*20° dia após o estalar*

—Tem certeza que eu não posso respirar no espaço? — indaguei, acredito que pela terceira vez, a Bruce, que suspirou novamente, acredito eu que pela sétima vez em menos de uma hora.

—Você é um ser humano da Terra, nós, terráqueos, não podemos respirar no espaço. — ele respondeu, observando algo no traje que ele fez com a ajuda de Rhodes, Carol e Rocket.

—A Carol também é terráquea e consegue respirar muito bem fora da Terra. — retruquei.

—Ela disse que recebeu uma transfusão de sangue de um Kree. Acho que ela não é uma terráquea, pelo menos não totalmente. — Rhodey respondeu, fazendo-me respirar fundo.

—Qual é o intuito de receber poderes de um Cubo que continha a Joia do Espaço se eu não posso nem respirar no espaço e muito menos abrir portais? — resmunguei irritada.

O fato de ter que depender de uma roupa para sobreviver num local que eu nunca fui não me agradava nenhum pouco.

—Seus poderes já são os poderes, com O maiúsculo — Bruce me encarou sobre os óculos. — E você ainda queria poder abrir um portal? —

—Vai me dizer que não seria legal? Imagina eu não precisar ter que caminhar para ir para os lugares? Posso deixar o Theo na escola sem precisar gastar com gasolina. — justifiquei, vendo ele balançar a cabeça.

Natasha entrou no laboratório com a feição séria.

—E então? Tudo pronto? —

—Pelas 5 simulações que fizemos antes dela vestir o traje, está tudo ok, não apresentou nenhuma falha ou qualquer problema. —

—Cinco? Vocês fizeram só cinco simulações? Meu número da sorte é o 9! — falei, gesticulando nervosa.

—Eu desisto. — Rhodes jogou os braços para o alto, saindo do laboratório.

—Parece que é até ele quem vai para o espaço com um traje que nem foi testado. — resmunguei.

—Bruce, você pode nos dar um minuto? — Natasha pediu, recebendo uma resposta afirmativa do dr. Banner que saiu do laboratório logo em seguida. — Está hesitando de novo. —

Bufei, desativando o traje, fazendo meu uniforme de batalha aparecer. Eu amava ele de um jeito.

—Não é hesitação, ok? Eu só... não queria ir para o espaço sem ter certeza que esse treco funciona. — retirei a pulseira de metal de mais ou menos três centímetros que continha o traje em nanotecnologia que Bruce e os outros fizeram, erguendo para Romanoff e largando no balcão. — Qual é, Nat. As coisas não podem dar errado. Tony é nossa esperança de acharmos a berinjela, achando a berinjela temos a chance de trazer todos de volta, trazendo todos de volta é vitória para a gente e para o universo. —

—E tem mais um motivo aí, não tem? — ela cruzou os braços.

—Claro que tem. Tem o Theo. — suspirei. — Poxa, eu fui a única parente dele que sobrou. Se isso der errado, se esse traje falhar... eu não sei o que vai ser do pirralho. — a encarei, vendo ela desencostar do batente da porta do laboratório e vir até mim.

—Me responde uma coisa. — assenti, mesmo que ela não precisasse de confirmação. — Você confia no Bruce e no Rhodes, certo? —

—Óbvio. Assim como confio em qualquer um de vocês, até mesmo a Carol e o Rocket, mas não conte ao guaxinim. — respondi sem pestanejar.

—Então você confia que eles fizeram um traje sem falhas, certo? — pressionei os lábios. — Qual é, Melinda, todos aqui querem seu bem, jamais te colocariam em perigo. Bruce principalmente. Acha que ele, te considerando uma filha, deixaria você usar esse traje sem ter a certeza de que funciona? — ela indagou, erguendo o bracelete.

—Estou com medo de não conseguir encontrar o Tony. — sussurrei.

—Se tem alguém aqui com a habilidade de encontrar o Tony é você, Melinda. E você sabe disso. — falou séria, segurando minha mão, afagando ela carinhosamente.

—E se eu não conseguir? —

—Você vai. — sorriu, colocando o bracelete no meu pulso. — Porque você é Melinda Hunters, a Valente. Já derrotou capangas da HYDRA, robôs assassinos, terroristas, lutou contra seus amigos, quebrou o nariz do Secretário de Estado duas vezes e enfrentou um punhado de cachorros alienígenas. —

Sorri, desviando meu olhar para meus pés e falando, como quem não quisesse nada:

—Puxa. Se um discurso desse viesse acompanhado de um beijinho eu me sentiria muito melhor. — brinquei, fazendo ela revirar os olhos.

No entanto, Natasha segurou meu rosto entre suas mãos e pressionou seus lábios nos meus delicadamente. E eu que não sou besta nem nada, aproveitei o momento porque aquilo era difícil de acontecer desde que voltamos ao Complexo.

—Só isso? — indaguei quando ela se afastou. — Não deu nem tempo de sentir o gosto da última coisa que você bebeu. — fiz biquinho.

—Água. — respondeu, tentando esconder um sorriso. — Está pronta? —

—Só se você me prometer que irá me receber com um beijo desse quando eu voltar com o Tony. —

—Não prometo nada. Vamos? —

Assenti, após respirar fundo. Passei meu braço pelo dela e logo estávamos saindo do laboratório. Todo mundo estava reunidos na sala, inclusive Theo que estava sentado no colo da Pepper.

—Tudo certo? — Carol indagou.

Assim como eu, ela também estava com seu uniforme azul e vermelho.

—Se você for uma péssima pilota eu te como na porrada, Danvers. — falei, subindo mais o bracelete no pulso, fazendo ele ficar bem preso.

—Você pode tentar. — ela sorriu.

—Vou te dizer os últimos detalhes do traje, ok, Melinda? — assenti para Bruce. — Ele foi feito para que você pudesse respirar no espaço, como você bem sabe, mas também é adaptável para luta embora eu duvide muito que vocês sejam atacadas nessa altura do campeonato. —

—Chutar a bunda de alguém no espaço está na minha lista de bocejos, então não é má ideia. — disse dando de ombros.

—Lista de bocejos? — Rocket franziu a testa.

—É de uma série que ela assiste. — Bruce fez um gesto de dispensa com a mão, voltando a explicar algumas funções do traje. — Ele foi feito com a intenção também de se ajustar aos seus poderes. Se você precisar liberar jatos de energia, pode fazer isso com o traje sem problema. —

—Ok. — murmurei.

—Se caso vocês precisem visitar algum planeta, pode desativar o traje. A maioria dos planetas tem um ar respirável. — é isso era algo que me agradava. — E o mais importante, Melinda. — ele segurou meus ombros, me olhando nos olhos. — Nós não conseguimos manter uma linha de comunicação daqui até seja lá qual parte do universo vocês estarão então... fique perto da Carol. — franzi as sobrancelhas.

—Você disse isso como se eu fosse uma criança e ela minha babá. — disse, um pouco insatisfeita com essa colocação do cientista.

—Você é uma pessoa aventureira, vai para o espaço pela primeira vez. Irá se sentir encantada com as coisas lá fora. — isso é verdade.

—Eu aposto dez dólares que ela está levando o celular para tirar foto. — Rhodes falou, cruzando os braços.

—Eu vou ter a oportunidade de chegar em um lugar em que a NASA nem sonha, é óbvio que estou levando meu celular. — justifiquei. — Mas não irei perder o foco de achar o Toninho, ok? — garanti. — Certo. Mais alguma coisa ou a gente já pode colocar o pé na estrada? —

—Só mais uma coisa. — Steve falou sério. — Não se cobre tanto caso a busca pelo Tony leve algum tempo. Seus poderes juntos com os da Carol podem levar vocês duas longe, se trabalharem bem juntas podem até encontrá-lo mais rápido. —

—Felizmente eu sei trabalhar em equipe. Você sabe? — olhei para Carol que arqueou a sobrancelha.

—Se despede deles logo. — foi a única coisa que ela falou, antes de sair do Complexo. — Não temos todo tempo do mundo. —

—Ok. — respirei fundo, indo até Theo e Pepper que estavam sentados no sofá. Me agachei, ficando da altura do meu sobrinho. — Hey. — sorri, colocando seu cabelo que já estava um pouco comprido atrás da orelha.

—Você vai se sair bem, tia. — falou, antes que eu dissesse qualquer coisa. — Você é incrível e vai achar o tio Tony com a tia Carol e todos vão voltar mais rápido que o Flash. — soltei uma pequena risada. — Não quero que você fique preocupada comigo no espaço. Tia Pepper disse que vai ficar brincando comigo e tia Nat disse que eu podia dormir com ela. Está tudo bem. —

—É bom saber que você está levando tudo isso numa boa, papito. — beijei sua testa. — Vou fazer o possível para não demorar tanto e trazer o tio Tony bem. —

Theo inclinou seu corpo para frente, passando seus braços ao redor do meu pescoço e me abraçou.

—No meu closet tem chocolate escondido na primeira gaveta. — sussurrei em seu ouvido, ouvindo ele soltar uma risada e depositar um beijo na minha bochecha.

—Boa sorte, mama. — sorri, desviando o olhar para a mulher ao lado dele.

—Prometo que trarei ele de volta. — segurei a mão de Pepper.

—Eu sei que vai. — ela sorriu. — Mas me prometa também que irá conseguir segurar a sua língua. —

—Nem sei do que você está falando, mulher. — falei rindo.

—Boa sorte, Melinda. Para você e para a Carol. —

—Obrigada. —

Levantei, me despedindo de Rhodes e Bruce com um abraço. Encarei o guaxinim, que cruzou os braços.

—Vê se não estraga tudo. — falou.

—Vê se não deixa meu sobrinho chegar perto dos brinquedinhos que você anda construindo, porque se eu souber que isso aconteceu vou te tosar todinho. — ameacei, passando por ele e saindo do Complexo.

Steve, Natasha e Thor estavam um pouco mais a frente, conversando com Carol. Provavelmente estavam fazendo minha caveira, dizendo que eu era irresponsável, explodia fácil e blablabla.

Foquei minha audição no que eles estavam falando, fazendo cara de paisagem para disfarçar de que eu estava ouvindo a conversa deles.

—Ela tem ansiedade, como você bem sabe, então não se assuste caso ela comece a ter uma crise enquanto procuram o Tony. Só tenta desviar a atenção dela para outra coisa, apenas o suficiente para ela se acalmar. — Natasha falou, fazendo-me franzir as sobrancelhas. — E as vezes as coisas que ela fala é da boca para fora, então... —

—Não levar para o lado pessoal. Eu sei. — Carol assentiu.

—Comer faz ela se acalmar durante as crises, então se poder entupir ela de comida, não hesite em fazer. — Thor completou.

—Ou só faça ela falar sobre a vida dela. Isso também faz com que ela se acalme. —

Ok, eu parei de ouvir a conversa deles depois dessa fala de Steve. Parecia errado, mesmo que eles estivessem falando de mim.

—Ok, já me despedi do pessoal. — falei, me aproximando. — Podemos ir? Antes que a fome se alastre e eu não consigo pensar de barriga vazia. —

—Está tudo bem mesmo, né? — Nat me encarou.

—Claro. Vou se a primeira de vocês três a matar a saudade do Tony. — brinquei, sorrindo.

—Você consegue achar ele, Baixinha. Nunca duvide disso. — Thor falou, colocando a mão em meu ombro enquanto dava um sorriso pequeno.

—Gracias, Grandão. — sorri, agradecendo.

Me virei na direção de Steve e Nat. O Capitão me deu um abraço rápido, me desejando boa sorte e Nat fez o mesmo.

—Por favor, não arrume briga com a Carol. — falou, antes de quebrar o abraço.

—Não prometo nada. — fiquei ao lado da Capitã. — Prontinho, bebê. Pode colocar suas turbinas para girarem. —

—Não está esquecendo de nada? — franzi as sobrancelhas, até que dei um leve tapa em minha testa.

—Ah, claro. O traje. — respirei fundo, pensando no traje cobrindo meu corpo e logo a nanotecnologia foi cobrindo meu corpo.

O traje na cor cinza cobriu todo meu corpo, inclusive minha cabeça com o capacete. Alguns dados apareceram no visor.

—Como o Tony, Rhodes e Bruce conseguem lutar com esses trecos nas caras deles? — indaguei, fazendo uma careta.

—Como você reclama. — Carol passou o braço dela ao redor da minha cintura, segurando com firmeza.

—Boa sorte, meninas. — Steve desejou uma última vez.

Olhei para a entrada do Complexo, encontrando o resto do pessoal lá em pé, nos observando. Sorri, olhando para Theo no colo de Pepper.

Carol dobrou um pouco os joelhos e eu fiz o mesmo e assim, nós duas pegamos impulso, levantando vôo. Bom, Carol estava voando, na verdade. E sim, ela voava mais rápido que eu.

Passamos pela atmosfera da Terra e logo estávamos flutuando na órbita do planeta. Meus olhos se deliciaram com a beleza do espaço, eu tinha certeza que eles estavam brilhando com tudo aquilo - não da forma literal, obviamente.

—Lindo, não é? — a voz de Carol soou pelo comunicador do traje, fazendo um sorriso nascer em meus lábios.

Notei que seu braço já não estava mais ao redor do meu corpo e eu apenas flutuava.

—Lindo é muito vago para expressar a beleza disso. — respondi, ainda fascinada com tudo. Desviei meu olhar para o planeta Terra. — Como eu pude viver todo esse tempo sem ter ao menos visitado a lua? —

—Então, já sentiu alguma coisa? Um sinal de onde seu amigo está? — encarei Carol com a sobrancelha arqueada.

—Saímos da Terra não tem nem dois minutos! —

—Não custava tentar, certo? Então vamos mais a fundo. — ela se aproximou, mas eu ergui a mão, pedindo para ela esperar. — O que? —

—Eu quero tirar uma dúvida. —

E antes que ela falasse qualquer coisa, desativei o traje, fazendo os olhos de Carol se arregalarem levemente. Soltei uma risada, vendo que não estava morrendo por falta de ar ou coisa do tipo.

—Chupa essa manga, Banner! — Danvers balançou a cabeça negativamente. — O que? Meu uniforme combina melhor comigo do que esse traje ridículo. — ergui meu braço com o bracelete. — Não tem nem estilo! —

—Era só isso? Ou você pretende fazer mais algum experimento? —

Estiquei minha mão, segurando a dela firme.

—Só isso, amor. Agora vamos. Leve-me para as estrelas. — sorri, vendo ela revirar os olhos e, sem mais nem menos, senti meu corpo ser puxado para frente. — Puta que pariu, Carol! Um aviso seria bom! — gritei, vendo vários feixes coloridos ao redor.

Se eu estiver viajando a velocidade da luz só segurando a mão da Capitã Marvel, vou declarar que a paixão que eu sentia pelo Tyler foi transferida todinha para ela. Se eu acreditasse em Deus diria ele era a Carol.

***

—Já fazem quase dois dias! Dois dias que estamos pulando de um sistema solar para outro e nem um sinal do Tony! Nadica de nada! — falei, visivelmente alterada enquanto Carol apenas me encarava com uma expressão de tédio. — Eu sabia. Sabia que esse plano não daria certo. Onde já se viu? Que eu iria poder encontrá-lo só colocando meu lindo pezinho no espaço? Ah, faça-me o favor! — voltei a andar de um lado para o outro.

Carol e eu estávamos no 13° planeta que visitamos desde que saímos da Terra. Eu não sabia que raios de planeta era porque parei de aprender os nomes deles no 10° planeta, quando comecei a ter a certeza de que esse plano era um verdadeiro fiasco.

No início eu estava tentando aproveitar a oportunidade de vir para o espaço. Não, eu não deixei meu objetivo de lado, mas sempre que vinha a frustração de parar num certo ponto do espaço e não sentir que energia do Tony não estava mais próxima, eu tentava mascarar com a euforia de estar no espaço. Já tinha enchido minha galeria com algumas fotos do espaço, de vários planetas e sua população - o que sobrou dela, na verdade -, até foto minha com a Carol tinha nessa droga de aparelho.

—Sabe do que eu acho que você precisa? —

—Se você disser comida eu vou te socar. — a encarei.

—Relaxar. — revirei os olhos.

—Relaxar? Por favor, Carol! Eu preciso é achar o Tony, e não relaxar. Se eu quisesse relaxar teria continuado na Terra, não? — cruzei os braços.

—Vamos lá. As vezes sua cabeça está tão focada em achar algo que não consegue encontrar porque está se cobrando demais. — ela se aproximou, retirando a bolsa a tiracolo que ela tinha comprado junto com alguns suprimentos do meu ombro e colocando no dela, atravessando seu tórax.

—Carol... —

—Não. Vamos sair desse planeta e ir para outro lugar, certo? Ele não é o melhor no quesito relaxar. —

E antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela segurou minha mão e levantou vôo.

—Eu odeio quando você faz isso! — gritei, sabendo que ela sorria.

Saímos do planeta e logo estávamos voando sabe-se lá para onde. Carol voava rápido e algo me dizia que ela não tinha muita ideia de para onde diabos estávamos indo. E foi aí que algo em meu peito surgiu, como se fosse um alerta.

Tentei chamar a Capitã, mas ela não parecia prestar atenção em mim. Então, sem pensar duas vezes, puxei minha mão da dela, fazendo-me girar no vácuo com a perda de velocidade e força enquanto a loira só parou vários metros a frente.

Olhei para os lados, não conseguindo ver nada porque, pasmem, não havia nada. No entanto, algo me dizia que tinha sim alguma coisa ali e essa coisa era o Tony.

—Melinda! Você não pode fazer isso, poderia ter se machucado! —

—Carol, eu acho... acho que ele está por aqui. — sussurrei.

—O Tony? — ela olhou ao redor. — Melinda, aqui não tem nada. É só o mais puro vácuo. —

—Não! Olha, não é muito preciso, ok? Mas eu sinto a energia dele, está fraca como se... — não consegui terminar a frase.

—Certo. Você não consegue me indicar nem uma possível direção? — assenti, fechando os olhos por alguns segundos.

E me concentrando apenas no Tony ignorei tudo ao meu redor, inclusive a própria Carol. Abri os olhos, me virando na direção que eu acreditava que Tony poderia estar. E na palpitação que meu coração deu, não hesitei em voar naquela direção.

—Melinda! — Carol brotou na minha frente, obrigando-me a parar.

—Ele está para lá, Carol! Eu sinto. — apontei para a direção.

—Tudo bem, tudo bem. — ela disse após acompanhar com o olhar para onde eu indiquei. O vasto vácuo. — Eu vou na frente, está bem? —

E sem esperar uma resposta, ela voou até o local.

—Sério? Perguntou se estava tudo bem porque se não me deixou responder? — resmunguei, voando atrás dela.

Mas claro que eu não consegui alcançá-la. A bonita estava a quilômetros na minha frente. Ainda bem que quando ela voava brilhava, porque aí sim eu não me sentia perdida. Respirei fundo, sentindo minhas mãos esquentarem e coloquei meus braços juntos ao meu corpo, liberando os jatos de energia e sentindo meu corpo ser impulsionado com mais força para frente.

Soltei uma risada, vendo que Carol estava cada vez mais perto de mim e com isso o sentimento de certeza aumentava a cada vez mais. Tony estava realmente ali.

Parei de soltar as rajadas de energia quando Carol parou de voar. A frente dela tinha uma nave azul e laranja. Parei a alguns poucos metros atrás dela, encarando a pessoa dentro da nave.

O sorriso tomou conta dos meus lábios enquanto sentia as lágrimas se formarem em meus olhos. Era ele. Tony realmente estava aqui.

—Esse sorriso no seu rosto não me deixa duvidar de que esse é o cara certo. — a voz de Carol me despertou.

—Você viu fotos dele. — rebati, limpando meu rosto sem desviar o olhar da nave.

Tinha medo de piscar e perdê-lo de novo.

—É, mas ele não estava com essa cara de quem não vê água e comida a dias. — respondeu. Franzi as sobrancelhas notando um movimento atrás de Tony. — Agora eu não sei quem é aquela. —

—Eu também não. — falei, semicerrando os olhos na direção dela.

Tony e a mulher, que eu estava duvidando se ela era azul mesmo ou era impressão minha, trocou algumas palavras. Logo ela caminhou até a poltrona ao lado da de Tony e pareceu apertar um botão.

—Pirralha, o que faz aqui? —

Mesmo sentindo meu peito apertar ao ouvir a voz de Tony parecer fraca e ele ter apresentado certa dificuldade para falar, soltei uma risada, aliviada. Nunca fiquei tão feliz em ouvir alguém me chamando de pirralha como naquele momento.

—Vim salvar você, Cabeça de Lata. — respondi, sorrindo. Me virei para Carol. — Vamos para casa? —

—Vamos para casa. Eu posso levar a nave de volta a Terra sem nenhum problema. — ela retirou a bolsa do seu ombro, passando a alça pelo meu pescoço. — Entre na nave e diga que estamos voltando. — assenti.

—Toninho, onde que fica as porteiras dessa nave? —

E no minuto seguinte eu já estava subindo uma pequena escada e entrando na nave. A mulher, que era mesmo azul, estava ali para me receber.

—Quem é a mulher lá fora? — a voz dela não era nem um pouco amigável.

Franzi as sobrancelhas, tentando lembrar de algo que o guaxinim deve ter dito.

—Você não é a... não, Gamora, não. O guaxinim disse que Gamora era verde, se não me engano. — algo na expressão dela suavizou.

—Conhece o Rocket? —

—É, ele apareceu lá na Terra. Você é a... Nebulosa! Correto? — sorri.

—E você não me disse quem era a mulher lá fora. —

—Credo que mau humor. — murmurei.

—Relaxa, Pirralha, ela é rabugenta assim mesmo. — a voz atrás da mulher azulada atraiu tanto minha atenção como a dela.

Tony vinha até nós se apoiando nas poltronas.

—Eu mandei você ficar sentado. — ela ralhou, indo até ele.

Observei a mulher ajudar Tony a se sentar numa poltrona. Fiz minhas pernas funcionarem e caminhei até eles, parando na frente do Stark e quase soltando um palavrão ao notar que Carol estava certa.

Tony estava com uma cara de quem não via uma gota d'água e comida há dias. Me ajoelhei no chão, na sua frente e abri a bolsa, começando a procurar pelos pacotes de salgadinhos espaciais.

—Pintou o cabelo? —

—E você está com uma feição horrível! — entreguei um pacote a Smurfette ao meu lado e abri uma garrafa de água, entregando a Tony. — Bebe. — mandei, tirando outro pacote de salgadinhos da bolsa e o abrindo.

—Primeiro me explica o que você e a outra mulher estão fazendo aqui. Aliás, quem é ela? —

—Viemos te salvar, cabeça oca. Não é óbvio? — revirei os olhos, pegando a garrafa da mão dele depois que ele secou a mesma e entregando o pacote de salgadinhos. — E ela é a Carol, é conhecida como Capitã Marvel. Longa história, conto melhor quando chegarmos na Terra. —

—Não tem como irmos a Terra. A nave está sem combustí... — a Smurfette não pode terminar, pois a nave deu uma leve sacudida. — O que foi isso? —

—Espero que estejam todos prontos, Melinda. — a voz de Carol soou antes dela voar com a nave.

Tive que me segurar no braço da poltrona onde Tony estava se não sairia rolando pelo chão com a velocidade que a nave estava.

—Você! Explique o que está acontecendo! — o olhar raivoso que a mulher me lançou me deu um calafrio na espinha, admito.

—Isso é a Carol. Ela está empurrando a nave. —

—E ela é forte e rápida desse jeito? — Tony indagou.

—Você não faz nem ideia. A propósito, como é o nome da azulada aqui? —

—Nebulosa. Pode chamar ela de Smurfette. —

—Faça isso e eu quebro sua mandíbula. — ameaçou, fazendo um sorriso brotar em meus lábios.

—Gostei de você. Sou Melinda, caso o Tony não tenha dito. —

—Como nos acharam? —

—Longa história. Conto tudo quando chegarmos. — disse simplesmente. — Agora comam. Não vai adiantar de nada salvar vocês do espaço e vocês morrerem de fome. — desviei o olhar do bilionário.

—E a Pe... — o interrompi.

—Vocês vão saber de tudo quando chegarmos, ok? Eu... —

—Pirralha, o que aconteceu? —

—Ih, olha! Parece nosso sistema solar, não? — desviei do assunto quando dei uma olhada sobre meu ombro, vendo um ponto qualquer do universo.

Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas tinha certeza que nosso sistema solar ainda estava um pouquinho longe.

***

Nebulosa e eu ajudamos Tony a caminhar para fora da nave, descendo os degraus cuidadosamente. Eu ofereci minha habilidade de fazer pessoas flutuarem, mas ele não aceitou.

Observei ao longe o pessoal nos encarando, não tenho certeza, mas acho que Thor é o único que não está presente. Steve veio correndo, ajudar. Segurei minha língua ao ver que o Picolé tinha tirado a barba, impedido as inúmeras piadas que eu sei que Tony faria quando a visse.

Não era o momento, Melinda.

Nebulosa deixou o Capitão ocupar o lugar dela após trocar um breve olhar com Tony.

Finalizamos os degraus e continuamos a andar devagar.

—Não consegui impedi-lo. — Tony falou.

—Nem eu. —

—Olha... — Stark parou, fazendo eu e o Capitão também parar. Ele encarou Steve nos olhos antes de prosseguir. — A pirralha aqui não quis me dizer nada, mas... perdi o garoto. —

O sorriso de Peter de quando nos conhecemos na lanchonete do sr. Delmar preencheu minha mente.

—Tony, todos nós... — Rogers não conseguiu terminar.

—E a... —

Uma aproximação ao meu lado me fez sair do transe observando Pepper parar a frente de Tony, com lágrimas nos olhos.

—Que bom. — ele sussurrou, aliviado.

—Ai meu Deus. — Pepper passou seus braços ao redor do pescoço de Tony, o abraçando.

Sorri, deixando eles terem seu momento de reencontro e indo encontrar o restante do pessoal. Meu sorriso aumentou ao ver Theo nos braços de Nat.

O garotinho abriu um sorriso, o que me fez apressar os passos e abraçar ele e Natasha de uma só vez.

—Senti tanto sua falta, papito. — sussurrei, me afastando dele. — Rocket não deixou você chegar perto de nenhuma bomba não, né? —

—Não. — ele negou com a cabeça. — Você está bem? O tio Tony está bem? —

—Sim. Ele só está um pouco desidratado porque não come nem bebe fazia dias. — expliquei, observando Bruce e Rhodey se aproximarem.

—O traje não deu defeito, deu? — perguntou, preocupado.

—Ah. Sobre isso... — dei um sorriso amarelo. — Eu tirei o traje quando estava em órbita. —

—O que? —

—Eu queria saber se conseguia respirar no espaço e olha só! Eu consigo. — abri um sorriso, tentando aliviar a tensão.

—Imagina se não pudesse, Melinda? — eu estava prevendo o esporro que ia levar do Bruce, eu sentia.

—Melhor deixar a pequena discussão para depois. — Nat falou, indicando com o olhar algo atrás de mim.

Me virei, observando Pepper e Steve ajudarem Tony a ir até o Complexo. Carol vinha logo atrás e Rocket estava sentado nos degraus da nave com Nebulosa. Lembrei que ele tinha comentado algo sobre não saber se seus amigos tinham sobrevivido ou não e algo na expressão dele e da Smurfette dizia que ele teve sua resposta.