Abri os olhos depois de um "cochilo" pela milésima vez naquele dia. Eu estava sozinha na cama, mas ainda poderia sentir os braços de Harry em volta de mim depois de vários beijos e conversas sem nexo. Ele não havia me deixado há muito tempo já que o seu lado do colchão ainda tinha um pouco da temperatura do seu corpo.

Eu gostava como Harry não parecia entendiado ou atrasado para algum compromisso enquanto eu falava com ele.

Tom fazia parte do time da escola e também era um dos melhores alunos de todos os anos. Eu o admirava porque hoje em dia de ver um cara gastando horas de treino físico sem comprometer seus neurônios.

Lembro de quando o vi pela primeira vez entrando no prédio destinado ao Ensino Fundamental. Ele já tinha aquele estilo de andar irreverente que atraiu não só a mim, mas também mais da metade da população feminina daquele prédio.

Naquela época, eu tive um motivo que parecia plausível para amá-lo. Com ele tinha sido o meu primeiro beijo e, considerando os dias , quase anos que eu passei pensando nele, eu poderia dizer que ele era o meu primeiro amor.

Eu só fui começar a conversar com ele de fato depois de mais ou menos dois meses quando a professora nos colocou como dupla de trabalho até o fim do ano. Eu o achava maravilhoso e simpático, afinal ele que escutava meus problemas sobre amizades e até mesmo sobre a família.

Ainda sim, não importava se a notícia que eu dava era boa ou não, ele dizia:

"Sério? Que barra." ou "Ainda bem que está tudo ficando bem."

Depois ele sempre esperava uns cinco segundos, apontava para o papel do trabalho que estávamos fazendo na hora e dizia:

"Hm, quando você estiver pronta podemos começar."

Relembrando aquela cena naquele momento, aquilo soava um pouco rude.

Apesar disso, ficávamos muito tempo juntos e na época eu não tinha ninguém estava isolada de todos. De um dia para o outro, minhas "amigas" acharam que seria divertido me excluir. Alice sentava comigo algumas vezes no intervalo ou no almoços, porém comíamos nossas refeições num silêncio que chegava a ser sagrado. Tom, no entanto, já era o único para quem eu costumava desabafar porque eu tinha uma confiança inexplicável nele. Nem tão inexplicável já que eu estava apaixonada por ele.

Para mim não interessava se ele estava me ouvindo ou não, já era uma dádiva estar ao lado dele.

Agora isso soava ridículo. Era como se eu fosse devota a um "santo" que não dava a mínima para mim.

Nas férias que precederam o começo do último ano do Ensino Fundamental, Tom viajou e quando voltou era praticamente uma pessoa diferente.

Algumas semanas depois ele simplesmente se declarou para mim e foi como um sonho se tornando realidade.

Começamos a namorar logo e Thomas alternava entre ora atencioso, ora não querendo estar realmente ali. Comigo.

Reparando bem, até mesmo nas horas em que ele parecia atencioso, não chegava nem um por cento interessado no que eu falava quanto o Harry.

Eu odiava comparar os dois, mas minha mente insistia em fazê-lo.

Talvez, aquele jeito de Tom era porque ele sempre estava com sua rotina sobrecarregada.

Talvez, Harry fosse armadilha. Bom demais para ser verdade.

Não estava a fim de descobrir nada disso agora.

Meu telefone celular tocou e o rosto de Tom, meio emburrado porque não queria que eu tirasse aquela foto, acendeu a tela do aparelho, mas não fez aumentar a vontade de falar com ele.

Constatei que ainda era cinco e meia da manhã quando peguei o celular em minha mão. Imaginei porque ele estaria tentando falar comigo, porém não me senti mal por deixar que ele ligasse até desistir. Foi o rosto dele a última imagem que vi antes que meus olhos pesassem novamente.

*

Harry me beijava calorosamente enquanto andávamos até o meu quarto.

O caminho revelava que estávamos na minha antiga casa na Califórnia, mas eu não entendia o porquê.

As mãos deles percorriam o meu corpo me fazendo me sentir de um jeito que eu nunca havia sido tocada antes. Era um sentimento diferente e algo me dizia que naquela vez não iríamos ficar apenas nos beijos.

Só de pensar nessa possibilidade eu sentia aquele frio na barriga. Sempre imaginei aquele momento com o meu namorado, não que eu fosse reclamar se fosse com o Harry.

Muito pelo contrário.

Ele abriu minha porta com uma destreza impressionante e ficamos um tempo parados na passagem.

Ele tirou minha camiseta e me carregou no colo dando beijos em meu pescoço. Definitivamente estava ficando quente ali.

Eu estava de olhos fechados aproveitando aquela sensação boa.

"Aster." a voz de Harry soou baixa em meus ouvidos e eu abri os olhos lentamente.

Eu poderia ter focado em seu rosto corado e seus cabelos bagunçados, mas foi a cena que se desenrolava atrás dele que chamou minha atenção.

Minha mente começou a processar as coisas lentamente.

Tom na minha cama. Debaixo dos meus cobertores. Tom com outra garota na minha cama debaixo dos meus cobertores.

Harry me encarava tentando decifrar minha expressão quando eu empurrei seus ombros para que ele me colocasse no chão.

Foi só ele olhar para onde eu olhava que ele adquiriu a mesma expressão que eu.

"Tho..mas?" minha voz saiu entrecortada.

Ele parou o que estava fazendo e olhou para mim. Primeiro, sua expressão foi de surpresa, com os olhos arregalados. Depois se resumiu em um sorriso cínico, que vinha tanto dele quanto da garota que estava com ele.

"Oi, Aster." ele levantou da cama, apenas vestindo uma cueca, e veio até mim.

Ele tentou me tocar mas eu recuei.

Não queria acreditar no que via e não poderia admitir que me sentia... traída.

"Por que a surpresa, querida?" a garota, quem eu tinha a leve impressão de conhecer, se pronunciou ainda na cama. "Você não está fazendo o mesmo com o Tom. Traindo ele com o seu meio-irmão?"

Aquilo foi como um golpe certeiro. Ela estava certa. Muito mais do que certa.

Thomas estava me traindo, mas eu estava fazendo o mesmo. Nenhum dos dois tinha alguma defesa naquele momento.

"Como você pôde me trocar por ele? Você me ama desde o nosso primeiro beijo." Thomas tentou me tocar novamente.

"Não encosta em mim." pude sentir as lágrimas rolarem.

Era como se tudo estivesse contra mim. Eu não tinha desculpas para dar. Eu não tinha razão. Nenhum de nós dois tinha.

"Agora é hora de você escolher, Aster. Você pode me perdoar, eu te perdoo também e você vive feliz para sempre com o seu primeiro amor. Ou você escolhe ele, que você conheceu a menos de um mês e aceita as consequências de preferir uma paixonite à um amor de verdade."

O que ele estava fazendo?

De todas as maneiras que me imaginei tomando uma decisão sobre os dois, essa nunca passou pela minha cabeça.

Então Harry se virou para mim:

"E então? Como vai ser?"

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