável, eu e Drake, meu irmão, sempre ficávamos horrorisados com o que ouviamos deles dois, queríamos defender nossa mãe, mas John não deixava e ameaçava dizendo que pegaria sua arma caso avançassemos um passo, nossa mãe sempre foi protetora, não aceitava que John disesse algo de nós dois, enfim, em uma noite que chovia muito, minha mãe discutiu com meu pai de novo, dessa vez ele bateu nela, sem saber o que fazer, ela disse que iria levar eu e Drake pra casa da irmã dela, porém John não deixou, mas a mandou sair dali, ela teve que sair, senão apanharia ainda mais. - Eu fiquei em silêncio, por um tempo, era difícil me lembrar daquilo. - Então no dia seguinte soubemos que o carro dela havia capotado durante uma curva, ela morreu na hora. - Respirei fundo, não queria chorar muito. - Por isso que quando debochei do "Empresário" no barco, foi porque eu acho que o dinheiro no qual ele comprou aquilo, não é limpo, entende?

– Entendi, meu Deus, Tracy... - Ele colocou a mão sobre a boca. - Não sei o que dizer, me desculpe. - Eu não lhe respondi, na verdade até eu não sabia o que falar, ele veio até meu lado e me abraçou forte, depositando um beijo na minha testa, ficamos em silêncio um pouco, ficávamos olhando os carros simples que passavam ali, eram tão diferentes de onde morávamos, mas Axl cortou o silêncio.

– Sabe... - Olhei pra ele. - Minha vida também nunca foi fácil, e não tão diferente da sua, meu pai abandou minha família quando eu ainda tinha dois anos, nem se quer me lembro de seu rosto, minha mãe se casou novamente, meu padrasto era terrível, era fanático por sua religião, sempre me proibiu de tudo, também chegava embriagado em casa, batia em mim, nos meus irmãos e minha mãe e quando tentava ajudar minha irmã, ele sempre partia pra cima de mim de novo, todos na escola estranhavam quando eu ia com blusa pra escola, mesmo o sol estando radiante, mas as marcas que cobriam meu corpo iria acabar denunciando meu padrasto, então comecei a ficar excluído de todos, não gostava de conversar com as pessoas dali, finalmente achei alguém compátivel comigo, Izzy, que na época era Jeffrey, formamos uma banda, ensaiávamos escondido, meu padrasto não podia sonhar que eu estava cantando em uma banda de rock, então um dia eu e Izzy resolvemos fugir aqui pra L.A. - Ficamos em silêncio, eu o abracei.

– Lembra quando disse que éramos feito um pro outro? - Perguntei depois de um tempo.

– Sim.

– Então, temos coisas em comum viu só? - Ele riu. - Pena que não são coisas boas.

– Ah, mas tem coisas boas. - Ele disse.

– Quais? - Perguntei me soltando de seus braços, queria olhar pra ele.

– Hum, eu sou bonito e você é razoável. - Rimos. - Eu sou engraçado e você as vezes faz umas piadas legalzinhas, eu...

– Acho que entendi Axl. - Rimos. Ficamos sérios de novo. - E se meu pai me achar? Eu venho me escondendo dele esse tempo todo e...

– Xiu. - Ele disse colocando o dedo nos meus lábios. - Ele não vai te achar e mesmo que te ache não poderá fazer nada, está comigo. - Ele disse esse "comigo" em um tom de superioridade o que me fez rir.

– Tracy, tenho algo sério pra te contar... - Pronto, tinha que ter algo.

– Você sabe quem é Erin Everly? - Me perguntou.

– Não faço idéia. - Dei de ombros.

– É minha esposa. - Comecei a rir. - Do que está rindo?

– Como assim sua esposa? - Perguntei já alterando o tom de voz.

– Por enquanto, daqui a duas semanas mais ou menos, o processo do divorcio é finalizado e enfim ela será minha ex-esposa. - Ele sorriu. - Então quero te pedir uma coisa.

– Peça.

– Teremos que fingir que não estamos juntos, não podemos sair em revistas e essas coisas, ela pode acabar inventando que eu a traia enquanto estava com ela e como os juiz são influenciáveis por um decote, eles podem acabar acreditando e assim ela pode levar algumas coisas minhas, se é que me entende...

– Dinheiro é problema pra você desde quando? - Perguntei, afinal ele era rico.

– Não, dignidade mulher, nem um centavo a mais meu entra na conta dela.

– Hum, tá bom então.

– Sério? Só isso? - Ele parecia surpreso.

– É, duas semanas passam rápido. - Ele sorriu pra mim e me deu um beijo e colocou o dinheiro em cima da mesa.

– Prometo que é por pouco tempo.

– Tudo bem. - Sorri.

– Vamos?

– Claro.

[...]

Estávamos em frente a casa da Miley, pedi para que Axl passasse lá, antes de irmos embora.

– Hey Tracy! Tudo bem? - Ela disse, parecia bastante alegre.

– Oi Miley, tudo ótimo e você? - Sorri.

– Estou muito bem, oi Axl.

– Oi - Sorriu.

– Então... - Ia começando a falar, mas eis que Duff surge nú, segurava um balde de pipoca na mão.

– Vish. - Ele colocou o balde em frente ao seu amigo e pegou uma almofada que estava em cima do sofá e escondeu o rosto.

– Droga, quem será essa pessoa? - Axl falou ironico, nós dois rimos.

– Droga Duff! - Ela brigou com ele.

– Foi mal, eu esqueci que estava sem roupa. - Ele disse jogando a almofada no sofá e subindo as escadas.

– Eu vou pro carro, vi o Duff pelado, cenas muito fortes. - Disse Axl, eu e Miley rimos.

– Então, amanhã eu vou comprar alguns remédios que ainda faltam, se não o tratamento não vai adiantar de nada e também vou ao shopping, preciso comprar algumas outras coisas, você quer ir comigo? - Perguntei.

– Claro, amanhã que horas? - Perguntou.

– 13:00h pode ser?

– Claro, eu passo lá na sua casa, de qualquer maneira eu ia lá, quero saber tudo o que aconteceu. - Ela disse se referindo a mim e Axl.

– Eu também, eu também garota - Ela riu envergonhada.

– Tchau.

– Tchau Tracy.


POV Miley

Me despedi de Tracy e ri me lembrando da cena com o Duff, quando olhei pra trás ele já estava ali no pé da escada me encarando.

– O que foi? - Perguntei logo.

– Que história é essa de remédios, tratamento... A Tracy está doente?