*Alguns dias depois*

Pousei o Quinjet em um espaço um pouco mais afastado dos asgardianos para não ter problema. Enquanto sobrevoava pelo local com a banheira, pude notar que algumas casas já estavam em construção graças a ajuda que Tony e Pepper ofereceram com o material.

Eles também tinham oferecido contratar a mão de obra, mas Thor disse que os próprios asgardianos ficariam encarregados de construir as casas. Parece que eles tinham vivência nesse quesito. E não deve ser tão ruim construir suas próprias casas. Você pode construir ela do jeito que quiser, afinal.

Levantei da poltrona do piloto, encontrando o pessoal retirando o cinto de segurança. Cruzei os braços, arqueando a sobrancelha.

—Passamos dois anos fugindo com o Quinjet e nós revesávamos na hora de pilotar. — disse, atraindo os olhares deles. — E toda vez que eu pilotava o pessoal usava o cinto de segurança, então não estou nem surpresa por causa da Nat e do Steve, mas vocês? — encarei Bruce e Rhodes que sorriram amarelo. — Até o Theo estava com o cinto de segurança durante todo o vôo. —

—Ele é uma criança, Melinda. — Steve falou como se aquilo respondesse tudo. E talvez respondesse.

—Vocês são péssimos amigos. O Thor confia no meu estilo de pilotagem. — disse, pegando a mochila de Theo com alguns pertences e comida.

—Não acho que o Thor morreria caso o Quinjet caísse. — Bruce respondeu.

—Você também não, Verdão. — rebati, pegando Theo no colo.

—Que reconfortante. — Rhodey murmurou. — Nat, você pilota na volta. — disse, baixando a rampa do jato.

—Caso o Quinjet caísse, nenhum de vocês morreriam. Envolveria todos nós em um escudo e estaríamos todos sãos e salvos. — falei, os seguindo quando começaram a sair do Quinjet.

Todos tínhamos nos oferecido para ajudar o Deus do Trovão a construir uma pequena cidade para os asgardianos. Acho que, assim como eu, eles só querem algo para ocupar a cabeça.

Thor veio para cá dois dias depois do casamento Pepperony. Carol, Nebulosa e Rocket voltaram para o espaço logo depois e eu os fiz prometer que voltariam para a festa de aniversário de Theo. Eles mantiam contato através de um canal de comunicação sempre ativo que Bruce e o guaxinim desenvolveram. Tony e Pepper estavam curtindo a vida de casados na nova casa deles que ficava em Atlanta, Geórgia.

Sim, Tony tinha feito o favor de se mudar para outro estado, o qual levava 13h de viagem de carro - agora que metade da população virou pó e o trânsito diminuiu gradativamente, 10h de viagem de carro. Fiquei chateada no início por eles irem para outro estado em vez de continuarem em New York, mas depois entendi que eles queriam o lugar mais tranquilo possível para criar o bebê, longe de todo esse estresse que rondava New York. Contudo, isso não me impediu de praguejar por algum tempo quando me toquei que terei que viajar umas 10h de carro até Atlanta sempre que o Theo quiser visitar o bebê Potts-Stark.

—Bruce, você que conviveu um tempo com eles. Como eles são? — indaguei, após começar a ver alguns pontos se movendo em meio a vários materiais de construção.

—Acho que vocês irão gostar deles. Alguns são meio doidinhos, mas são gente boa. — respondeu. — Mas no seu caso, Melinda, você irá se interessar só por um deles: a Valkyrie. —

Sorri, lembrando dos relatos de Thor sobre a mulher que fazia parte do exército só de mulheres de Asgard.

—Ah, sim. Eu realmente estava contando as horas para encontrar ela. O Thor disse que ela é uma mulher incrível, excelente lutadora, fodona e uma ótima parceira para beber. — falei, esticando um pouco meu pescoço para ver quanto faltava naquela ladeira.

—Melinda, já conversamos que não é adequado você ter esse tipo de linguajar na frente do Theo. — Steve repreendeu, fazendo-me suspirar.

—Não tem problema, tio Steve. A tia Mel conversou comigo e disse que se ouvir eu falando um palavrão antes dos meus 10 anos ela me deixa de castigo por 6 meses. — arregalei os olhos com a fala de Theo.

Steve parou de caminhar, girando nos calcanhares e me encarando.

—Como é? 10 anos? —

—Não! Eu disse 15 anos, no mínimo! — me defendi, encarando Theo que ria. — Olha aqui, seu moleque, eu já disse que essas brincadeiras são legais com eles e apenas com eles, entendeu? Você me aprontar mais uma dessas vou confiscar seu vídeo game. — ralhei, vendo ele pressionar os lábios, contendo mais uma risada.

—Olha só, parece que o feitiço virou contra o feiticeiro. — encarei Natasha que tinha um sorriso pequeno nos lábios. Revirei os olhos.

—Agora você que lute e vá a pé. — coloquei Theo no chão. — E carregue sua mochila também! — disse, começando a tirar a bolsa das costas.

—Melinda. — o tom de Steve me fez bufar, desistindo da ideia.

—Tá! Eu levo essa porcaria! — resmunguei, apertando os passos e saindo na frente.

Consegui ouvir a risada de Theo, sendo seguido pelos demais.

Aos poucos, pude ver Thor carregando alguma coisa a alguns metros. Ele logo notou nossa presença, abrindo um sorriso e entregando os pedaços de madeira que carregava para um alienígena quase da sua altura.

—Baixinha! — abriu os braços enquanto caminhava até mim.

Abri um sorriso, franzindo as sobrancelhas um pouco confusa com essa atitude repentina do Thor.

—Vocês demoraram. — comentou após me largar do abraço.

—É, eu esqueci que agora sou responsável por uma criança e que quando vou sair com ela tenho que arrumar uma bolsa com alguns pertences. —

—E onde está o pequeno Theo? E os outros? —

—Estão vindo. Mandei Theo vir caminhando após ele tirar onda com a minha cara. — me virei, dando de cara com o pirralho nos braços de Steve. — Steve, você não pode mimar o garoto desse jeito. Ele estava recebendo um castigo: vir a pé. — fingi indignação.

—Todo mundo sabe que você é a que mais mima o Theo, Melinda. — rebateu, cumprimentando Thor rapidamente.

—Mas é claro. Não é isso que tias fazem? — indaguei como se fosse óbvio. — Eu não vou ter filhos então tenho que mimar meu sobrinho. Oh! Isso significa que minha herança tem que ir para ele quando eu morrer? —

Rhodes revirou os olhos.

—E aí, Thor. Como vão as coisas? — indagou, cruzando os braços.

—Vejo que vocês já estão bem adiantados. — Bruce completou, olhando algumas casas já boa parte construídas.

—É, estamos trabalhando a todo vapor. É assim que vocês falam, não é? — soltou uma risada. — Ah! Vocês ainda não conhecem a Valkyrie, Miek e Korg. Preciso apresentar vocês a eles. — e sem aviso prévio Thor segurou minha mão e saiu me levando junto quando começou a caminhar.

—Ei, Grandão, você está bem? — questionei, estranhando um pouco sua atitude.

—Claro, por que não estaria? — respondeu sem me olhar.

Franzi as sobrancelhas, mas não disse nada.

—Ei! Galera! — chamou duas pessoas que estavam em cima de um caminhão.

Olhei para trás, vendo que o pessoal se aproximava. Ao voltar meu olhar para frente notei que o caminhão tinha parado e as duas pessoas na verdade eram alienígenas.

Um era um cara de pedras e o outro parecia uma lesma? Um inseto? Seja lá o que ele for tem um exoesqueleto com lâminas nas mãos.

—Uau. — murmurei quando os dois pararam na nossa frente, acenando.

—Ah, já está todo mundo aqui. Pessoal, esses são Miek e Korg. — Thor nos apresentou. — Miek e Korg, esses são Melinda, Steve, Natasha, Rhodes e o pequeno nos braços do Capitão é o Theo, sobrinho da Melinda. Ele também é nosso sobrinho já que chama todos nós de tio. —

—E aí, galera. — o gigante de pedras falou empolgado. — Ah, e aí, cara. Achei que não fosse te ver por um bom tempo. Onde está o Campeão? —

—Dormindo. É, ele está dormindo em algum... algum lugar da minha mente. — Bruce respondeu, apertando as mãos um pouco desconfortável.

—Isso é incrível. — murmurei. — Eu não faço a mínima ideia do que o Mike seja, mas ainda sim é incrível. — soltei uma risada.

—Quem é Mike? — o cara de pedras questionou.

—O carinha do seu lado. — Rhodes respondeu, apontando para o inseto alienígena.

—Mas esse é o Miek. — falou.

—Ah, o nome dele é Miek e não Mike. — disse, assentindo devagar. — Sabe o que é engraçado? Você, Korg, parece com um carinha de New York. Ele também é de pedras e faz parte de outro grupo de super heróis. É conhecido como Coisa. — sorri.

—Então tem outro Kronan aqui na Terra? Que interessante. Será que somos parentes? — franzi as sobrancelhas, encarando o pessoal que também parecia levemente confuso.

—Eu não... não faço ideia do que seja um Kronan. —

—Kronans são uma raça antiga de humanóides que se assemelham a rochas. — uma voz feminina falou atrás da rocha alienígena.

Quando Korg deu um passo para o lado, dando passagem para que meus olhos encontrassem a dona da voz que prendeu toda minha atenção na primeira vogal que foi dita, senti uma parte do meu cérebro pifar.

—Mas tudo bem, isso não é algo que vocês, terráqueos, saberiam mesmo. — ela sorriu com um quê de desdém e deboche.

—Hey! Garota raivosa. — Bruce cumprimentou a mulher que sorriu.

—E aí, Bruce. Fazia tempo que não te via. E o Grandão? Andou dando as caras? — questionou, se aproximando.

—Melinda, fecha a boca. Olha o vexame. — Nat sussurrou do meu lado num tom divertido.

—Não é minha culpa ter uma personalidade de cadelinha para mulheres empoderadas, incríveis e que com certeza partiria ao meio o primeiro idiota que aparecesse na sua frente. — sussurrei de volta, encarando a Viúva. — Se ela me desse um tapa, eu agradeceria. —

—Acredite, eu sei. — ela sorriu, cruzando os braços.

—Valkyrie, quero que conheça meus amigos: Steve, Natasha, Rhodes, Melinda e o ser mais fofo do mundo, o Theo. — voltei meu olhar para frente, vendo que Theo sorria.

—Prazer em te conhecer. Seu cabelo é muito bonito. — Valkyrie sorriu.

—Obrigada. —

—Tio Bruce disse que você tinha umas marcas no rosto quando se conheceram. —

—Ele achava que era a quantidade de pessoas que eu já tinha matado. — respondeu. — Você sabe andar sozinho? Se souber eu faço algumas em você. —

—Eu posso ir, mama? — ele questionou com os olhinhos brilhando.

—Claro, pequeno. Lembre do nosso trato e fique longe de coisas afiadas. Isso inclui as mãos do Mike. — falei, abrindo a mochila dele.

—Miek. — Rhodes corrigiu.

—Isso, Miek. — puxei um casaco de Theo, jogando na direção dele que já tinha saído dos braços de Steve. — Toma. Veste um casaco. —

—Até depois, gente. — se despediu, caminhando até Valkyrie saltitando.

—Estranho. — Steve comentou, atraindo minha atenção. — Você falou do quanto estava empolgada em conhecer a guerreira asgardiana e nem interagiu com ela. —

—Ela está com meu sobrinho. Quer desculpa melhor que essa para interagir com ela? — sorri, encarando Thor. — E aí, Grandão? Diga-nos o que fazer, que faremos. —

***

Já fazia mais de 7 horas que estávamos na Noruega ajudando Thor e os outros asgardianos com a construção da cidade Asgard. Theo estava se divertindo por poder interagir com pessoas que não eram da Terra e tentava ajudar como podia. Contudo, após umas duas horas eu o deixei com Ágda, uma asgardiana que estava cuidando junto com mais três mulheres de todas as crianças asgardianas enquanto os pais trabalhavam.

Eu não tive muito tempo para conversar com Valkyrie o que me frustrou um pouco, mas fiquei feliz em saber que Thor tinha me escalado junto com Steve para desenhar possíveis projetos para tornar a nova cidade asgardiana bonita e aconchegante. Ele disse que ouviu alguém comentar que arquitetos desenham projetos de construções e como éramos os amigos desenhistas ele nos escolheu.

Eu achei engraçado, mas estava fazendo o possível para ajudar tanto no melhor lugar para construir uma ponte ou uma casa, como erguendo o muro de algumas delas. Acabei fazendo amizade com várias pessoas e descobri que por mais que Korg e Miek fossem um pouco - muito - lerdos, eles eram bem legais e bastante divertidos.

—Está fazendo errado. — pulei com o susto, largando o tijolo no chão e vendo ele se partindo.

—E lá se vai mais um tijolo. — murmurei, olhando para a pessoa que me pegou de surpresa. — Ah, oi. — sorri para Valkyrie.

—Melinda, não é? — assenti. — Está fazendo errado. Na verdade, toda essa parede está errada. —

Encarei a parede que eu estava levantando, franzindo as sobrancelhas.

—Como pode estar errado? Digo, eu juntei os tijolos com o cimento. Como posso ter errado uma coisa tão simples? — questionei confusa.

—Pode parecer simples, mas construir uma casa não é só juntar os tijolos com a massa. — disse, se aproximando e pegando uma marreta. — Vamos ter que derrubar. — ela ergueu a marreta, fazendo-me arregalar os olhos.

—Espera! Já tem meia parede aí. — falei meio desesperada, caminhando até ela. — Por que derrubar? Não dá para construir do jeito certo com o que já tem? —

—Melinda, você nem colocou as colunas. Essa parede não vai aguentar toda a estrutura da casa. — respondeu, colocando a marreta no chão.

—Que colunas? — ela soltou uma risada, voltando a pegar a marreta.

—Devia ficar apenas nos desenhos, princesa. — disse antes de erguer a marreta e acertar a parede com tudo, quebrando ela.

—Oh, merda. — murmurei, sentindo meu corpo ficar levemente quente com essa cena.

—Vai ficar aí parada com essa cara ou pretende ajudar? —

—Achei que eu devesse ficar só nos desenhos. — dei de ombros.

—Nem quebrar uma parede você sabe? — arqueou a sobrancelha.

Sorri, erguendo minha mão na direção da parede e liberando um jato de energia, destruindo parte da parede.

—Legal. — murmurou, me encarando antes de voltar a derrubar o muro.

Quando a parede que eu construí - muito mal, diga-se de passagem - finalmente veio abaixo e eu limpei o espaço para Valkyrie poder erguer um novo muro do jeito certo e mais seguro, eu me sentei no chão com o caderno que estava fazendo os projetos de algumas casas nas pernas. Eu comecei desenhando a planta da casa de Thor, mas agora eu terminava alguns traços no desenho de Valkyrie.

—Melinda! — ergui o olhar para a mulher que me encarava. — Você é surda? Se eu não me engano o Thor disse que você costumava ouvir melhor que qualquer humano. —

—E eu escuto, só estava distraída. O que foi? — questionei.

—O garoto, Theo. Quando ele estava comigo ouvi ele te chamar de mama e tia enquanto conversávamos — falou, voltando sua atenção para a parede a sua frente. — O que ele realmente é seu? —

—Sobrinho. — respondi. — Ele pediu para me chamar de mama depois de toda dizimação e eu acabei deixando. —

—Os pais dele...? — me olhou, recebendo uma confirmação com a cabeça. — Sinto muito. — sorri, apertando o caderno em minhas mãos sem notar. Pressionei os lábios, lembrando de algo mais cedo.

—Ahm, Valkyrie? Você é amiga do Thor, então... por acaso você achou ele meio estranho? — perguntei como quem não quisesse nada.

—Estranho como? —

—Não sei, ao certo. Digo, ele está feliz demais esses dias. — respondi, fechando o caderno.

—E isso é ruim? — arqueou a sobrancelha.

—Não! É que... — suspirei. — Até uns dias atrás ele ainda estava abalado com tudo o que aconteceu. E com razão, porque todo mundo está, afinal fazem apenas dois meses. No entanto, Thor estava um pouco mais abalado que todos por causa de tudo que ele passou e ainda teve a parte dele se sentir culpado por não ter cortado a cabeça da berinjela na batalha em Wakanda, mas... ele deixou isso um pouco de lado no casamento por causa dos noivos e pareceu abalado nos dias que se seguiram. E agora ele está confiante, feliz. — virei o rosto, encontrando Thor ao longe rindo com alguns asgardianos. — Não que eu esteja achando ruim vê-lo assim, é só que... antes eu penava para fazer ele dar uma risada, por mais mínima que fosse. — parei por um tempo. — Se o Thor estiver tentando lidar com tudo com algum método, eu fico feliz. Porém, não posso negar que também estou preocupada com a forma que ele pode estar usando para lidar com tudo isso. —

O silêncio se fez presente por alguns segundos, até que Valkyrie suspirou, falando logo em seguida:

—Não notei nada de estranho nele até agora. Bom, ele parece o Thor de antes do Thanos, o que é um pouco diferente do Thor que estávamos acostumados a ver nessas últimas semanas. — a encarei, vendo que ela mantia o olhar focado no que fazia. — Talvez esteja feliz por finalmente poder dar total atenção na construção da cidade para seu povo. —

—É. — murmurei, baixando o olhar. — Ele finge que está bem quando eu pergunto como ele está. Acha que eu não sei quando está fingindo, mas eu sei. E ele está bebendo demais ultimamente. —

—E isso é um problema? Querer encher a cara para lidar com os problemas? — questionou.

—Não. Não para o Thor, pelo menos. Ele não fica bêbado com as bebidas daqui. — expliquei, dando de ombros. — Mas ele tenta me enrolar. Ele escondia algumas garrafas de cerveja que ele bebia enquanto estava no Complexo. Digo, ninguém iria impedir ele de tentar encher a cara, eu principalmente. Então por que esconder as garrafas secas? — encarei a mulher que só franziu as sobrancelhas levemente, erguendo os ombros logo depois não sabendo o porquê ao certo.

—Talvez não queira preocupar vocês. — sorri, sabendo que não se tratava disso.

—Queria que fosse isso. — sussurrei.

***

—Ágda, oi. — sorri, me aproximando da mulher que sorriu.

—Melinda. — acenou com a cabeça. — Veio buscar o Theo? —

—Sim, nós já estamos indo. — sorri.

Ágda assentiu, falando com uma criança que estava mais perto e pedindo para ela chamar meu sobrinho. Alguns segundos depois Theo vinha correndo.

No seu rosto tinha algumas marcas brancas graças a Valkyrie. Só faltava a armadura para o visual de mini guerreiro ficar completo.

—A gente já vai? Não podemos ficar mais um tempinho? — perguntou, fazendo-me sorrir e agachar para ficar do seu tamanho.

—Não, Papito, mas nós vamos voltar amanhã, ok? Até o tio Thor e os outros asgardianos não precisarem mais da nossa ajuda. — falei, vendo-o abrir um sorriso.

—Então eu posso trazer meus brinquedos nas próximas vezes que viermos? —

—Claro. Agora dá tchau para a Ágda. — disse, me levantando.

—Tchau, Ágda. — foi até a mulher, abraçando suas pernas.

—Até amanhã, Theo. — retribuiu o abraço do garoto.

—Até a próxima, Ágda. — acenei, segurando a mão de Theo e começando a caminhar na direção onde o pessoal estava. — E aí, pequeno, gostou? —

—Muito! O pessoal é muito legal. O Korg é um pouquinho estranho, mas também é legal. — respondeu empolgada. — Eu gostei muito da Valkyrie também, até perguntei se podia começar a chamar ela de tia, mas ela disse que só depois que você passasse num teste. —

—Teste? Que teste? — perguntei confusa. — E por que sou eu quem tem que passar nesse teste? Quem quer chamar ela de tia é você, não eu. —

—É um teste de quem bebe mais, parece. — deu de ombros. — E como eu sou criança não posso participar. —

—Mas por que eu? Embora esse teste me agrade bastante. —

—Porque você é a responsável por mim, ué. E também porque o tio Thor falou de você para ela, disse que era uma ótima parceira de copo. — ele me encarou. — O que isso significa? —

—Que eu sou ótima em virar um copo, seja lá qual bebida estiver nele. — falei. — E as crianças? Elas são legais? —

—São, algumas já sabiam lutar, acredita? — seus olhinhos estavam brilhando. — Eles tentaram me ensinar algumas coisas, mas eu perdi em poucos segundos. Não gostei. — soltei uma risada.

—Isso eu posso resolver. Começamos o seu treino nos dias que não viermos para cá, tudo bem? —

—Sério? — assenti. — Obrigado, tia. — ele abraçou minhas pernas, causando-me uma risada. — Achei que íamos vir para cá todos os dias até tudo ficar pronto. —

—Não. Não somos engenheiros, Theo. Eu não sou acostumada a levantar paredes todos dias, meu forte é mais derrubá-las. Preciso de um descanso e você também. —

—Então vai ser um dia sim outro não? — tombou a cabeça para o lado.

—É, pode ser, mas só depois dessa primeira semana, ok? Estou observando umas coisas aí. — murmurei a última parte, suspirando logo depois. — E sua festa de aniversário? Já é próximo mês. — observei sua expressão mudar.

—Sobre isso... — Theo desviou o olhar para o chão.

—O que foi? —

—Não fica com raiva, ok? Eu só... não quero fazer uma festa esse ano. Desculpa. — soltei uma risada, me ajoelhando na sua frente.

—Não me peça desculpas, Theo. Fazer a festa ou não é um direito unicamente seu. — coloquei seu cabelo atrás da sua orelha, sorrindo. — E está tudo bem, meu amor. —

—Sério? —

—Claro. — me sentei sobre meus calcanhares. — Quer me contar o porquê de não querer fazer a festa? —

—É por causa dos meus pais. — respondeu, torcendo a mão uma na outra. — Eles não estão aqui e a mamãe já estava fazendo alguns planos mesmo faltando alguns meses para meu aniversário. Fora que alguns dos meus amigos também viraram pó e eu... —

—Está tudo bem. Não se sinta pressionado, ok? — Theo assentiu.

—A gente não fez festa no meu aniversário de 2 anos porque você não estava em casa. Não quero fazer uma agora que eles também não estão aqui. — sorri.

—Eu sei. O Ryan me contou, era ele quem me mantia informada sobre como vocês estavam enquanto eu estava fugindo. — falei. — Não acreditei quando ele contou que seus pais tinham te levado para comer sushi no aniversário de 3 anos. —

—Peixe cru é horrível. Eu odiei ter escolhido sushi. — respondeu, fazendo uma careta. — Você não está brava mesmo, tia? —

—Não, como eu disse: esse é um direito apenas seu. — suspirei após um tempo. — Na verdade, eu nem estava conseguindo colocar muita fé em mais uma festa em tão pouco tempo, desculpa, Papito. Acho que a única comemoração de verdade, com festa e tudo, vai ser quando o bebê do Tony e da Pepper nascer. Mesmo sendo uma festa pequena. — ele sorriu.

—Isso quer dizer que a Morgan já vai ter nascido no meu próximo aniversário! — o sorriso tomou conta do seu rosto.

Semicerrei os olhos em sua direção.

—A Morgan? Você acha que é menina? —

—Droga. — murmurou, fazendo-me arquear a sobrancelha com sua reação.

—Theo, o que você não está me contando? —

—Não posso contar. Tia Pepper me pediu para não contar, eu não posso contar! —

—Ela já descobriu o sexo do bebê! — falei, matando a charada. — E ela preferiu contar a você primeiro do que a mim? —

—Você descobriu sozinha! Eu não falei nada! — Theo apontou para mim, fazendo-me soltar uma risada.

—Relaxa, Papito. Prometo que não falo nada e faço cara de surpresa quando ela contar. — levantei, limpando minha calça nos joelhos. — Mas estou magoada por ela não ter me contado. Sei que eu não sou o pai da Morgan, mas queria estar lá na hora. —

—Ela disse que descobriu por um exame de sangue. —

—É, eu não queria estar lá. — disse, fazendo Theo rir. — Droga. Perdi a aposta.— praguejei.

—Que aposta? — a cabeça de Theo tombou para o lado.

—Thor, Rhodes e eu apostamos qual era o sexo do bebê. Thor achava que era menina, Rhodey e eu, menino. — suspirei. — Essa nem tem como manipular para eu ganhar. —

—Pois lá no fundo eu sempre soube que era uma menina. — sorri, pegando ele no colo.

—Claro que sabia. Agora voltando ao seu aniversário, nós vamos fazer um jantar em casa, ok? Para não passar em branco. — disse, voltando a caminhar em direção ao pessoal. — A gente faz suas comidas preferidas e um bolo. O que acha? —

—Você vai fazer o bolo, tia? — assenti. — Então eu não quero. Você fez um que parecia pedra, lembra? — soltou uma risada. Revirei os olhos.

—Ok, eu peço para o Bruce fazer um bolo. Satisfeito? — o pirralho assentiu. — Não precisamos chamar ninguém de fora. Apenas o pessoal do Complexo nesse aniversário de agora. Tudo bem? —

—Vamos chamar o tio Thor, tio Tony e tia Pepper, né? —

—Claro. —

—Então tudo bem. — sorriu, fazendo-me sorrir automaticamente.

—Vocês demoraram. Sobre o que estavam falando lá atrás? — Steve indagou assim que paramos perto deles.

—Estava perguntando a tia Mel se podíamos ter um cachorro. — Theo trouxe a tona um assunto de semana passada.

—Não vamos ter um cachorro. — Steve, Nat, Bruce, Rhodes e eu falamos juntos.

—Mas eu cuidaria dele todo dia, levaria para passear, daria banho, comida. — insistiu.

—Não iremos ter um cachorro, Theo. — falei firme.

—Me impressiona você não dar corda para essa ideia dele. — Nat cruzou os braços.

—Porque eu sei que ele não vai fazer nada disso que está falando. Nos primeiros dias pode até ser que faça, mas depois vai sobrar tudo para mim. — respondi.

—Deviam dar um cachorro para o pequeno Theo. Já sei! Seu aniversário está chegando, não é? — Thor questionou.

Comecei a balançar a cabeça em negativo repetidamente.

—Thor, não. — repreendi.

—É sim, tio. — disse Theo e, ignorando minha reprovação de alguns segundos atrás, Thor continuou, sorrindo:

—Então eu vou te dar um cachorro de presente. Feito? —

—Sério? — os olhos de Theo brilhavam.

—Não! Nada feito. Não era nem sobre isso que estávamos falando. — exasperei.

—Não? E o que era? — Rhodes questionou.

—Perguntei sobre a festa de aniversário do Theo e ele disse que não queria fazer uma esse ano, então combinamos em fazer um jantar lá no Complexo junto com um bolo, sabe? Para não passar em branco. — expliquei.

—Você vai fazer o bolo? — Steve arqueou a sobrancelha, receoso. Fechei a cara.

—Não, eu ia pedir ao Bruce para fazer. —

—Menos mal. — todos eles murmuraram. Revirei os olhos.

—Já entendi! — resmunguei.

—Não nos entenda mal, Melinda. Você é ótima na cozinha, menos quando o assunto é fazer bolo. — Rhodes falou.

—Eu ainda quero dar um cachorro para o pequeno Theo. — a voz de Thor se fez presente.

—Thor, no momento eu não tenho condições de cuidar de um cachorro. Passou na TV que as escolas e outras instituições de ensino pretendem retomar as aulas daqui umas semanas. E quando o Theo voltar para a creche? — perguntei. — Quando ele começar a escola? Eu vou ter que cuidar do pulguento sozinha! —

—E se o cachorro ficasse aqui? Assim, Baixinha, você não precisaria se preocupar em cuidar do bichano e o pequeno Theo poderia vir visitá-lo sempre que quisesse. — arqueei a sobrancelha.

—Você quer cuidar dos asgardianos e um cachorro? —

—Acha que eu não consigo? —

—Não, é só... — engoli as palavras, preferindo não falar sobre isso agora. — Eu só não quero que você arrume mais uma responsabilidade por causa do Theo. —

—Nah, que nada. — ele deu um tapa no ar, soltando uma risada. Minha sobrancelha arqueou novamente com essa atitude.

—Só me prometa que vai arranjar esse cachorro depois que a Nova Asgard estiver toda pronta, ok? —

—Claro. Até lá eu tenho tempo de descobrir onde se arranja um cachorro. — sorriu. Balancei a cabeça, suspirando.

—Não me apareça com cachorro comprado, está me ouvindo? Se eu souber que você comprou um cachorro para o Theo eu corto suas bolas fora. —

—Melinda! — Steve me repreendeu.

—Minha deixa. — falei, dando um passo na direção de Thor e passando o braço livre ao redor da sua cintura. Theo abraçou o pescoço do Deus do Trovão. — Até amanhã, Grandão. — senti seus braços abraçarem eu e o Theo.

—Onde eu adoto um cachorro? — sussurrou, fazendo-me soltar uma risada pequena.

—Tchau, tio Thor. — Theo sorriu, assim que nos afastamos do asgardiano.

O restante do pessoal se despediu de Thor, dizendo que voltaríamos amanhã e logo estávamos no Quinjet a caminho de New York.

Detalhe: eles não me deixaram pilotar a banheira.