Eu parei antes de descer o primeiro degrau. Praticamente todos os processos do meu corpo pararam junto.

Virei-me tão bruscamente que tive que me segurar no corrimão para não cair.

"Achei que você só iria pela manhã." eu ainda era capaz de distinguir o brilho em seus olhos.

"Eu só vou de manhã, mas acho que preciso de pelo menos um bocado de horas para colocar a cabeça no lugar e não jogar tudo para o alto depois de falar com você."

Aquela parte tola de mim tomou o controle novamente e andou os passos que me separavam de Harry. Ele pôs as mãos nos bolsos instantaneamente. Agora seu rosto era claro para mim como uma manhã. Cada traço, cada detalhe. Tão perto de ser meu, só meu...

"Bem, eu estou aqui agora, pode se despedir."

Seja o primeiro a dizer adeus se você tem coragem para isso.

Fechei os olhos porque não aguentava olhar para ele por mais um minuto sequer e esperei. Senti sua testa encostar na minha e sua respiração me envolver.

"Eu não consigo."

Engoli a seco e senti suas mãos deslizarem por minha cintura me puxando para perto. Muito perto. Perto demais. Perto o suficiente.

Logo, meus lábios estavam nos meus e suas costas batiam contra a parede. Um baque surdo anunciava que o ato havia sido grosseiro o suficiente para derrubar a lanterna.

As poucas horas que passamos sem nos tocar pareciam ter sido anos, décadas, séculos. A necessidade de ar era a nossa maior inimiga no momento. Suas mãos me apertavam de uma forma urgente e suave ao mesmo tempo, se é que isso era possível.

"Aster..."

"Harry..."

Nossas vozes não passavam de sussurros contra os lábios um do outro. Segurei a gola de sua camiseta e o afastei da parede. Ele me colocou em seu lugar e me guiou de costas até o seu quarto. Minhas costas bateram com violência contra a porta e Harry xingou baixinho enquanto girava a maçaneta.

Não tive tempo de lamentar suas malas todas feitas e encostadas num canto.

Não. Eu precisava que ele focasse em mim e esquecesse do resto ou ele pararia. Eu tinha certeza que ele pararia.

Era até vergonhoso se parássemos para analisar os sons desesperados que saíam de nossas bocas quando não estavam grudadas uma na outra. Minhas mãos exploraram sua pele sob a camiseta e logo ela não estava mais ali.

Suspirei profundamente quando seus beijos desceram pelo meu pescoço enquanto eu tentava digerir a imagem do seu tronco nu. Aquela me visão sempre me deixava estonteada.

Uma de suas mãos subiu por minha nuca e soltou meus cabelos puxando-os levemente. Gemi em aprovação.

O som pareceu despertar Harry. Ele se afastou minimamente me olhando com os olhos arregalados.

"Aster." Não deixei que ele começasse com aquela papo novamente, puxei-o para mim novamente. Arrastei minhas unhas por toda a extensão das suas costas e beijei num ponto bem próximo de sua orelha. "Você vai me deixar louco."

"Justo, você já fez isso comigo." ele riu baixinho contra minha pele. Seus lábios estavam em meu ombro e minha testa apoiada em seu peito enquanto tomávamos fôlego. Harry mexia na barra da minha blusa como quem decidia se a tiraria ou não. "Tire-a de uma vez."

Ele me olhou novamente, no fundo dos meus olhos. Os seus perguntavam hesitantes, os meus respondiam convictos.

"Não quero que se arrependa." disse baixinho.

"Só vou me arrepender, se não for com você." respondi acariciando o seu rosto.

Eu não ligava que ao nascer do Sol seguiríamos caminhos diferentes, sem a certeza de que os cruzaríamos novamente. Ele estava ali e eu também. Que fosse a única vez, mas que fizesse valer.

Quando nossas roupas se juntaram no chão, quando nos tornamos uma mesma alma, numa mesma pessoa, num mesmo coração batendo tão forte que doía, eu percebi o que aquilo significava.

Significava destruição. Meu antigo eu depois dessa noite seria destruído por completo. Harry me daria o que eu pedia, mas ele não notava que me destruiria no processo. Que me destruísse então, mas me destruísse por inteiro e não só uma parte.

Eu me entreguei a ele e sentia que ele tinha feito o mesmo. Um pedaço dele sempre estaria comigo e, o meu com ele.

Quando ele colocou a proteção, ele me lançou um último olhar questionador, mas eu não tinha mais dúvidas. Não com ele, nunca com ele.

No momento em que ele me preencheu de todas as formas possíveis. Meu corpo era dele, minha mente e meu coração... Ali, eu percebi que sempre seria. Não importava quantos anos passassem. Quantos viessem depois dele. Ele seria o primeiro e único.

Harry

Ela chorou depois da segunda vez. E eu chorei quando ela adormeceu em meus braços.

Aster tinha sido mais perfeita do que qualquer imaginação medíocre que eu tivera. Mais perfeita do que qualquer garota que eu deitara.

Tentei não fazer grande coisa de suas lágrimas porque eu sabia que não eram por causa de uma dor física, mas uma dor emocional. Eu sabia porque eu sentia também. Doía mais do que tudo saber que nunca mais eu conseguiria colocar outra em seu lugar.

Era melhor que chorássemos agora entre nós, do que quando eventualmente teríamos que envolver toda a nossa família nisso. Eu não tinha certeza de como minha mãe reagiria, mas estava bem certo que o sr. Duchassel não ficaria nada feliz com o que eu fiz com sua filha. Aster não merecia isso, não merecia que o relacionamento com a pessoa mais próxima a ela depois que sua mãe morreu fosse desgastado por minha causa.

Minha mãe não merecia que, agora que ela estava de fato seguindo sua vida depois do canalha do meu pai, eu arruinasse tudo. O pai de Aster também não merecia isso.

Era melhor que eu fosse embora, que eu me afastasse. Mesmo que isso me levasse de volta ao meu querido pai, mesmo que isso me afastasse da garota da minha vida.

De novo.

Depois que ela chorou, ela se esforçou para dar o seu melhor sorriso. Era o suficiente para mim. Ela disse que me amava. De novo, de novo e de novo. Eu respondia com a mesma frequência. Até que o último "eu te amo" saísse da sua linda boca como um sussurro quase inaudível e ela dormisse. Era o que eu precisava para seguir em frente.

Diferentemente do que pensei ela não pediu para que eu ficasse outra vez. Talvez havia percebido que não adiantaria muito. Não agora.

Os raios de sol estavam despontando no horizonte e então eu resolvi que era hora de ir. Agora não importava a dor. Eu teria que ir.

Aster ainda dormia quando eu fui em direção ao banho e continuou assim quando eu voltei.

Me vestir enquanto a observava foi um martírio. Observar como o lençol desenhava cada curva do seu corpo que foi meu por uma noite.

Que seria meu para sempre.

Deixei um bilhete ao seu lado na cama e coloquei um alarme sobre ele para que ela acordasse antes de sua avó e tivesse tempo de voltar para o seu quarto.

Beijei de leve sua testa e encostei meus lábios com os seus uma última vez.

Fechei a porta do quarto na saída e pensei ter ouvido um soluço do lado de dentro. Esperei, mas não ouvi mais nada.

Segui adiante antes que minha força de vontade evaporasse.

***