Três Meses

Harry

"Ela vai ficar arrasada, você sabe disso." eu olhei para Alice enquanto ela tomava o seu suco.

"Porém, ela precisa saber a verdade, Harry! Essa garota é praticamente a inspiração da vida de Aster."

Respirei fundo.

"Você já tem uma ideia de como contar?" perguntei passando a mão pelos cabelos.

Ela apenas balançou a cabeça negativamente mas então disse:

"Mas farei isso nem que seja por impulso.".

Ficamos em silêncio por alguns instantes até que Alice deu um tapa na minha mão.

Eu juro que aquela garota era louca.

"Você é outro babaca também, Harry Styles! O senhor já devia ter contado toda a verdade a ela, em vez de estarmos aqui debatendo se devemos ou não contar."

Neguei com a cabeça:

"Não quero que ela ache que o que eu tenho a dizer é só por interesse próprio e para me dar vantagem numa futura decisão que ela venha tomar."

"Você é um idiota, já disse. Aster nunca vai pensar em você por um lado ruim e ela nunca escolheria ficar com você se não gostasse realmente de ti." Alice olhou para as unhas falando como se explicasse uma soma de 2 e 2.

O celular de Alice tocou e ela me deixou saber que era Aster.

"O que houve, As?" Alice perguntou alarmada. "Está bem, está bem, chego em casa em alguns minutos."

Ela desligou o telefone e pegou sua bolsa agilmente, preparando-se para partir.

Eu me levantei rapidamente.

"Ei, eu, você vai embora assim e não vai me falar o que está acontecendo? A Aster está bem?"

"Fisicamente, sim. Emocionalmente, nem tanto. Acho que demoramos demais decidindo quando deveríamos contar a verdade, em vez de fazê-la de uma vez."

Aster

Pisquei várias vezes e franzi a testa.

Esfreguei os olhos e arqueei as sobrancelhas.

Thomas estava mandando uma pessoa voltar outra hora.

E se eu estava enxergando bem, essa pessoa era ninguém mais, ninguém menos que...

"Hayley? Hayley McConnel?" quando as palavras saíram da minha boca, Tom se virou rapidamente para mim e a suposta Hayley se inclinou para me olhar.

"Já nos conhecemos?" ela tentou parecer agradável, mas dava para perceber que ela estava bastante irritada. Talvez, confusa.

Tão confusa como eu estava.

"Não pessoalmente," eu disse caminhando lentamente até que eu estivesse ao lado de Thomas."Sou uma grande fã do seu trabalho e acompanho seu blog. Quer dizer, acompanhava já que decidiu dar um tempo."

Se estivéssemos em outro contexto, provavelmente eu estaria tietando a garota, mas naquele momento nada fazia sentido.

Ela encarava Tom, mas ele desviava do seu olhar. Ela voltou a olhar para mim, dessa vez me analisando nos mínimos detalhes.

"Sim, eu... queria tirar um tempo para mim."

Ficamos em silêncio. Thomas se balançava para frente e para trás.

"Acho que deveríamos voltar para dentro."

"Não sabia que você conhecia a Hayley, Tom. O que ela faz aqui?"

"Você não me contou que tinha uma irmã."

Thomas, eu e Hayley, respectivamente, falamos ao mesmo tempo. E se não tivesse tudo muito confuso, talvez poderia ter sido engraçado.

"Aster não..."

"Eu não sou irmã de Thomas." minha voz saiu meio amarga enquanto eu tentava juntar as peças. "Eu sou a namorada dele."

Tecnicamente, estávamos prestes a terminar, mas se ambos já se conheciam antes daquele momento, eu ainda era a namorada dele.

Porém, Hayley pareceu surpresa com essa informação.

"Oh, entendo. Então eu devo ter atrapalhado algo importante. Perdoem-me." Ela tentou dizer casualmente, mas tinha algo a mais em sua voz.

"Não, não. O que tiver que falar com Thomas pode falar aqui e agora, não estávamos fazendo nada importante mesmo."

"Aster..." Tom disse como uma repreensão.

"O quê? É assunto confidencial? Não consigo imaginar algo que vocês dois tenham a tratar que eu não possa presenciar, certo? A menos que isso me atinja de alguma forma."

Eles trocaram olhares, mas o de Thomas era nervoso e o de Hayley era praticamente indecifrável.

"Lógico que vocês vão ter que me deixar a par da situação. Então, por que não começam por quando se conheceram?"

*

Eu prometi a mim mesma que não surtaria enquanto estivesse ali.

No momento em que nos sentamos no sofá, precisamos de mais ou menos cinco minutos para nos preparar. Eu tinha um alerta vermelho na minha mente àquela altura.

Pensei que Hayley seria a última que se pronunciaria, entretanto ela foi a primeira.

"Antes começarmos quero que fique bem claro que eu não sou uma vadia destruidora de relacionamentos e que seu namorado é um canalha."

Ela falou tudo num fôlego só e eu senti como se arrancasse um band-aid de uma vez só. Mal percebi que meu queixo praticamente tocava o chão.

Três meses.

Há três meses, quase logo depois da minha viagem para New Hampshire, eles já estavam se vendo.

Eu só fui perceber que estava tudo em silêncio, que ambos me encaravam e que eu chorava, quando uma lágrima caiu na minha mão.

"Aster, eu não queria magoar você e..." Thomas começou mas eu o interrompi.

"Não queria me magoar? Bem, acho que o seu plano não deu muito certo porque eu estou me sentindo bem magoada agora." minha voz foi aumentando gradativamente e eu me levantei do sofá. "Você poderia ter me contado. Ter me contado que não sentia mais nada por mim. Eu não iria te prender a mim."

"Aster..."

"Eu cruzei a droga do país numa Kombi, por você. Eu estava fazendo planos para morar sozinha e longe do meu pai só por sua causa e enquanto isso você me traía pelas costas. E você ainda diz que não queria me magoar." naquele momento eu não tinha controle nenhum sobre as minhas lágrimas. "Quando você pretendia me contar isso? Quando eu movesse os céus e a terra por você? Ou melhor, você nem pretendia contar?"

Meu primeiro amor e minha inspiração naquele momento eram também as duas pessoas que estavam acabando com tudo de bom dentro de mim. Era difícil de acreditar.

Além disso, olhar Thomas e vê sua expressão praticamente inexpressiva enquanto eu me desmanchava na frente deles, foi demais. Doeu muito mais do que qualquer coisa que ele poderia ter feito nesse tempo pelas minhas costas.

Ele simplesmente não valia a pena. Todo esse tempo. Todas as reflexões que eu tive durante a viagem não foram por está sozinha há meses ou por estar ficando paranóia sentindo sua falta. Elas tinham um fundamento.

Hayley nem se incomodava a levantar a cabeça, pelo menos um deles era sensato. Ela olhava para suas mãos cruzadas em cima do colo como se sua vida dependesse disso.

Pelo que eu podia ver do seu rosto, ela também não estava nos bons termos com o Thomas depois de tudo isso.

Então foi aí que eu tive certeza que meu lugar não era ali. Thomas nem ao menos merecia que eu chorassem em sua presença. Eu arrumei minha roupa, enxuguei as lágrimas que já haviam escorrido pelo meu rosto e impedir que outras seguissem o mesmo caminho.

"Eu espero que nunca alguém faça com você o que você fez comigo." Foi a última coisa que consegui dizer antes de me direcionar para a saída.

Quando eu estava passando pela porta alguém veio atrás de mim.

Era Hayley.

"Estou indo embora também. Não tenho mais nada para fazer aqui." ela disse para ninguém em especial enquanto andava em direção ao seu carro. "Olha, Aster..."

Eu me virei para ela a contragosto.

"Eu realmente não fazia a mínima ideia de que Thomas tinha ou poderia ter uma namorada, principalmente há tanto tempo. Não sou o tipo de mulher que gosta de ser a outra." refleti o sorriso fraco que ela me lançou.

"Quem sabe um dia nós encontramos novamente num contexto diferente." ela assentiu com a cabeça.

"Espero que um dia você me perdoe e que ache alguém que faça por você o que você faria pelo Thomas."

Inconscientemente, um sorriso de verdade apareceu em meu rosto quando eu disse:

"É, na verdade, eu acho que já faz um tempo que encontrei essa pessoa."

*