When I Saw You.

Aquele em que o babaca egocêntrico leva um tapa.


- Preciso de autorização para entrar na minha própria casa? – Ela diz com um sorriso debochado no rosto.

Eu fico sem reação. Não sei o que esperar dela, nunca pensei que simplesmente surgiria do nada.

— Sesshoumaru foi para o escritório hoje. – Kouga diz me cutucando.

— Isso! Ele está no escritório. Mas fique a vontade ... Ele deve – Digo animada dando um sorriso para a mulher que apenas coloca os óculos novamente e sai me deixando completamente no vácuo – Você sentiu como se o tempo tivesse esfriado de repente? – Digo para o moreno que observa junto comigo ela entrar no carro e ir embora.

— Bom, sabemos a quem o Sesshoumaru puxou. – Ele diz suspirando.

— Ele não é tão assim, é? – Pergunto um tanto sem jeito.

— Ele é exatamente assim. – Kouga diz irritado revirando seus olhos azuis e eu suspiro pesarosamente.

Talvez ele tenha razão.

—-

— Eu não acredito que perdi a votação. – Digo irritada pegando um pedaço de pizza – Poderoso chefão é chaaaaaaaaaaaaaato!

— Calada! – Kouga e Inuyasha dizem em uníssono e eu acabo rindo por vê-los sem graça ao concordarem com alguma coisa.

— Gente, esses sabores vieram totalmente errados ou estou ficando louca? - Digo olhando caixas das pizzas.

Estou completamente entediada. Já repassei mentalmente o alfabeto de trás pra frente. Levanto deixando todos na sala de cinema e resolvo explorar esse casarão mal assombrado.

Tento abrir as salas em volta mas todas estão fechadas.

Bem no cantinho do corredor tem uma escada, fininha subindo ao sótão.

— Ah, não deve ter nada demais ... – Começo a dar meia volta mas a minha curiosidade fala mais alto me fazendo subir torcendo para que a porta esteja aberta.

A escada é velha e ao contrario do resto da casa essa porta está completamente coberta de poeira. Eu giro a maçaneta e me surpreendo ao ver que está destrancado.

— Oh!

TUDO ESCURO.

Tateio envolta da porta procurando um interruptor mas não encontro. Vejo um fiozinho de luz bem no interior do cômodo que parecer cobrir a casa inteira. Tudo que consigo perceber é que tem várias caixas atrapalhando a passagem de luz da pequena janela em formato oval na parte da frente do sótão.

Vou em direção a luz derrubando algumas coisas sem querer no caminho, se fosse importante não estaria aqui não é?

Sinto uma mão me segurar e um frio sobe pela minha espinha. Aos poucos também me sinto mais pesada, estranho demais.

— AAHHHHHHHHHHH! – Tento me soltar e acabo caindo derrubando quem quer que seja idiota o suficiente para me dar um susto.

POV INUYASHA

— Sua idiota! – Grito com a garota que está embaixo de mim.

— Eu que sou idiota seu idiota? Você vem aqui no escuro e me dá um baita susto filho da puta e ainda eu que estou errada?! – Ela começa mas eu tapo sua boca com a minha mão até ela parar de falar – Você ta me sufocando! – Ela diz com dificuldade exagerada e parece um tanto sonolenta.

— Quieta. Você está atrapalhando um clássico lá embaixo. Eu vim ver qual era o motivo de tanto barulho mesmo sabendo qual era! – Ela bufa me encarando com seus olhos escuros. A fraca luz do sol que entra entre as caixas consegue me fazer ver o quanto ela está me xingando mentalmente.

Vejo um tecido vermelho pendendo de dentro da caixa que está no topo e eu me levanto em um salto ligando a lanterna do celular.

Tiro o tecido de dentro da caixa vendo que é exatamente o que eu estava pensando.

— Bonito. O que é? – Kagome surge do meu lado.

— É da minha mãe. – Uma nostalgia me pega – Ela adorava usar esse Kimono no festival. Foi a minha avó que fez...

Deixo o celular em cima da caixa iluminando mais o cômodo me mostrando que varias caixas contem o nome Izayoi.

A garota estende a mão para tocar no kimono e eu o tiro de perto dela em reflexo. Kagome engole seco me olhando atentamente.

— Você nunca soube que as coisas dela estavam aqui? – Ela diz suavemente.

— Quando tudo aconteceu, fiquei pulando de escola em escola. Quando finalmente voltei pra casa tudo tinha sumido. – Minhas palavras saem em um sussurro – Sabe o que eu pensei? Que tinham jogado fora. Assim como tentaram fazer comigo.

Kagome coloca a mão no meu ombro gentilmente, ela nem precisa falar para que eu me sinta acolhido.

Abro a caixa vendo que está cheia das suas roupas.

— Se quiser, podemos tirar as caixas da janela. Assim você pode ver tudo que tem aqui.

— Não. – Digo automaticamente – Não deveríamos estar aqui.

— Mas Inuyasha ... Essas são as coisas da sua mãe – A morena diz protestando, mas cala a boca de repente. Ela limpa uma lágrima que desceu pela minha bochecha sem eu perceber.

Ela quer saber como aconteceu. Quando aconteceu, mas não pergunta.

Eu me sento em meio à poeira iluminado pela fraca luz do celular com a garota ao meu lado, tudo que escuto é sua respiração ao se abaixar e se sentar.

— Você pode ir embora, eu já vou.

— Eu não vou. Nem preciso dizer isso. – Ela abraça os joelhos ao meu lado, esperando eu estar pronto para falar.

Eu não sei quanto tempo passa mas a luz do meu celular desliga mostrando que o aparelho está descarregando, minha vista começa a ficar pesada.

— Me desculpa. – Ela diz baixinho – Eu queria poder ajudar a diminuir a sua dor.

— Por que ainda dói?

— Porque não se permitiu sentir ... Coloca pra fora e quando estiver pronto pra levantar, levantamos juntos.

Eu me sinto uma criança perdida se agarrando ao único feixe de luz no sótão escuro.

POV SESSHOUMARU

— O que está fazendo aqui? – Digo sem levantar o olhar. Reconheceria esse barulho de salto batendo contra o chão em qualquer tempo ou lugar.

— Isso não é maneira de falar com a sua mãe.

— Gerar um filho não quer dizer que é mãe. – Ela me encara com seus olhos caramelo. Ela continua exatamente como na ultima vez que nos vimos, perfeita. Ela sorri levemente retirando os óculos escuros.

— Você sabe por que estou aqui.

— Sei por que está na cidade, não porque esta aqui. – Fecho meus arquivos no computador e começo a me preparar pra ir embora.

— Vim trazer o convite pessoalmente a vocês, mas sua esposa estava ocupada demais para dar atenção a mim. – Essa é a minha garota.

— Kagome nunca faria isso.

— Hmmm – Minha mãe respira fundo se encostando na mesa levemente – Tinha um garoto com ela, ele devia ser o motivo da distração. Devia ter investigado essa garota antes de entregar meu filho a ela. – Ela debocha se fazendo de vitima.

— O que quer Arina?!

— Apresentar vocês oficialmente no baile beneficente! Mas talvez não seja o mais prudente. Já pensou? Meu filho sendo ... – Ela olha para os lados aborrecida – Traido!

Eu me levanto puto.

— Eu espero que esteja hospedada em um de seus hotéis, porque não vai entrar na minha casa.

Ela ri como se já esperasse isso de mim. Arina vem até mim acariciando a minha bochecha levemente.

— Meu menino já é um homem. – Ela diz fazendo bico – Entregue isso a sua esposa, vamos almoçar amanhã no Plaza. Quatro lugares reservados.

Ela se vira batendo seus saltos contra o piso.

— Quatro?

— Não deixaria meu querido Inuyasha de fora. – A mulher sai pela porta como entrou, perfeitamente vazia.

—-

Ligo três vezes pra Kagome e nada dela atender. Quatro vezes para o Inuyasha, caixa postal.

— Mas que merda vocês estão fazendo?! – Digo contra o volante dirigindo como um louco.

Continuo ligando para o Inuyasha freneticamente até estacionar com o carro atravessado na porta de casa com os pneus do carro cantando.

A porta aberta me deixa alarmado. Eu ligo para a companhia de segurança querendo saber onde estão todos os funcionários puto da vida.

Saio entrando fazendo um barulhão sem me importar se tem alguém na casa.

— Kagome! Kagome! – Subo as escadas correndo. O quarto dela está revirado e o meu também.

Meu coração sobe pela boca. Ligo para ela novamente e escuto bem de longe o toque no último andar.

Ao mesmo tempo que quero correr, meu corpo congela.

O celular está caído na porta da sala de vídeo. Quando abro vejo os amigos dela todos dormindo.

— Mas o que? – Me aproximo da Sango e tento lhe acordar – Sango! – Eu a balanço e nada. Seu pulso está fraco, assim como sua respiração. Alguém os colocou pra dormir, agora como?

Tento acordar os meninos e eles estão desacordados da mesma forma. Ligo para um contato particular de emergência e tento acorda-los de qualquer forma.

— Sessh – Sango segura minha camisa tentando acordar – Em cima – Ela tenta levantar e eu não deixo.

— Fica deitada ... Ela tá lá em cima?! – Eu pergunto tentando acalma-la – Eu já chamei uma ambulância, vocês vão ficar bem. - Um no se forma na minha garganta - Eu sinto muito.

— Vai! – Ela me empurra com dificuldade.

Ao subir a escada, na porta do sótão está escrito “Tenha medo do que possa encontrar.”

— Malditos. – Eu tento abrir a porta mas está trancada por dentro, chuto até arromba-la fazendo um barulhão ao destruir o trinco – Inuyasha!

Ele está caído no chão bem próximo a porta. Ele levanta com dificuldade se sentando.

— Tá na hora de resolvermos logo isso. – Sua voz soa baixa e arrastada.

— Onde ela está?

Ele aponta para o cantinho da parede onde tem um amontoado de tecido vermelho. Kagome está enrolada nele completamente apagada. Eu vou até ela a pegando no colo.

— Podia ter sido veneno Sesshoumaru, isso foi um aviso?! Poderiam ter matado todos nós!

— Como isso aconteceu Inuyasha?!

Meu irmão para pra pensar, mas sua expressão de dor revira meu estômago.

— Me espera aqui, você é incapaz de descer sozinho. – As palavras saem no automático e eu me arrependo pela primeira vez de o tratar assim.

— Sr. Taisho, vamos levar para o laboratório para analisar o tipo de droga mas com certeza era um sonífero. – Eles vão embora me deixando subindo pelas paredes.

Respiro fundo passando a mão pelo cabelo o prendendo em um rabo de cavalo alto. Eu vou pegar esse maldito de qualquer maneira.

— Sr. Sesshoumaru! Nada desapareceu. Verificamos tudo! – Jaken diz com convicção sem me olhar diretamente.

— Jaken, eu preciso de pessoas em que possa confiar perto de mim. Você é responsável pela segurança dessa casa, dos meus funcionários, o que eu faço quando uma coisa dessa magnitude acontece com a minha família? – Falo baixo e firme. Estou cansado e sinceramente, assustado.

Jaken me olha cabisbaixo. Esses anos todos trabalhando comigo, eu sei que ele sempre fez tudo que pode pra me ajudar. Respiro fundo e expiro pesadamente.

— Eu me demito. – o velho murmura segurando o choro.

— Jaken, eu quero que me arrume uma escolta de elite para essa casa, câmeras de seguranças novas, cuide de todo tratamento médico dos amigos da Kagome. Preciso que encontre os melhores investigadores que existem e marque um horário comigo pra segunda feira! E isso que eu quero, não sua demissão!

— SIM SR. SESSHOUMARU! – Ele diz sorrindo levemente com lágrimas nos olhos.

— Jaken, eu preciso arrumar pessoas para trabalhar aqui em casa. Mas

— Eu já entendi. Não irei decepciona-lo. – Ele diz confiante saindo para resolver tudo que eu pedi.

Já passa das 18:00 quando eu subo para vê-los. Sango está deitada na cama encostada no ombro do Miroku enquanto Kouga está sentado na poltrona do outro lado com a Kagome sentada em seu colo, praticamente deitada em cima dele.

Ela está rindo de alguma coisa que ele disse, mas parece abatida. Eles nem percebem que eu estou na porta porque continuam cochichando como namorados, o que me faz bater à porta com força.

A morena toma um susto e quase caí fazendo o moreno a abraçá-la piorando a minha visão.

— Que bom que acordaram. – Digo cruzando os braços os encarando.

Kouga aperta Kagome contra si.

— Onde está Inuyasha? – Ela pergunta se levantando vindo até mim – O que os médicos disseram?

— Sonífero. Como fizeram vocês ingerirem isso?

— Kagome, as pizzas não estavam com o sabor diferente? – Miroku pergunta nos avisando que acordou – Achamos que foi um erro mas na verdade, fomos enganados. Agora, porque? – Ele me fita intensamente. Ele acha que devo explicações a eles.

Todos eles acham.

POV KAGOME

— Vocês estão bem pra ir embora? – Digo olhando para os três no portão da cidade mal assombrada agora com 5 seguranças armados.

— Não acho seguro você ficar. – Miroku diz pensativo – Vocês podem ficar lá em casa.

— Pode ficar comigo se quiser também, e o Inuyasha com o Miroku. – Kouga diz logo em seguida – Não quero te deixar aqui com esse cara.

— Vocês viram quantos seguranças tem aqui? Pra passar agora só se for invisível! – Eu brinco mas meus amigos me olham feio – Okaay, eu vou pensar no assunto.

— Kagome. – Sango me chama mas hesita em falar.

— Estamos juntas nessa, eu sei. Mas eu sinto muito. – Murmuro baixinho.

— Todos nos, você quer dizer.

Um frio sobe pela minha espinha. Me colocar nessa situação é uma decisão minha, já envolver meu amigos não.

Vejo irem embora escoltados a contra gosto e corro pra casa principal.

Ainda não vi Inuyasha, ele definitivamente precisa de alguém hoje.

— Oi! Você vai ficar aqui hoje. – Digo vendo o garoto descer a escada já o encontrando ao passar pela porta.

— Não vou não. Nem você deveria ficar.

— Inuyasha ... – Ele me corta bruscamente vindo em minha direção me olhando feio.

— Você não pode defendê-lo. Eles poderiam ter te matado, DE NOVO! – Seus olhos dourados estão escurecidos de raiva – TODOS NÓS PODERÍAMOS TER MORRIDO POR CULPA DA PORRA DE UM ANEL IDIOTA! Minha mãe ... minha mãe ... – Eu o abraço pela cintura e ele se cala.

POV SESSHOUMARU

— Sesshoumaru. – Kagome finalmente me nota ao soltar meu irmão. Ela não parece envergonhada ou constrangida.

Eu sinto como se eu tivesse feito algo irreparável para comigo mesmo.

— Você deveria voltar a morar aqui por hora. – Digo para o garoto que me encara como se eu fosse a razão de seus problemas.

— Porque eu cometeria esse erro?! Tudo isso é culpa sua! Você poderia ter resolvido isso a muito tempo.

— Como ?! COMO EU PODERIA RESOLVER ISSO?! – Eu o encaro de volta me aproximando o suficiente para mostrar que sou maior e mais forte que ele.

— Você tem todos os meios diretos ou indiretos para fazer isso, porque não entrega a porra desse anel pra ele logo!

— Nosso pai nunca faria isso seu imbecil!

— Ele morreu por causa disso e levou minha mãe com ele! – Inuyasha grita comigo como uma criança.

— Eu também perdi meu pai e só pra você saber, nunca soube o que é ter uma mãe. – Cerro meus punhos tentando manter o auto controle – Querendo ou não eu respondo por você até sua maior idade, você vai morar aqui até EU decidir que pode voltar para o anexo.

Ele sai batendo a porta com força deixando a Kagome no canto com os olhos arregalados.

Será que agora ela sabe onde está? Em que está metida?

— Você pode ir pra casa dos seus pais essa noite. Ou pra onde quiser. – Kagome muda instantaneamente sua expressão de assustada para irritada.

— Você pensa que eu sou uma criança sobe sua guarda? Vai se ferrar Sesshoumaru! – Ela berra me deixando perplexo – Eu vou embora quando eu quiser!

Ela da uns passos na minha direção e eu não consigo conter uma risada.

— Eu não preciso da sua pena Higurashi e não quero você aqui. Vá se trancar em um quarto com o bastardo do meu meio irmão. – As palavras saem com tanta convicção que ela hesita por um momento antes de vir com tudo até mim e dar um tapa com toda força na minha cara.

— Alguém invadiu essa casa hoje, nos drogou e revirou nossas coisas. Eu sei que você é um babaca as vezes e espero que tenha dito isso pra me afastar daqui, mas mesmo assim, você mereceu esse tapa. – Seus olhos escuros estão fixos nos meus – Inuyasha não tem ninguém além de você e pelo visto, você só tem ele.

— Isso não é verdade. Ele tem vocês. Uma vida que não foi traçada desde antes mesmo de nascer!

— Então boa parte da sua reação e por ciúme? – Ela cruza os braços me encarando.

— Como se eu fosse ter ciúme de você. – Ela suspira.

— E desde quando eu falei de mim? – Eu não digo nada e ela continua – Eu gosto de você, de verdade e o suficiente pra te dizer o quanto você é um babaca egocêntrico que toma as decisões erradas por ser o caminho mais fácil.

Eu fecho meus olhos com força tentando me acalmar. Ela tem razão.

— Temos que pegar esse desgraçado.

— Agora sim você está dizendo a coisa certa! – Ela sorri docemente pra mim.

— Porque você estava trancada com o Inuyasha no sótão? – disparo de uma vez.

— Eu subi, derrubei umas coisas e ele ouviu, quando estávamos lá ele achou umas coisas e começou a se sentir mal, eu comecei a me sentir mal, ouvimos uns barulhos mas estávamos tontos e sonolentos demais. Não conseguiríamos descer então ele trancou a porta. Pensou que estava nos ajudando. – Ela balança a cabeça descrente – Pensou que eu estava transando com o seu irmão?

— Transando não.

— No momento em que eu beijei você, eu sabia que jamais aconteceria algo entre ele e eu. – Ela passa a mão pelo cabelo colocando uma começa teimosa atrás da orelha.

— Ainda está apaixonada por ele? - Ela respira fundo me encarando.