Tudo começou numa tarde nublada.

Eu me encontrava sentado no meu habitual lugar na pequena mesa na casa do mangaká, várias folhas e canetas espalhadas à minha frente. Sakura se encontrava ausente – o que era, de certa forma, um milagre – e, em seu lugar, Mayu era quem me fazia companhia. Nozaki havia acabado de sair para comprar algumas bebidas, deixando-nos a sós.

Eu rabiscava a folha postada à minha frente, enchendo-a de flores delicadas. Porém, eu era incapaz de me concentrar cem por cento no que eu fazia, visto que meus olhos insistiam em buscar a visão de Mayu, que se encontrava sentado ao meu lado, a cabeça jogada para trás, apoiada no sofá. Ele tinha os olhos fechados e uma expressão serena no rosto.

Meu coração batia acelerado e eu me via com uma incrível vontade de dar um fim àquele silêncio insuportável que já durava tanto tempo. O problema era: O que dizer? Olhei mais uma vez em sua direção, o mais discretamente que fui capaz, apenas para descobrir-me observado. Ele deu um leve sorriso ao que nossos olhares se cruzaram, o suficiente para me fazer virar o rosto, completamente embaraçado.

Era esquisito pensar que Mayu e eu éramos agora um item. Quero dizer… Já fazia pouco mais de um mês, mas eu ainda tinha dificuldades para acreditar em tudo que havia acontecido. A ideia de que eu estava apaixonado por ele me era um tanto estranha, mas as batidas aceleradas em meu peito e o nervosismo que me possuía sempre que estávamos juntos não me deixava com quaisquer dúvidas quanto ao que eu sentia em relação a ele. Era amor.

Corei um pouco ao ver a direção em que meus pensamentos iam e decidi por me empenhar em meu trabalho, a fim de me distrair um pouco. Eu já havia terminado mais duas páginas quando Mayu gemeu ao meu lado, atraindo a minha atenção.

— O que foi?

Ele endireitou-se, olhou em minha direção e piscou algumas vezes antes de voltar a apoiar a cabeça no almofadado do sofá. Não consegui deixar de pensar que suas atitudes eram adoráveis; adoráveis demais para alguém do tamanho dele.

— Você vai ficar com dor se ficar torto desse jeito. Por que não deita no sofá se quer dormir?

Mayu não disse nada por alguns instantes, suas feições pensativas. Ele então levantou um dos braços, num pedido silencioso para que eu o ajudasse a se levantar. Percebendo que ele não desistiria tão cedo, pus-me de pé e caminhei até ele. Apanhei sua mão, pronto para ajudá-lo a se por em pé. Porém, o que aconteceu em seguida foi um pouco diferente do que eu havia imaginado.

Mayu me puxou, fazendo-me cair em seu colo. De repente, seu rosto estava próximo do meu e eu podia sentir o cheiro do seu shampoo. Minha face ardia e eu tinha certeza de que ela se encontrava tomada por um forte tom de vermelho.

— Err, Mayu...

Mas ele me ignorou. Mayu me abraçou e apoiou a cabeça no meu ombro. Ele pareceu achar confortável a posição, pois foi se apoiando cada vez mais em cima do meu corpo.

— Mayu, você é meio pesado. Quero dizer... Eu não sou forte e você meio que está me esmagando, então…

Ele se afastou um pouco, mas o fato de que eu estava basicamente sentado em cima dele não mudou.

— Eu vou te fazer ficar forte então.

— O quê?

— Se você for forte, você vai me aguentar.

— Bem, acho que sim.

— Você poderia me carregar nas costas e eu não teria mais que andar.

— Ahn… Acho que aí já é demais, né... – Falei, sentindo meu rosto corar. – Seria embaraçoso. Eu… Eu não poderia… Eu teria que treinar muito só para conseguir te tirar do chão.

Mayu pareceu perceber o quão impossível seria, pois ele se calou. Suas feições tornaram-se pensativas e ele olhou para o teto por alguns segundos. De repente, ele passou os braços por debaixo das minhas pernas e se levantou. Agarrei-me ao seu pescoço, vendo-me subitamente suspenso no meio do ar.

Olhei em sua direção em busca de respostas, mas as feições gentis com que ele me encarava apenas fizeram com que meu coração acelerasse. Foi então que me dei conta da situação em que eu me encontrava.

— Mayu, me põe no chão. – Pedi. – Por que você está sequer fazendo isto?

— Te treinar daria muito trabalho.

— Isso não responde a minha pergunta!

Mas antes que ele pudesse me dar uma resposta decente, Nozaki apareceu na porta, uma sacola de mercado em mãos. Ele olhou para nós por alguns instantes, seus olhos atentos e sérios. Imóvel, eu me via sem saber o que dizer. Mayu não esboçou tampouco qualquer reação. Nozaki caminhou até nós e puxou uma câmera do bolso.

— Não se mexam! Um cena dessas será perfeita pro próximo volume!