When Smiled You Knew

Capítulo 19- Corvus Constellation


Algum tempo depois Éponine e Enjolras voltaram para a tenda,onde a festa estava animada. Algumas pessoas estavam dançando,enquanto outras mais tímidas se contentavam em ficar sentadas rindo de algum dançarino desajeitado. Grantaire,Courfeyrac e Augustinne atacavam a mesa de doces descaradamente.

Éponine voltou para o seu lugar na mesa e Enjolras foi se sentar com Joly e Jehan,nenhum dos dois por mais que tentassem, conseguiam esconder o sorriso.

-Onde você se meteu,Enjolras?-Joly perguntou enquanto limpava a borda do copo antes de levá-lo a boca.

-Fui dar uma volta. O dia foi cheio hoje. Precisava ficar um pouco... Sozinho-ele respondeu olhando para Éponine, que acabava de lhe dar uma piscadela e voltava a conversar com a mãe de Marius. Ele poderia dizer que estava com Éponine,mas o que diria exatamente? Ele não sabia qual era a situação deles. Aquilo poderia ter significado nada para ela,afinal ela era um mistério ,ela poderia estar dizendo uma coisa quando na verdade queria dizer outra. Ela estava triste,isso era um fato e ele poderia ter sido apenas uma distração.

-Você estava andando sozinho com Éponine?-Jehan perguntou sorrindo calmo,não o estava acusando apenas queria que o amigo fosse mais sincero com eles.

-Isso é verdade. Procuraram vocês dois por toda parte. Afinal vocês ficaram fora umas boas duas horas. Só vocês dois- Joly concordou,olhando para Enjolras que se sentiu pressionado e com a necessidade de contar o que havia acontecido,mas ele não iria fazer isso.

-Eu a encontrei no meio do caminho- ele respondeu com a maior calma que pode- ela me mostrou um pouco da fazenda. Nada demais-ele finalizou dando de ombros usando seu tom frio de líder.

Flashback:

Éponine saiu correndo puxando sua mão. A noite estava silenciosa,o único barulho era o riso dos dois. O riso de Éponine era mais alto e infantil,enquanto o de Enjolras era mais baixo e tímido . Juntos parecia uma sinfonia que causaria inveja em Mozart.

-Aqui é onde guardamos os cavalos- Éponine abriu a porta do celeiro e acendeu a luz- Olá meus amigos!-ela cumprimentou os cinco cavalos que estavam ali- Esse é o Tempestade,é o mais velho- ela se aproximou de um cavalo negro acariciando o focinho.- Essa é a Berinjela,Cosette a ganhou quando era criança.- ela acariciou uma égua negra que tinha uma mancha branca de um lado do rosto.-Este é o Loteria,ele foi achado amarrado,muito machucado e desnutrido. Jean não suporta ver nenhum ser vivo sofrendo. Então aqui está ele,né garoto?- ela encostou atesta no focinho do cavalo marrom- Essa é a Bonnie,foi um presente. Ela não gosta muito de mim e nem eu muito dela- Éponine falou fazendo uma careta para a égua.- E por último mas não menos importante... Charlie! Está é a mais nova e é a minha- ela abraçou a égua.-Então,o que achou?

Enjolras olhava para os animais tão a vontade na presença deles. Ele sempre gostou de cavalos,afinal quase todos os mocinhos tinham seu cavalo. E também por eles sempre lutarem por sua liberdade,pois quando não queriam,não podiam ser domesticado. Era como se soubessem quem seria capaz de tratá-los com amor.

-Eu os acho fascinante... Parece que dá uma certa calma olhar nesses olhos tão grandes e profundo. Parece que eles... Tem tanta coisa a mostrar apenas com um olhar. Tanta sabedoria que parece que eles tem a passar.

Enjolras terminou de falar e olhou para Éponine que sorria para a égua.

-Engraçado. Eu tenho o mesmo pensamento.-ela respondeu por fim,pegando uma escova e entregando para Enjolras.

Eles começaram a escovar Charlie que comia feliz o seu feno. Fizeram essa ação por alguns momentos em silêncio.

-Vamos que não é aqui ainda- ela falou pendurando a escova, Enjolras fez a mesma coisa e seguiu Éponine- boa noite meus amigos. Amanhã vamos dar um passeio- Éponine apagou a luz e fechou a porta do estábulo .

-Você sabe montar?- Enjolras perguntou,ele não conseguia imaginar ela montando.

-Mais ou menos. Não sou tão boa como Cosette na montaria,mas consigo me manter sentada. Você sabe?Enjolras fez que não com a cabeça.

-Nunca tive a oportunidade de montar. Sempre quis,mas não podia.

-Bom,então amanhã iremos montar... E por que você não podia?

-Minha mãe tem medo de cavalos. Ela caiu de um quando era criança,desde então não chega perto . Ela achou que eu poderia me machucar ou morrer. Já meu pai nunca fez questão que eu aprendesse a montar,lutar ou qualquer outra coisa que não fosse os estudos. Chegava da escola e tinha sempre que ir ou para aula de inglês, ou italiano. Ou então tinha que ir fazer aula de economia para crianças. Eu fui criado para ser o melhor,e agora eu sirvo e limpo mesas!- Enjolras terminou de falar com uma pontada de melancolia na voz. Éponine segurou o braço dele encostando seu rosto no ombro e o olhou.

-Só porque você serve mesas não quer dizer que você não é o melhor. Para mim você é o melhor só por lutar pelo o que você acredita.

Eles pararam de frente para o pasto. Éponine levantou o vestido e pulou a cerca. Ela fez sinal para que Enjolras a seguisse. Ele pulou e Éponine fez sinal que era para ele ficar quieto

-Não queremos acordar as vacas... Então cuidado.- ela alertou e começou a andar cautelosamente.

Eles atravessaram o pasto e pularam a cerca. Enjolras já estava curioso para saber onde ela o estava levando.

Estava escuro,mas Éponine andava sem dificuldade de achar o caminho,ela segurava na mão de Enjolras para não correr o risco dos dois se separarem

Ela parou bruscamente enfrente a uma árvore,soltou da mão de Enjolras e começou a procurar alguma coisa ali. Ela ia apalpando até que sentiu a escada improvisada feita de corda que ela deixava ali.

Onde eles estavam era um pouco iluminado pela lua,sendo assim Enjolras pode ver quando Éponine se virou e indicou para ele subir.

Enjolras subiu e ajudou Éponine a subir,já que ela teve certa dificuldade por causa do vestido.

-Puta que pariu de vestido. Ou filha da puta da Cosette por ter escolhido esse vestido- ela falou irritada quando conseguiu subir no tablado de madeira que tinha ali.

-Você é tão fofa e meiga as vezes- Enjolras comentou sarcástico com um sorriso enquanto olhava com certa ternura para Éponine. Ela riu.

-Me desculpe. Velhos hábitos da rua nunca morrem. Acredite eu não gosto de usar essas palavras de baixo calão. Mas as vezes elas são necessárias - ela se explicou enquanto se levantava e começa a procurar alguma coisa.

Enjolras ficou observando a meia luz Éponine,vestida tão elegantemente em uma... Casa da árvore?

De repente o lugar clareou. Éponine havia acendido duas lamparinas.

-Eu nem sabia que isso ainda existia.-Enjolras apontou para as lamparinas. Éponine estava agachada de costas para ele pegando alguma coisa que Enjolras não sabia identificar o que era dentro de uma bolsa.

-Isso foi cortesia que veio com a casa da árvore. Ou você achou que essa casa era minha?

-Eu achei. Afinal você tem tantos segredos. Qualquer dia eu descubro que você pode ser uma assassina.- ele falou brincando para Éponine,que fechou o sorriso ficando seria. Ela voltou a mexer na bolsa e soltou a tão conhecida risada sem sentimentos. Enjolras não teve uma resposta brincalhona com ele esperava.

-Quando meu pai comprou a fazenda...- ela começou a contar enquanto montava o telescópio – Já tinha essa casa da árvore. Na verdade ele nem sabia da existência dela. Foi no dia da mudança que eu decidi... conhecer a propriedade, eu a vi. Claro a madeira estava podre e caindo aos pedaços. Mas eu gostei dela, então pedi para ele se eu poderia tentar consertar aqui. Ele não só deixou como me ajudou também.- ela tinha um sorriso sereno no rosto.- Foi quando ele me deu o telescópio,porque ele viu que eu sempre gostei de observar o céu . Então fizemos pequenas modificações aqui, ele fez o teto que da para abrir- Éponine abriu um trinco e deslizou o teto.- Podou o topo da árvore para que eu pudesse olhar para o céu . Foi um dos maiores sacrifícios que alguém já fez na vida por mim.

Ela olhava e ajustava o telescópio .

-Por que tão calado?- ela perguntou ainda olhando e mexendo no telescópio .-Então você sempre quis fazer direito?

-Eu tinha pensado em fazer engenharia, também... mas acho que meu pai me influenciou um pouco. E sempre gostei mais de ler do que de números .- ele admitiu e Éponine deu uma risada leve.-E você?

-Eu sempre gostei mais de ler do que de números . Odeio números .- ela estremeceu- Eu pensei em fazer jornalismo ou astronomia... Aqui venha ver.- ela o chamou e Enjolras se sentou ao lado dela observando no telescópio- Esta vendo esta constelação?

-Estou- Enjolras respondeu mas não conseguia entender, para ele era apenas pontos sem nexos.

-Essa é a constelação de corvus ou corvo. Segundo a lenda o deus Apolo tinha uma ave de estimação e um dia ele mandou que ela fosse buscar água em uma taça. No caminho ele encontrou uma figueira e pousou em um galho e ali ficou por alguns dias até os frutos amadurecerem. Como desculpa pela demora, o corvo colocou a culpa na hidra. Mas Apolo tem poder de ver através da mentira. Muito irritado o deus condenou o corvo a uma sede eterna, por isso seu canto é um grasnado rouco. Apolo também colocou a taça e a hidra no céu, dando ordem para hidra nunca deixar o corvo chegar perto da água .- ela movimentou um pouco o telescópio e pediu para Enjolras olhar novamente.

Depois de uns minutos observando Enjolras conseguiu observar os desenhos que aqueles pontos brilhantes formavam: a taça, a hidra e o corvo.

-Isso é... fantástico.- Enjolras exclamou olhando para Éponine que sorria. Ela de repente acariciou seu rosto e depositou um beijo na bochecha dele- Como foi que de jornalista ou astrônoma você decidiu se tornar atriz?

-Um dia eu fui com Fantine e Cosette no teatro... achei aquilo a coisa mais linda do mundo. Esperamos os atores saírem e eu fui conversar com eles... e naquela conversa eu decidi que queria tentar o teatro. Rapidamente Fanti... digo a minha mãe arrumou uma escola de teatro e fez minha matricula . E a cada dia que eu ia lá eu me sentia mais e mais atraída ,porque lá é um lugar onde não tem preconceito se você é gordo,magro,hetero ou gay,alto ou anão. Lá o que mais respeitamos são as diferenças, e isso nos torna unidos. É um lugar onde pessoas loucas vão para serem normais. Sem julgamentos, não queremos saber sua história, queremos saber sobre sua pessoa... Quer ver minha estrela?- ela perguntou animada, com um brilho infantil no olhar. Enjolras assentiu, ele não poderia dizer não para ela.

Novamente ela ajeitou o telescópio, procurando a “sua estrela” no céu.

-Ahá, achei você!- ela exclamou deixando Enjolras olhar no telescópio .- Reconhece a minha “estrela” brilhante, vermelha e solitária ?

-Ela não se parece com as outras estrelas que você me mostrou.

-Porque na verdade ela não é uma estrela- Éponine respondeu e tinha um sorriso no canto dos lábios – É o gigante vermelho,mais conhecido como Júpiter.

-Mas... como podemos ver ele daqui da Terra?

-De tempos em tempos ele se aproxima, o que possibilita vê-lo a olho nu.- ela explicou desmontando o telescópio e o guardando novamente na bolsa. Ela esticou um cobertor no chão e se deitou. Enjolras fez o mesmo.

Éponine sem avisar se encostou no peito de Enjolras e ambos ficaram observando o céu em silêncio. Esse era um dos momentos que não se precisa palavras azias para preencher cada minuto, apenas gestos para provar que tudo é muito real.

Cada subir e descer do peito,a respiração sincronizada, a sensação de um toque de pele,já é o suficiente para aqueles que sempre foram renegados,de certa forma,pelo amor.

Éponine se sentia estranha, como se uma certa felicidade tivesse tomado conta dela e ela não queria que aquela sensação nunca acabasse. Era realmente bom,poder estar com alguém que ela considerava seu amigo, e que ela sentia que podia contar qualquer coisa. Ela tinha medo que se mexesse, Enjolras iria a tratar diferente ou ela se sentisse diferente.

De repente um pensamento aterrorizador se passou pela sua cabeça . E se estivesse tendo sentimentos por ele? Algo muito mais serio do que um beijo. Não, ela não podia. Não podia se apaixonar pelo seu amigo novamente. Ela já tinha sofrido muito com isso, não queria isso novamente.

Eles ficaram assim, não se sabe por quanto tempo. Éponine começou a explicar e apontar algumas estrelas no céu e como Valjean sempre a ajudava a encontrar novas constelações e estrelas. Enjolras prestava mais atenção ao tentar ver o rosto de Éponine, e se lembrou da primeira conversa que tiveram e como ele a achou irritante por não deixar ler seus livros.

Ele estava tão distraído ao observar Éponine, que foi trazido de volta a realidade quando sentiu ela dando um beijo no seu queixo.

-Você esta prestando atenção?- ela perguntou encarando aqueles olhos azuis.

-Na verdade... estou prestando atenção em outra coisa- ele respondeu sincero demais.

-Posso saber o que é?- Éponine perguntou curiosa. Enjolras ficou quieto. Não iria admitir que estava prestando atenção a maneira que ela falava, ou como ela se mexia lentamente. Éponine se sentiu incomodada e se sentou rapidamente, se afastando dele- Estou te chatiando.

-Não,não Éponine- ele respondeu, se sentando também- Acontece que é muita informação, então eu fiquei apenas observando. Você nunca me chateia... Tirando aquela vez que você pulou o muro da universidade.

-Verdade?

-É. Eu achei que você ia morrer.- ele respondeu soltando uma risada e Éponine o acompanhou. Ela se levantou e deu um beijo nos lábios dele, não muito rápido e nem demorado demais.

-Acho que já esta na hora de voltarmos- ela anunciou e Enjolras prontamente se colocou de pé. Éponine dobrou o cobertor e o guardou.

Enjolras desceu primeiro e ajudou Éponine a descer, mesmo assim acabou os dois no chão,porque ela acabou enroscando o vestido. Ela soltou um “Droga de vestido” e se levantou,limpando os braços e o vestido. Ela estendeu a mão para ajudar Enjolras que também limpou a roupa.

Eles começaram a fazer o caminho de volta,bem lentamente,como se tivessem sendo forçados a voltar. Suas mãos estavam entrelaçadas e cada passo era tranqüilo . Nenhum dos dois conseguia entender o que se passava ali e o que aconteceria. Tudo que queriam era permanecer na companhia um do outro mesmo sem entender.

Tinham pensamentos diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes. Enjolras pensava que há pouco ele não tinha planos de se juntar a ninguém,que se ele tivesse que se preocupar com alguém que não fosse o povo,iria estragar tudo. E ali estava ele,com Eponine que o fazia se questionar se isso realmente o que ele queria.

Já Éponine tinha em seu pensamento "sou uma pessoa que ninguém pode amar. Sou detestável. Ele não pensaria diferente. Talvez eu seja só mais uma Thais para ele". Claro que ela achava ridícula a ideia de alguém querer cuidar dela e ela não se imaginava querendo cuidar de alguém e se colocar em segundo plano. Até ali a única pessoa que a tinha feito pensar assim era Marius,mas desde alguns meses atrás aquilo mudou. Enjolras a estava fazendo se questionar sobre isso e sobre ela mesma.

Eles pularam a cerca e estavam atravessando o pasto,quando Eponine parou e soltou a mão do Enjolras. Ele a olhou sem entender,enquanto ela levava dois dedos a boca e soltava um assobio estridente. As vacas acordaram assustadas e começaram a mugir.

Eponine ria descontroladamente da reação das vacas até que ela ficou em silêncio.

-Opa... Acho que é melhor você correr!- ela gritou erguendo o vestido e saindo correndo. Enjolras olhou e viu as vacas indo de encontro a eles,furiosas. Rapidamente ele começou a correr e logo ultrapassou Éponine que tropeçava,ria e segurava o vestido. Logo eles chegaram a cerca e Enjolras a pulou sem pensar muito. As vacas podiam ser bem assustadoras quando irritadas. Já Éponine não teve a mesma sorte. Ao pular seu vestido ficou preso em um prego,que a fez cair e rasgar o vestido.

-Éponine! Você esta bem?- Enjolras perguntou preocupado. Éponine se sentou e começou a rir.

-Isso foi incrível !- ela exclamou os olhos brilhando como uma criança que aprontou uma arte,sabe que vai ser pega,mas a sensação de ter feito aquela coisa errada é ótima !- Ah não. Olha só o estado do vestido. Espero que não seja alugado.- ela ficou olhando para o rasgo que foi feito na perna.-Me ajude a levantar- Enjolras pegou nas mãos esticadas dela e a puxou.

-Você é louca Éponine. Isso porque não queríamos acordar as vacas.- ele usou as mesmas palavras que ela, em tom de repreensão.

-Me diga que você não gostou. Eu estou vendo você tentando esconder a risada- ela apontou para o rosto dele. Enjolras não agüentou e começou a rir.

Éponine passou seu braço pelo de Enjolras e eles voltaram a caminhar, enquanto ela ia apontando, para lugares que estavam escondidos pela escuridão,mas que segundo ela,era uma das coisas mais lindas que se podia ver.

Logo eles avistaram a tenda. Éponine soltou do braço de Enjolras e foi correndo para perto do lago,onde pegou seus sapatos que havia largado ali. Ela fez sinal para que Enjolras entrasse, ele ficou um pouco indeciso mas fez o que ela pediu.Ele se virou e caminhou lentamente em direção a tenda. Olhou uma ultima vez para Éponine e ela estava parada de pé observando ainda o céu.

Flashback off

-E ai como foi?- Joly perguntou enquanto olhava para Éponine que estava apertando e beijando a bochecha de Gavroche que lutava para conseguir escapar.

-Nada demais.- Enjolras respondeu dando de ombros e tomando um gole de champanhe .- Não deu para ver muita coisa porque está escuro. Mas o que eu perdi?

-A dança dos noivos. Grantaire brigando com Gavroche. O discurso dos pais da noiva e dos noivos. E Bossuet quase batendo em Grantaire porque ele estava quase explicando para Gavroche e Amelie como os bebês são feitos... A versão censurada- Jehan resumiu tudo.

Grantaire, Courfeyrac e Augustinne voltaram para a mesa e se sentaram largados.

-Não. Aguento. Mais.- Augustinne falou com a voz mole.

-Acho que já posso ficar um ano sem comer nada- Courfeyrac falou.

-Entrar é fácil . Quero ver é para sair- Grantaire disse coçando a barriga que estava formando uma saliência – Mas eu vou comer mais. Quando é que vamos ter comida de graça novamente?- ele perguntou e seu olhar caiu em Enjolras, ele abriu um sorriso malicioso para Enjolras que o olhou sem entender nada- E aí Jojo, como foi sua noite?

-Boa Grantaire. Por que?

-Aposto que deve ter sido- ele respondeu como se soubesse de alguma coisa muito errada.

Eles ficaram sentados, logo Combeferre se juntou a eles. Ele se sentou perto de Augustinne passando um braço pelos seus ombros e dando um beijo no pescoço dela. Gesto que fez todos na mesa revirarem os olhos, inclusive Augustinne, que não era o tipo de garota que gosta de melação e muito romance.

Éponine estava dançando com Valjean, Fantine com Marius, e não se tinha idéia de onde Cosette estaria.

-Oi Enjolras!- uma pequena cabeleira loira apareceu do lado de Enjolras sorridente.

-Ei Gavroche. Tudo bem?- Enjolras perguntou se virando para ele- Oi Amelie.- ele a cumprimentou que respondeu com um aceno de cabeça.

-Tudo sim... Eu so queria agradecer por não ter me ajudado. Eu estou gostando de morar aqui,com os pais da Éponine. Eles são legais e me tratam bem,como se eu fosse filho deles. E eles deixam eu ir visitar Emeri e as crianças todo final de semana. E agora eu to estudando,as vezes é chato,mas Valjean sempre me ajuda. Eu aprendi a jogar xadrez e Fantine está me ensinando a montar.- Gavroche soltou tudo de uma vez só, sem parar para respirar. Enjolras sorriu para o garoto.

-Fico contente de saber que você está gostando de ficar aqui. Eu não te disse que não era tão ruim?- ele perguntou e Gavroche assentiu com a cabeça. Ele abraçou Enjolras, gesto que o surpreendeu mas acabou retribuindo.

-Se você contar para alguém que eu te abracei eu nego até a morte, entendeu?- Gavroche perguntou em tom ameaçador para Enjolras .

-Não vou contar para ninguém.

-Do que adianta? Todo mundo aqui viu seu momento menininha- Grantaire falou para irritá-lo.

-Cala a boca, seu idiota!- Gavroche falou para Grantaire e saiu correndo com Amelie.

-Que garoto abusado! Essa geração de hoje não tem mais respeito pelos mais velhos. Isso é uma vergonha!- Grantaire exclamou indignado- No meu tempo se eu não fosse educado,apanhava dos meus pais.

-Cala boca seu idiota- Courfeyrac falou imitando Gavroche- Nem pais você tem, foi encontrado no lixo.

-Olha aqui. Vocês não sabem pelo o que eu passei, ta!- ele falou fingindo o choro.

-Atenção pessoal- Cosette chamou mas ninguém se virou para ela.- Pessoal?- ela chamou de novo e ninguém a olhou- Pessoal!- ela gritou e todos se viraram assustados para olhá-la . Ela tinha um sorriso no rosto- Melhor assim. Agora chegou o momento em que veremos qual será a próxima sortuda a subir ao altar. Então por favor garotas se juntem aqui.

-A lá, Courfeyrac. Essa é a sua chance- Grantaire falou rindo e Courfeyrac deu um tapa na cabeça dele.

-Ela chamou garotas, então esta se referindo a você, Grantairine.

Grantaire fez um gesto feio com a mão para Courfeyrac.

Enjolras olhou para Éponine e ela estava em um canto observando enquanto as garotas iam para o centro da pista de dança. Ela encontrou seu olhar e sorriu.

“Você não vai?”- Enjolras perguntou sem usar a voz,apenas mexendo os lábios.

Éponine riu e fez que não.

“Besteira” ela respondeu e fez um gesto de descaso com a mão.

-Você não vai la, Augustinne?- Combeferre perguntou.

-Eu não. Pra que? Não quero casar. Deus me livre de casamento. Tenho pena de quem resolve fazer isso hoje em dia.- ela respondeu como se aquilo fosse uma coisa absurda.

-Sei. Vocês dizem isso até que começam a ficar velhas e desesperadas por companhia- Grantaire falou e Augustinne sorriu para ele de forma sarcástica.

-Se você for , eu vou Grantaire- ela desafiou.

-Então vamos- ele respondeu se levantando. Augustinne se levantou e foi até a pista de dança. Grantaire voltou a sentar- É tão fácil enganar as garotas.

Augustinne se virou e viu Grantaire sentando rindo dela. Ela ficou vermelha e imitou o mesmo gesto que há pouco ele tinha feito.

-Atenção garotas- Cosette falou se virando de costas- Um... dois... três!- e ela jogou o buque . As garotas começaram a se matar,enquanto Augustinne ficou parada no meio delas com cara de tédio. Até que ela se abaixou e pegou o buque e saiu andando como se aquilo tudo fosse entediante demais, enquanto as garotas continuava tentando pegar o buque.

-Aqui seu buque- ela tacou na cara do Grantaire.

-Grantairine quer ter a honra de se casar comigo?- Courfeyrac perguntou e Grantaire fingiu ficar muito emocionadao.

-Oh Courf! Isso é tudo que eu mais quero. É claro que aceito.

Enjolras ficou olhando para aquela cena e se perguntando quando e como aqueles dois se tornaram seus amigos.

-E ai meus garotos- Éponine apareceu puxando uma cadeira e se sentando ao lado de Enjolras- Estão curtindo a festa?

-Acho que não mais que você, né safadinha? E esse vestido rasgado ai?- Courfeyrac perguntou apontando para a perna de Éponine que estava de fora. Ela deu de ombros .

-Enrosquei em um prego. Mas o que estão achando?

-Está legal. Mas falta as baixarias que geralmente costumam acontecer em casamentos. É verdade, nos casamentos da minha família não é todo mundo civilizado assim. Tem sempre as primas brigando, alguém se matando. Uma vez meu tio esfaqueou a minha avó- Bossuet contou perdido em pensamentos, todos na mesa ficaram em silêncio por uns minutos sem saber o que dizer.

-Sua historia de vida me fascina- Grantaire quebrou o silêncio- Você é um verdadeiro vencedor. Você é um exemplo. E eu acho que tive uma ideia para baixar um pouco o nível .

-Olha lá o que você vai fazer Grantaire- Éponine o alertou.

-Confie em mim. Rapazes , vamos!- Ele se levantou mas ninguém o seguiu. Ele se virou e pareceu decepcionado- Vamos gente.

-Eu não vou.- Enjolras foi o primeiro a falar- Desculpe mas não tem como confiar em você,não mesmo.

-Eu também não vou- Joly se manifestou- Acordei com um negocio do nariz que poderia ter feito eu pegar uma infecção.

No fim nenhum dos garotos se propôs a ir com Granataire o que o fez se sentar emburrado.

Pouco tempo depois Éponine tirou Courfeyrac para dançar. Augustinne chamou Combeferre,mas ele não quis ir. Augustinne então puxou Grantaire que estava indo beber a primeira bebida alcoólica da noite e o fez derrubar e fazer uma cara chorosa ao olhar para o liquido no chão.

Logo Joly, Jehan e Bossuet estavam na pista. Jehan dançava com a prima de Cosette, Juliette. Joly e Bossuet dançavam com duas garotas desconhecidas.

Ficaram na mesa apenas Enjolras e Combeferre que estava emburrado por Augustinne ter arrumado um substituto.

-As vezes tenho a sensação que ela não gosta de mim- Combeferre falou de repente enquanto observava Augustinne sendo girada por Grantaire.- Ela nunca fica feliz assim quando está comigo. Acho que ela está comigo por obrigação ou pena.

Enjolras não sabia o que dizer, que conselho dar ao amigo?

-É claro que ela gosta Combeferre, afinal por que ela iria ficar se prendendo a alguém que ela não gosta? Acho que você tem que mudar um pouco seu modo de agir.

-Falou o que mudaria por mulher.- Combeferre falou irritado.

-Estou tentando ajudar.

-Eu sei. Mas é difícil. Ainda mais quando eu não sei como agir ela é muito...

-Misteriosa?- Enjolras perguntou enquanto observava Éponine, Courfeyrac, Augustinne, Grantaire, Marius e Cosette dançando todos juntos, fazendo graça, caretas e dançando de um jeito ridículo.

-Isso.- Combeferre concordou- Acho que eu vou tentar me juntar a eles... Vamos?

-Não. Estou bem aqui.- Enjolras respondeu e Combeferre deu de ombros e foi para a pista de dança.

Éponine chamou Enjolras com um gesto de mãos,mas ele recusou. Não sabia dançar e mesmo que seus amigos estivessem dançando de forma ridícula propositalmente, ele não tinha essa coragem.

E assim eles ficaram, fizeram brincadeiras, gritaram,cantaram, dançaram. Até que Cosette e Marius se despediram de todos indo dormir. Passou um tempo depois que eles se foram,alguns convidados também se despediram. No final ficou apenas o pessoal da limpeza e os amigos,todos suados, e um pouco alterados por conta da bebida na pista de dança.

-Já quer ir para o seu quarto, querido?- Fantine apareceu do lado de Enjolras e colocou uma mão no ombro dele- Você deve estar cansado. Seu dia foi cheio hoje. Éponine me contou o que o amigo de vocês aprontou.

-Merci ,senhora...

-Nada de senhora. Me chame de Fantine.- ela se sentou na cadeira vaga ao lado dela.- Hoje um dos meus sonhos se realizou. Ver uma das minhas filhas se casando. Agora só falta essa cabeça dura.- ela falou enquanto olhava para Éponine- Eu sei que ela não é minha filha. Mas ela é minha, sabe? Faria tudo o que é possível para vê-la bem e feliz.

-Mas ela está bem e feliz.- Enjolras falou enquanto observava Éponine se divertindo.

-Ela finge muito bem. Eu não sei o que falta. Ela é esse poço de tristeza sem fim, mesmo depois de tudo que fizemos por ela e para ela ficar bem... ela ainda continua com esse olhar triste,mesmo quando ela sorri, você percebe que nunca chega ao olhar dela... Eu sei que você sabe disso.

-Eu?- Enjolras perguntou surpreso.

-Você passou a noite inteira observando cada movimento dela. Aquela noite no dia da peça dela, você a olhava de uma forma que parecia que via através dela, ou tentava. E ela gosta da sua companhia. Digo isso porque sou muito observadora... Eu espero que seja você a transformar minha filha em uma pessoa livre dessa tristeza. – ela suspirou se levantando.- Venha vou te mostrar o seu quarto. Depois volto para pegar as criançonas ali.

Enjolras não disse nada, apenas se levantou e começou a seguir Fantine. Sinceridade era uma coisa muito comum entre eles. Cosette dizia o que pensava, Fantine também. Ela falara aquilo não com a intenção de assustar Enjolras e o afastá-lo de Éponine e sim com a idéia contraria,para ver se o fazia acordar .

-Aqui- Fantine abriu a porta do quarto que tinha duas camas de solteiro e dois colchões no chão.- Espero que você não se importe de dividir o quarto.

-Não. Esta tudo ótimo. Merci senho... digo Fantine. Bonsoir.

-Bonsoir, Enjolras.

Fantine fechou a porta. Enjolras olhou ao redor. O quarto era grande,tinha um banheiro , um guarda roupas e uma janela grande de vidro. Ele se aproximou e olhou para fora. Dali ele pode ver quase toda a propriedade. O céu estava mais escuro e as estrelas mais brilhantes. Uma vez ele ouviu dizer que quando o céu estava mais escuro,era porque estava próximo do amanhecer. E de fato estava,já eram quase 04:00 da manhã.

Enjolras olhou para baixo e viu seus amigos, indo em direção a casa,trôpegos e rindo. Fantine os guiava com um sorriso paciente, enquanto Grantaire parava e começava a beijar uma árvore. Éponine estava montada nas costas de Courfeyrac e ria da cena. Enjolras se sentiu estranho ao vê-los daquele jeito e se lembrou que assim como ela havia beijado ele aquela noite, ela também já havia beijado Courfeyrac.

Ele se afastou da janela e começou a tirar a roupa,quando se lembrou que não tinha pego nada. Só estava com a roupa do corpo. Deu de ombros, iria dormir sem camisa e com a calça,afinal ali só iriam ficar seus amigos. Courfeyrac, Grantaire e Combeferre talvez.

Foi no banheiro e para sua sorte havia escova de dentes fechadas. Abriu uma e escovou os dentes para tirar o gosto da bebida. Se tinha uma coisa que Enjolras detestava desde de criança era dormir com a boca suja. Jogou uma água no rosto e se encarou no espelho sem se ver. Balançou a cabeça e voltou para o quarto se deitando na cama.

Estava tão cansado que assim que se deitou sentiu aquela dorzinha de alivio ,de quando o corpo consegue finalmente relaxar e sabe disso. Em questão de segundos estava dormindo,nem reparou a hora em que seus amigos foram se deitar.