2000

Quatorze anos

Faltavam dois dias para a noite de ano novo. Todos estavam incrivelmente animados para a festa e cumprir todas as tradições que viriam com ela. E eu também estava animado, afinal era a primeira vez que eu iria passar a virada sem estar com a minha mãe e Thea.

A líder de torcida e minha amiga, Sarah Lance havia me convidando para ir à festa de virada de ano na casa dela. Praticamente a escola toda iria. E os meus dois melhores amigos também.

Tommy estava quase surtando por seu pai finalmente ter deixado ele sair de casa depois do seu mês inteiro de castigo por ter escondido sua nota baixa em química. Em defesa dele, é meio difícil se concentrar na aula quando a garota que ele gosta está sentada a frente dele. Eu bem que sabia disso...

Felicity também estava radiante em poder ir na festa. Seu pai por outro lado ainda estava um pouco relutante, então não foi difícil de prever que ele só deixaria ela ir se eu e Tommy fossemos junto. Não que ele confiasse no nosso senso de responsabilidade, muito pelo contrário, ele sabia que era ela quem nos colocava na linha. Mas ele sabia que Tommy e eu não deixaríamos o que ele tinha medo acontecer, acontecer. Pelo menos o Tommy não deixaria.

Nossas vidas haviam voltado ao nosso normal. Muita bagunça, Felicity sendo a responsável, Tommy e eu aprontando todas, Felicity nos acobertando... Era a vida mais normal possível para três adolescentes que acabaram de entrar no ensino médio, com direito a testes ao time de futebol e basquete da escola sendo rejeitados por garotos maiores e mais experientes. Era o ensino médio afinal?!As coisas estavam boas conosco, com nossas vidas, com nossas amizades.

Amizades.

Está aí uma coisa que está me apavorando por dentro. Mas não as minhas, meu círculo de amigos era pequeno, Felicity e Tommy como meus melhores amigos, Sarah, Nyssa e John como meus amigos mais próximos. Mas não era do meu círculo que eu tinha medo, mas sim o de Felicity.

E este é o motivo do pai dela só deixar ela sair conosco, ela era a garota mais inteligente da escola, obviamente pessoas iriam querer tirar proveito disso. Pessoas como garotos imaturos que iriam pedir pra ela fazer o dever de casa deles e em troca eles ficariam amigos demais pro meu gosto. Noah não gostava disso, dizia que a filha dele era muito pura pra se envolver com garotos daquele tipo, e eu concordava plenamente com ele. Por isso, toda vez que algum garoto se aproximava de Felicity, eu e Tommy o colocávamos pra correr. E eu nem preciso dizer que ela odiava isso, vivia dizendo que nunca conseguiria ter amigos normais por que nós não deixávamos. E não iríamos mesmo.

Ela já era nossa melhor amiga, tinha mais três amigos, porque ela insistia em querer mais? E por mais, eu estou me referindo a Ray Palmer, Barry Allen e Billy Malone. Dois engomadinhos quase tão inteligentes quanto ela e o garoto mais idiota do time de futebol da escola, idiota do tipo que Noah queria deixar bem longe da filha dele. E já estava ficando chato todo santo dia ele tentar chegar perto e eu afastar ela dele como se a tivesse livrando da peste negra!

Como ela não enxergava que ele só queria usa-la? Que Ray só queria passar dela na posição de mais inteligente? Que Barry era carente e queria ter quantos amigos pudesse só pra não se sentir sozinho? Como ela não enxergava isso?

E o pior de tudo era que ela ficava com raiva de mim por afasta-los. Passava quase uma semana sem falar comigo até eu pedir desculpas. Deus me ajude, mas ela é louca! Eu estou com todo o meu coração tentando ajuda-la a não se machucar e ela ainda acha que eu estou errado. Se eu não gostasse tanto dela, eu juro que deixaria ela quebrar a cara com eles. Mas não! Eu tinha mesmo que ficar preocupado com ela, tentar ajuda-la, deixar sua vida sem marcas ruins e ela ainda fica com raiva de mim!

Eu não sabia mais o que fazer em relação a isso. Eu já estava quase jogando a tolha quando fui conversar com a minha mãe sobre isso, eu fui tentar entender o que se passa dentro da cabeça de uma garota pra ficar agindo desse jeito e não enxergar que eu só estou fazendo as coisas pro seu bem.

Eu tinha uma relação muito aberta com os meus país desde sempre. Contando que antes do meu pai morrer, ele fez questão de ter A CONVERSA comigo. Aquela conversa que homens adultos tem com pré adolescentes imaturos que estão tentando entender o que está acontecendo com o mundo e também tentando entender as mudanças em seu corpo. Aquela conversa com o meu pai não foi fácil de se ter, não apenas pelo fato de que ela era desconfortável, ou por ele achava estar adiantando uma conversa que era importante pra minha vida toda, mas que não estaria aqui pra tê-la, mas sim pelo fato de que as coisas que ele falava já haviam acontecido comigo, e da pior forma possível.

Ele me ajudou a entender as “coisas de garotos”, então nada mais natural do que eu ir conversar com a minha mãe pra tentar entender as “coisas de garotas”. E eu achando que a conversa com o meu pai tinha sido constrangedora. Quanto mais a minha mãe falava, mais eu tinha vontade de me enterrar vivo por escutar o que ela dizia. Por que garotas tem que ser tão complicadas? E o que diabos é TPM?

Minha mãe tentou me explicar ao máximo as coisas que eu poderia entender, e que pra um garoto de treze anos queria entender. Mas então, em um dia bom, quando as flores estavam caindo na mais bela primavera, as coisas desabam na minha frente. Estávamos todos bem em um piquenique na mansão Merlyn, quando eu discordei de Felicity sobre se MIB deveria ou não ter uma continuação, quando ela simplesmente surtou. Brigou comigo, me chamou de idiota e disse que nunca mais queria me ver na sua frente e foi embora soltando fogo pelas orelhas.

Eu nunca havia ficado com tanto medo por achar que ela tinha me abandonado, que eu havia perdido a minha melhor amiga mais legal do mundo. Eu cheguei em casa devastado, contei pra minha mãe o que havia acontecido e em vez dela se solidarizar comigo, me dizer que tudo iria ficar bem e que Felicity me perdoaria, ela simplesmente começou a rir, rir não, gargalhar. Se eu fiquei confuso com isso, fiquei mais ainda quando ela me explicou que isso era a TPM, e que se eu quisesse ainda ser amigo de Felicity daqui pra frente, eu teria que sempre andar com algum chocolate no bolso. Garotas são confusas e estranhas.

Desde então, minha mãe todo mês me perguntava se Felicity havia tido outro surto comigo e a resposta era sempre a mesma. E estávamos bem até ela colocar na cabeça que eu deveria deixar o idiota do Billy ser amigo dela. Fui contar pra minha mãe que Felicity estava com um novo tipo de surto, e dessa vez eu temia por minha amiga, quando minha mãe disse que já havia passado da gora de ter uma conversa esclarecedora comigo. E se eu achei que a conversa sobre garotos ou a conversa sobre garotas haviam sido confusas e constrangedoras, eu estava completamente enganado.

Mas apesar de tudo, em cada palavra daquela pequena conversa de quatro minutos que minha mãe dizia, eu via uma nova porta se abrir, via um novo mundo se expandir bem a minha frente, via coisas novas que eu nunca tinha pensado existir e as coisas antigas terem um novo formato. Era estranho perceber que por muito tempo eu estava com uma venda, e quando eu a tirei, consegui ver as coisas mais claramente.

Aquilo era bom, muito bom. Mas ao mesmo tempo me assustava como o inferno assombra um cristão. Eu sabia que as coisas daqui pra frente seriam completamente diferentes, sabia que depois de tirar a venda, não se pode mais coloca-la de volta e fingir que não se viu as mil maravilhas que estavam por vir, mas também não teria mais aquele escudo que a venda colocava em você. E por mais difícil que fosse, você teria que ter consciência de que se fosse lutar pra ter aquele paraíso que se viu, teriam perdas e ganhos, que nem tudo seria uma maravilha e estava em suas mãos saber se vai ou não correr atrás daquilo, se estava disposto ao risco que viria com essa decisão.

E eu estava mais do que disposto a correr o risco.

~♡~

Era noite de ano novo, a neve cobria o chão em uma fina camada mostrando que a noite seria fria. Era uma noite especial, não é mesmo? Aquela noite pra se passa com os amigos aproveitando até o último segundo e seguir tradições idiotas pra tentar ter um bom ano. Eu não era muito ligado a esses tipos de coisas, mas esse ano eu estava especialmente esperando essa hora chegar.

Eu estava com quatorze anos, já estava na hora de sair de casa pra me divertir com os meus amigos, e era isso que eu iria fazer. Isso e algo mais.

Eu já estava na casa de Felicity esperando ela terminar de se arrumar. Estar ali era como estar em casa, a tia Donna havia preparado alguns biscoitos que estavam saindo do forno exalando aquele cheiro gostoso por toda a cozinha. Tia Donna adorava fazer aqueles biscoitos no natal, por mais que sua tradição seja outra por serem judeus, assar biscoitos nas noites especiais eram as tradições dos Smoak’s. E eu gostava delas.

— Como está a sua mãe? Ainda tendo muito trabalho na QC? – Tia Donna pergunta enquanto colocava mais uma rodada de biscoitos pra assar.

— Ela está bem. O Sr. Walter está ajudando ela com a empresa – Digo pegando alguns biscoitos e colocando em meu prato pra logo em seguida dar uma mordida sentindo aquela explosão de sabores em minha boca. Sem dúvida alguma, os biscoitos dos Smoak’s eram os melhores do mundo!

— E Thea, ainda aprontando muito?

— Tommy ensinou ela uma nova modalidade de me irritar com piadas sobre pão, então... – Digo não contendo minha carranca e ela da uma gargalhada.

— É a cara dele fazer esse tipo de coisa com uma criança de três anos – Fala ainda rindo e se senta a minha frente – E você, como está? Ainda com dificuldade em matemática ou já aprendeu as equações quadráticas?

— Odeio elas – Digo entredentes sentindo meu cérebro da um nó só de pensar nelas.

— Felicity disse isso. Mas ela disse também que você está se esforçando, e é o que conta.

— Não pra Sra. Cutter. Se eu conseguir tirar um B- já vai ser uma vitória! – Digo e dou mais uma mordida nos biscoitos tentando engolir com ele a cara daquela professora que não me suportava. O sentimento era recíproco — Eu honestamente, só queria saber como é que a sua filha consegue guardar tanta informação de tantas matérias diferentes naquela cabeça dura dela – Digo inconformado.

— Isso é porquê eu sou um gênio, Oliver — Felicity fala atrás de mim e eu nem precisava me virar pra saber que ela estava revirando os olhos pra mim.

— E isso explica muita coisa – Falo me virando pra ela e não consigo controlar de um sorriso idiota aparecer em meu rosto ao vê-la usando o vestido lilás de alças finas indo até seus joelhos. O vestido que eu havia lhe dado de presente de natal – Você está linda, sorriso — Digo e vejo suas bochechas corarem. Eu gostava muito daquilo.

— Obrigada, Oliver — Fala caminhando até o meu lado e se senta pegando alguns biscoitos do meu prato – Cadê o Tommy? Achei que ele vinha com você, já que o papai não me deixa sair de casa sem os meus dois seguranças – Provoca dando uma mordida nos biscoitos tentando não me olhar.

— A mãe da Caitlin foi buscar ele. Ao que parece, não é só você que precisa andar com um amigo-segurança na sua cola – Provoco de volta e ela me olha feio.

— Tudo isso é medo de perder o posto de melhor amigo mais legal do mundo? – Pergunta com uma sobrancelha levantada e eu reviro os olhos.

— Não que eu possa perder isso, mas só pra te lembrar que você me prometeu que só eu seria o seu melhor amigo mais legal do mundo e que eu sempre estaria com você, assim como você comigo. Então não venha com essa carranca por eu estar no seu pé a noite toda quando você me fez prometer coisas que obrigam a isso – Digo com a minha melhor cara de inocência recebendo a melhor cara de choque dela.

— Você é um idiota completo – Murmurar dando outra mordida nos biscoitos e eu me seguro ao máximo pra não rir.

— Precisando, eu sempre estarei aqui sorriso – Digo com uma piscadela e escutamos um arranhar de garganta vindo do pai de Felicity.

— Ok, vamos as regras da noite – Fala se pondo ao lado da tia Donna a nossa frente. Como ele tinha chegado a cozinha sem eu perceber? — Felicity, o Oliver vai aonde você for e você também. Nada de ficar de conversinha com aquele tal de Billy que veio aqui em casa hoje – Diz e eu olho incrédulo na mesma hora para Felicity. Como diabos ele sabia onde ela morava? — Eu não gostei nada dele, então fique a dez metros no mínimo de distância dele.

— Noah! – Tia Donna fala exasperada e ele a olha confuso – É a primeira noite dela em uma festa. Você já colocou o Oliver como um chiclete no pé dela, não estrague o resto da noite deles com essa sua superproteção.

— É errado? – Pergunta e ela o olha feio.

— É Noah, muito! – Fala bufando e vira pra mim e Felicity — Felicity, não deixe o Oliver aprontar nada. Já basta o Tommy e as ideias nada sensatas dele. Oliver, cuide da Felicity e não deixe que ela fique conversando a noite toda sobre o novo evento celestial que estar por vir. Ela está parecendo um cd furado com isso — Diz e eu não seguro minha rizada ganhando um tapa no braço de Felicity – Se divirtam bastante, tenham uma boa virada e esteja aqui em casa antes das três, entendido?

— Sim tia Donna.

— Claro mamãe.

— Ótimo, agora venham aqui pra eu abraçar vocês uma última vez esse ano — Fala e nós fomos fazer o que ela pediu ganhando um abraço forte e muito apertado.

— Donna, eles precisam respirar — Tio Noah fala e ela abranda um pouco o aperto.

— Juízo e se divirtam, ok?

— Claro que sim – Falo me afastando e pego o Casaco branco de Felicity em cima da mesa – Pronta pra me aguentar pelas próximas cinco horas? – Pergunto abrindo o casaco pra ela coloca-lo.

— Eu te aguento desde a minha festa de seis anos, mais cinco horas não são nada – Diz com uma piscadela virando de costas vestindo-o – Mas se você me irritar muito, eu peço pro Tommy ensinar a Thea a te irritar com a música do comercial de brinquedos.

— E é do Tommy que eu tinha que ter medo? – Pergunto irônico e ela ri.

Essa noite estava longe de acabar, assim como esse ano.

~♡~

Não demorou nem vinte minutos para chegarmos na casa de Sarah, que por sinal já estava cheia com o pessoal da escola e mais algumas pessoas que eu não reconhecia. Tommy já estava se divertindo fazendo o seu mais novo passatempo, ficar enchendo a paciência de Caitlin. Essa aí, grudou em Felicity e foram conversar a alguns metros de nós. Isso foi há quase uma hora. Era impossível elas terem tanto assunto assim pra colocar em dia! Por favor, elas se viram hoje de manhã. Nada de hiperincrivel acontece em menos de quatorze horas. Era inacreditável o quanto elas conversavam e ainda tinham assunto.

E por falar em coisa inacreditável, não preciso dizer que Felicity desviou o caminho inteiro do assunto “Billy idiota Malone sabe seu endereço”. Aquilo estava me deixando tão incomodado, que talvez, só talvez, eu fosse atrás dele pra saber como diabos ele descobriu isso. Mas antes eu queria perguntar diretamente pra Felicity. Ela com certeza me daria uma boa explicação pra isso, é claro, assim que ela parasse de conversar sobre sei lá o quê com a Cait.

— Se você olhar com um pouco mais de raiva, vai descobrir quem matou o Kennedy – Tommy fala divertido se jogando ao meu lado no sofá verde musgo da varanda de Sarah.

— E se você calar a sua boca, eu vou poder descobrir como é que o Billy descobriu onde é a casa da Felicity – Falo direto ainda olhando pras meninas e escuto Tommy engasgar com seu refrigerante.

— COMO DIABOS ELE SABE ONDE É A CASA DELA? – Tommy grita chamando a atenção de alguns curiosos ao nosso redor.

— Se eu soubesse, eu já teria dado um jeito nisso – Falo ríspido – Eu não sei como, mas ele sabe. E ela não quer me contar.

— Então como você descobriu?

— O tio Noah disse que ele apareceu por lá hoje. Acho que ele foi convidar ela pra vir com ele, mas como nós dois estamos no pacote e ele não foi com a cara do Billy, estamos a salvo essa noite – Digo suspirando pesado olhando para meus pés.

— Mas eu vi ele por aqui ainda a pouco. Ollie, você sabe que e-

— Ela não vai chegar perto dele, nem a Caitlin. Nem que nós quatro tenhamos que fugir pra outro lugar — Falo e Tommy me olha curiosa e logo seu sorriso aumenta dizendo que sua cabeça está tramando algo – Antes que diga, a tia Donna disse pra ela que eu não podia aprontar nada.

— Que bom, por que você não vai poder aprontar nada, não quer dizer que eu não tenha – Fala e eu lhe olho com cautela – Qual é, Ollie. É uma boa ideia, daí nós vamos pra aquela praia do seus pais que não fica muito longe daqui. Elas ficam longe do Billy idiota Malone, nós fugimos desse bando de gente chata e ainda de quebra passamos a virada só com quem gostamos — Eu tinha que admitir, era uma ótima ideia.

— Não sei Tommy...

— Qual é, eu sei que você está tentado. É só dizer sim.

— Dizer sim pra quê? — Felicity pergunta parando a nossa frente com Caitlin.

— O Ollie e eu estávamos querendo fugir daqui, tomar um milk-shake, comer no big belly, e quem sabe ir pra praia dos pais dele pra passarmos a virada lá. Ouvi dizer que a vista da queima de fogos de lá é muito boa – Tommy fala e Felicity nos encara com uma sobrancelha levantada.

— E porquê eu acho que isso não foi ideia de vocês dois e não só sua? – Tuchê. Bem na mosca.

— Vamos ser sinceros, aqui está um saco. Até mesmo a Sarah estava dizendo isso, e se é disso aqui que vocês querem lembrar da virada, não só do ano, mas literalmente do século, melhor animar mais isso aqui – Tommy fala emburrado e vejo que elas também querem ceder.

— Se, e eu estou realmente falando um se nós fôssemos, o que falaríamos pra Sarah?

— É verdade, ela nos convidou pra passar a virada na casa dela. Seria muita falta de educação – Cait fala e Tommy sorri amplamente andando até elas as abraçando.

— Damos uma desculpa qualquer. Por exemplo, o Ollie pode estar agora com uma crise de diarreia e nós temos que leva-lo pra casa – Fala e eu fecho a cara no mesmo instante enquanto elas começam a gargalhar.

— Eu não vou servir de desculpa pra fugirmos. Principalmente com essa desculpa – Falo indignado e elas riem mais ainda.

— Seja um bom garoto, Ollie. A futura Dra. Snow aqui, vai te levar pra casa e cuidar dessa sua doença horrível – Tommy fala com falso drama e minha vontade é de voar no pescoço dele.

— Então é isso? Nós vamos fugir daqui?

— Vocês vão fugir? Legal, pra onde? – Ray mala Palmer pergunta se intrometendo na nossa conversa. De onde foi que esse ai saiu?

— Pra um lugar que você não foi convidado. Agora se nos der licença, eu tenho que levar essas belas moças daqui, boa noite e não volte sempre – Tommy finaliza com aquele seu sorriso petulante e sai levando as meninas pra saída deixando um Ray confuso a minha frente. Ok Tommy, depois dessa eu deixo você me difamar pra Sarah.

— Eu disse algo de errado?

— Nada mais que o comum – Falo dando dois tapinhas no seu ombro e saio dali o mais rápido possível.

Quando chego na frente da casa de Sarah, explico pro Sr. Diggle o que aconteceu e peço pra ele nos levar pra casa de praia dos meus pais. Felicity e Caitlin pareciam muito animadas com a ideia, o que me estranhava delas sequer terem contestado ou terem colocado algo contra.

Mas se pra elas estava tudo bem, eu quem não iria reclamar.

~♡~

A casa de praia dos Queen’s não era longe, mas ter um trio composto por Caitlin, Felicity e Tommy no banco de trás do carro cantando a plenos pulmões Backstreet Boys não foi exatamente o que eu pensei quando eu aceitei essa fuga da casa de Sarah, muito menos quando eu liguei o rádio do carro. E tenho certeza que não foi o que o Sr. Diggle pensou que faria na sua noite de ano novo.

Quando o carro parou, nós corremos pra areia e ficamos brincando que nem um bando de malucos correndo um atrás do outro. Era por momentos assim que eu amava estar com eles.

Assim que cansamos de correr, Tommy e eu fomos a casa de praia pegar algumas toalhas e comida para nos sentarmos na areia e fazermos um piquenique noturno. Caitlin disse que por mais que tivesse um responsável conosco, nós teríamos que leva-la de volta antes das duas ou então a mãe dela a deixaria de castigo pelo resto da vida.

Comemos algumas besteiras que estavam na dispensa, nada que pudesse realmente matar a fome, mas era só pra passarmos o tempo. Nós brincamos, conversamos e Tommy fez questão de repetir o número musical do carro. Estávamos sozinhos em uma praia, mas não quer dizer que eu não quis me enterrar de vergonha ao ter que ver e ouvir eles cantando daquele jeito.

Quando faltavam cinco minutos pra meia noite, nós já estávamos à um tempo calados apenas olhando pro mar, sentindo aquela paz que estava dando ficar ali. O céu estava claro e a lua iluminava perfeitamente todo o nosso redor. Felicity estava sentada ao meu lado com a cabeça deitada em meu ombro enquanto sussurrava uma música que eu não conhecia.

Eu não era lá fã da cultura pop, ao contrário dela que sabia de tudo do mundo um pouco, então é óbvio que ela conheceria coisas que eu não fazia ideia que existiam. E isso me deixava com medo por ela, medo de acontecer igual quando nos conhecemos e ter alguém querendo arrancar aquele seu sorriso do rosto e dessa vez eu não estar lá pra ajuda-la. Assim como ela estava fazendo agora com o Billy.

— Podemos caminhar um pouco? – Pergunto baixinho somente para ela escutar querendo esclarecer isso de uma vez.

— Claro, vamos — Fala se afastando um pouco e me olhando parecendo confusa. Me levantei o mais cuidadoso que pude pra não jogar areia na toalha que estávamos sentados e estendo a mão pra ela, que aceita se apoiando nela para se levantar.

— Nós vamos caminhar um pouco e já voltamos — Falo pra Tommy e Caitlin que parecem estarem ocupados demais discutindo aos sussurros sobre algo do time de futebol da escola.

Começamos a caminhar pela areia em silêncio ainda de mãos dadas. Não que aquilo fosse algo estranho ou novo, já tínhamos feito isso várias vezes antes, mas nunca em uma praia, não depois da minha mãe ajudar a retirar a mascara dos meus olhos.

Aquilo era novo pra mim. Me descobrir em pequenos detalhes que eu nunca havia parado para perceber, e quando o fazia, me perguntava como não havia percebido antes.

— Você está calado demais. Aconteceu alguma coisa? – Pergunta cautelosa e eu respiro fundo antes de parar em frente à ela.

— Acho que o fato do Billy saber onde você mora é alguma coisa, não acha? – Falo o mais centrado que consigo vendo-a revirar os olhos.

— Você é igualzinho ao meu pai. É inacreditável! – Bufa irritada e eu respiro fundo tentando manter a calma ou então eu faria alguma besteira.

— Felicity...

— Já vi que o assunto é sério. Você só me chama pelo meu nome quando está pra me contar alguma coisa grave – Fala rapidamente e aperta a minha mão na sua.

— Me conhece tão bem – Digo com um meio sorriso me aproximando um pouco mais dela.

— Sou sua melhor amiga mais legal do mundo, lembra? – Fala parecendo orgulhosa disso – O que está te incomodando?

— Já disse, o Billy saber onde você mora. Você sabe que eu não gosto dele, e a fama dele na escola não é boa.

— E você não acha que eu não sei? Oliver, eu não sou idiota. Eu sei o que eu estou fazendo – Fala parecendo estar ofendida.

— Então me fale o que está fazendo? Eu e o Tommy estamos preocupados – Digo acariciando sua mão distraidamente.

— Meu Deus, tanto drama por causa de um livro de literatura? – Fala bufando — Eu esqueci meu livro na sala e o Billy achou. Foi naquele dia em que você e o Tommy colocaram uma aranha gigante no armário da irmã da Sarah – Diz e eu não consigo evitar a rizada por lembrar daquele dia – Não ria, foi muita maldade de vocês dois – Fala empurrando meu ombro.

— A culpa é totalmente dela por ela ter chamado você de loira de farmácia. E aquilo foi ideia do Tommy — Digo dando de ombros e ela revira os olhos.

— Não que você precise saber, mas no meu livro de literatura tem uma foto nossa na casa do Tommy no aniversário da tia Rebeca.

— Aquele que a Sarah queria levar a Ruby com ela ou o que o Tommy jogou bolo na prima irritante dele? – Pergunto e ela ri brevemente.

— O da Ruby, contanto que ela também está na foto. Em baixo da foto, a minha mãe escreveu o meu endereço pra alguma emergência, o Billy viu e foi devolver o livro pra mim. Foi só isso, ok? – Fala e eu me sinto um pouco mais aliviado, mas ainda não totalmente.

— Só mesmo? Ele não disse nada além disso? – Insisto um pouco mais e ela me olha incrédula.

— Eu estou entendendo errado ou você acha que eu tô mentindo pra você?

— Mentindo, não. Omitindo seria o mais correto – Falo cuidadoso e ela continua me encarando — Você sabe que eu não gosto dele e que se ele fez algo que não deveria, eu vou querer ir pra cima dele e depois contar pro tio Noah que vai querer mata-lo com a ajuda do Tommy, e eu dou o total apoio.

— Você é um idiota completo – Fala rindo e eu dou de ombros.

— É o que se acontece quando sua melhor amiga quer fazer novos amigos. É o meu modo de defesa – Digo e ela ri mais ainda.

— Você é maluco – Diz maneando a cabeça em negativo — Mais alguma coisa ou você já pode relaxar? — Fala e eu olho pro meu relógio.

— Bom, faltam trinta segundos pro ano novo. E a não ser que você queira passar a virada correndo pra tentar chegar a tempo nos dois, acho que podemos ficar aqui, o que me diz?

— Eu acho que é uma ótima ideia, Ollie — Fala e eu não consigo evitar de fazer careta. Era no mínimo estranho escutar ela me chamando assim.

— Já lhe disse pra não me chamar assim, é estranho — Falo puxando-a mais pra perto pra abraça-la mas ela me impedi.

— Se você me chamar de Felicity de novo, é do que eu vou te chamar – Diz com uma piscadela ri antes de me abraçar forte e enterrar seu rosto em meu peito.

— Como quiser – Digo passando meus braços por sua cintura beijando seus cabelos e começamos a escutar a contagem regressiva ao longe.

5, 4, 3, 2, 1.

E gritos de Feliz Ano Novo.

Os fogos começaram, mas eu sequer me afastei pra vê-los. Queria ficar ali naquele abraço reconfortante o tempo que eu pudesse e o quanto fosse necessário.

— Feliz ano novo, Oliver — Fala levantando o rosto pra mim.

— Feliz ano novo, sorriso – Digo olhando em seu rosto que refletia as luzes dos fogos.

A lua poderia até ter iluminado a praia à pouco, os fogos poderiam deixar um rastro de luz por toda a areia, mas eu tinha a certeza que era ela quem iluminava o meu caminho.

Eu esperei por esse momento a noite inteira, meu estômago estava revirando dentro de si e minhas mãos estavam suadas. Eu estava nervoso. Não sabia direito o que fazer, mas sabia que eu tinha que fazer.

Respirando todo o ar que eu podia, tomei a coragem necessário e olhei pra ela. Ela estava tão linda ali olhando para o céu iluminados pelos fogos de artifícios que nem ao menos notou a minha confusão interna e externa.

Tentando não parecer mais nervoso do que eu estava, levantei um de minhas mãos até o rosto dela fazendo-a me olhar. Era o momento, eu sentia isso.

Olhando uma ultima vez em seus olhos, fechei os meus colando minha boca na sua no segundo seguinte. E por Deus, sua boca era macia e doce. Melhor do que muitos doces pelo mundo. Um arrepio bom percorreu minha espinha quando suas mãos se apoiaram em meu peito. Aquilo era certo, eu sentia.

Me afastei um pouco querendo ar em meus pulmões, mas logo voltei a beija-la querendo provar mais de seu gosto. Apertei sua cintura contra a minha quando senti suas mãos em meus cabelos me puxando mais pra ela.

Eu sabia que aquilo não era um beijo igual daqueles de novela que as meninas tanto anseiam, eu sequer sabia como beijar alguém. Mas ter o lábios macios de Felicity grudados aos meus, era a melhor coisa que eu poderia ter.

Tudo estava tão bom, tão bem... Mas assim como nas novelas, algo sempre acontece pra atrapalhar o casal, e no nosso caso foi o alarme de um carro que começou a tocar fazendo nós dois pularmos com o susto.

Eu não sabia quanto tempo havíamos ficado nos beijando, mas o céu não estava mais enfeitado com os fogos, mas com as estrelas e a luz da lua. Olho pra Felicity mais uma vez que contem um pequeno sorriso enquanto me olha. E eu sei que estou fazendo o mesmo.

Antes que um de nós possa dizer alguma coisa, o Sr. Diggle aparece dizendo que está na hora de voltarmos.

Eu não sabia direito o que falar ou nem mesmo o que fazer agora. Amigos não se beijam, mas eu já havia tirado essa venda de querermos ser apenas amigos, e eu sentia que ela queria o mesmo que eu. Vendo meu impasse de como deveria agir, Felicity pegou minha mão enlaçando-a na sua e olhou nos meus olhos usando seu mais amplo sorriso.

— Vem, vamos pra casa.