Aqui vão algumas notas mentais feitas por mim enquanto voava em uma nave wakandana até um ponto longe o suficiente da cidade e mais perto da barreira:

1. Eu jamais deveria ter insistindo na ideia de ficar sem ver minha família nesses dois anos. Eu deveria ter ido atrás deles alguns meses depois de ter fugido da prisão para me despedir, Ross não teria coragem de fazer nada com eles. E se ele tivesse ido atrás deles, eu tinha os vídeos da prisão e podia ameaçá-lo.

2. Eu também deveria ter comido mais no Complexo, feito uma marmita e ter trazido para comer no caminho. Sinto meu estômago vazio, mas sei que é por causa do nervosismo da batalha.

3. Sinto também que eu devia ter treinado mais nesses dois anos. Estou com medo de não conseguir lidar com esses aliens.

4. Quando isso acabar - e se eu estiver viva, claro - irei agradecer a Shuri beijando os pés dela por ter feito um traje que absorve energia solar e serve de fonte de energia. Isso vai me ajudar bastante.

5. Quando estavam dividindo as tropas e tudo mais, eu usei a habilidade de localização para saber se Thor, Tony e Peter tinham, por algum milagre, conseguido voltar para a Terra. Sem sucesso.

6. Eu sinto que devia ter escrito meu testamento porque se eu morrer aqui ninguém vai poder sequer usufruir dos meus bens. (É pra isso que as pessoas têm filhos?)

7. De alguma forma, me sinto em paz por ter contado ao Tyler o que eu sentia por ele - mesmo que não tenha sido com todas as palavras. Odiaria morrer nessa luta e ele ficar sem ter certeza dos meus benditos sentimentos.

8. Se eu sair viva daqui, vou adotar um cachorro. Irei escrever meu testamento e meus bens serão todos dele, decidido.

Eu consegui rir algumas vezes durante o trajeto, como, por exemplo, quando Natasha perguntou como Bruce estava ao comandar a Hulkbuster e ele respondeu todo animado dizendo que tava pegando o jeito. E no segundo seguinte ele tropeçou e caiu de cara no chão.

—Duas assinaturas de calor saindo das árvores. — Rhodes informou, sobrevoando a área com Sam.

Semicerrei os olhos vendo alguns grupos de pessoas paradas, em formação. Se eu não me engano, era a chamada Tribo da Fronteira.

A nave fez uma curva e parou, descemos e nos aproximamos dos carinhas com lanças. Quanto mais nos aproximávamos, mais eu podia ouvir alguns gritos que eu não conseguia compreender.

Seria Wakandês? Wakandenês?

Os gritos de guerra - acredito que sejam gritos de guerra - vinham de um grupo de homens e algumas mulheres com vestimentas... mais modernas dos homens das cavernas?

Não sei, só sei que são legais. Os couros e o que parece ser uma saia de palha e... aquilo são peles de animais? Espero que sejam sintéticos.

—Eles são da Tribo dos Jabari. — Bucky explicou do meu lado. — Vivem nas montanhas. —

—Que legal. — murmurei, observando T'Challa apertar a mão de um cara grande que parecia ter uns dois metros de altura. — Quem é esse? Ele é enorme, estou me sentindo uma anã e nem estou do lado dele. —

—M'Baku. Líder dos Jabari. — respondeu.

—Ele é bonitão, né? — olhei o tal M'Baku de cima a baixo. — Deve fazer um estrago que só vendo. — senti o olhar de James sobre mim. — Oi? —

—Você sempre leva para esse lado? —

—Eu sou uma apreciadora da beleza do corpo humano. — dei de ombros.

—Você não sobreviveria a um dia nos anos 40. — ele encarou Steve, Nat e T'Challa que caminhava em direção a barreira.

—Não mesmo. Era qualquer macho mandando eu me portar como mulher ou soltando qualquer gracinha e eu metia logo um socão no meio da cara para ficar esperto. — Dory sorriu.

Fiz meus olhos brilharem e semicerrei os mesmos, tentando enxergar quem estava fora da redoma.

—Estão muito longe, mal consigo enxergar o Picolé, a Dona Aranha e o Baguera. — bufei.

—Seus olhos estão brilhando. — Bucky falou, fazendo-me arquear a sobrancelha.

—Eles brilham quando uso meus poderes. Antigamente dava para não fazer eles brilharem enquanto eu usava meus poderes, mas conforme fui ficando mais forte foi mais difícil. — expliquei, voltando meus olhos ao normal. — Você não viu eles brilhando no aeroporto? —

—Não que eu tenha reparado. Você comentou que tem uma audição aguçada, né? Consegue ouvir? —

—Por acaso o cachorro sabe latir? É claro que consigo, Dory. — me concentrei nos três mais a frente, ignorando o barulho ao redor. — Natasha perguntou do alienígena que atacou Wanda e Visão na Escócia, acho que a silhueta é só da outra alienígena. O grandão do lado dela deve ser o que estava em New York. — falei. — Eles disseram que o Thanos ia ter a jóia, Steve disse que isso não ia acontecer jamais, T'Challa disse que eles estavam em Wakanda e Thanos só ia conseguir sangue e poeira. —

—E os aliens se renderam? — perguntou após um suspiro.

—Nah, só disseram que sangue eles tinham de sobra. — disse encarando o pessoal retornando.

Os objetos que caíram do céu em direção ao solo e que tinham formatos de triângulos começaram a abrir as porteiras.

Fechei os olhos com força, levando a mão até meu ouvido.

—O quer que esteja saindo dali é barulhento. — murmurei, balançando a cabeça.

Steve, Nat e T'Challa ficaram ao nosso lado, encarando o que quer que esteja vindo do outro lado.

O Pantera começou a gritar uma palavra e os wakandanos repetiram batendo suas lanças no chão e instantâneamente me causando um arrepio.

Isso é muito lindo de se ver, tenho que admitir.

T'Challa continuou a entonar a palavra até que os seres feios e completamente esquisitos que saíram dos triângulos começaram a correr em direção a barreira.

—Que que isso? — Bucky murmurou ao meu lado.

—Acho que ela ficou nervosa. —

Encarei Natasha rapidamente antes de me assustar com o barulho dos corpos daqueles bichos se chocando com a barreira. Eles estavam morrendo por tentarem atravessá-la.

E mesmo vendo eles morrendo, os outros continuaram vindo com tudo e tentando atravessar a merda da barreira.

—Eles estão se matando. — Okoye falou com certo horror.

E foi aí que algo interessante aconteceu.

Alguns dos cães ou macacos do espaço sei lá, começaram a conseguir a atravessar a barreira.

—Permissão para falar um palavrão? — pedi a Steve que manteve os olhos na cena a sua frente.

—Permissão negada. —

Eu ia ignorar a negação dele e falar um palavrão, mas T'Challa falou mais uma ordem na língua materna dele que os wakandanos logo entenderam e colocaram em prática.

Pegaram as capas e as puxaram para frente e logo uma barreira, que nem a que fica ao redor do país, apareceu. E sim, eu estava novamente chocada com a tecnologia de Wakanda.

Eles começaram a atirar com suas lanças nos bichos. Logo Bucky também começou a atirar com sua metralhadora.

Voltei a encarar a cena a minha frente, vendo os aliens serem abatidos.

Semicerrei os olhos, observando a forma dos aliens.

—Caramba! Eles parecem uma mistura daqueles aliens do Ben 10! Da Besta com o Quatro Braços! — exclamei, recebendo um olhar incrédulo de Steve. — O que? Não me olhe com essa cara. Eu sou multitarefas. — falei antes de erguer meu braço e acertar três cachorros do espaço de uma só vez. — Viu? — sorri, voltando a olhar para frente.

Fui acertando os troços um atrás do outro. Bruce também liberava raios propulsores das mãos da Hulkbuster nos mostrengos. Até Sam e Rhodes estavam matando essas bestas lá do alto.

Quando vi que eles estavam se aproximando, chegando a menos de 20 metros de onde estávamos, resolvi tentar algo melhor que só os jatos de energia.

Me concentrando na energia elétrica, dei alguns passos para a frente sentindo cada corrente elétrica passar pelo meu corpo. E quando eu estava com uma boa carga, trouxe meus braços para junto do meu peito, com eles fazendo um x.

E então abri os braços, fazendo raios acertarem as bestas mais próximas.

Virei para trás, encarando que Steve e piscando logo em seguida.

—Valha. — dei um pequeno pulo quando o som de alguma coisa explodiu não muito distante.

Ao olhar para frente vi uma grande explosão próxima a barreira queimando os macacos que estavam para invadir.

—Um aviso prévio seria bom. — murmurei, voltando para o lugar entre Bucky e Steve.

As bestas estavam começando a correr em volta da redoma, explorando o local.

—Capitão, se essas coisas derem a volta e passarem por trás de nós, não terá nada entre elas ou o Visão. — falou Bruce.

—Vamos mantê-las na nossa frente. — Steve foi categórico.

—Como vamos fazer? — Okoye fez a pergunta que rondava minha cabeça.

—Vamos abrir a barreira. — T'Challa respondeu. — Ao meu sinal, abra a sessão noroeste 17. —

Ouvi a voz através do comunicador de T'Challa pedir confirmação.

Jesus. Eles nunca abriram a barreira e vão abrir pela primeira para invasão alienígena.

—Ao meu sinal. — repetiu.

Respirei fundo, cerrando meus punhos e estalando meus dedos.

—Ok. Se for pra cair, que seja pra cair lutando. — falei, estalando meu pescoço.

—Queria poder ter comido mais ameixas antes. — Bucky murmurou.

Ouvi o barulho do novo escudo de Steve se abrindo e eu realmente teria feito um comentário sobre o quão incrível ele era, mas eu estava com a cabeça nos cachorrão.

Acho que isso significa que o tempo não é bom nem para eu fazer piadas e comentários desnecessários.

O Pantera Negra deu mais uma ordem e os homens da Tribo da Fronteira largaram as capas. Deu alguns passos para frente e então deu um grito que arrepiou até minha alma.

—Wakanda para sempre! —

—Wakanda para sempre! —

E então todos começaram a correr em direção a barreira enquanto empunhavam suas armas.

Ultrapassei a fileira de homens da Fronteira a minha frente e logo coloquei o famoso sebo nas canelas. Logo alcançando Steve e T'Challa que tinham tomado a frente da corrida.

—Agora! — T'Challa ordenou e a barreira abriu para que as bestas alienígenas entrassem.

E aí a guerra começou.

***

Wakanda se tornou um verdadeiro campo de batalha.

Aquilo estava um verdadeiro caos.

E o pior: lá no fundo eu sabia que não estávamos nos nossos melhores dias. Tinha muitos deles e poucos dos nossos.

Estava difícil projetar escudos nos momentos certos porque o espaço era pequeno, mas sempre que dava eu protegia alguém que precisasse de um escudo.

Eu já tinha empunhado minha espada e acertava aquelas bestas sem pena alguma. Cortava um membro, partia o corpo ao meio, arrancava a cabeça.

Sempre que dava acertava rajadas de energia, outras vezes eletrocutava alguns deles com os raios e outras eu partia para o combate físico.

Ao cortar a cabeça de mais dos bichos notei a alienígena de mais cedo e o grandão de New York passarem pela barreira.

Acompanhei o olhar do alien maior vendo que encarava Rhodes. Sem pensar duas vezes ergui um escudo entre ele e o alienígena.

O machado, martelo ou seja lá o que for que ele tenha preso com uma corrente no punho, foi arremassado na direção do Máquina de Combate e ele deu de cara com o meu escudo.

Quando a arma dele voltou para o dono, comecei a caminhar na direção deles, cortando os cachorros do espaço que apareciam no caminho com a espada enquanto canalizava um jato de energia mais potente na minha mão direita.

—Você se acha muito esperto, não é? Atacando por trás que nem um covarde. —

E quando ele fez menção de arremessar aquele troço em mim, ergui minha mão na direção dele o acertando com uma rajada de energia tão forte que o jogou para trás.

—Oi, amor. Nos encontramos de novo. — sorri para a mulher azulada, correndo na direção dela com um escudo ao meu redor.

Desativei o escudo quando fui atacar.

Dessa vez ela não estava com o bastão e sim com uma espada. De igual para igual.

Investi em um golpe lateral, depois outro vindo de baixo para cima.

Me abaixei quando ela tentou acertar meu pescoço e dei uma cambalhota, levantando já atrás dela. A alien foi mais rápida e interceptou meu golpe me dando uma rasteira.

Antes que eu processasse o que tinha acontecido, ela pulou em cima de mim forçando a espada na minha garganta a qual só não a acertou porque eu bloqueei o golpe com a minha espada.

—Você se acha muito esperta, não é? Tentando me vencer. — falou, fazendo mais força.

—Eu não acho. — falei, reunindo a energia em meu peito. — Eu sou esperta. — sentindo minha força restaurada, coloquei meu pé em sua coxa, próxima ao quadril dela e fiz força ao empurrar para cima.

A mulher azulada me soltou e eu voei para cima dela, com as pernas de cada lado do corpo dela enquanto dava um soco atrás do outro no rosto dela. Puxei a faca presa em minha bota prestes a cortar a garganta dela quando, do nada, uma lâmina surgiu da parte do antebraço da armadura dela.

E estávamos do mesmo jeito como quando ela me imobilizou.

—Você já era. —

Eu devia ter notado a presença do alien grandão que tem um martelo/machado (sei lá que porra de arma é aquela) presa no punho. Devia ter notado quando ele arremessou aquela porcaria na minha direção e atingiu em cheio a lateral do meu corpo, me jogando para longe.

De certa forma esse golpe foi bom, porque enquanto eu estava sendo arremessada para longe da mulher azulada meu corpo atingia algumas das bestas alienígenas. Mas pelo outro lado, a lateral do meu corpo estava doendo tanto, mas tanto que eu estava quase chorando.

Até que eu atingi o chão com tudo.

—Tinha que ser o lado esquerdo. — resmunguei quase sem voz, mal sentindo a lateral esquerda do meu corpo.

Antes que eu pudesse me recuperar do baque, senti algo puxar meus pés e logo eu estava com várias daquelas bestas em cima de mim.

—Cê tá me zoando! — resmunguei, tentando me defender como podia.

Meus braços protegiam meu rosto enquanto eu sentia as garras daqueles bichos quererem me rasgar.

Sentindo a energia ficar forte e mais em meu peito, eu apenas gritei enquanto liberava toda ela vendo os cães sendo reduzidos a cinzas.

—Tem muitos deles! — Bruce gritou e pelos ruídos que vieram a seguir, ele estava com problemas.

Com fogos nos olhos - ou energia - eu me levantei do chão, olhando ao redor procurando pelo Verdão.

Quando eu o achei, estava prestes a ajudá-lo quando uma forte luz atingiu o solo.

Encarei ela, notando alguns feixes coloridos, como se fosse um arco íris. Foi aí que algo saiu dessa grande luz, voando e liberando alguns raios quando atingia as bestas alienígenas.

Bruce ficou livre da saia justa em que foi metido, assim como T'Challa e Steve. E quando o objeto voltou para onde veio, a luz foi diminuindo e três figuras foram reveladas.

Uma eu tinha certeza que parecia um tronco de uma árvore, a outra eu estava com sérias dúvidas se era mesmo um guaxinim e a última era Thor, o Deus do Trovão.

—Melinda, permissão para dizer palavrão. — a voz de Steve soou pelo comunicador.

—Puta que pariu, caralho! Isso sim que foi um timing perfeito. — falei, sorrindo enquanto encarava Thor ainda embasbacada. — Vem, Grandão, vem comer o cu do Thanos com farofa. —

E como se tivesse me ouvido, Thor começou a correr na direção dos alienígenas. Seu corpo liberava pequenos raios e minha boca já estava aberta em um perfeito O vendo tudo isso.

—Tragam-me o Thanos! — gritou com a raiva evidente na voz antes de pular e acertar o solo com o machado.

***

Sabe a sensação que eu tinha de que poderíamos perder? Cancela, não existe mais.

Graças a Thor conseguimos reduzir bastante o número do exército de aliens. Estava dando tudo certo. Estávamos ganhando, afinal.

Na primeira oportunidade que tive pulei em cima do Thor, abraçando-o e comentando o quanto ele ficou ainda mais gostoso com o cabelo curto.

Ele riu, disse que sentiu saudades e que quando isso acabasse iria me contar várias histórias sobre suas aventuras nesses anos no espaço.

Voltamos a lutar.

Estava tudo indo bem para o nosso lado.

A minha espada já tinha voltado para a minha mão e eu tinha aprendido de última hora um recurso muito bom. Mesmo segurando a espada, eu conseguia soltar rajadas de energia com a mão que a segurava, o jato de energia passava por ela sem nenhum problema.

—Pode vir cachorrada do espaço! — encarei o dono da voz com os olhos arregalados.

Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Era um guaxinim falante com uma arma espacial atirando nas bestas.

Bucky estava do lado dele e parecia estar absolutamente tranquilo. Até que ele segurou o guaxinim pela parte de trás da roupa dele (ELE TEM O PRÓPRIO UNIFORME!) e o levantou, girando enquanto Bucky e o guaxinim do espaço atirava.

Quando as bestas morreram e Dory colocou o amiguinho do Thor no chão ele perguntou quanto Bucky queria pela arma. E quando ele disse que não estava a venda, perguntou sobre o braço.

Barnes só se afastou vindo na minha direção.

—Sério? Um guaxinim falante fala com você e você consegue responder na maior tranquilidade? Você não está surtando? — perguntei com a voz levemente elevada.

—Eu acho que você já está ocupando esse papel. — falou atirando em algo ao meu lado.

—Mas é claro! É um guaxinim falante! E ele tem uma arma. — apontei para o ser que atirava nos bichos como se não houvesse amanhã. — Por que a Terra é tão sem graça? — girei a espada, enfiando ela no alien que avançava na minha direção por trás.

—O espaço também tem uma árvore que só fala "eu sou Groot". — encarei Bucky que sorria.

—Tá me zoando! —

Comecei a olhar ao redor atrás da árvore falante, mas algo chamou minha atenção. Um barulho de como se algo estivesse sob o solo e eu podia jurar que o chão tremeu.

As árvores do lado de fora da barreira começaram a cair como se algo estivesse as cortando pela raiz e esse algo passou por baixo da barreira subindo para a superfície.

—Mas que merda. — resmunguei, guardando a espada enquanto corria na direção das rodas assassinas ou seja lá o que isso são.

Os wakandanos que estavam próximos a barreira morreram na hora.

—Recuem! — T'Challa gritou. — Recuem agora! —

Quando todos começaram a correr e a área ficou um pouco mais livre, parei. Ergui meus braços na direção dos trecos, fazendo um escudo para segurá-los.

Dei um passo para trás quando eles pareceram fazer mais força para frente, forçando passagem.

—Continue segurando eles, Melinda. — a voz de Rhodes soou pelo comunicador.

—E o que você acha que estou fazendo? — gritei de volta, reunindo toda a energia em meu peito e dando um passo para frente. — Vocês não vão sair daqui. — falei entredentes.

—Mire no flanco esquerdo, Sam. — Rhodes falou novamente.

Logo ele e o Garibaldo estavam atirando no flanco esquerdo das rodinhas assassinas, mas aí outras fizeram o favor de aparecer longe de onde eu estava.

—Merda, merda, merda. — trinquei o maxilar, sentindo minhas mãos esquentarem consideravelmente a cada explosão que Rhodes e Sam causavam nas rodinhas.

Assim que as que eu segurava ficaram inativas, desativei o escudo, ignorei a queimação em minhas mãos e me virei procurando pelas outras que atravessaram.

No entanto, eu não precisei fazer nada.

Wanda estava aqui.

E com seus poderes ela as parou, as ergueu do chão e as soltou em cima do exército de aliens. Maximoff virou na direção de Nat e Okoye, que se não fosse pela bruxinha teria virado picadinho e logo começou a lutar com elas.

Soltei o ar dos meus pulmões encarando as palmas das minhas mãos, elas ardiam demais da conta.

Retirei uma das luvas, me preparando para ver bolhas de queimadura espalhadas pela palma, mas não tinha nada. Minha mão continuava lisa, sem nenhum sinal de queimadura.

Porém, se elas não queimaram por que eu sentia elas queimando por dentro?

—Galera, o Visão está encrencado aqui. — a voz de Sam me fez enterrar o questionamento bem fundo.

—Alguém vai até o Visão! — Steve gritou.

—Deixa comigo. — Bruce respondeu voando.

Coloquei a luva de volta.

—A caminho. — Wanda respondeu também, mas foi atingida por algo na cabeça.

—Wanda. — sussurrei correndo até ela, mas ao chegar no meio do caminho encontrei Okoye e Natasha preparadas para lutar com a mulher azul alienígena que acertou a bruxinha. — Ok. — murmurei, pegando impulso e voando na direção de Visão.

—Gente, o Visão precisa de ajuda. Agora! — Bruce falou e logo o avistei lutando contra o alien grandão.

—Já estou com ele. — informei.

Encontrei Visão tentando lutar com o alien da estação de trem na Escócia. Então o filha da puta está vivo ainda?

Ele enfiou a ponta da lâmina do bastão dele no andróide enquanto eu descia na direção deles.

—Pensei que fosse formidável, máquina, mas está morrendo como qualquer homem. — e então retirou a lâmina, soltando Visão no chão.

Juntei minhas pernas enquanto descia e chutei o alien com força, dando uma cambalhota no chão e parando em pé.

—Vai! Coloca sebo nessas canelas e corre! — gritei para Visão, voltando a encarar o alienígena que já estava de pé e vinha na minha direção.

Bloqueei o golpe dele com a lança com meu braço, dando um gancho de direita e girando, dando um chute lateral.

—Eu mandei você correr! — gritei quando notei Visão parado no mesmo canto.

O alien partiu para cima de novo. Segurei sua lança e acertei uma cabeçada na cabeça dele, fazendo-o recuar um passo. Aproveitei para chutar sua perna o deixando de joelho e um chute no meio dos peitos, fazendo-o cair deitado no chão.

Ergui meu braço, pronta para liberar uma rajada de energia, mas o que saiu foi a mais pura chama da minha mão.

—Mas que porra? — encarei a palma da minha mão confusa.

Eu virei pirocinética e não sabia?

Um alerta surgiu na minha cabeça.

Era por isso que minhas mãos estavam queimando por dentro. De alguma forma eu tinha absorvido a energia de combustão de quando Sam e Rhodes explodiram aquelas rodinhas.

—Melinda, cuidado. — antes que eu pudesse ficar em alerta com o breve aviso do Visão, senti uma dor na minha coxa direita, algo a rasgando.

Ao olhá-la, vi que a ponta da lâmina do bastão do alien estava enfiada na minha perna e o dono dele estava a segurando com um sorriso no rosto.

Ele tinha escapado de última hora do jato de energia em chamas.

Reuni força no meu braço esquerdo e acertei um soco na garganta dele, obrigando-o a recuar e largar o bastão. Retirei aquele treco da minha perna, sentindo ela doer pra caralho.

Foi aí que eu senti algo me acertar no rosto e logo o alien estava sobre mim apertando meu pescoço.

Eu não estava conseguindo raciocinar direito para elaborar um jeito de sair daqui. Ele estava apertando com tanta força que o ar estava esvaindo dos meus pulmões mais rápido do que se fosse um humano me enforcando.

E aí algo atravessou o alienígena, bem no meio do peito. Era a própria lança dele. O aperto no meu pescoço afrouxou e logo eu estava tocindo e sentindo minha garganta doer enquanto observava Visão largar a lança com o corpo do alien morto.

E aí ele caiu no chão.

Levantei, ignorando a dor dilacerante em minha perna direita e passando o braço de Visão sobre meu ombro.

—Que parte do coloca sebo nas canelas e corre você não entendeu? — indaguei tentando caminhar com ele.

—A parte em que se eu deixasse você para morrer, Wanda me mataria. — respondeu. — Me deixa aqui. Você não pode forçar essa perna. —

—Se fosse em outras condições, eu diria o quão burro você estava sendo por achar que um cortezinho na minha perna ia me fazer parar. — falei, parando de andar. — Mas eu acho que o melhor é você ficar aqui, onde ninguém está te vendo. — o ajudei a sentar no chão, encostado em uma árvore.

—Você devia sentar. — falou quando eu coloquei a mão sobre a coxa machucada, analisando o estrago.

—Estou bem. A luta ainda não acabou. — disse, ignorando o corte enorme junto com a dor.

Wanda se aproximou da gente voando.

—Você está bem? — perguntou a Visão, se agachando ao lado dele.

Algo em meu peito fez com que um alerta surgisse em minha cabeça. Tinha alguma coisa errada.

Levei a mão até o comunicador em meu ouvido.

—Capitão, acho bom você vir para cá. Acho bom todo mundo vir para cá, na verdade. — engoli em seco, sentindo a sensação estranha em meu peito aumentar.

Alguns segundos depois o Capitão chegou acompanhado de Nat, Bruce, Okoye e T'Challa.

—Thor está destruindo as naves para que não possam fugir. O que foi? — indagou, encarando Wanda e Visão rapidamente.

—Não sei direito, mas eu sinto uma energia estranha. Alguma coisa... alguma coisa está vindo. — respondi.

E no mesmo instante Visão soltou um gemido de dor atraindo nossa atenção.

—Ele está aqui. —

Olhei para Steve que me encarou de volta antes de olhar ao redor. Sam, Rhodes, Bucky e a árvore falante também chegou aqui.

Como se pudesse prever o desastre que está por vir, as folhas das árvores balançaram com o vento causando um farfalhar de dar arrepio.

A sensação em meu peito foi ficando maior e maior como se eu pudesse sentir a chegada do Thanos. E ele chegou.

Uma espécie de nuvem negra com tons azuis e alguns raios apareceram a alguns metros a nossa frente. De lá, saiu um ser roxo e enorme. Na sua mão esquerda tinha uma luva dourada com pedrinhas coloridas, as tão faladas Joias do Infinito.

E como se a gente precisasse de alguma confirmação de aquele era mesmo o Thanos, Bruce falou:

—Olha, Capitão, é ele. —

Fazendo um movimento com o braço, Steve fez seu escudo ficar um pouco maior enquanto caminhava em direção ao vilão.

—Se preparem. Atenção. —

E um a um foi para cima da berinjela.

Bruce foi o primeiro, pulando em cima dele, mas seu corpo atravessou o do Thanos e então ele estava preso em uma parede. Steve foi jogado para o lado com feixes roxo ao redor dele e o Thanos sequer o tocou.

O Pantera pulou, mas parecendo ter todo tempo do mundo Thanos o segurou pelo pescoço e o jogou no chão. Sam atirava na uva passa enquanto voava, mas as balas não surtiam efeito algum e logo suas asas falharam, o levando ao chão.

O ar estava começando a fazer falta em meus pulmões.

Não tinha como derrotar essa berinjela seca. Não com aquela luva dourada e as joias. E fora que eu não estava nos meus melhores dias com a perna fodida desse jeito.

Minha mão esbarrou em algo na minha perna esquerda, minha espada.

Encarei Thanos se livrar de Rhodes, Bucky, Nat, Okoye e a árvore de uma só vez, como se eles não fossem meras formigas no seu sapato. Olhando novamente para minha espada uma ideia passou pela minha cabeça.

Se metal alienígena só pode ser cortado com material alienígena, então para matar matar um alienígena como ele só precisa de material alienígena?

E então eu decidi que valia a tentativa.

Deixei a espada no lugar em que estava, voltando a encarar a berinjela e tive que reprimir um grito quando ele socou a cara de Steve que caiu no chão que nem fruta madura.

E aí eu comecei a caminhar do Thanos. Mancando, com a mão direita sobre o corte e o maxilar trincado. Eu precisava tentar ao menos.

—Que porcaria... de dor. — resmunguei, tentando dar mais um passo e então parei, levando as mãos até a coxa sangrando.

—Parece que sua perna já viu dias melhores, criança. — ele falou, parando a dois passos de mim.

—Vai pro inferno. — resmunguei entredentes, rapidamente puxando a espada e a fazendo crescer na direção do peito dele.

No entanto, Thanos também foi rápido ao segurar meu pulso e afastar a ponta da espada para longe dele.

—Achou mesmo que isso iria funcionar? — sorriu.

—Para falar a verdade, não. — ignorando a dor na perna, peguei impulso e pulei, dando uma cabeçada na dele e sentindo a dor se espalhar rapidamente. — Mas isso eu achei que sim. — murmurei meio zonza.

A tontura foi dissipada pelo meu pulso estalando e a dor se alastrando. Larguei a espada urrando de dor.

—Você é estúpida por achar que pode me deter. — e então a mão com a luva dourada segurou meu pescoço, me tirando do chão.

Lembra de quando eu estava sendo enforcada pelo alien que tentou matar o Visão e disse que a dor era horrível? Cancela, essa é mil vezes pior.

Segurei a manopla, tentando puxar uma das jóias sem que ele notasse, mas aquele treco não vinha de jeito nenhum.

—Por acaso está tentando remover uma jóia? —

—De... pende. — falei com dificuldade. — Está... funcionando? —

—Óbvio que não. — sorriu.

—É... valia... a tentativa. —

E trazendo minha perna direita para cima, rapidamente puxei a faca que tinha feito com um pedaço derretido da espada e enfiei no ombro dele, que era o máximo onde conseguia alcançar.

—Eu só precisava... que você... me achasse burra. — falei com dificuldade para respirar quando ele me largou no chão.

Tentei alcançar a espada, mas antes que conseguisse ele me acertou com força total no rosto com a mão da manopla, me jogando longe.

Dor, a mais pura dor. Era só o que eu sentia quando atingi o tronco de uma árvore e cai no chão.

Minha cabeça girava, meus ouvidos zuniam, minha perna se antes ela já doía, agora doía muito mais. Sem contar a lateral do meu rosto depois da pancada com aquela luva.

Meu rosto devia estar acabado. Eu sentia o sangue escorrendo por ele assim como sentia o sangue em minha boca.

Meus olhos pesavam e talvez eu tenha apagado por alguns segundos, talvez um minuto, porque quando eu os abri de novo, Thor estava com o machado enfiado no peito do Thanos.

Tentei sorrir, mas a dor me impedia. Mas isso não importava.

Tínhamos ganhado afinal.

Encarei Wanda a poucos metros de mim, ajoelhada ao lado do corpo, agora completamente cinza, de Visão. Ela estava chorando.

E novamente, ignorando a dor, eu tentei levantar e ir até ela, ficar ao seu lado. Contudo, não consegui ficar de pé. Mas não desisti e fui até ela me arrastando, afinal meus braços ainda funcionavam e estavam servindo muito bem.

Eu estava quase lá, estava quase chegando até ela. Ignorava uma sensação em meu peito dizendo que algo estava acontecendo, que algo estava errado. Ignorava porque a única coisa que eu queria era cumprir a promessa que eu fiz para Wanda, a promessa de que sempre estaria do lado dela principalmente nos momentos mais difíceis.

Mas algo estava de fato acontecendo e estava acontecendo com Wanda.

—Não. — sussurrei, observando pequenas partes do corpo dela começarem a dissolver no ar. — Não, por favor. Você não. — sussurrei, tentando chegar mais rápido perto dela. — Wanda. — a chamei.

Seu olhar estava perdido, completamente destruído. Vê-la quebrada daquele jeito me destruiu por completo.

—Desculpa. — ela falou antes de sumir de vez.

—Não. — as lágrimas começarem a cair.

Eu conseguia ouvir os gritos de Rhodes procurando por Sam, assim como a de Okoye gritando por T'Challa.

Fechei os olhos com força, deixando as lágrimas caírem enquanto meu peito doía junto com todo meu corpo. Juntei minhas forças, me sentando no chão e alcançando o corpo de Visão, o virando.

O lugar em que a jóia ficava não passava de um buraco.

—O que... o que aconteceu? — ouvi a voz de Rhodes soar confusa.

Ergui o olhar, encontrando Bruce, Thor, Steve, Nat, Rhodes em pé e o guaxinim sentado em um tronco de uma árvore caída. Eles foram tudo que sobrou?

—Ele conseguiu. — respondi em um sussurro, minha voz falhando. — Ele conseguiu. — voltei a sentir as lágrimas caírem.

O silêncio tomou conta do ambiente e por um momento, eu pensei em Tyler e não senti nada. Nenhuma energia sequer sendo produzida pelo seu corpo.

Senti minha cabeça doer, meu coração pesar com a ideia do que tinha acontecido com ele. Não. Isso não pode ser o que estou pensando, não pode.

—Melinda... o que está fazendo? — a voz de Steve saiu entrecortada por causa da respiração ofegante.

—Eu não... eu não sinto... não sinto eles. — engoli em seco, procurando por qualquer energia dos meus amigos, da minha família. — Nada. Ninguém. — sussurrei, encarando eles. — Todo mundo... todo mundo se foi. —

Steve encarou o restante do pessoal e como se só agora se desse conta do que aconteceu, murmurou enquanto deixava o corpo ceder com o peso:

—Ah, não. —