Éponine respirou fundo e se encarou no espelho sem de fato se enxergar. Simplesmente não podia acreditar que aquilo iria acontecer. Tudo parecia tão surreal demais.

Fantine e Cosette apoiaram cada uma suas mãos no ombro da morena,que olhou para elas pelo espelho e sorriu,segurando o choro,enquanto apertava a mão de sua mãe postiça.

–Você está tão linda minha menina.- Fantine comentou,acariciando o rosto da mulher sentada a sua frente.-Cresceu tanto e se tornou tão forte... Estou tão orgulhosa de você.

–Quem iria imaginar,não?- Cosette perguntou enquanto prendia a tiara na cabeça de Éponine.- Você. A toda “sou boa demais para me apaixonar”,está de véu.

–Mon Dieu! Vocês querem me fazer chorar?- Éponine soltou em um grito meio estridente,enquanto ria e limpava as lagrimas antes delas caírem.

–Tudo menos isso. Não queremos estragar sua maquiagem.- Cosette falou sorrindo.

Éponine se levantou e alisou o vestido branco.

–Eles já chegaram?- perguntou. Não tinha noticias de nenhum dos rapazes desda noite anterior,quando Enjolras anunciou que iriam para despedida de solteiro que os amigos haviam preparado para ele. Aquilo gelou o coração de Éponine que não estava aguentando muitas emoções. Da outra vez eles tiveram ela para salvá-los do desastre que foi a despedida de solteiro de Marius, mas dessa vez, quem iria salvá-los se precisassem ser salvos?

Fantine e Cosette trocaram olhares e Éponine entendeu: eles não haviam chego ainda.

–Droga!- murmurou voltando a se sentar. Sentiu suas pernas fraquejarem e seu corpo tremer.- Ele desistiu. Foi isso. Viu que eu não sou tão boa. Venham, me ajudem a me livrar desse vestido...

–Largue a mão de ser boba Éponine. Eles vão chegar. Marius não chegou?- Cosette a lembrou. Com os anos, Cosette havia descoberto o que tinha causado o atraso naquele dia.

–E o Enjolras te ama. Você sabe disso melhor que ninguém. Ele não teria aguentando e passado por tudo que passou para ficar com você para no fim,simplesmente desistir. Aqui tome um copo d’água.- tranquilizou Fantine,estendendo o copo para a filha.

Éponine aceitou ser consolada mas ainda estava desconfiada. A antiga insegurança que seria abandonada ainda estava ali, sempre presente em todos os momentos e ela não duvidava nada que Enjolras poderia ter desistido,afinal no último mês ele estava estranho com ela. Sempre muito nervoso,ou se esquivando,ou ficando em silêncio e rapidamente saindo do apartamento.

Escutaram uma batida na porta e a cabeça branca de Valjean entrou pela porta.

–Seu garoto a esta esperando. Quase morrendo no altar porque você está demorando. Você está pronta?- perguntou entrando no quarto e fechando a porta atrás de si. Cosette e Fantine soltaram risadinhas enquanto Éponine lhes lançava um olhar de morte.

–Isso não teve graça!- balbuciou, enquanto se virava para olhar se sua maquiagem não estava borrada. Depois se virou para Valjean que a olhava admirado,como se ela fosse um bem muito precioso.- Estou pronta.- falou mais para si mesma que para ele.

Cosette se levantou e saiu correndo do quarto para avisar que a noiva já estava descendo. Fantine deu um beijo longo na bochecha da garota e saiu logo em seguida. Valjean ofereceu o braço para Éponine que o agarrou como se sua vida dependesse dela se segurar com a maior força nele.

–Eu estou apavorada.- confessou baixinho,travando no lugar.- Eu... eu não posso.

Valjean a soltou e ficou de frente para ela.

–Você não só pode como deve,minha filha. Não tem motivo para estar apavorada, você tem que deixar de ter medo da felicidade. Parar de fugir dela, porque um dia ela vai parar de vir atrás de você, então a segure agora.

–Mas... o senhor sabe como eu sou uma pessoa difícil de conviver e...

–Éponine.- Valjean pegou nos ombros da garota.- Enjolras já te conhece melhor que você mesma. E outra nenhum casamento é fácil,por isso aprendemos a conviver sem o individualismo. Você já ficou tanto tempo por si só,achando que não era digna de qualquer tipo de amor,que eu entendo. Mas já está na hora de você dar um fim nisso. Você não quer dar um fim nisso?- questionou a olhando nos olhos. Éponine assentiu com a cabeça,deixando umas lagrimas escaparem.- Então,esse é seu primeiro passo. Vamos, eu vou estar com você como sempre estive todos esses anos.

Éponine respirou fundo e voltou a segurar no braço do homem que aprendeu a amar como se fosse seu pai, que lhe devolveu a vida quando ela não tinha mais esperança.

Era quase noite, e o sol já estava se pondo. O altar estava montado perto do lago,onde Éponine e Enjolras trocaram seu primeiro beijo,onde tudo começou. Uma história de amor conturbada e muitas vezes sem nenhum vestígio de que teria um final feliz.

A música começou a tocar, e logo ela encontrou os olhos ansiosos de Enjolras e pode ver o alivio neles,assim como ela sabia que ele podia a mesma coisa em seus olhos. Não conseguiu segurar e começou a chorar. Chorar de felicidade. Chorar porque não acreditava que podia ser real. Chorar porque mesmo tendo uma infância miserável, alguém tinha planos maiores para ela no futuro. Talvez se nada disso tivesse acontecido,ela não seria quem é hoje e nem estaria a caminho de estar com o homem da sua vida.

Sorria em meio as lagrimas e pode ver um sorriso se formando nos lábios do noivo. Enjolras havia mudado tanto,daquele garoto sério e sem nenhum sentimento,se tornou uma das pessoas mais justas e amorosa que já conhecera. E ele havia mudado tanto nela.

As garotinhas que jogavam as pétalas estavam sorrindo com tudo. De fato elas não entendiam o que estava acontecendo,mas sabiam que eram alguma coisa boa,pois todos estavam felizes. A pequena de cabelos pretos era a filha de Augustinne e Combeferre,que haviam tentando de novo,mesmo depois de ter perdido sua primeira filha. E a outra,com olhos grandes e cabelos loiros,olhava para os pais na frente como se aguardasse a aprovação. Cosette sorriu para filha e bateu palmas sem emitir som.

Finalmente Valjen entregou Éponine para Enjolras. Ambos tremiam mas não conseguiam parar de sorrir.

–Cuide bem dela. Se não cuidar saiba que tenho uma espingarda que sou louco para testar.- Valjean falou.

–Pai!- exclamou Éponine baixinho rindo.

–Pode deixar que eu irei. Nunca vou tirar os olhos dela.- prometeu Enjolras olhando para os olhos da morena.

Valjen deu um beijo na testa da filha e foi se sentar com Fantine.

Todos ficaram em silêncio e enquanto o padre falava Éponine não pode deixar de correr os olhos pelo seus amigos que estavam ali na frente.

Grantaire havia finalmente encontrado a felicidade, estava prestes a montar seu próprio consultório veterinário junto com seu namorado,que era uma pessoa adorável. Éponine tinha o sonho de um dia ver o amigo feliz,e o dia finalmente havia chego.

Courfeyrac havia aberto seu hotel que tanto havia sonhado nos Alpes franceses, o qual estava dando lucro,mas havia voltado para Paris,pois sentia falta da agitação da cidade. Estava construindo um hotel na cidade, de onde não planejava sair tão cedo. Estava noivo com sua namorada, Luisa, que havia mostrado ser a garota perfeita para o cara relaxado com a vida que era Courfeyrac.

Joly havia se formado e trabalhava no hospital publico,onde ele acreditava que faria a diferença,e amava o que fazia mais que tudo.

Augustinne e Combeferre continuavam casados. Ele dava aulas de filosofia para o ensino médio em uma escola publica e Augustinne era sócia de Éponine com a escola de teatro musical que haviam aberto juntas. Depois de anos o casal decidiu que estavam prontos para voltar à Paris.

Então um casal ruivo entrou segurando uma garotinha também ruiva nos braços,que tinha nas mãos a almofadinha com as alianças. Jehan e Caitlyn que haviam se casado uns dois anos antes,na praia em uma cerimônia simples. Jehan era o único que havia saído de Paris e não voltara. Ele dava aula de literatura em uma escola em Cannes. Caitlyn ainda tinha o estúdio de tatuagem. O sorriso dos dois era tão radiante,junto com a menininha que estava mais interessada em tentar pegar a trança do pai.

–Éponine...- começou Enjolras enquanto olhava no fundo daqueles olhos chocolates.- Ainda tenho a lembrança da garota sem rumo que me parou um dia me pedindo informações, da garota que não me deixou ler na biblioteca e que antes que eu pudesse perceber havia entrado no meu coração,uma coisa que eu achava que não possuía mais. Você mudou esse cara frio e me fez sofrer toda vez que a via com outros caras e me perguntava por que eu não conseguia ser como eles e o que eu deveria fazer para receber um sorriso seu. Mas eu percebia também que aqueles sorrisos nunca chegavam ao seus olhos e que seus olhos só sorriam junto com seus lábios quando estávamos juntos e você me desafiando ou dizendo coisas absurdas que com o tempo aprendi a considerar normais. Mas morri por dentro quando você me deixou daquele jeito, todo dia me perguntava o que eu tinha feito e o que eu fiz foi não demonstrar o bastante. Me desculpe por isso. Não sou perfeito. Me desculpe por diversas vezes que fui.. uma criança birrenta com você. Quando desmereci você ou seus sonhos. Como disse não sou perfeito mas estou me tornando próximo a ser com você do meu lado. Você me melhora, Éponine. E eu te amo e prometo nunca,nunca mesmo deixar nada te separar de mim novamente.- terminou de falar seu voto, os olhos vermelhos,segurando o choro.

–Sabe,pode chorar que não é vergonha nenhuma.- Grantaire falou do seu lugar,levando um tapa de leve do seu namorado e tirando uma risada nervosa de Éponine e Enjolras.

Éponine respirou fundo.

–Enjolras...- ela teve que parar para estabilizar a voz.- Eu sempre dizia que era boa e exigente demais para que alguém me amasse. Que achava o amor uma piada para mim mas lindo para os outros... Simplesmente não sei o que aconteceu mas você mudou isso. Sempre me ouvindo e sempre me questionando, você se tornou meu amigo,mas não era normal eu querer beijar meus amigos.- confessou soltando uma risada,enquanto limpava as lagrimas.- Era legal demais te irritar,ou te desafiar,ou dizer coisas tipo vagina. Porque você fica vermelho e eu acho isso uma graça. Mas o melhor de tudo: você me consertou. Você pegou uma mercadoria danificada,que ninguém queria perder o tempo e com paciência,ou nem tanta paciência assim, me consertou. Aturou meus ataques,ou quando eu decidia que não queria mais olhar na sua cara. Você sempre me deu o espaço que eu precisava e sempre estava por perto no momento certo. Quando eu quase te perdi,aquela vez para sempre, já não conseguia imaginar minha vida sem você e percebi que te amo. Te deixar foi a coisa mais difícil de fazer,mas acreditava estar fazendo o que era certo. Mas nunca deixei de te amar. Eu te amo e não importa quantas vezes eu disser,nunca vai ser suficiente porque você merece ouvir muitas vezes só por ter me olhado diferente do que as pessoas costumam me olhar,só por me dar o que você me dá. Para mim você é perfeito. E tem uma frase que muitos pensam ser de Shakespeare, mas na verdade é de uma cara chamado Arrigo Boito que eu gosto muito e acho que combine com a gente.

–PELO AMOR DE DEUS EU TO COM FOME,AGILIZA MINHA FILHA.- gritou Grantaire levando outro tapa do namorado e fazendo todos rirem.

–Já estou acabando, prometo Grantaire.- Éponine falou olhando para o amigo que sorriu para ela de forma carinhosa.- É uma frase simples mas que eu acho que é verdadeira para nós, “Quando eu te vi me apaixonei, e você sorriu porque você soube”. Obrigada por estar do meu lado.

–Enjolras Levrefe você aceita Éponine Thernadier como sua legitima esposa,para amá-la e respeitá-la na saúde e na doença, na alegria e na tristeza até o resto de seus dias?

–Aceito.

–Você, Éponine Thernadier aceita Enjolras Lefreve como seu legitimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo,na saúde e na doença,na alegria e na tristeza até o resto de seus dias?

–Sim, claro que eu aceito.- guinchou Éponine mal podendo se conter de felicidade enquanto Enjolras deslizava a aliança em seu dedo e dava um beijo em sua mão.

–Então ao poder a mim concedido eu os declaro,marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Enjolras tomou Éponine em seus braços. Agora ela era sua e ele era dela. Como sempre foi desdo começo,quando se trombaram pela primeira vez. Lentamente a beijou,aproveitando aquele momento,enquanto ouvia as palmas ao redor e gritaria,

–BELEZA MINHA GENTE VAMOS COMER!- puderam ouvir Grantaire gritando e se separaram rindo,mal acreditando naquele momento.

[...]

Uma grande mesa havia sido montada para que todos os Amis sentassem juntos. Cosette corria atrás da filha, enquanto Marius tentava se esconder para não ter que tomar o lugar da esposa. Não tinha o mesmo pique que Cosette para correr atrás da menina.

–Por favor, o noivo chama seus padrinho.- a voz do pai de Enjolras preencheu o ambiente e Éponine olhou para o palco montado surpresa.

–O que ta acontecendo?- perguntou para ninguém em especial, enquanto Augustinne a puxava pela mão em direção à cadeira que Caitlyn havia colocado perto da pista de dança.

Éponine se sentou ainda desconfiada, até que Grantaire, Marius, Combeferre, Courfeyrac, Jehan, Joly e por último Enjolras entraram na pista de dança. A noiva percebeu Enjolras chacoalhando as mãos, até que ficaram em posição. O louro tinha os olhos fechados quando uma musica da Beyoncé começava a tocar e os rapazes, incluindo seu marido, começaram uma coreografia.

Ela não conseguiu não rir enquanto assistia Enjolras rebolar, e tentar fazer carão. A cada música que começava, ficava mais difícil se segurar e Éponine tremia de tanto que ria e viu que todos também tinham dificuldades em assistir aqueles péssimos dançarinos sem caírem na risadas.

Mas mesmo que fossem horríveis, Éponine estava amando cada segundo daquela apresentação. Ela sabia o quanto deveria ter sido difícil para Enjolras ter decidido fazer aquela surpresa. Sabia como deve ter sido difícil ter que aprender aquele pequeno trecho de Backstreet Boys (ele os detestava, já ela tinha os CDs ), assim como deve ter sido rebolar ao som de “Crazy in love”. E amou ainda mais o fato que ele fizera uma junção de todas suas músicas preferidas e ensaiado para ela.

Quando a apresentação terminou, todos os convidado ainda riam e aplaudiram. Enjolras estava vermelhos, mas os Amis estavam contentes por terem seu momento de aplausos.

Éponine se levantou limpando as lagrimas e foi em encontro de Enjolras.

–E então? Foi muito ruim?- indagou meio inseguro, a puxando para longe do tumulto de convidados que estavam se concentrando na pista de dança.

–Foi ótimo. Melhor presente que poderia me dar. Mal posso esperar para poder assistir as filmagens repetidamente.

–Droga! Eu esqueci que iam filmar.

–Tarde demais, Jojo.- respondeu dando um tapinha no ombro do marido. Era tão estranho pensar em Enjolras como seu marido.- Era isso que estava fazendo você agir estranho ultimamente.

–Eu precisava ensaiar. Pensei estar sendo o mais natural possível.

–Sabe que é uma vergonha você estar casado com uma professora de teatro e não saber atuar? Precisamos mudar esse fato.

–Fico feliz que teremos muito tempo para trabalhar nisso. Quer ir dançar?

Éponine fez uma careta.

–Eu preferia ficar mais parada se não se importar.

Enjolras a olhou preocupado.

–Que foi? Não está se sentindo bem?

–Não. Não é nada disso. Eu estou ótima. Só quero garantir que eu consiga entregar seu presente daqui seis meses... E vou saber se vou conseguir daqui dois meses.

Enjolras a olhou confuso, sem entender o que ela estava dizendo para ele.

Éponine pegou a mão do marido e disfarçadamente a colocou em sua barriga.

–Temos um artista ou um revolucionário a caminho.- explicou, observando a expressão de Enjolras assumindo uma expressão de assombro para logo em seguida abrir um sorriso que iluminou seus olhos.

–É sério?

Éponine fez que sim com a cabeça, sem conseguir parar de sorrir.

–Já estou fazendo acompanhamento com médico desde que descobri. Estou me sentindo positiva dessa vez.- confessou, a esperança transbordando em sua voz.

–Mal posso esperar para conhecê-la. Nós vamos conseguir. Não vou deixar você sair da cama se necessário.

Éponine riu, sentindo as lagrimas transbordando em seus olhos, enquanto puxava Enjolras para um abraço.

Céus, como o amava!

–Vamos, quero que você se sente. Já ficou muito tempo de pé.

–Enjolras, não é como se alguma coisa fosse acontecer agora.

–Calada. Eu sei o que é melhor.- ele a conduziu de volta ao seu lugar na mesa.- Com licença minha esposa grávida está passando.- Enjolras fazia questão de repetir, alto o suficiente para todos ouvirem.

Os dois se sentaram em seus lugares e observaram a festa que não iriam esquecer tão cedo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.