O check-up médico que o Bruce fez deu tudo ok, coisa que eu já previa. Ele me liberou depois de me fazer prometer que avisaria assim que chegasse e quando eu estivesse voltando para o Complexo, um verdadeiro paizão preocupado.

Enquanto me arrumava, falei com o Theo que precisaria encontrar uma amiga e que ele ficaria com o Thor, mas que se precisasse da ajuda dos outros poderia pedir sem nenhum problema. O pequeno disse que estava tudo bem e que adoraria passar um tempo com o tio Thor.

Quando fui deixar meu sobrinho com o Deus do Trovão e o Grandão disse que poderia treiná-lo que nem ele e o Loki treinavam quando eram crianças quase esqueci da Reginna para ficar e aprender algumas coisas também, mas me manti firme. O guaxinim RJ ficaria com eles também.

Estava tudo certo.

Bruce tinha me liberado do repouso, Theo estava com o Thor, eu já estava com meu celular e chaves do Audi no bolso da calça. Tudo ok.

E então apenas entrei no carro e dei a partida, pegando a estrada que me levaria até a casa de Reginna em New Jersey.

***

Havia um carro parado em frente a casa de Reginna que eu não reconhecia, porém ela pode ter trocado de carro nesses dois anos nunca se sabe. Estacionei o meu logo atrás, descendo do mesmo e caminhando até a porta suspirando antes de apertar a campainha.

Um minuto depois a porta foi aberta e uma mulher loira e olhos castanhos apareceu no meu campo de visão. Mesmo com seus olhos expressando cansaço e os ombros caídos como se carregassem o peso do mundo, ela exibiu um sorriso doce.

—Melinda. Como vai? — franzi as sobrancelhas.

—Ue, você me conhece de onde? —

—Bom, seria impossível não conhecer você uma vez que você é uma Vingadora e melhor amiga da Amélia. — respondeu.

—É faz sentido. Muito prazer então, sra...? — ergui a mão direita que ela apertou gentilmente. Observei uma aliança prata em seu dedo anelar.

—Rivera, mas pode me chamar de Natalie. Entre. — deu passagem para que eu entrasse e assim eu fiz.

—Rivera? Você é da família da Amy? — perguntei, me virando na direção dela assim que cheguei a sala. — Não me lembro dela ter comentado sobre uma tia ou prima, sei lá. —

—Ah, é. Você estava fugindo quando tudo aconteceu. — falou sorrindo, fazendo minhas sobrancelhas se franzirem novamente confusas.

—Tudo o que? —

—Nat? Quem está aí, amor? — uma voz conhecido vindo do andar de cima soou pela casa.

Logo passos se fizeram presente e uma cabeleira castanha escura surgiu nas escadas. Reginna não tinha mudado quase nada.

Seu cabelo que antes era na altura dos ombros estava maior, um pouco abaixo dos seios e as pontas estavam um pouco mais claras que a raiz. Seus olhos mesmo cansados mantiam o olhar calmo e amoroso. Seus ombros, assim como os da Natalie, também estavam caídos.

—Melinda? Oh, céus. — ela abriu um sorriso enquanto descia as escadas mais rápido, vindo até mim. — É tão bom ver você depois de todos esses anos. — Reginna me abraçou com força, arracando-me um sorriso.

—É bom ver você também, tia. — a abracei de volta. — Senti tanto sua falta. —

—E nós a sua. — ela se afastou, me olhando nos olhos. — Seu cabelo está tão diferente, mas tão lindo. Você está mais linda ainda, minha menina. — sorriu, me olhando de cima a baixo, parando o olhar no meu pulso com a tala. — O que foi isso? —

—Ah, um presentinho do Thanos. Uma fratura no pulso, em três costelas, a perna direita mal me mantia em pé e vários cortes e hematomas pelo rosto. — ela arregalou os olhos, assombrada. — Mas não se preocupe, eu estou bem. O pulso é o único que falta curar totalmente. — tranquilizei. — Foi por esse motivo que eu não apareci antes, Bruce me deixou de molho. —

—E ele fez bem, não era nem para você estar aqui. — disse, cruzando os braços. — Aliás, o que faz aqui? —

—Vim ver você, como você estava depois... de tudo que aconteceu. — engoli em seco quando vi seu olhar ficar triste e com algumas lágrimas.

—Acredito que como qualquer pessoa. — respondeu, dando um sorriso melancólico. — E me sentindo muito impotente sem poder fazer nada. —

—Estamos do mesmo jeito, mas... procurando uma forma de trazer todos de volta. — falei, encarando o chão por um tempo. — Hoje encontramos algo que possa nos ajudar nisso, porém não temos certeza. — pressionei os lábios, erguendo o olhar. — Eu adoraria ter total certeza para poder dizer ao Theo que os pais dele vão voltar para casa. —

—O Theo está vivo? Achei que ele tinha virado pó assim como o Adam e a Chris. — falou um pouco confusa.

—Também achei. Até que enquanto eu estava na sala de cirurgia ele ligou para o Rhodes pedindo ajuda. — sorri minimamente. — Eu fiquei tão feliz quando soube que aquele pirralho estava bem que por um momento esqueci de tudo que aconteceu. —

—Entendo. —

—Eu vou preparar um café para vocês. — Natalie falou atraindo nossa atenção.

—Oh, me desculpa, Nat. Acabei esquecendo de você, me desculpa. — Reginna se aproximou, segurando a mão da loira.

—Tudo bem, Ginna. Eu entendo. — Natalie devolveu um sorriso a ela.

Semicerrei os olhos quase sentindo as engrenagens do meu cérebro girarem novamente. Estou deixando passar alguma coisa.

Lembrei da Natalie se apresentar como sra. Rivera e logo depois a cena de Reginna a chamando de amor. Poderia não ser nada demais caso ela fosse uma irmã porque eu vivo chamando a Wanda ou a Nat de amor, mas algo fez meu olhar descer para as mãos das duas juntas.

A mesma aliança que eu vi no dedo anelar da Natalie também estava no de Reginna.

—Oh. Meu. Deus. — murmurei sentindo minha cabeça explodir com a revelação. — Vocês são casadas? — perguntei surpresa, atraindo o olhar das duas.

—Ah, sim, você não estava presente quando tudo aconteceu. — Reginna falou sorrindo.

—Mano. Meu gaydar nunca apitou para você como isso é possível? Está com falha, só pode. — disse arrancando uma pequena risada das duas.

—Reginna e eu nos conhecemos no ano novo de 2015. Ela ainda não sabia que gostava da fruta, mas quando se auto descobriu começamos a sair. — Natalie começou a explicar e eu como uma boa cadelinha de qualquer casal de lésbicas ouvia tudo com atenção. — Começamos a namorar alguns meses depois e após um ano, casamos e adotamos uma menina. — finalizou com um sorriso triste que acabou passando despercebido por mim.

—Oh, céus. Por que tão perfeitas? — murmurei. — Podiam ter me convidado para o casamento ninguém saberia que eu estava lá. —

—Foi uma cerimônia pequena, Melinda, não se preocupe. — Reginna falou com um sorriso lateral.

—E a menininha? Onde ela está? — os olhares delas foram para o chão, notei uma apertar a mão da outra com mais força. — Ah. — soltei, entendendo o que tinha acontecido.

—O nome dela é Camila, tem 6 anos. — Natalie falou, limpando uma lágrima que escorreu. — Ela e a Amy se dão muito bem. —

—Amy é uma coração mole quando se trata de crianças. — apertei minhas mãos uma na outra.

—Eu vou fazer o café enquanto vocês conversam. — assenti para Natalie que foi até a cozinha.

—Está tudo bem? — Reginna se aproximou, apontando o sofá atrás de mim.

—Não deve ter sido nada fácil ter perdido duas filhas de uma só vez. — disse, me sentando.

A Rivera sentou ao meu lado, tombando a cabeça para o lado enquanto sorria de lado.

—Melinda, você perdeu toda sua família e amigos de uma só vez. Também não deve ter sido nada fácil para você. — sorri melancólica, pressionando os lábios em seguida.

—Me fala da SHIELD. — mudei de assunto. — Como foi esses dois anos? Eu vi apenas as notícias da TV e vocês devem ter vivido um verdadeiro inferno. —

—O pouco que eu sei foi o que a Amélia me contou. Não presenciei esses momentos porque me aposentei quando adotamos a Cami. — a olhei surpresa.

—Sério? — ela assentiu. — Então me conta o que você sabe. — sorri com expectativa, me ajeitando no sofá.

***

Reginna me contou sobre o período do Tratado na SHIELD e sobre a diretoria ter passado para o Mace, o Inumano que não era Inumano. Contou sobre o problema que a organização passou com o tal MVA - Modelo de Vida Artificial - e a Estrutura.

Eu fiquei um pouco horrorizada quando ela falou que os agentes da SHIELD - ou seja, a equipe do Coulson - que estava ligado a Estrutura viviam em um mundo virtual onde a HYDRA tinha ganhado e comandava o mundo. Também me martirizei quando ela disse que a Estrutura apagava o maior arrependimento da pessoa ligada a ela e fiquei pensando no Tyler, no que ele pode ter vivido lá e no fato de eu não estar ao seu lado.

Reginna chegou no momento da missão no futuro e ouvi ela contar tudo enquanto tomávamos um cafezinho com torradas que Natalie tinha feito. Falou sobre a missão de duas semanas atrás que a SHIELD enfrentou em Chicago, o que evitou que o futuro que a equipe vivenciou não acontecesse.

Espero ouvir tudo isso de novo na voz e ponto de vista do Tyler.

—Espera. Você está me dizendo que a Daisy, que era a diretora da SHIELD, fez do Mack o novo diretor? — questionei, colocando a xícara na mesinha de centro. — O que aconteceu com o Coulson? —

Algo na expressão de Reginna mudou.

—Você não soube. — sussurrou.

—Não soube do que? — perguntei confusa. — Reginna, o que aconteceu com o Pinguim? —

—Para... derrotar a Aida no... novo corpo dela, Coulson fez um acordo com o Motoqueiro Fantasma. — começou a explicar, deixando a xícara sobre a mesinha e me encarando. — O cara que era o Motoqueiro Fantasma não podia se aproximar dela porque ela sabia que ele poderia matá-la. Então Coulson se ofereceu para abrigar, de certa forma, o Motoqueiro e assim matar a Aida de uma vez por todas. —

—Não me diga que o Motoqueiro Fantasma não quis voltar para o dono antigo e resolveu ficar no corpo do Coulson para o resto da vida. — falei, sentindo o pânico começar a crescer.

—Não, não foi isso. — Reginna esticou sua mão pelo sofá, segurando a minha. — Quando o Motoqueiro ocupou o corpo do Coulson... acabou queimando o soro alienígena que mantia ele vivo todo esse tempo. —

Algo no meu cérebro desligou algumas funções do meu corpo. Eu não conseguia ouvir mais qualquer palavra que Reginna falava, não conseguia mais sentir o afago dela na minha mão, não conseguia saber se eu estava respirando normalmente.

Um zunido começou a soar na minha cabeça conforme eu sentia ela girar e minha visão ficar turva por conta das lágrimas. Minha boca que antes estava molhada pelo café, ficou seca, meu coração batia descompassadamente.

—Você... — engoli em seco, tentando lembrar como diabos que se falava. — Você está me dizendo... que o Coulson... que o Pinguim... — pressionei os lábios, não conseguindo terminar a frase.

—Sim, Melinda. O Coulson está morto. — fechei os olhos, deixando as lágrimas grossas finalmente caírem. — Enterramos ele faz pouco mais de uma semana. Eu sinto muito, minha menina. — abri os olhos.

Reginna fez menção de se aproximar para me abraçar, mas acabei levantando de supetão olhando ao redor atordoada.

—Eu... — falei ofegante. — Eu... eu preciso ir. — dei a volta na mesa de centro, caminhando em direção a porta.

A mãe da Amy entrou na minha frente.

—Melinda, você não pode sair nesse estado. Você não está em condições de dirigir. — tentou segurar minha mão, mas me esquivei.

—Reginna, eu... eu preciso sair daqui. — falei, levando as mãos até a cabeça. — Por favor... preciso ficar sozinha. —

—Eu não posso deixar você sair assim, querida. Entenda, é para seu próprio bem. —

—Eu quero sair daqui. — as luzes da casa começou a piscar. — Reginna, eu preciso sair daqui. — ela encarou o teto, observando a lâmpada acender e apagar repetidamente.

—Ginna, o que está acontecendo? — a voz de Natalie soou atrás de mim, atraindo o olhar da esposa.

Reginna me encarou no segundo seguinte.

—Apenas... tome cuidado, minha criança. — pediu.

Ela deu um passo para o lado, me dando passagem até a porta. E então eu sai em disparada até meu carro, sem nem olhar para trás.

***

Eu dirigi sem rumo por longas horas.

Rhodes, Natasha, Steve e os outros me ligaram nas primeiras duas horas, mas eu não atendi nenhuma das ligações. Eu sabia que eles estavam preocupados, mas não queria falar com nenhum deles.

Eu só me dei conta de onde estava quando acabou a gasolina do meu carro.

Charlottesville, Virgínia.

Com o pouco de gasolina que tinha, levei o carro para o encostamento. Passei a mão pelo rosto, soltando um suspiro pesado.

A dor permanecia no meu peito, mas as lágrimas tinham acabado. Comecei a socar o volante com a mão direita enquanto gritava.

Coulson estava morto.

Eu perdi outra pessoa importante para mim e não tive nem a chance de me despedir.

—Maldito Tratado! Maldito Ross! Maldito Governo! Maldito Thanos! — gritei, encostando a testa sobre minhas mãos no volante. — Malditos. — murmurei, sentindo as lágrimas novamente.

Tentei normalizar minha respiração e fazer com que as lágrimas parassem. Eu precisava ir até um posto de gasolina e não podia parecer uma drogada com os olhos vermelhos de tanto chorar.

Ouvi pequenas batidas na janela ao meu lado, fazendo-me erguer a cabeça e encontrar um homem de mais ou menos 25 anos com um sorriso amigável.

Limpei meu rosto, apertando o botão para baixar o vidro.

—Oi, eu sou o Noah. — falou, curvando-se um pouco. — Eu estava passando e vi seu carro parado no encostamento e com os faróis acesos. Está tudo bem? —

—Minha gasolina acabou. — falei com a voz rouca.

—Eu trabalho com transporte de carros. Hoje precisei transportar só um e usei uma carretinha. Posso te deixar em um posto de gasolina, se quiser. — sugeriu.

—Eu não quero atrapalhar. —

—Não estará atrapalhando. Tem um posto a uns 20 minutos. — respirei fundo.

Eu provavelmente conseguiria movimentar o carro até o posto com meus poderes, mas isso iria requer uma energia que eu não tinha no momento. E sinceramente? Eu não estava com a mínima vontade de fazer isso.

—Então eu vou aceitar sua ajuda. Obrigada. — sorri amarelo para o homem.

—Eu sinto que te conheço de algum lugar. Você é daqui da Virgínia? —

—Não, sou de New York. Me chamo Melinda, sou uma... eu faço parte dos Vingadores. — observei Noah abrir um sorriso.

—Ah, mas é claro. A Valente! — pressionei os lábios. De Valente eu não estava com nada. — Eu vou encostar meu carro aqui na frente, tudo bem? — assenti, observando ele caminhar para a Hilux preta.

Noah parou seu carro na frente do meu. Ele queria empurrar o carro, mas acabei usando meus poderes para fazer meu Audi ir para frente. Noah ficou impressionado.

Após ele colocar as travas nas rodas, ofereceu um lugar no carro dele até o posto.

—Eu não quero ser mal agradecida ou algo do tipo, mas prefiro ir no meu mesmo. Não estou afim de socializar muito hoje e não quero ser mal educada. —

—Não precisa falar se não quiser, Melinda. Não a acharei mal educada por isso. — assenti, aceitando por fim.

Entramos na Hilux e logo Noah deu a partida, voltando para a estrada.

O percurso durou pouco mais de 20 minutos por causa dos semáforos, mas deu tudo certo. O tanque do meu carro já estava cheio e por precaução enchi um galão de gasolina que tinha no porta malas.

—Obrigada, Noah. — sorri. — Você me poupou tempo e cansaço desnecessário. —

—De nada, Melinda. Devia dar uma olhada na sua mão. —

Olhei para a mão esquerda como de costume, não encontrando nada e olhando para a direita. As juntas dos meus dedos sangravam devido aos socos no volante.

—Eu irei. Obrigada mais uma vez. —

—Eu... tenho fé de que você e os outros Vingadores irão encontrar um jeito de trazerem todos de volta. — falou, pegando-me um pouco de surpresa. — Até a próxima. — ele sorriu, caminhando até seu carro.

Paguei a gasolina e entrei no carro após perguntar para o frentista onde tinha uma boa lanchonete. E lá estava eu a caminho da lanchonete.

***

Charlottesville era uma cidade bonita, bem iluminada. O clima estava frio e eu não estava conseguindo me manter aquecida manipulando minha energia térmica.

Maldita hora que eu saí sem um casaco.

A lanchonete não mantia o aquecedor numa temperatura boa e eu não estava afim de pedir para aumentarem.

Assim que cheguei pedi um milk shake grande de chocolate com baunilha e panquecas com calda. Limpei minha mão no banheiro do local e me sentei numa mesa mais no fundo, próxima a janela.

O movimento não estava muito grande, nem nas ruas nem nos estabelecimentos. Culpa de quem? Da berinjela que dizimou metade da população.

Comi em silêncio, devagar e vez ou outra observava alguém que passava pela rua lá fora.

—Eu estou querendo matar você, sabia disso? — desviei o olhar da janela para a mulher parada ao lado da minha mesa.

—O que faz aqui? — perguntei baixo, colocando mais um pedaço de panqueca na boca.

—Vim atrás de você, né, Melinda? Você não atendia o telefone, não mandou uma mensagem dizendo onde estava, se estava bem. Caramba, ficamos preocupados. —

—Desculpa. — pedi, ainda baixo, trazendo o copo com milk shake e prendendo o canudo entre os lábios.

Natasha suspirou, sentando no banco do outro lado da mesa, a minha frente.

—O que aconteceu? —

—Reginna não contou? — a olhei, vendo ela pressionar os lábios.

Seus olhos estavam um pouco inchados. Acho que a Dona Aranha também derramou algumas lágrimas pelo Pinguim.

—Quer conversar? — neguei com a cabeça. — Tudo bem. Então apenas vamos ficar aqui, tomando um milk shake em silêncio. Ok? —

Natasha esticou seu braço sobre a mesa, entrelaçando as pontas dos seus dedos nas pontas dos meus dedos que ficavam foram da tala.

—Ok. —

Ela ergueu a mão, chamando a garçonete e pedindo um milk shake de baunilha.

E ali ficamos, sentadas em uma mesa dos fundos de uma lanchonete em Charlottesville, no mais completo e absoluto silêncio, tomando milk shake e observando o pequeno movimento da cidade.

Eu sempre iria agradecer por ter a Natasha na minha. Sem ela, nesses dois anos, eu teria desabado na primeira crise de ansiedade que eu tive. E agora, apenas o fato de ter ela aqui, sentada a minha frente em silêncio, já fazia meu dia ficar melhor.

—Eu queria ter tido a chance de pelo menos ter me despedido. — sussurrei, encarando meu prato agora vazio. — Eu não o via desde o aniversário do Tyler em 2016 e agora... não vou vê-lo nunca mais. —

Romanoff apertou um pouco mais seus dedos nos meus.

—Eu queria... queria que ele tivesse virado pó como todo mundo, porque assim... teríamos como trazê-lo de volta. — falou, sorrindo no final.

—Eu também. — pressionei os lábios. — Ai, merda. O Theo. — murmurei sentindo a culpa me consumir. — Ele está bem, não está? —

—Sim. Theo ganhou alguns arranhões devido ao Thor e a ideia louca de treiná-lo como ele treinava quando criança, mas está bem. — assenti devagar.

—Como me achou? —

—Pedi para o Ryan rastrear seu celular. Ele disse que vai te matar quando aparecer em New York por ter deixado todo mundo preocupado. — suspirei.

—Eu só queria ficar um tempo sozinha. — puxei meu braço, cruzando eles e esfregando a palma da mão no meu braço para me esquentar.

—Eu sei, Melinda, mas da próxima vez que quiser ficar sozinha apenas mande uma mensagem. Só isso. — assenti, concordando.

—Veio até aqui com o Quinjet? —

—De moto. — respondeu, bebendo o último gole do seu milk shake.

—Certo. Eu vou pagar a conta. —disse, levantando.

Nat também levantou.

—Te espero lá fora. —

Pedi outro milk shake de chocolate com baunilha para viagem e efetuei o pagamento. Quando estava saindo ouvi Natasha falar no telefone.

—Como ela está? — era a voz de Steve.

—Arrasada, como era de se esperar. — ouvi ela suspirar. — Fala com o pessoal para não perguntar nada. Diga que se eles quiserem ajudá-la, apenas a abrace e diga que tudo vai ficar bem. — sorri, caminhando até ela. — Ela está vindo. Chegamos aí em 5 horas ou mais. —

Nat desligou, me encarando.

—Vamos? —

Assenti, caminhando até meu carro.

Natasha subiu em sua moto, dizendo que iria na frente e que conhecia alguns atalhos para New York. Eu apenas concordei e entrei no carro, ligando o aquecedor e dando a partida ao som de Sing of the Times.