Prólogo

Muitos anos no futuro, quando o espaço mais longíquo havia sido explorado pelos mais bravos, dezenas de sistemas se uniram em um Império só. Tal Império, governado pelo grandioso Zeus, estava em paz e tinha sua ordem mantida com muito esforço... Até que forças das trevas, forças negras do coração, começaram a assolar galáxias próximas através do rosto de uma mulher malígna, a bruxa maldita.

Zeus não imaginava que o terror daquela mulher chegaria a capital de seu Império intergalático, o Olimpo, até que um homem humano criou um monstro com vida e ameaçou a paz.

Reconhece então teu crime de criar a vida artificialmente?

A voz soou durante o julgamento do homem, que era assistido por quadrilhões de seres. Há dois dias, o cientista havia sido pego com sua criação monstruosa, atendendo pelo codinome de Pinóquio. Ninguém imaginava que um velho como aquele, pálido, magro e fraco, havia sido capaz de tamanha maldade. Imediatamente após sua captura, ele fora setenciado à execução.

- Suas últimas palavras, Gepeto? – o carrasco falou, tossindo seu escarro para fora, enquanto saltitava de satisfação ao redor da cadeira em que o velhinho estava sentado.

O velho manteve-se cabisbaixo, não deixando que ninguém observasse seus olhos na arquibancada que o rodeava, ou através da exibição ao vivo para todos os cantos do Império de Zeus. Há cerca de 50 anos, quando o Grande Senhor unificou os reinos intergaláticos, as medidas de segurança tornaram-se severas, o que incluía a exibição de julgamentos mais severos para servir de exemplo – que sempre eram realizados na Capital, e um estádio gigante com telas enormes e hologramas para tornar mais real para quem assistia de longe.

Você é um monstro!” berravam de todos os lados, ao redor de Gepeto. “Merece morrer!” gritavam também. “Sujo! Aberração! Matem a aberração!”.

Gepeto olhou com calma para seu lado, fitando o corpo metálico do boneco causador de tudo. Pinóquio era pequeno e frio em seu olhar vermelho para o horizonte. Já não era mais o mesmo boneco que o velho havia criado.

- A culpa não é sua. Eles não sabem o que aconteceu realmente, meu filho. – Gepeto murmurou com a voz rouca.

O boneco olhou com seus enormes olhos de íris vermelhas e ar tenebroso.

- Todos irão morrer, papai...

Vários aplausos soaram no estádio, quando o holograma de Zeus se fez no alto. Era um homem grande e musculoso de cabelos cacheados brancos e barba lisa sobre o queixo grande e robusto. Ele levantou os braços, causando silêncio antes de falar:

- Silêncio. Este homem, Gepeto, hoje será executado por sues crimes contra o Império e contra a paz universal.

Muitos urros e vaias ecoaram por quilômetros de extensão, mas Zeus não esboçou satisfação ou felicidade, ao contrário de seu irmão e conselheiro, Hades, que comemorava ao seu lado com entusiasmo jubiloso.

Os telões e hologramas mostraram então o rosto de Gepeto, enquanto o carrasco o fazia levantar com um puxão violento.

- Suas últimas palavras, monstro? Não fale que é inocente, é o que todos dizem. Vimos as provas agora... – disse o carrasco, rindo antes que puxasse um bonequinho que berrava com voz fina – Vou protestar! Vou negar! Protestei! Chega!

- Eu tenho algo a dizer. – Gepeto murmurou, interrompendo o monólogo do carrasco. Com calma, ele deu um passo a frente, enquanto o silêncio começava a ensurdecer aos presentes, todos furiosos e curiosos. O pobre velho soltou um suspiro, erguendo a cabeça sem voltar a olhar para sua criação. – Uma estrela brilhará a partir da minha morte. A única estrela que brilhará em todos os céus, mas ninguém a alcançará. Quem quiser realizar tudo aquilo que sonhar, basta olhar no céu a estrela que passar. Se você não sabe bem o que vai acontecer, essa estrela tudo poderá fazer.