Data Terrestre: 15 de Julho.

Laura gostaria de dizer que estava aproveitando a festa intima de casamento de Christine e que não estava preocupada com o fato da garota estar fazendo isso escondida da mãe. Em Las Vegas.

Claro que ela não estava calma e ter passado as últimas três horas depois da cerimônia ouvindo Christine, Claire e Nate falando tão abertamente sobre sexo não era nem um pouco mais reconfortante. Especialmente por que eles não se faziam de rogados com relação a detalhes e o único alivio de Laura era que nem Andrew ou Alexis parecia confortável com a conversa.

—Podemos por favor parar com esse assunto? –Laura viu Andrew tentando apagar seu cabelo, que havia ficado em chamas pela sexta vez em uma hora.

—E o que a gente faz se parar de conversar Andy? –A morena sentiu pena do rapaz diante do olhar cheio de intenções de Christine para ele.

—Podemos curtir o resto da noite sozinhos. –Ele resmungou vermelho de vergonha.

Christine piscou duas vezes e então gritou assustando Laura e os demais.

—Tudo bem, vamos.

E sem mais nenhuma palavra ela saiu puxando o marido para o elevador.

—Coitado dele. –Claire riu.

—Nem me fale. –Nate também ria, mas logo olhou para Alexis. –Acho que podemos ir por hoje, não acha?

A loira russa pareceu não conseguir respondeu, mas acenou confirmando e segurou na mão de Nate quando o garoto a chamou.

Laura notou que haviam ficado apenas ela e Claire no restaurante do hotel.

—Está ficando tarde mesmo, vamos subir?

A morena não estava muito segura de ir com Claire para o quarto que dividiriam, especialmente por que teriam que dividir a mesma cama e aquilo não saia da sua mente a várias horas.

Se pelo menos Laura não estivesse presa no último encontro delas no fim de semana anterior seria fácil, mas não era nada simples para a garota esquecer que ao voltarem para o Instituto depois de uma noite inteira dançando, ela e Claire começaram um beijo (outro dos beijos supressa da loira) que terminou só quando a morena se deu conta que tinha tirado a camiseta da mais nova. Pior era lembrar que isso só aconteceu por que não rasgou a maldita camiseta como a loira fez com a sua.

—Você parece que vai enfartar a qualquer minuto, sabe como isso é estranho? –E ouvir isso de Claire não ajudava.

Mas ainda que não deixasse transparecer a loira também estava um pilha de nervos e ter que dividir a cama com Laura não ajudava no seu fraco auto controle sexual.

Antes que a morena pudesse falar algo Claire abriu a porta do quarto e entrou no banho, o que fez a mais velha ficar confusa, por que a loira sempre dava um jeito de beija-la quando ficavam a sós em algum cômodo. Mesmo achando estranho Laura decidiu não pensar muito naquilo e separou a roupa limpa para depois do banho.

Não demorou Claire saiu do banheiro trocada e sentou ao lado da janela em silêncio, o que incomodou Laura mais do que gostaria. A morena pegou sua roupa e foi para o banheiro, mas tudo que Claire fez foi continuar olhando a cidade enquanto respirava lenta e controladamente.

A loira não se move um único centímetro, o que assustou Laura quando ela saiu do banheiro dez minutos depois, era como se a mais nova não estivesse ali. A morena se aproximou da janela e se inclinou na direção de Claire tocando o seu rosto.

—Tudo bem?

—Só quero observar a cidade um pouco.

Laura olhou de relance para a vista, mas não entendeu.

—Aconteceu alguma coisa?

Claire fechou os olhos e desviou o olhar da morena.

—Não, só estou sem sono.

—Mentirosa. –A loira encarou Laura curiosa, a morena estava perto demais e isso não era bom. –Você trabalhou a madrugada inteira e não dormiu durante o dia, mal cochilou por duas horas e você mesma disse que precisa dormir depois de turnos longos. O que aconteceu?

Claire não falou nada, apenas respirou fundo e beijou Laura como se o resto não importasse, o que realmente não importou, até a morena sentir as mãos da loira dentro da sua camiseta.

Laura se afastou tão rápido quanto o beijo havia começado.

—O que você...?

Claire levantou sem dizer uma palavra, pegou um conjunto de moletom, entrou no banheiro, trocou de roupa, pegou a carteira e quando estava abrindo a porta sentiu a mão ser puxada por Laura.

—Aonde você vai?

—Vou dar uma volta.

—Por que?

—Por que eu preciso transar e se eu ficar perto de você vou fazer merda. –Laura olhou surpresa para Claire e se afastou um passo. –Eu te falei aquele dia que eu gosto de sexo e não estava brincando, mas eu também gosto de você e... Faz um bom tempo desde a última vez que eu fiquei tanto tempo em abstenção sexual.

—Quanto tempo?

—Desde que eu transei pela primeira vez a quase dois ano nunca fiquei mais do que quinze dias sem sexo. –Laura pereceu surpresa em saber que Claire sempre teve um parceiro ou parceira nos últimos dois anos. –Isso não é problema seu, é meu, e a gente tá indo, então... Olha, eu só não posso ficar perto de você agora. –A loira suspirou cansada. –É melhor você ir dormir, eu volto mais tarde.

E sem dizer mais nada Claire saiu do quarto deixando Laura mais confusa que antes.

==========X==========

Claire havia falado que ia dar uma volta, mas o mais longe que ela se sentiu bem para ir foi o bar do hotel e estava ali bebendo tudo que sua identificação especial da Shield permitia.

—Você não parece ser afetada pelo álcool mocinha, é mutante por acaso?

Claire riu da pergunta do barman enquanto ele servia outro copo de whisky.

—Acho que essa é a explicação mais simples.

O barman pareceu surpreso.

—Pode ser mais complicado que isso?

A garota gargalhou.

—Muito, mas não se preocupe, uma parte dessa complicação é que o álcool não me afeta, mas ainda posso saborear.

—Os benefícios sem os efeitos colaterais. Saiu ganhando.

Claire deu um sorriso fraco, por que não era bem um ganho e haviam efeitos colaterais, só não os comuns. Ela iria comer muito depois para compensar o que estava forçando o seu corpo a fazer.

—Você é bonita.

Ela virou para o lado e viu uma mulher ruiva de uns vinte anos sentada ao seu lado. Claire não precisava se esforçar para notar que a ruiva estava flertando com ela, suspirou cansada da ideia que ter que dispensar alguém depois da conversa com Laura. Dispensar alguém era sempre cansativo fosse homem ou mulher.

—Ah, muito obrigada. –Sorriu de forma educada para a mulher. –Você também é bonita. –Voltou a sua atenção para o copo de whisky a sua frente e virou o conteúdo, impedindo o barman de encher novamente. –Vamos tentar a vodca. –O homem riu, mas serviu a nova bebida.

—Então, está sozinha? –A mulher era insistente e Claire não gostava de gente insistente quando era óbvio que não havia química alguma.

—Viagem em grupo, só vim aqui relaxar antes de ir dormir.

—Gostaria de companhia?

—Eu já tenho companhia.

A mulher pareceu momentaneamente desapontada.

—Alguma chance de te convencer a fazer uma troca por hoje?

—Não, mas acho que você vai encontrar alguém interessante para te acompanhar.

A mulher suspirou vencida.

—Sua companhia deve ser interessante pra você estar tão determinada a não ceder em nada as minhas investidas.

Aquele comentário fez Claire sorrir de verdade.

—É, ela é.

—Enfim, até um dia, quem sabe.

A garota acenou um adeus e virou o copo de vodca deixando a gorjeta no balcão.

Precisava mesmo deitar e esperava que Laura já estivesse pelo menos fingindo que dormia, evitaria outra rodada da conversa de antes.

==========X==========

A primeira coisa que Laura fez quando Claire saiu foi respirar.

Ela não havia notado que estava segurando o folego até a loira sair e de certo modo aquilo havia a decepcionado muito. Mais uma para a lista das coisas surpreendentes, novas e confusas que vinha acontecendo desde que conheceu Claire.

Laura sabia que a mais nova não iria longe, provavelmente para o bar, o restaurante ou o cassino, sabia disso por que era o que fazia sentido com a personalidade cuidadosa e protetora de Claire, fazia sentido com o que perguntou sobre a loira para todos que não iriam fazer perguntas em excesso.

A morena sentou no lugar em que Claire estava para “observar a cidade” e ficou pensando o que diabos deveria fazer sobre tudo aquilo. Sentia como se os pensamentos em sua cabeça fossem um quebra cabeça e ela não tinha nenhuma imagem de referência para poder tentar montar.

Sabia que gostava de Claire e não era como amiga, sabia que queria beija-la mesmo sem coragem de tomar a iniciativa e sabia que queria abraça-la com força até que não houvesse espaço capaz de separa-las.

Sentia um desejo crescente de tocar o rosto e as mãos da loira sem nenhum motivo, gostava de ouvir a voz dela ao ler um livro ou um texto qualquer e de vê-la arrumar o cabelo atrás da orelha enquanto desenhava ou lia em silêncio.

Todos aqueles pequenos detalhes sobre Claire faziam o coração de Laura se agitar de uma forma quase dolorosa em seu peito de tão feliz que ficava de estar perto da loira. Para a morena, cada um daqueles pequenos momentos eram tão bons que ela apenas queria que durassem mais a cada dia.

E ainda tinha o fato de que já fazia semanas que vinha sonhando com Claire e, para o seu desespero pessoal, a maioria eram sonhos nada inocentes.

Depois de tudo que Claire havia falado, e que Laura sabia por ter conversado com Christine (ou seria, ter sido obrigada a ouvir?), estava mais do que ciente que Claire não era a única das duas sem sexo a mais de um mês. Para piorar a sua situação também não era adepta do celibato, muito pelo contrário.

Pensar sobre tudo aquilo estava apenas deixando Laura mais frustrada.

Por que era tão difícil gostar de alguém?

A morena foi tirada de seus pensamentos pelo barulho da porta abrindo, mas não se moveu, apenas esperou Claire passar pela porta e quando a mesma fechou a garota notou Laura sentada e pareceu em dúvida do que fazer.

Dessa vez Laura levantou e seguiu até Claire segurando a sua mão com força, mas nenhuma delas falou nada por alguns segundos.

—Não saia mais assim. –Claire assentiu. –E pare de pensar que eu não entendo o que está sentindo, eu só não consigo falar.

A loira sorriu.

—Tipo sobre sexo?

Laura sentiu o rosto queimar e desviou o olhar, o que fez Claire rir.

—Eu só... –As palavras ficaram presas na garganta de Laura que deu um leve apertão da mão da mais nova.

—Tudo bem. –Laura encarou Claire. –Se for o caso, apenas me empurre.

Claire beijou Laura sem se importar muito se a garota iria ou não gostar do beijo, apenas começou e esperou pelo empurrão que deveria vir em algum momento entre o começo e a continuação, mas dessa vez o empurrão não veio.

Dessa vez Laura apenas se permitiu não escutar nenhuma das suas preocupações. Isso viria mais tarde.

==========X==========

Quando Laura acordou seu corpo doía.

E além da dor sentia algo estranho sob seu corpo.

Abriu os olhos e se deparou com o quarto levemente iluminado por alguns raios de sol que passavam pela janela, mas nada demais.

Demorou quase um minuto inteiro para perceber que estava nua sob o lençol e olhar para os lados, dando de cara com Claire também sem roupas dormindo de lado e a mão dela era o “algo estranho” debaixo do seu corpo.

A mão da loira estava na cintura de Laura, mesmo quando a loira revirou na cama aquela mão parecia servir de ancora para o quanto de movimento a garota faria.

A morena levantou indo até a camiseta na beira da cama e foi quando Claire se virou novamente na cama, terminando de bruços com quase metade do corpo pra fora da cama. Laura sorriu e se aproximou da loira tocando seu ombro, o que a acordou.

—Oi, tudo bem?

—Sim, mas você vai cair da cama assim.

—Ah. Desculpe, eu tenho o sono agitado mesmo quando não estou sonhando.

—Percebi.

Claire levantou e Laura ficou sem jeito com a naturalidade com que a garota permanecia nua, mas a loira notou o que aconteceu.

—Pode me passar a camiseta ali. –Claire apontou para a mala e enquanto a morena pegava a camiseta ela achou sua roupa intima do lado do travesseiro. –Achei que tinha ido parar em outro lugar.

O comentário fez Laura corar, por que sua roupa intima estava nos pés da cama quando encontrou.

Claire terminou de vestir a camiseta e voltou a deitar puxando Laura consigo.

—Vamos apenas dormir, eu estou cansada.

—Tudo bem. –Laura não conseguia pensar em mais nada para dizer, não apenas por estar cansada, mas pelo contado tão direto entre ambas.

A morena percebeu então que não precisava mais se questionar sobre aquilo, estava bem e com quem gostava, o resto, as partes que poderiam ser complicadas... Bom, essas ela deixaria para quem quisesse pensar, estava bem com o que tinha e depois, quando Claire estivesse descansada, elas poderiam conversar melhor.

Então Laura apenas deixou a mais nova a abraçar pela cintura e logo voltaram a dormir.

FIM

A história de Claire e Laura continua em All Different World.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.