When Love Comes Around | h.s.

"There's just no getting over you..."


Não sei quando exatamente eu parei de chorar e caí no sono, mas parecia que eu havia dormido séculos quando ouvi a voz de Harry me chamar.

"Aster" eu abri os olhos e o encontrei parado em minha frente. "Bem, eu...hm...estou indo almoçar. Você vai ficar aí?" ele parecia tão desconcertado quanto eu. Pensei em dizer que ficaria por ali mesmo e que não estava com fome, mas meu estômago fez um daqueles barulhos estranhos que nos deixam envergonhados.

Harry pareceu entender o recado:

"Te espero lá fora, então." eu assenti com a cabeça.

Coloquei um casaco por cima da blusa, já que estava entrando um vento frio pela janela, e fazer isso era apenas mais uma opção para procrastinar ao máximo uma caminhada até não-sei-onde, lado a lado com ele.

Andávamos afastados, mas não o suficiente para que não percebessem que estávamos juntos.

Ele abriu a porta do simples restaurante para mim e eu senti seu perfume quase tomar conta dos meus sentidos. O local estava abarrotado de trabalhadores em horário de almoço. Suas feições eram cansadas contrastando com suas vozes ora irritadiças, ora entusiasmadas e ainda por cima demasiadamente altas.

Que dia seria hoje? Quarta ou Sexta? Eu não fazia ideia, e para ser honesta, não fazia a mínima questão de saber.

Escolhemos silenciosamente uma mesa no canto do restaurante e Harry sentou-se à minha frente ainda sem olhar para mim.

Um garçom de seus trinta e poucos anos parou na nossa mesa com um ar meio animado, talvez por sermos os únicos que não o atrapalharia de fazer o seu trabalho obrigando-o a ouvir reclamações sobre um dia desgastante de serviço.

Fizemos nossos pedidos e o garçom nos prometeu que logo traria nossos pratos, o que eu particularmente duvidava muito.

Agradeci aos céus por estar sentada ao lado de uma janela, pois assim que eu e Harry ficamos sozinhos, ele se concentrou apenas em seu celular e eu foquei na paisagem lá fora.

Como eu imaginava, já tinham se passado quase meia-hora e nossa comida parecia que não viria tão cedo.

Cansada de contar quantos carros vermelhos passavam lá fora ou quantas figuras estranhas as nuvens formavam, resolvi quebrar o gelo.

"O que houve com a Scarlet?" Os olhos surpresos de Harry rapidamente encontraram os meus.

Ele demorou um segundo a mais do que o necessário para responder e desviou o olhar.

"Não era nada grave. É que provavelmente você nunca fez um trajeto como esse com ela, então o motor se desgastou, folgou os anéis dos pistões e outras coisas que eu não faço ideia do que significam. Porém, o mecânico disse que teria que colocar um óleo mais duradouro e fazer uns reparos." ele deu de ombros.

"Quanto me custou?" eu perguntei já pensando nos cortes que teríamos que fazer até chegarmos na Califórnia.

"Não muito, eu paguei, não se preocupe." seu olhar era inquieto, mas nunca encontrava o meu.

"Como assim você pagou?" eu o encarava.

"Custou só cento e cinquenta dólares, não foi grande coisa. Eu tinha achado ontem cento e cinquenta dólares na minha mochila e pronto."

"Assim que chegarmos em Lakeport eu te pago." consegui notá-lo rolando os olhos, concordando falsamente com a minha decisão apenas para que eu parasse de encher sua paciência.

Então finalmente nossas refeições chegaram.

Minha relação com o Harry estava exatamente como eu imaginava que seria desde o começo da viagem. Fria e imparcial. Esperando ansiosamente o momento em que chegaríamos ao nosso destino para que cada um seguisse o seu caminho.

Naquele momento eu desejava que isso realmente tivesse acontecido. Desejava que ele tivesse continuado sendo um arrogante e prepotente como no dia em que nos conhecemos. Porém, com muito azar, eu teria sentido do mesmo jeito algo por ele.

"Desculpa." me surpreendi ao ouvir sua voz. "Quero dizer, pelo beijo. Eu não deveria ter feito aquilo." ele parecia decepcionado consigo mesmo.

"Me desculpa pelo tapa, mas eu realmente não esperava aquilo." disse com um pouco de humor e ele sorriu fracamente.

"Você não precisa se desculpar, foi merecido." nós rimos discretamente, de repente ele ficou sério e se concentrou em seu prato. "Porém, para ser sincero com você, não posso dizer que me arrependo ou que se tivesse outra chance faria diferente. Poderia mentir para você, mas não para mim mesmo." eu arregalei os olhos, mas tentei me recompor

Ele parecia preparado para essa minha reação pois não disse mais nada.

Pagamos nossas refeições e fizemos o caminho de volta à kombi, dessa vez mais separados do que quando viemos.

Apesar de ter dormido bastante antes de chegarmos onde estávamos, meus olhos ainda estavam pesados assim como todo o meu corpo. Os passos pesados de Harry revelavam que ele não estava se sentido muito diferente de mim.

"Acho melhor descansarmos antes de voltar para a estrada." ele concordou com a cabeça.

Eu me ajeitei em um dos últimos assentos de Scarlet, que eram os mais espaçosos, e Harry deitou num banco localizado de frente para mim.

Encolhida, abracei os meus joelhos e joguei minha cabeça para trás encostando-a na janela. Harry tinha as pernas esticadas por todo o banco e encarava o teto respirando pesadamente.

Ele parecia concentrado em algo e eu me deixei analisá-lo por completo.

Comecei pelos seus cabelos encaracolados que combinavam perfeitamente com o formato de seu rosto e seus olhos verdes que mesmo sem estarem sendo direcionados para mim, reluziam um brilho particular. Suspirei fundo ao reparar sua camisa de manga moldada em seu tórax e braços, tornei a subir o olhar e finalmente paralisei em seus lábios.

Cheios e convidativos. Com certeza qualquer garota faria de tudo para receber um beijo deles. Eu mesma ainda podia senti-los sobre os meus, sua maciez e autoridade.

Poderia sentir como eles pareciam ser o molde perfeito para os meus.

Lentamente ele virou a cabeça na minha direção e nossos olhares se encontraram.

Surpreendendo a mim mesma mantive o olhar por quase um minuto. Nossas respirações estavam sincronizadas como se fossem uma só. Era um barulho agradável e angustiante ao mesmo tempo.

"Desculpe se eu te assustei, mas é o que eu sinto." ele fechou os olhos mas os abriu novamente.

Seu olhar era tão forte e intenso que parecíamos ter uma longa conversa silenciosa, seus olhos pareciam querem me dizer muito mais coisas que suas palavras. Coisas que eu não tinha certeza se queria realmente saber então era a hora de desviar o olhar.

"Sabe" eu comecei. "Poderíamos esquecer o que aconteceu." eu dei de ombros. "Não gosto desse clima entre nós."

Eu percebi ele balançando a cabeça concordando.

"Também não gosto. Prefiro mil vezes você tagarelando ou me xingando do que sem nem mesmo olhar na minha cara. Então se esquecer é a condição, eu aceito." ele disse tudo isso pausadamente voltando a olhar para o teto.

Agora era oficial, tínhamos que chegar na Califórnia o mais rápido possível. Esperava de todo o meu ser que coração parasse de ser comportar daquela maneira e tudo voltasse a como era antes.

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