Eu estava sentada no banco do carona do carro de Kouyou, admirando a paisagem que passava depressa por minha janela à minha esquerda, enquanto ele dirigia tranquilamente pelas ruas movimentadas.

Os contornos da cidade mostrava um tom avermelhado de luz solar do poente que davam um chame à minha nova casa. Meu coração estava aos pulos desde o momento em que eu subi no avião em São Paulo rumo a Tóquio.

Agora eu era a nova Assistente Pessoal da minha banda favorita (com isso, eu não estava tão preocupada) do outro lado do mundo (isso me preocupava bastante) e desde o dia em que recebera essa proposta, eu mal conseguia me controlar.

Claro que eu sentiria saudades de casa, da minha família, dos meus amigos... Usei todas as minhas forças pra não pensar nas coisas que eu deixaria pra trás, mas aos poucos elas vinham até mim: jogar RPG com os meninos, ir ao cinema, ver TV com meus pais, conversar com meus irmãos... Eu não conseguia colocar em palavras como eu sentiria falta dos meus irmãos...

Mas aquilo não era uma despedida, eu dizia aos dois, me fazendo de forte, como sempre. Nós nunca conseguimos carregar em nossas mãos tudo aquilo que queríamos e que para realizar um sonho nós tínhamos de fazer alguns sacrifícios e era assim que a vida funcionava, mas nós poderíamos nos falar pelo computador e sobreviveríamos à distância o melhor que pudéssemos.

Mas minha força acabara quando eu me vi sozinha e eu desabei. Eu era só uma menininha assustada e chorona, se fazendo de forte pra não deixar que os outros vissem sua verdadeira face por baixo da máscara, que agora estava sozinha e não tinha certeza se daria conta de seguir o caminho que tinha acabado de escolher...

Enquanto minha mente continuava voando longe, Kouyou entrou na garagem do apartamento e eu tive de retornar à realidade para ajudá-lo a descarregar minha bagagem do carro para subirmos para nosso andar.

- Bem vinda a sua nova casa – ele disse com empolgação, me puxando para seus braços enquanto subíamos de elevador e eu me apertei bem forte em seu abraço. Seu corpo era minha força agora! E eu não podia deixá-lo perceber que eu ainda estava com a sensação de saudade de casa... Ele estava tão feliz com minha chegada...

- É tão bom estar aqui com você – beijei seu peito, deixando que seu sentimento me contagiasse.

Entramos no apartamento e eu sorri com aquela imagem... Eu amava aquele lugar mais do que qualquer outro que tivesse conhecido em 25 anos... Meu sorriso aumentava conforme eu caminhava pela casa, admirando cada detalhe enquanto levava minhas coisas para o quarto... Meu novo quarto!

Eu abri uma das malas, para começar a arrumar tudo, mas Kouyou me puxou para cama, me impedindo, com seu sorriso brincalhão desenhado naquele rosto tão amado.

- Depois você faz isso! – ele disse, ficando sobre mim, deitado e eu dei risada. Ele estava mais empolgado do que eu já tinha visto.

Suas mãos deslizaram lentamente por meu rosto e me puxaram gentilmente até o seu, unindo nossos lábios, cheios de saudades. Eu não conseguia dizer quanta saudade eu tinha sentido dele, daquele carinho, daquele beijo, daquele toque, de tê-lo só pra mim... Era tão doloroso ficar longe dele, que eu tentava com todas as forças não pensar muito pra que fosse mais fácil, mas não era de maneira nenhuma e eu precisava dele mais do que de respirar! Ele era meu motivo pra deixar tudo pra trás sem pensar nas consequências, sem pensar na dor... Kouyou era a razão da minha vida e eu faria qualquer coisa pra tê-lo pra sempre ao meu lado! Eu faria tudo! Ele me trazia vida nova e uma vida que eu queria viver plenamente, com ele eu podia ser quem eu queria ser!

- Eu nem acredito que você está aqui! – ele sussurrou em meu ouvido, beijando meu pescoço lentamente, me fazendo sorrir.

- Eu também não estou nem conseguindo acreditar! – apertei bem forte meus braços em torno de seu corpo, beijando seu peito e seu pescoço até onde eu alcançasse.

Seus lábios tornaram a se colar aos meus, com cada vez mais sede e voracidade e todo o meu corpo reagiu àquele beijo. Nós nos puxávamos e era quase como se nossos corpos estivessem tentando se fundir num só. Mal nos afastamos quando nosso ar finalmente acabou.

Seus olhos estavam fixos em mim e eu bebia e me deleitava de sua imagem perfeita que parecia saída dos meus sonhos mais secretos da adolescência. Seu sorriso era a coisa mais perfeita que alguém poderia imaginar e eu não me cansava dele, nem via uma maneira de algum dia vir a me cansar...

Estávamos em completo silêncio, por todo aquele tempo, mas de maneira alguma era aquele tipo de silêncio desconfortável e constrangedor, muito pelo contrário! Kouyou e eu nos comunicávamos em silêncio, lendo um dentro dos olhos do outro. Naquele momento, todo nosso corpo falava: as mãos unidas, as pernas entrelaçadas, os olhos conectados, os sorrisos escancarados... Nada mais precisava ser dito.

Ele se deitou ao meu lado e me virou gentilmente para que pudéssemos ficar frente a frente, nossos sorrisos tornando a se abrirem ao se encontrarem mais uma vez. Seus braços me estreitaram em seu peito e seus lábios se colaram carinhosamente em minha fronte. Eu sentia que poderia ficar ali até o fim dos meus dias, sem precisar me mover.

- Ah... – ele começou hesitante e eu ergui meus olhos para encará-lo. – Eu consegui... Convencer os outros a deixarem sua... Festa de boas vindas para amanhã... – eu ergui as sobrancelhas, prendendo a respiração.

- Festa de boas vindas? – repeti, quase apavorada e ele riu, beijando minha testa.

- Nada demais – ele me assegurou, achando muito graça de meu desespero. – Só um jantar... Eu, você, Yutaka, Mari, Akira, Takanori e Yuu! Não precisa se preocupar!

- Tudo bem, então – eu dei risada.

- Mas então – ele tornou a falar depois de uns instantes de silêncio, parecendo confuso com minha resposta. – Eu disse a eles que era melhor fazer isso amanhã... Porque você estaria muito cansada da viagem... – ele parecia temer que eu discordasse ou que brigasse por ter tomado a dianteira da situação sem me perguntar nada...

Eu realmente estava cansada da viagem, mas um jantar não seria difícil de encarar... Esperei que ele continuasse a falar, mas Kouyou me encarava sério, parecendo verdadeiramente preocupado com minhas reações.

- Obrigada por se preocupar – acariciei seu rosto e ele beijou minha mão, rindo.

- É mais do que isso... – ele tornou a hesitar. – Eu não deixei que a esta fosse hoje por que... – ele mordeu seu lábio inferior, ponderando sua confidência mentalmente, seus olhos fixos nos meus, tentando adivinhar o que eu pensaria da verdade. – Porque eu queria que fosse só minha esta noite...

Eu sorri e puxei seu rosto para o meu, beijando seus lábios tão doces e deliciosos, apaixonadamente. Quão linda era aquela declaração? Meu coração batia tão forte que eu não podia mais ouvi-lo dentro de meu peito...

- Eu quero aproveitar... A última noite que você vai ser inteiramente só minha! – ele sussurrou contra meus lábios e eu afastei nossos rostos, encarando-o, sem entender.

- Como assim última noite? – perguntei, preocupada.

- Amanhã você vai ser a Assistente Pessoal da banda – ele explicou, solenemente. – Vai cuidar de nós cinco... Não apenas de mim... E eu conheço aqueles quatro bem demais pra saber o que isso significa. Nem mesmo aqui dentro você vai ser só minha, porque, se qualquer coisa, por mais imbecil que seja de resolver, acontecer, um deles vai te ligar desesperado, não importa a hora do dia ou da noite e você vai ir ajudá-los! – ele deu risada para descontrair o momento. – Eu não me importo! Nem poderia, afinal, eu sou o Senhor Inabalável! – nós dois rimos. – E eu fiz de você a Senhora Inabalável! Eu adorei que veio trabalhar conosco e tenho certeza de que você vai se sair muito bem! Mas eu tenho consciência de como vai ser trabalhar com você e exatamente por isso que eu quis que hoje fosse só sobre nós dois! Porque amanhã eu vou apoiar a Assistente Pessoal! Mas hoje eu quis ser egoísta! – eu tornei a sorrir apaixonada e trouxe seu rosto mais uma vez para o meu.

- Eu sei que não vai ser muito fácil pra você me dividir com eles, Kou... Mas eu também sei que você vai me ensinar como separar a Assistente Pessoal de mim mesma! Eu prometo me esforçar pra aprender bem depressa! – ele gargalhou, gostosamente. – Não quero que essa seja a nossa última noite... Eu vim pra cá, pra que pudéssemos ter muitas noites! Eu vim pra cá pra que pudéssemos ter muitas noites! Eu vim pra cá porque eu sou só sua! E eu não quero ser menos do que isso!

- Esse é meu desejo também! – ele uniu nossos lábios apaixonadamente.

- Eu esperei a vida toda pra conseguir chegar aqui – sussurrei contra seus lábios. Ele sorriu.

- E eu vou passar a vida toda me esforçando pra você não desistir de ficar!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.