When I Saw You.

Aquele em que Inuyasha é entregue ao Naraku.


POV KAGOME

Acordo com o barulho da chuva batendo pesado contra o vidro da janela.

— Graças a Deus! - Murmuro para mim mesma tentando controlar minha respiração ofegante - Que pesadelo foi aquele?

Me levanto andando até a janela, tudo completamente escuro pela falta de energia. Está tão escuro que parece sombras andando no jardim.

Esse pensamento faz eu me arrepiar.

Abro a porta do meu quarto e não vejo ninguém.

Eu quero ver se ele está bem, porque?

Tento dar um passo em direção a porta da frente mas parece que meus pés estão carregando sacos de cimento.

De repente a porta abre e eu seguro um grito que mataria a vovó Kaede.

— Tudo bem? - A voz dele soou baixa e surpresa.

— Sim. Eu só não consigo dormir por conta do barulho da chuva ... - Seu cabelo prateado parece ganhar vida na escuridão. Seus olhos amarelos também, brilham tanto que parece me hipnotizar. Me sinto uma mariposa atraída pela luz.

— Volte para seu quarto. - Quando ele da meia entrando novamente no quarto eu corro pra dentro - Qual é o problema?

— Está escuro. - Me sinto como uma criança de 7 anos.

— Vou ligar o gerador. - Um trovão ressoa nos fazendo tremer, literalmente. Eu agarro seu braço em um instinto natural. A palavra 'quente' vem a minha mente.

Sesshoumaru me olha por um instante como se pudesse ler a minha mente.

— Desculpa ... Eu nunca tive medo de chuva ... não sei o que está acontecendo. - Ele retira gentilmente minhas mãos de seu braço. Mesmo no escuro consigo notar seu maxilar tenso.

— Seria melhor você dormir com a Kaede hoje.

Outro trovão ainda mais forte ressoa fazendo sua voz travar e eu tenho uma sensação de dejavu intensa.

— Você tem medo de trovão, eu posso ficar aqui. - O homem a minha frente franziu a testa tentando entender - Hmm?

— Por um instante eu pensei que, tinha lembrado ... - Ele murmura tão baixinho que eu não consigo escutar o resto da frase - Eu não tenho medo disso.

Seus olhos amarelos me fascinam e uma dor lacerante me acerta em meu peito.

— Você sentiu a minha falta? Porque eu não consigo saber o que você está querendo.

Porque eu estou dizendo isso?! PORQUE?!!

Mesmo no escuro consigo ver sua mandíbula travando. Eu me sinto uma idiota, a resposta é óbvia e depois daquela discussão mais cedo eu deveria ter ficado calada.

— Não. Tínhamos decidido nos separar Kagome.

Tudo parece uma mentira. Meu corpo é atraído para esse homem como um ímãs para metal!

Não consigo pensar.

— Porque está mentindo? - Um clarão invade o quarto silencioso - Eu só quero saber o que está acontecendo aqui. Se você cansou de mim é só me falar, eu sei que tínhamos um acordo de sinceridade.

— Eu cansei de você. Como eu cansei de você com suas crises de sentimentalismo e moralidade! Eu preciso de uma mulher madura e autoconfiante. - Sesshoumaru se vira pra mim com raiva, sua voz baixa e tão ríspida que um frio na espinha me faz tremer - Você e só uma garotinha querendo atenção e estou cansado disso. Cansado de você! Amanhã vou providenciar os documentos que você rasgou e vai sumir da minha vida. Entendeu bem srt. Higurashi?

Ele se aproxima a passos largos de mim.

— Vá embora sem olhar pra trás ou não respondo por mim. - Ele sussurra tão perto que consigo sentir sua respiração.

As palavras travam na minha garganta. Eu li tudo aquilo e parecia que ele gostava de mim ...

Automaticamente minha mão se enrola na sua camisa o puxando, eu selo seus lábios com os meus e ao ver a surpresa em seus olhos amarelos eu sei que estou certa.

Ele está fazendo isso por outro motivo.

Meu coração dispara quando ele me segura pela nuca me dando um beijo possessivo.

Eu me derreto em seus braços, minhas pernas falham então me agarro ao seu pescoço.

— Adeus Kagome ... - Sua voz são tão baixinha que o barulho da chuva quase a torna inexistente.

Ao vê-lo sair pela porta do quarto outra pontada me acerta em cheio.

POV SANGO

Meu celular toca uma, duas, três vezes.

— Sesshoumaru? - Mal consigo abrir meus olhos - O que houve?

— Nada. - Olho para o Miroku deitado na cama improvisada ao lado da minha dormindo feito uma pedra. Levanto e vou até a janela.

A chuva não dá trégua. Bem lá no portão avisto um homem no celular.

— Porque está na porta da minha casa?!

Pego um guarda chuva e saio de fininho.

— Eu já vou. - Ele diz entrando no carro e eu o arrasto até a garagem tentando fazer o mínimo de barulho.

— Que merda você está fazendo aqui a essa hora nessa chuva ?! - bato nele com o guarda chuva para enfatizar - São 02:46 da manhã!

— Eu disse coisas horríveis pra ela. E a deixei sozinha. - Olhando assim, ele parece um garoto. Um cachorro machucado.

— Isso tá te corroendo, meu Deus. Você a ama. - Ele escorrega sentando no chão e eu seguro um riso de pura surpresa.

— Isso é assustador. - Ele me olha com os olhos arregalados e eu respiro fundo - Eu fui um babaca completo, extremamente grosseiro. Ela rasgou os papéis do divórcio já assinado bem na minha frente!

— Esquecer uma memória não apaga o sentimento. Kagome enxerga com o coração, você sabe disso. - Eu me sento na frente dele no chão - Ela vai acabar te desculpando.

— Eu não faria isso!

— Porque você é egocêntrico e mesquinho! - Dou um tapa de leve em sua cabeça e ele me olha feio. Como o Inuyasha faria - Você e bem parecido com o Inuyasha.

— Não me compare com aquele bastardo. - Sesshoumaru se levanta cruzando os braços emburrado - Eu vou voltar. Não tem luz lá, ou seja, sem câmeras de segurança e alarme.

— Não pode sair nessa chuva. Vou ligar para o Inuyasha dar uma olhada na Kagome e é isso. - Me levanto em um pulo indo em direção a entrada da cozinha - Não faça loucuras. Já tem problemas demais não acha?

Mais uma revirada de olhos e eu suspiro.

— Toda vez que a Kagome se apaixona, ela se machuca porque o cara não sabe o que quer, não toma uma atitude ou tem medo de se envolver. Você não é esse tipo de cara Sesshoumaru. Você sabe o que quer, você consegue.

Eu sei que quando descer ele não vai estar aqui.

— Sango - Sesshoumaru me chama quando estou saindo - Obrigado.

— Uuuuuuh, você agradecendo? Deve querer mesmo voltar pra casa. - não consigo segurar uma risada - De nada.

Quando abro a porta do quarto Miroku está em pé na janela.

— O que ele veio fazer aqui a essa hora? - Meu namorado cruza os braços sentando no batente da janela.

— Hmm, ele precisava conversar. - Sento na cama o encarando diretamente - Está desconfiando de mim.

— Claro que não. - Miroku se levanta com o rosto sério - Mas confesso que fiquei curioso. Kagome está bem?

— Sim, foi só, uma briga. Eu acho que ele quer afastá-la ... Isso tudo parece uma novela mexicana.

— Então vamos ter uma reviravolta no final. - Ele se aproxima sentando ao meu lado. Em questão de segundos seu calor me envolve. Seus olhos castanhos fixos em mim - Está toda molhada sua boba.

Realmente a forma como ele me olha é afetuosa, ele tira a camisa colocando sobre a minha cabeça, a usando de toalha acabando com a cena romântica de filme.

— Sabe, podemos não ter uma mansão como você mas temos toalhas. - Eu reviro os olhos enquanto ele seca o meu cabelo.

O garoto da um beijo na ponta do meu nariz carinhosamente em seguida me beija suavemente.

— Você sabe que não podemos fazer isso aqui ... - Seus beijos descem para o meu pescoço - Meu pai só deixou você dormir aqui por conta da chuva.

— Ei - O moreno segura meu rosto fixando seu olhar no meu - Quem disse que eu ia fazer algo além de te beijar? - Seu sorriso travesso me diz o contrário.

— E eu acredito em fadas e duendes. - Ele ri e eu o belisco - Amo você. Eu não digo isso sempre mas, eu amo.

Eu pensei que esse momento seria assustador, amar alguém como ele tem probabilidade de 80% de se lascar.

— Eu sei - O garoto tira uma mecha do rosto acariciando minha bochecha - Por isso eu vi você fugir às 02:00 de roupão pra falar com um ricaço mais velho e bonitão e não fiz um escândalo!

— Onde aquele cara e bonitão?

— Eu também não sou idiota! - Miroku morde minha bochecha me fazendo rir - Apenas ... continue me amando.

Eu o beijo lentamente me agarrando a ele, buscando seu calor.

POV KIKYOU

A chuva cai com força impedindo Inuyasha de sair da minha casa.

— Inuyasha, eu não vou entregar a chave do seu carro. Porque não relaxa?

— Porque?! Você me disse que estava passando mal. Eu venho aqui no meio da chuva pra absolutamente nada e tenho que ficar sorridente com isso?! Você sempre me faz de palhaço.

O garoto vem até mim irritado. Antes ele nunca se irritava comigo, quando eu perdi o controle da situação?

— Eu estava com saudade. - Digo manhosa tentando acalmá-lo.

— Porque não chamou seu namoradinho Naraku? Ele deve estar ocupado demais tentando matar a minha família! - Ele explode logo de uma vez gritando comigo.

— Eu não vou te explicar essa situação mais uma vez. Você está tornando a nossa relação impossível de acontecer! - Grito com o Inuyasha de igual pra igual.

— Não existe relação nenhuma Kikyou! Você acabou com todas as nossas chances quando se juntou com aquele psicopata pra roubar a joia. - Eu me levanto o encarando - Como eu poderia confiar em você agora?!

— Para de gritar. - Minha voz soa baixa mas firme - Eu já pedi desculpas, o que você quer que eu faça?

— Eu não quero nada de você além de distancia permanente.

As lágrimas caem em questão de segundos, estou com tanta raiva que me permito chorar.

— Tudo isso é pela Kagome não é? - Cerro os punhos tão forte que sinto minha unha furar minha própria mão.

A raiva toma conta de mim.

— Não. Não mesmo.

— Ela tá casada com o seu irmão seu doente! Quer dizer que vocês a compartilham, tipo um rodízio?! - Digo em tom de piada.

— Kikyou, Kagome é minha amiga, se tornou minha amiga. Você não tem noção do que está dizendo! - O garota anda de um lado para o outro novamente, ele não consegue me olhar nos olhos, está mentindo.

— Aquela piranha sonsa, quem diria! - Pego o porta retrato com a nossa foto que estava na minha cabeceira e o atiro em sua direção - Vai embora pra ela, vai! Vocês se merecem!

Inuyasha se desvia por um triz de levar o vidro no rosto.

— Vai embora Inuyasha!

— Kikyou! Calma. - O garoto corre até mim me surpreendo, a essa altura qualquer um teria me mandado pra puta que pariu - Calma! Eu tô aqui não tô?! Eu posso ser seu amigo, eu te conheço, eu realmente conheço quem você é!

— Amigo como você é daquela piranha? - Um sorriso surge em meus lábios quando eu consigo acertar um chute em cheio entre as pernas - Por mim, vocês dois podem ir pro inferno. - Eu me viro tentando sair mas ele segura minha perna.

— Espera.

— Você deveria ter um pouco de amor próprio Inu-Inu. Implorando atenção de uma garota que acabou de te expulsar de casa com um chute no saco? - Avisto a seringa escondida no canto da cabeceira e não hesito em pega-lá e enfiar no pescoço do meu garoto - Tenha bons sonhos.

Vejo o motorista do Naraku pegar o garoto desacordado e colocá-lo deitado no porta malas.

— Pra onde está levando ele? - Digo indo em direção ao carro - Porque no porta malas ? Naraku não me disse nada sobre isso.

— Lamento senhorita, ordens são ordens. - O homem me lança um olhar demorado e eu dou um passo atrás.

O que eu fiz dessa vez?

— Kikyou! - uma voz familiar me chama de dentro do carro - Entre.

Kagura aparece na janela do carona agora abaixada. Eu sabia que ela era irmã do Naraku mas que o estava ajudando é uma informação nova.

Essa mulher ... Eu não consigo saber o que está planejando. Entro no carro sentando bem atrás dela.

— Pra onde estão levando ele? - Kagura ri baixinho debochando de mim.

— Já se arrependeu? Kikyou ... Comigo isso não cola. Não precisa fingir que está preocupada. - Ela liga o rádio procurando uma estação - Não foi uma surpresa você ligar pra ele aceitando o trabalho ... Eu sempre vi essa maldade em você.

Eu começo a ficar impaciente.

— Eu não me importo com o que você pensa de mim. - Pego meu celular para ligar para o Naraku, caixa postal. Engulo seco.

— Posha, eu acho que não vai conseguir falar com ele. - O tom de deboche da sua voz me faz perder as estribeiras. Eu agarro seu cabelo por cima do banco o puxando com toda força possível - Argh!

— Escuta bem sua vadia, continue debochando de mim e logo mais não terá lingua pra falar! - Dou um puxão arrancando alguns fios de seu cabelo, mas ela não grita - Faça mal ao Inuyasha e eu vou matá-la.

— Que contraditório, foi você que nos entregou ele em uma bandeja de prata! - Ela murmura baixinho entre dentes.

— O alvo de vocês nunca foi ele! Era a Kagome! Vocês a queriam! - A mulher me olha de lado com seus olhos estranhos.

"Não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos". - O motorista abre minha porta esperando eu sair - Não achou que eu te levaria até ele. - Coloco meu celular no silencioso em um gesto rápido e antes de sair o deixo cair na lateral do banco - Ah, seu namoradinho vai pagar caro pela sua agressão contra mim lindinha. - Antes que eu diga alguma coisa o homem me puxa pra fora do carro quase me jogando no chão.

— Sua desgraçada ...

Kagura sobe o vidro enquanto o motorista entra no carro e acelera em 10 segundos.

— Vou ter que dar um jeito nisso. Droga! Droga! Droga!

POV SESSHOUMARU

Ainda sem luz. Na pressa de sair daqui nem mesmo liguei o gerador pra iluminar esse lugar, qualquer um consegue entrar aqui desse jeito.

Vou direto no quarto da Kagome e ela não está, rumo para o quarto do Inuyasha a contra gosto.

Vazio.

— Onde eles se meteram? - Um trovão ressoa me fazendo sentir um frio pela espinha - Preciso de um banho quente. - Murmuro comigo mesmo.

Vou direto para o banheiro e entro em uma ducha quente. Não consigo demora nem 10 minutos.

— Sesshoumaru? - Kagome diz sonolenta esfregando os olhos como uma criança - Pensei que fosse um ladrão ... Tem banheiro no seu quarto.

— E você vem aqui mesmo assim?! - Digo tão alto que a garota desperta.

— A culpa é sua que me deixou sozinha aqui seu idiota! - Ela arregala os olhos escuros pra mim e eu acabo rindo - O que foi?!

— Ainda está aqui. - Minhas palavras são abafadas pelo barulho da chuva. Eu tiro uma mecha de seu cabelo escuro emaranhado do seu rosto e ela desvia o olhar emburrada, a deixando ainda mais linda - Kagome - Eu a chamo suavemente.

— É estranho. Eu me sinto estranha ... - A luz que entra pela janela do corredor é a única coisa que nos ilumina. Eu consigo sentir sua aflição apenas pelo seu jeito de falar - Quando você olha pra mim ... - Ela fixa seus olhos em mim timidamente - Desse jeito, eu sinto que não posso ir embora. É como se não houvesse mais nada lá fora Sesshoumaru.

— Você quer ficar ...

— Quero ficar porque o amo. Não sei como ou porquê, eu apenas sinto isso! - A morena desvia o olhar se desvencilhando de mim e indo até a janela - E você me quer longe porque?

As palavras não saem. Ela sabe que eu sinto a mesma coisa, eu sei! Mas não consigo dizer "Eu te amo".

Respiro fundo indo até ela e a abraçando por trás.

— Nossa, você é um babaca mesmo, nem consegue dizer uma coisa tão simples como "eu gosto de você"! - Kagome diz dando um riso sem graça mas acariciando meus braços que estão rodeando seu pescoço.

Ela encosta sua cabeça em meu peito olhando a chuva bater no vidro e sinto que seu lugar é aqui, em meus braços.