Aster

Ficamos abraçados por alguns minutos e não sei quando eu comecei a chorar.

A mão de Harry acariciava da minha nuca até a base da minha coluna.

"Como ele pôde fazer isso comigo?" Minha voz saiu fraca e entrecortada.

"Porque ele é um canalha." Foi Alice quem disse entrando no quarto e se jogando na cama. "Eu sempre soube que tinha algo errado com esse garoto."

"Mas, por que comigo, Ali?" eu disse saindo do abraço de Harry, mas ainda me mantendo perto. "Não que eu esteja desejando isso para alguém, mas ele poderia ter arranjado alguém que não se importasse com ele o tanto quanto eu. Alguém que não desse a mínima para uma traição. Por que tinha que ser eu?"

Harry passou a mão pelos cabelos e disse:

"Eu também não entendi o ponto dele aqui. Se ele não estava mais interessado no relacionamento, por que não terminar de uma vez?"

Algo apitou em minha mente, mas ainda era muito vago.

"Você acha que Thomas estava comigo por alguma coisa e não por sentimento?" arregalei os olhos, pois aquilo poderia ser um bom palpite.

Eu não sabia o que esperar de Thomas depois do que aconteceu.

"E a menina? Era a Hayley, mesmo?" Alice perguntou me puxando para o seu lado na cama.

"Em carne e osso! O quão irônica é essa situação?" eu estava sentindo como se tudo fosse um pesadelo e eu fosse acordar finalmente em alguns instantes.

"Parece que você está vivendo um desses seus livros que você vive lendo." Alice acariciou os meus cabelos.

"Crianças! O bolo anti-choro está pronto! Só aceito lágrimas de felicidade." A avó de Alice gritou da cozinha.

Eu sempre ficava impressionada como uma senhora daquela idade tinha uma potência vocal tão invejável.

"Ótimo, agora deixa essa tristeza de lado e pode começar a me contar tudo que aconteceu lá na editora." Alice disse

*

Harry e eu voltamos para casa em silêncio, apesar de ter notado ele me olhando vez ou outra.

Num primeiro momento achei que fosse para checar se eu estava ou não tendo outra crise de choro, mas quando chegamos em casa, não era apenas ele, mas minha avó também estava agindo estranho.

Comemos sem muito movimento além da constante troca de olhares entre os dois que estava me fazendo suspirar de impaciência vez ou outra. Eu tinha a sensação que estavam escondendo alguma coisa de mi, entretanto eu já tinha muita paranoia para um dia só.

Entrei no meu quarto, depois de tomar um banho que durou pelo menos uma eternidade, e apenas naquele momento, sozinha embaixo das minhas cobertas eu processei realmente o que havia acontecido naquele dia.

Então eu chorei de verdade. Chorei até o momento que eu não tinha certeza sobre o que estava chorando.

Chorei porque apesar de não ter mais certeza da intensidade do meu sentimento por Thomas, eu ainda me sacrificaria por ele.

Chorei porque me lembrei como me sentir a pior pessoa do mundo por estar nutrindo sentimentos por Harry enquanto ainda estava com Thomas.

Chorei porque toda a minha indecisão foi para nada. Thomas nunca faria parte do meu futuro. Mais cedo ou mais tarde eu acabaria descobrindo e...

"Ei, ei." senti os braços de Harry me abraçando pelas costas. "Você está aqui chorando sozinha." ele descobriu meu rosto segurando-o com as duas mãos.

"Desculpa." eu disse entre soluços e ele franziu a testa.

"Do que você está se desculpando exatamente?" ele enxugou minhas lágrimas.

"Por tudo. Por ter te colocado nessa situação. Por ter, de certa forma, dado prioridade para alguém que não merecia." eu me sentia realmente envergonhada por minhas ações e escolhas.

"Ninguém está aqui para te julgar, Aster. Quem tem certeza que não faria o mesmo em seu lugar? Você namorava o Thomas há não sei quantos anos, nós nos conhecemos há praticamente um mês e..." eu impedi que ele continuasse falando e o abracei.

"Obrigada por ficar ao meu lado nesse momento." me afastei para encará-lo em seus olhos brilhantes até mesmo na pouca luz do quarto.

Passei a mão pelos seus cabelos sedosos e foi aí que eu percebi que tinha algo errado.

Havia uma hesitação em seu olhar e eu me forcei a dizer:

"Harry? Tá tudo bem? Já tem algumas horas que eu estou percebendo algo estranho não só com você mas com a vovó também."

Ele respirou fundo.

"Eu e a senhora Duchassel tivemos uma conversa hoje." arregalei os olhos.

"Uma conversa? Sobre o quê?"

"Sobre nós, Aster. Ela desconfia que tem algo entre a gente."ele passou a mão pela lateral do meu rosto. "Ela me perguntou a intensidade do que eu sentia por você."

Senti meu coração acelerar ao lembrar da nossa última conversa na viagem, do sonho em Thomas me traía.

Analisando bem o jeito que meu coração se comportava naquele momento –e em todos em que Harry estava presente– minha escolha racional nunca fora válida. Meu coração já sabia o que realmente queria e não aparentava mudar de opinião tão cedo.

Esperei que Harry me dissesse tudo o que ele havia falado para minha avó, mas não foi isso que ele fez:

"Ela disse que sabe como são os jovens de hoje e o quão fácil você pode se decepcionar para pessoas." ele tirou o olhar das mãos e olhou para mim. "Você sabe que eu nunca faria nada para te magoar. Não, intencionalmente. Então ela falou sobre os possíveis desafios que poderíamos encontrar se ficássemos juntos. Não sabemos como será a reação do seu pai ou da minha mãe, mas já temos uma ideia do que as pessoas falarão de nós."

Balancei a cabeça negativamente, não gostando do rumo daquela conversa.

"Você sabe como as pessoas podem ser cruéis, Aster. Eu não quero fazer você passar por isso, não quero fazer nossa família passar por isso."

Ponderei um pouco. Lembrei de como as coisas finalmente estavam andando para o meu pai depois de um longo tempo. Lembrei de como Anne, a mãe de Harry, tinha acabado de achar a felicidade dela.

Não era só eu e o Harry a ser afetados, nossa recém formada família também.

Entretanto, meu coração doía ao imaginar ter que fingir que eu não sentia nada pelo Harry. Que éramos e seríamos apenas meio-irmãos.

Harry ainda falava sobre as consequências de ficarmos juntos, mas eu não estava mais ouvindo.

"Eu não ligo..." foi o que saiu baixinho da minha boca e ele me encarou com um brilho nos olhos que ele parecia tentar conter.

"O quê?" ele disse ainda mais baixo que eu por um momento pensei que eu estivesse ouvindo sua voz apenas na minha mente.

Respirei fundo e repeti:

"Eu não ligo, Harry. Eu não ligo para o que as pessoas vão falar. Você acha que elas não vão falar do mesmo jeito quando elas começarem a perceber que eu nunca vou conseguir olhar para você como uma meia-irmã ou mesmo como amiga? Você acha que quando elas nos verem lado a lado, elas não vão perceber que tem algo estranho, como minha avó percebeu?"

"Aster, você não está analisando a situação direito. Você passou por muita coisa hoje." estreitei os olhos.

"O que você quer dizer com...?"

"Você sabe que eu te amo e provavelmente vou continuar sentindo a mesma coisa para sempre, mas eu ainda tenho um pouco de autoestima." ele olhou nos meus olhos e depois de alguns segundos eu entendi.

"Você... Você acha que eu estou te escolhendo porque o Tom me traiu? Isso não é verdade!" senti meus olhos começarem arder.

"Aster, você tinha sua vida toda planejada em torno de Thomas. Suas escolhas, suas histórias, seu futuro. Eu não estou dizendo que suas intenções são falsas, mas ainda estamos no calor do momento."

"Você não acredita que eu te amo? Você não é minha segunda opção, Harry, eu percebi isso agora. Do momento em que eu te vi, você nunca foi."

Ele deu um sorriso triste.

"Eu acredito em você. Porém você não percebe como isso soa para mim? Só agora, você percebeu que eu não sou sua segunda opção? De toda a viagem quem passamos juntos, só agora?"

Eu fiquei em silêncio. Ele tinha razão, eu estava soando como uma cretina.

"Então, você acha que vamos conseguir fingir que não aconteceu nada entre a gente?"

Ele mordeu o lábio de uma forma que me fez querer beijá-lo, mas machucava tanto saber que eu não podia.

Por fim, ele assentiu com a cabeça e disse quase inaudível:

"Vai funcionar. Na verdade, o que eu vim falar com você tem relação com isso."

Franzi a testa.

Meu estômago revirava como se já soubesse o que estava por vir, mas se recusava a me contar.

"E o que você veio falar comigo?"

O silêncio durou por tantos minutos que eu achei que ele tinha desistido de falar.

"Eu pensei muito sobre isso, não vi outra maneira que fizesse bem para nós dois ao mesmo tempo, então escolhi o que seria melhor para você." ele segurou o meu queixo e se aproximou até ficassem apenas centímetros entre nossos lábios. "Ainda que você não perceba isso agora."

Antes de me falar, ele me beijou como nunca antes. E eu deixei porque aquilo era tudo que eu precisava. Ele era tudo que eu precisava.

Harry segurou os meus cabelos e beijou os meus lábios e o seu jeito familiar que parecia que ele tinha medo que eu sumisse era visível, mas tinha outra coisa ali e não parecia boas notícias.

Ele me puxou para o seu colo e liberou os minha boca, quase recebendo um protesto meu até sua boca explorava o meu queixo, o meu pescoço e a minha clavícula.

Arfei para logo depois suspirar fundo quando ele se inclinou sobre mim me fazendo deitar na cama.

Reivindiquei sua boca para mim novamente e suas mãos passearam nas laterais do meu corpo.

Seus beijos novamente desceram pelo meu corpo novamente, dessa vez descendo pelo meu tronco e descobrindo a blusa da minha pele.

Senti todo o meu corpo arrepiar. No momento em que ele acariciou minha pele com a ponta de seu nariz e eu puxei seu cabelo com uma certa agressividade, o som mais provocante e necessitado saiu da boca de Harry.

Ele segurou minha cintura firmemente com suas duas mãos e mordeu meu lábio inferior de uma maneira mais controlada do que qualquer um imaginaria.

Puxei sua camisetas, mas não a tirei totalmente pois não queríamos finalizar o beijo.

Quando nos separamos por falta de ar, nossa conexão continuou por meio de olhares. Aproveitei para enlaçar sua cintura com minhas pernas, querendo mantê-lo o mais próximo possível.

Nossos quadris se chocaram e eu pude perceber que ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele, mas eu não entendia porque ele estava hesitando tanto.

Eu já tinha dado sinais de que queria seguir em frente. Se fosse para terminar tudo entre nós dali para frente, que minha primeira vez fosse a primeira e a última com ele.

Eu o amava o suficiente para isso.

Toquei sua barriga firme e ele apoiou a cabeça em meu ombro respirando fundo. Tentei livrá-lo de uma vez daquela camiseta, porém, todo seu corpo retesou.

"As, não" ele disse fraco ao pé da minha orelha. "Não podemos. Eu não posso."

Sua voz saiu entre dentes e ele mordeu levemente meu pescoço.

"Eu não quero te ter apenas uma vez e ficar relembrando tudo em minha mente, sem estar perto de você."

Um alerta soou em minha mente e eu segurei os seus ombros para que ele olhasse para mim.

"Como assim sem estar perto de mim?" um riso nervoso escapou dos meus lábios. "Você vai estar aqui comigo."

Foi então que tudo que ele falou minutos atrás se encaixou com seu jeito estranho de agir.

"Não, Aster. Eu tô indo para casa do meu pai depois de amanhã."

***