When Smiled You Knew

I hate to see your heartbreak


Marius e Combeferre ajudaram Enjolras a passar pela porta. Ele estava sério e se sentiu pior quando entrou em seu apartamento e viu uma grande faixa escrito “Soyez les bienvenus”. Tudo o que ele queria era ficar sozinho mas pelo visto os Amis não estavam a fim de deixá-lo ficar em paz. Sabia que aquilo tudo tinha sido obra de Éponine,Cosette e Jehan. Quando tudo aquilo acabasse ele precisaria ter uma conversa séria com a namorada sobre a comemoração.

–Tudo bem, eu consigo me virar daqui.- Enjolras praticamente rosnou se soltando dos amigos.

–Nosso líder está de volta!- Gritou Grantaire feliz.

Enjolras fechou os olhos, sentindo dor na perna quando tentou andar.

–Você pode fazer o favor de não gritar?- perguntou cerrando os dentes.

–Como senti falta desse mal humor. Deixa que eu te ajudo.

–Não precisa, Grantaire. Eu não sou um invalido.

–Nunca disse que é. Só quero te ajudar.- respondeu magoado pelo jeito que Enjolras falou.

Enjolras soltou um suspiro pesado.

–Bem, não preciso de ajuda.- falou rude se apoiando na parede.

–Enjolras!- Éponine estava saindo da cozinha, com uma bandeja nas mãos e o repreendeu ao ouvir seu tom com o amigo.- Não custa nada ser gentil.

–E não custa nada você me deixar em paz.- rebateu se arrastando para o corredor,indo em direção ao quarto,ignorando os Amis que estavam parado em sua sala. Sabia que estava sendo injusto com eles e ingrato, mas não pode evitar, não estava em clima de comemorações.

Não havia nada para comemorar.

Ao abrir a porta do quarto ouviu um leve miado e encontrou seu gato enrolado na cama. Quando ouviu o barulho,o animal levantou a cabeça e encarou o dono, então saltou da cama e foi se esfregar nas pernas dele.

–Senti sua falta também, amigo.- Enjolras murmurou tentando se abaixar para fazer carinho na cabeça do gato que parecia impaciente por uma caricia. Ao perceber que não conseguia se abaixar,soltou um tipo de rosnado que assustou o gato que o olhou assustado.- Eu estou bem, Bolinha, só preciso me sentar um pouco.

Ainda se apoiando nos moveis, andou ate a cama onde se deixou cair. Finalmente estava em sua própria cama! Por um momento achou que iria chorar de felicidade,porém concluiu que deveria deixar suas lagrimas de felicidade para um outro motivo.

Fechou os olhos admirando os barulhos que entravam através das paredes de seu quarto. Era capaz de ouvir o movimento da rua: carros,sirenes,inclusive as pessoas gritando. Ouvia também o barulho de conversas que vinha da sala,junto com a musica. É claro que eles não iriam acabar com uma festa só porque ele havia deixado bem claro que não queria uma. Como sentira falta de todos esses barulhos.

Sentiu Bolinha subindo em seu peito e tocando seu rosto com a pata delicadamente,como sempre fazia quando queria acordar Enjolras para lhe dar comida.

–Será que eu só sirvo para você para lhe alimentar?

–Enjolras!- a porta se abriu abruptamente e a voz dura de Éponine preencheu o quarto. Abriu os olhos e a encarou, sua expressão dura como sua voz.- Era de se esperar que a experiência de quase morte fosse te deixar mais amável... porém foi totalmente ao contrario.

–O que você esperava que eu fizesse? Saltitasse? Se você não percebeu isso é meio impossível no momento.- respondeu irônico.

–Não venha com ironia comigo, Enjolras. Não agora. Isso foi uma total falta de educação. Você quer saber o que eu queria que você fizesse?- Éponine perguntou tentando controlar a voz para não gritar com o cabeça dura que Enjolras era.- Eu queria que você fosse grato pelos amigos que tem, amigos que não descansaram um minuto enquanto você estava mal. Eu queria que você não tratasse o Grantaire mal,pelo menos uma vez. Você sabe como a culpa o corroeu nesse tempo? Ele acha que você quase morreu por culpa dele!

–Não foi...culpa dele.

–Eu sei que não! Mas ele não sabe. Eu queria que você olhasse para a filha da Augustinne e do Combeferre e mesmo não gostando de crianças a pegasse no colo, nem que fosse para segurá-la como se fosse algo toxico que você tem medo. Queria que mesmo com dor e cansado você fingisse estar feliz pelo que seus amigos prepararam, que você se sentasse e ficasse um pouco e depois educadamente anunciasse que gostaria de descansar. Ninguém iria se importar!

–Fingir não é comigo.- Enjolras respondeu levantando as sobrancelhas.- E eles não se importam. Continuam aqui mesmo que eu tenha deixado claro que eu não os quero aqui. Na verdade eu não quero ninguém aqui.- e Enjolras não satisfeito deu a cartada final.-Eu nem quero você aqui.

Éponine abriu a boca para rebater mas então o que ele havia dito lhe atingiu. E assim que percebeu o que tinha soltado Enjolras se arrependeu profundamente.

–Éponine eu...- Enjolras começou porém Éponine estava com aquela cara dela de quem estava furiosa ao mesmo tempo que sentia seus olhos arderem.

–Não se preocupe, não irei ficar aqui se você não deseja. Talvez queira que eu ligue para Thaís, já que são tão amigos.

–Éponine não foi isso que eu quis dizer... eu...

–Foi exatamente o que você quis dizer seu idiota.

E Éponine saiu batendo a porta e Enjolras ficou ouvindo seu pisar duro no corredor. Será que Enjolras não aprendia nunca? Quis seguir Éponine mas sabia que não seria uma boa hora, então permaneceu no quarto.

Depois de um tempo o apartamento mergulhou em um silencio absoluto. Quanto tempo dormira? Procurou o relógio que ficava ao lado da cama porem ele estava desligado.

Bolinha miava olhando para porta e com dificuldade,ainda sentindo dores, Enjolras se levantou e abriu a porta. Devia ser madrugada,já que o apartamento estava escuro. E aparentemente vazio.

Saiu se apoiando nas paredes,para se guiar e também porque não tinha forças para andar sozinho. Encontrou o interruptor e o ligou, acendendo a luz da sala.

Bem nesse momento a porta do apartamento se abriu e Éponine entrou, usando seu casaco pesado de inverno,o rosto vermelho que denunciava que havia bebido. Ainda ria de alguma coisa enquanto deixava o casaco pendurado no cabideiro.

Seu rosto se fechou ao encontrar Enjolras parado a encarando.

–O que está fazendo fora da cama?- questionou ríspida,tirando os sapatos sujos de neve e os deixando em um canto.

–Eu... eu acordei com sede e vim atrás de água.-explicou.

Olhou ao redor e a faixa ainda estava ali, assim como garrafas de cerveja que foram amontoadas na mesinha de centro.

–Onde você estava?- foi a vez dele perguntar. Estava realmente curioso para saber onde ela tinha ido. Andou com dificuldade e se sentou no sofá,sentindo uma fisgada na perna,que o fez morder a parte interna da bochecha.

–Saí para beber com os Amis.- respondeu simplesmente, trazendo um copo de água para Enjolras.- Já que você deixou bem claro que não queria nossa companhia aqui.- Enjolras pode perceber que a voz de Éponine saíra e um tom magoado.-Você está bem? Ta doendo alguma coisa? Quer ir para o hospital?

–Eu to bem, Éponine.- Enjolras a acalmou segurando em seu pulso.- Só acordei com sede e vim pegar um pouco de água... Achei que você tinha ido embora.-confessou,se sentindo meio envergonhado.

Éponine ponderou por uns instantes.

–Eu pensei em ir embora.- Éponine falou indo para a cozinha.- Porém não podia te deixar sozinho. Tem horários para você tomar remédio e preciso te ajudar com os curativos.- gritou- Desculpe, eu deveria ter deixado água para você no quarto. Quer comer alguma coisa?- colocou a cabeça para fora. Enjolras assentiu e Éponine sumiu na cozinha novamente, fazendo bastante barulho.

–Então...- Enjolras não sabia o que falar,apenas não queria para de conversar com Éponine.- Vai dormir comigo?

–Não sei. Aparentemente você não me quer aqui- respondeu ríspida dando um pote nas mãos do namorado.

–Éponine... você sabe que eu falei aquilo porque estava nervoso.- se justificou enquanto abria o pote e encontrava uma salada de frutas ali. Não era exatamente o que ele tinha em mente.

–Sei,sei. Esse é seu problema, você fala as coisas quando esta nervoso e geralmente é nessas horas que falamos a verdade. Agora coma que eu to querendo dormir. E você esta sentado na minha cama.

–Você pode ir deitar...

–Vou trocar de roupa. Coma.- ordenou enquanto se levantava e ia em direção ao corredor. Estava ferrada da vida com a atitude de Enjolras ao mesmo tempo que o entendia... mais ou menos. Mas não podia deixar ele continuar agindo daquele jeito. Iria sobreviver à uma noite mal dormida no sofá.

Voltou instantes depois, usando um moletom e uma camiseta branca de Enjolras, segurando travesseiros e cobertores.

–Peguei uma camiseta sua, espero que não se importe.- anunciou ao deixar as coisas no sofá.- Terminou de comer? Vamos eu te ajudo até o quarto.

Estava passando o braço de Enjolras pelos seus ombros e dessa vez ele não reclamou. Ele era pesado demais para Éponine,mas ela fez um esforço enorme para conseguir chegar ate o quarto.

–Você sabe que eu te amo, não sabe?- Enjolras perguntou e Éponine o fuzilou com o olhar.

Desgraçado!

–Isso é golpe baixo, Enjolras.- murmurou o sentando na cama.- Eu estou brava com você.

–Mas você sabe, não?- continuou insistindo como uma criança.- Então se sabe, também sabe que eu não estava falando sério.

–Ah, Enjolras.- Éponine o olhou passando a mão nos seus cabelos.- Eu te amo tanto, mas você tem que parar de ser assim.

Se inclinou e postou um delicado beijo nos lábios do loiro. E tudo o que ele queria naquele momento era que Éponine se deitasse ali para que ele pudesse aspirar seu cheiro quando a abraçasse.

–Vai dormir aqui?

–Essa noite não. Fique aqui pensando nos seus atos. E pela manhã,espero que peça desculpas para os seus amigos.- respondeu se retirando do quarto e fechando a porta atrás de si.

[...]

Logo as aulas voltaram e mesmo com Éponine insistindo para que Enjolras se aquietasse, ele bateu o pé dizendo que queria voltar para faculdade e que ela deveria fazer o mesmo.

Começou a usar uma bengala para lhe auxiliar,já que a perna ainda o incomodava, mesmo com os incontáveis remédios que tomava e a fisioterapia.

Assim a vida dos Amis voltaram ao normal... ou quase.

Enjolras parou de frequentar as reuniões no Musain e de querer se envolver com qualquer outra coisa. Ia do apartamento para a faculdade e voltava. As vezes aparecia no escritório onde estava trabalhando apenas para pegar mais trabalho e levar para casa. Ficava ate tarde estudando as papeladas ou fazendo os trabalhos da faculdade.

Então a neve então se foi, dando lugar para a primavera.

E os Amis ficavam cada vez mais preocupados com o seu líder.

–Mon Dieu!- Grantaire comentou.- Quando Enjolras vai cortar o cabelo? Daqui a pouco vou estar confundindo ele com a Cosette.

Éponine fez um estalo com a língua, parando de ler o livro em suas mãos para olhar o namorado que estava prendendo o cabelo atrás da orelha, enquanto conversava com um grupo de pessoas.

–Já tentei fazer ele cortar o cabelo mas não sei... parece que ele perdeu o pouco de vaidade que tinha.

Courfeyrac deu um sorriso.

–Tenho uma ideia.- e se levantou saindo correndo. Éponine e Grantaire se olharam e deram de ombros, voltando a prestar atenção em seus respectivos livros.

Grantaire estava mais animado do que nunca com a faculdade. Ficava horas se deixassem,falando sobre cada aula que teve e como estava arrependido de ter demorado tanto. Ele estava caminhando para a própria felicidade e isso deixava Éponine extremamente bem consigo mesma.

Já ela havia conseguido voltar para a peça como substituta e dividia seu tempo entre faculdade,ensaios,trabalho e cuidar de Enjolras. Era cansativo mas estava contente.

Exceto pelo fato que Enjolras não queria mais tocá-la.

E ela nem ao menos sabia o motivo.

Éponine havia se mudado,permanentemente, para o apartamento de Enjolras. Era o que ele queria desdo começo,porém algo havia mudado. Ele não a tocava, os beijos que trocavam eram frios, mal se falavam e quando iam dormir,ele sempre se deitava o mais longe possível.

A garganta de Éponine se fechava só de imaginar o motivo de toda aquela frieza para com ela.

–Vocês vão, né?- Jehan perguntava pela milésima vez- São vários escritores desconhecidos que são ótimos e vão ler suas obras e dessa vez eu fui convidado para ler minha história vocês tem que ir!

–Meu saco, Jehan. A gente já falou que vai. Se abrir a boca mais uma vez eu não vou ir.- Courfeyrac respondeu impaciente, enquanto abraçava a namorada.

–Cosette,mon amour ainda bem que te encontrei. Estou louco pra ir para casa, vamos?- Marius abraçou por trás. Os Amis seguraram o riso.

–Que isso, Marius? Me solta, sou eu!- Enjolras empurrou o amigo, que fingiu estar constrangido, enquanto os outros riam da cara de raiva de Enjolras.

–Pardon, Enjolras. Acontece que de costas você ta lembrando a Cosette.- explicou Marius,como se sentisse muito.

Enjolras revirou os olhos e saiu andando resmungando.

–Aposto que agora ele corta o cabelo.- Grantaire falou.- Qual foi a sensação de dar um encoxada no Jojo?

Marius fez cara de nojo.

–Espero não ter que passar por essa experiência novamente.

–Bom, eu tenho que ir. Deixar Enjolras em casa.- Éponine explicou se despedindo dos Amis.- Pode deixar que estarei lá, Jehan e vou dar um jeito de arrastar Enjolras comigo.- prometeu.

[...]

–Éponine.- Enjolras apareceu na porta da cozinha enquanto Éponine fazia um almoço rápido para os dois. Ela o olhou preocupada.- Você pode cortar meu cabelo,por favor?- perguntou com as mãos no bolso.

Éponine segurou o sorriso que queria surgir e assentiu com a cabeça.

–Claro. Um momento.

Ela desligou as panelas e foi correndo para o banheiro, onde Enjolras já estava sentado e sem camisa.

Pegou a tesoura e começou a cortar os cachos que estavam surgindo. Se pudesse ela ficaria para sempre,apenas mexendo no cabelo dele. Encarou o reflexo dos dois no espelho e sentiu um aperto em seu peito. Seu Enjolras simplesmente não parecia mais o seu menino. Aquele que tinha fome pela justiça. Ele parecia um espectro do que um dia já fora.

–Eu te amo, Enjolras.- ela sentiu a necessidade de deixá-lo saber daquilo novamente. Ele levantou o olhar e assentiu.

–Obrigado pelo corte.- e saiu do banheiro, a deixando sem respostas e com uma pedra no estômago que parecia estar a puxando para baixo.