O sinal que anunciava o fim do período de aulas resoou pela escola. Todos os alunos se levantaram de seus lugares e se dirigiram até seus respectivos clubes, enquanto aqueles que não eram membros de clube algum simplesmente se dirigiram á biblioteca ou alguma sala de estudo, ninguém decidira deixar o colégio mais cedo naquele dia, os alunos estavam em época de provas, sobrecarregados de trabalhos inacabados e coisas à se estudar.
O dia perfeito para ela atacar.
A atmosfera daquele colégio estava pesada, recentemente haviam encontrado cadáveres de alunos e vestígios de assassinatos espalhados pelo colégio; e o efeito colateral foi inevitável. O medo e o pânico se espalhou por lá, a paranóia pairava pelo ar, os olhares desconfiados de cada um percorriam cada canto do colégio, enquanto um único pensamento persistia naquelas mentes apavoradas: "Há um assassino entre nós" e a dúvida que não calava; "Quem é esse assassino?". Não havia mais confiança entre amigos. Apenas o medo de ser traído e esfaqueado pelas costas por alguém que você mais confia. Esse clima sombrio iria permanecer na escola até que o culpado fosse arrastado pela polícia e a justiça fosse feita.

Enquanto a apreensão rondava por toda Akademi, na sala 3-1 estava Shin Higaku, o garoto esquisito considerado o "vice-presidente" do ocultismo, guardava seu material todo em sua bolsa para poder ir ao clube de ocultismo, exercer as atividades diárias. Assim que terminou de organizar seus pertences, deixou a bolsa sobre sua mesa, pois tinha em mente retornar à sala para buscar a mochila após o afazeres do clube.

Com as mãos nos bolsos, o garoto deixou a sala em passos calmos, andando sozinho pelos corredores; algo que ninguém mais ousava fazer naquela escola. Conseguia sentir um certo arrepio percorrendo sua espinha enquanto descia as escadas. Não queria demonstrar, mas também estava apreensivo em relação ao assassino á solta. Quem esse monstro poderia ser? Quem seria sua próxima vítima? Envolveu-se com os próprios braços, tentando abafar o medo dentro de si.
O rapaz desceu até o andar térreo e apertou o passo até o seu clube, espiando de canto de olho se havia alguém atrás dele. Nada, além de um corredor vazio. Parou em frente ao clube de ocultismo e abriu a porta de vagar, espiando o quarto antes de adentrar. Lá estava apenas Oka Ruto, a presidente do clube. A garota estava sentada no meio de um pentagrama estampado no tapete, rodeada de velas, ela tinha os olhos fixados num livro em sua mão.
Shin parou e observou a cena. O quarto era intencionalmente mal iluminado, a luz do dia sequer entrava no quarto, lá fora o dia nublado também não colaborava com a iluminação. Só podia se enxergar algo mais nitidamente ali devido ao fogo ardente das velas.
A atenção da garota foi desviada quando o feiche de luz invadiu a sala, e logo percebeu a presença de seu amigo parado na porta.

— Shin! – Exclamou com sua voz rouca. – Entre.

Ele aceitou o convite gentil, apenas afirmando com a cabeça. Entrou na sala e fechou a porta atrás de si, caminhou até Oka e parou em frente a ela. Desajeitado e um tanto quanto envergonhado, enfiou as mãos no bolso e encarou-a por uns segundos, em seguida, percorreu a sala com os olhos, como se buscasse por algo.

— Onde tá todo mundo? – Perguntou olhando ao redor.

— Eles foram pra biblioteca. – Respondeu sem tirar os olhos do livro. – Disseram que.. precisavam estudar.. ou algo do tipo.

— Hm... – Encarou-a sério. – Você não deveria ficar sozinha, Ruto-san. É perigoso. – Ao chamá-la dessa maneira, a garota dos cabelos escuros desviou sua atenção do livro para o rapaz á sua frente.

— M-me desculpe... – Desviou o olhar e brincou com os dedos, meio sem jeito.

Shin sorriu sereno.

— Tá tudo bem... – Sentou-se no chão em frente á Oka Ruto e cruzou as pernas, imitando a posição da garota e em seguida segurando suas mãos delicadas. – Eu tô aqui com você agora.

O garoto encarou-a nos olhos, com um semblante sincero, e ela respondeu corada, olhando-o também nos olhos, com um jeito fofo porém desajeitado que apenas ela sabia como fazer. O silêncio pairou pelo ar por alguns instantes, mas não de uma maneira desajeitada, pelo contrário, era um silêncio confortante. Segundos que pareciam durar uma eternidade.

— Higaku-san... Obrigada... – Sussurrou rouca, e deixando seu livro de lado, puxou o garoto para um abraço.

Shin ficou sem reação, não esperava por aquilo, demorou alguns segundos para processar o que aconteceu e mesmo assim não sabia como corresponder aquilo, mesmo que fosse um simples abraço. Oka não era muito de contato físico com Shin, por isso aquela ação inesperada da garota fez com que ele corasse e não soubesse responder. Não adequadamente.

— Aaaah... Hm.. E-ei, to-tome cuidado, va-vai derrubar as velas. – Recuou e afastou-a do abraço gentilmente.

Ela deu algumas risadinhas e o encarou. Ele estava visivelmente corado.

— Uh.. O que foi Shin? Por que está tão corado? – Essa pergunta fez o garoto desviar o olhar. Oka ficou seria. – Shin, o que foi? Tem alguma coisa de errado?

A garota encarou o rapaz com um olhar preocupado. Ele evitava contato visual com ela. O garoto então se deu conta que seus batimentos cardíacos estavam acelerados e ele suava frio. A quem ele estava tentando enganar? Quanto mais Shin escondia seus sentimentos, mais eles ficavam evidentes. Sentimentos que ele havia escondido durante todo o ensino médio. Desde que a conhecera. Agora estavam sozinhos, o clima favorável entre os dois, talvez a oportunidade perfeita para por pra fora tudo que ele sentia, expor seus sentimentos. Aquilo havia se prolongado por tempo demais. Oka Ruto precisava saber de seus sentimentos, Shin não podia mais guardar aquilo para si só. Quem sabe quando teria outra oportunidade assim? Era agora ou nunca. Suspirou fundo.

— Oka... Eu.. t-tenho uma co-coisa pra te falar... ouça bem... – Depois de um longo silencio torturante, tomou coragem para enfim falar, mesmo que gaguejando devido ao nervosismo. – Oka, EU...!!!

Sua fala foi interrompida pela porta da esquerda da sala sendo aberta bruscamente, a luz irrompendo o ambiente surpreendeu os dois sentados ali no chão, e logo a sombra de alguém adentrou a sala, enquanto a figura feminina escorou-se no batente da porta.

Alguns segundos foram necessários até que a visão de Shin e de Oka se acostumasse com a súbita claridade, mas quando ocorreu, notaram que a garota parada na porta era ninguém mais ninguém menos que Ayano Aishi. Estaria tudo bem se suas roupas colegiais não estivessem ensanguentadas, igualmente a faca que segurava em uma das mãos; banhada em sangue. Os jovens ali sentados arregalaram os olhos em espanto, e nenhuma palavra sequer conseguiu ser pronunciada naquele momento.

— Então, eu encontrei você... – Disse enquanto encarava seu reflexo no metal da faca. Sua voz era fria e inexpressiva. – Oka Ruto.

Ao ouvir seu nome, a menina congelou. Sua mãos esfriaram, começou a suar frio, enquanto seu coração parecia que iria parar de bater a qualquer segundo. Ayano desencostou-se da porta, fechou a mesma através de si, discretamente trancando-a e caminhou até os dois, que rapidamente se levantaram do chão e recuaram alguns passos.

— Então... então você era "o assassino" o tempo todo?! – Shin rosnou ameaçador.

Ayano assentiu com a cabeça.

— O que... O QUE QUER COMIGO? – A pequena desajeitada gritou enquanto tremia. Ela não obteve uma resposta. – Por favor... eu.. eu juro que não vou dizer a nínguem o que eu vi mas por favor, não me machuque! – Juntou as mãos como se estivesse orando e implorou.

De jeito nenhum. A Yandere parecia não escutar. Se aproximou mais, puxou a faca e rapidamente fincou-a na carne. Um gemido de dor preencheu a sala. Havia atingido... a vítima errada?

Lá estava ele, Shin Higaku, na frente de Oka, numa tentativa idiota de protege-la teve a faca fincada na carne. A lâmina atravessava sua mão enquanto o sangue escorria pelo seu braço e sujava seu uniforme de vermelho rubro. Ele gemeu de dor e agonia. A reação de Oka Ruto foi cobrir a boca com as mãos e gritar enquanto seus olhos se tornavam marejados. Já Ayano se manteve inexpressiva, embora tivesse arqueado umas das sobrancelhas como se perguntasse o que diabos aquele idiota estava fazendo.

— Shin... – Oka choramingou.– Por que... você..

— P-Porque eu te amo, Okaa.. Argh... E não iria.. hesitar em te proteger.. hehe... – Sorriu meio sem jeito, embora sua expressão era de agonia e ele gemesse um pouco enquanto falava.

Oka paralisou-se. Uma declaração daquelas, no meio de um momento como aquele. Inesperado. Chocante. Não sabia como reagir.

Ayano revirou os olhos e arrancou a faca da mão do rapaz, junto á ela, veio outro gemido doloroso e mais sangue dele.

Higaku seria do tipo que iria correr, fugir ou evitar conflito com qualquer um que fosse perigoso ou demonstrasse ameaça, isso estava bem claro nas informações que Info-chan havia passado á Ayano. Mas, quando se trata de alguém que amamos... nós sempre queremos proteger, não é mesmo? Não podia julgar muito. Aishi também conhecia esse sentimento. Mas era preciso matar. Matar Oka Ruto. Para que seu amado fosse protegido. Ela não planejava machucar Shin, mas não hesitaria se fosse necessário.

— Shin Higaku, saia da frente! Não é você quem eu quero. – Ordenou, mas ele se recusou.

O garoto se recusou, colocou-se em frente de sua amada, em posição defensiva e olhar confiante. Ayano revirou os olhos novamente, como se aquilo tudo fosse um show entediante para ela. Já havia entendido, sem mesmo ele precisar dizer uma palavra. Ele não iria desistir tão fácil. Tolo. Ele almejava pela própria morte? Que seja.

Ayano ameaçou um golpe com o braço esquerdo, o qual Shin imediatamente tentou bloquear mas Ayano recuou, e com essa distração lhe acertou uma facada no abdômen, derrubando o rapaz de joelhos . A moça dos cabelos negros soltou uma risadinha de deboche. Era impossível que aquele nerd conseguisse derruba-la, ao menos defender seus golpes. Ayano esteve praticando artes marciais por um bom tempo, antes de sair do clube alguns dias atrás. Também não estava preocupada com a facada que atingiu Higaku, não havia golpeado para ser letal, nada que alguns curativos e cuidados especiais não resolvessem. Desviou sua atenção para Oka, paralisada a sua frente com uma expressão de horror. Ela era o alvo. A Yandere ergueu o braço, pronta para cravar a faça no crânio da ocultista, mas sentiu seu pulso sendo segurado. Olhou para trás e que surpresa, lá estava o nerd. Aishi rosnou irritadiça. Aquele nerd estava sendo inconveniente. A psicopata girou e acertou um soco no queixo do maior, o que deixou-o um pouco desnorteado, e então lhe chutou no peito, derrubando-o no chão. Em seguida caminhou até o rapaz caído, e abaixou-se, sentando sobre sua região pélvica. Ela fixou o olhar nos olhos de Shin. Ele tinha o olhar preenchido por medo e pânico, enquanto os olhos dela não refletiam nada além de vazio.

— Por que está fazendo isso tudo? – Sussurrou no ouvido do garoto, colocando a lâmina da faça próxima a seu pescoço, como forma de ameaça. – É por amor?

Shin hesitou um pouco, mas acabou afirmando com a cabeça, em silêncio. Aishi tentou segurar o riso, mas foi impossível, e riu, uma gargalhada psicótica incontrolável. A cada riso, era uma facada, ou no peitoral ou no abdômen do rapaz, as facadas acompanhavam o ritmo da risada, até a garota ir se acalmando e as facadas cessando lentamente. Respirou fundo e o encarou com curiosidade; reparou que havia sangue escorrendo do canto de sua boca. Ela Sorriu.

— Deixe de ser cego, Higaku! Será que você ainda não percebeu? – Ela aguardava por uma resposta; a resposta foi um olhar confuso. - Por que acha que eu vim até aqui matar Oka Ruto? – Outra vez o silêncio foi a resposta – Porque ela ama o meu homem. – Riu. – Ela precisa morrer. Qualquer um que ousar se apaixonar pelo meu homem, precisa ser eliminado! Ninguém pode amar o Senpai... além de mim.

— Você.... você é completamente louca! Um monstro! – Disse Shin com dificuldade, embora expressasse ódio na sua voz. – Isso.. isso não é verdade! Você só está inventando desculpas para assassinar qualquer um à sua frente!

Ayano revirou os olhos.

— Se não acredite, pergunte à ela. – Desviou o olhar para a menina em pânico. – Ela está bem ali...

— Oka, ela está mentindo não é? Ela é só uma maluca que está inventando coisas... não é? – Encarou a garota que mantinha um estado de choque – Diga à ela... que você não tem sentimentos pelo Taro! – E sorriu, um tanto quando esperançoso. Porém ela ficou em silêncio. – Oka...?

— M-me desculpe, Shin... – Foi tudo o que pode dizer.

— Não... – Murmurou. – POR QUE NÃO ME CONTOU OKA?! – Seus olhos se tornaram humidos, e aquelas frágeis gotículas que se formavam em seus olhos, escorreram pelas bochechas. – Eu achei... que confiasse em mim...

Outra risada maligna de Ayano.

— Vocês não podem esconder nada de mim. Eu sei de tudo. – Retirou o celular do bolso e mostrou à Higaku, onde continha informações sobre ambas as vítimas ali presentes.

— Como você...? – Mal terminou a pergunta, foi interrompido pela Yandere.

— Info-chan. – Disse objetivamente, num tom seco. E o silêncio se fez pelo ambiente.

A psicopata suspirou. Encarou Higaku uma última vez, antes de fincar-lhe a faca no crânio, e em seguida levantar-se de cima dele.

Seguiu até uma pequena mesa no clube, onde sobre ela havia uma caveira com uma faca de rituais cravada no osso. Ayano retirou a faca de lá e encarou Oka Ruto com um sorriso assustador. A outra estremeceu. Aishi estava pronta pra fazer o que quer que seus sentidos doentis lhe pedissem para fazer. E ela fez. Com aquele mesma faca, desferiu diversas investidas contra o frágil corpo de Oka, a qual não pode fazer nada além de sangrar, chorar e gritar em dor. Mesmo que tentasse revidar; mesmo que tentasse derrubá-la; mesmo que tentasse escapar; era tudo em vão. Todas tentativas inúteis. A hora havia chegado para Oka Ruto, que uma hora, parou de tentar qualquer coisa e simplesmente aceitou sua morte lenta e dolorosa.
Já Shin, o mesmo obteve uma morte também dolorosa; havia sido largado para morrer, mas enquanto aguardava a morte vindo lentamente, teve que assistir aquela que mais amava ser brutalmente assassinada sem poder fazer absolutamente nada, por estar incapacitado; não lhe restava forças para isso. Quase não lhe restava forças nem para respirar. E lentamente, fechou seu olhos, e seu sofrimento acabou.

Ele a amava. Morreu amando-a. Morreu por amor. Se não tivesse se arriscado, sequer teria se machucado. Mas ele faria qualquer coisa por ela. Igualmente Ayano; amava tanto, que matou inocentes por amor.
Ayano e Shin; tão opostos mas tão diferentes. Um mata por amor, outro morre por amor. Mas em uma única coisa eles são completamente o mesmo; fariam muito, apenas por amor. Mas isso não é o suficiente, para obter a tão desejada reciprocidade.

[ FIM ]

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.