Se alguém me parasse e perguntasse onde diabos eu estava, eu não saberia responder com certeza. Eu sabia que estava no Estado de Maine, agora a parte exata já era pedir demais.

Depois de mais de umas 4h voando, resolvi parar no primeiro lugar com prédios que eu visse para descansar. Eu estava exausta, mal me aguentava em pé. Não devia ter voado por tanto tempo. Eu não comia nada fazia horas e meu histórico de sono, bom, vocês sabem.

Para ninguém achar que eu estava morrendo, absorvi a energia de um poste de iluminação o que me deu energia suficiente para me sentir relativamente bem nas próximas horas. Olhei o local com mais precisão, tentando reconhecer alguma coisa. A última coisa que me faltava era ficar perdida justo nesses dias.

Eu estava numa rua aparentemente deserta já que não tinha nenhum carro passando, o local era próximo da costa, atrás de mim tinha o oceano cheio de rochas e barcos presos na superfície, provavelmente de pescadores. Ao meu lado direito, lá longe, conseguia ver um farol; já do lado esquerdo eram apenas casas e talvez uma floresta mais ao fundo, não tenho certeza.

—Você não está perdida. — murmurei, esfregando as mãos uma nas outras para me aquecer da brisa fria que balançou meu cabelo. — Só precisa encontrar alguém que te diga onde você está, exatamente. É, encontrar alguém. —

E então me pus a caminhar, mas parei tentando me decidir se ia para esquerda ou direita.

—A esquerda tem mais casas o que significa que a população é maior para cá. — murmurei, olhando para os prédios de pequeno porte. — Mas, se tem um farol a direita, significa que lá é comum tirar dúvidas sobre localização. — desviei o olhar para o farol lá longe que estava aceso nesse momento, afinal, era noite ainda. — No entanto, eu não sei se estou com forças suficiente para caminhar ou voar até lá. —

O som de risadas se fez presente, chamando minha atenção para a esquerda, mais precisamente um estabelecimento a alguns metros de distância onde eu estava. Era um grupo de homens que, se eu estiver enxergando direito, parecia de uma gangue de motoqueiros. Algumas roupas de couro, carecas, barbas cheias e, se eu não me engano, tatuagens. Eles saíram caminhando para o lado oposto de onde eu estava e, semicerrando os olhos na direção do estabelecimento, um sorriso começou a brotar nos meus lábios.

—Aquilo está com cara de um bar. É, decidido. Vamos encher a cara! — falei, abrindo um sorriso enquanto girava para a esquerda e começava a caminhar em direção ao estabelecimento.

As paredes tinham um tom vermelho desbotado, a tinta das paredes do lado de fora já estava descascando e gritando por uma mão de tinta nova. Tinha uma caminhonete e algumas motos estacionadas do lado de fora. O letreiro em neon dizia Terry's Sunken Galleon. Também tinha algumas ondas com um barco vermelho em neon.

E sem pensar duas vezes eu entrei.

Ok, talvez eu devesse ter previsto que aquele tipo de bar não era frequentado por pessoas como eu. Assim que eu coloquei o pé dentro do estabelecimento e o sininho na porta anunciou minha chegada, todos os olhares se voltaram para mim. Com exceção de um cara que estava sentado no balcão, mas um olhar a mais ou a menos não faria diferença.

Respirei fundo, mantendo minha cabeça erguida e começando a caminhar até o balcão. Não encarei ninguém durante o trajeto, apenas manti o foco no balcão. Arrumar briga nesses tempos não era o recomendado e eu sabia disso.

—O que vai querer? — o bartender indagou se aproximando com um pano no ombro assim que me sentei.

—A bebida mais forte que você tiver. — respondi, retirando o gorro da cabeça.

A mulher loira com o cabelo preso num rabo de cavalo e roupas pretas me deu as costas, indo até a prateleira de bebidas e pegando uma garrafa. Pegou um copo e o encheu pela metade, me entregando.

—Pode deixar a garrafa, amor. — ela me encarou por uns segundos antes de suspirar e deixar a garrafa no balcão.

—Dia difícil? — o homem ao meu lado indagou assim que virei o líquido de uma só vez.

—Os últimos dois anos têm sido difícil. — respondi, enchendo o copo.

Desviei meu olhar para ele, o notando pela primeira vez. O cara era praticamente um deus, disso eu tenho certeza. O cabelo ondulado ia até um pouco abaixo dos ombros e era castanho embora as pontas tivessem um tom mais claro. A sobrancelha esquerda tinha uma listra que o deixava ainda mais gostoso, os olhos eram claros e a barba era cheia. E o corpo dele? Músculos totalmente evidentes pela regata preta e que deixava a mostra as inúmeras tatuagens que ele tinha e que cobriam boa parte dos braços e do peitoral.

É, acho que acabei de me apaixonar por um completo estranho.

—Sabe me dizer onde diabos estamos? — perguntei, desviando o olhar para meu copo.

—Você não sabe? — me encarou com um sorriso debochado.

—Se eu soubesse não estaria perguntando, gostosão. — sorri, levando o copo aos lábios. — Acho que perdi um pouco a noção geográfica que tenho enquanto voava. Sei que estou no Maine, mas não sei em que parte. —

—Amnesty Bay. — respondeu, semicerrando os olhos enquanto girava na banqueta, encostando a lateral do corpo no balcão. — Eu não tenho conheço? — suspirei.

—É, deve conhecer das notícias, da TV e sei lá mais de onde. — virei o copo com tudo. O cara não disse nada. — A Valente. — falei como se fosse óbvio.

—Ah, sim! Eu estava tentando lembrar o nome com clareza. — soltou uma risada. — Quase que eu dizia o nome da outra, a... a Viúva lá. —

—Viúva Negra. — corrigi.

—Isso! — arqueei a sobrancelha quando ele continuou me encarando.

—O que foi? —

—Você não era ruiva? —

—Era, tive que mudar a cor quando estava fugindo. — expliquei, olhando ao redor procurando um relógio. — Sabe me dizer as horas? —

—03:33 am. — apontou para algo atrás de mim. Tinha um relógio na parede ao lado da porta. — O que veio fazer aqui, Valente? —

—Precisava de um ar fresco. E me chama de Melinda. Nesses últimos dias a última coisa que estou sendo é Valente. — resmunguei a última parte.

—Eu sou o Arthur. — estendeu a mão.

—Tipo o Rei? — questionei, apertando a mão dele.

—É, ou o furacão. — sorriu, soltando minha mão.

—Arthur, espero que não tenha bebido mais uma rodada sem mim. — um homem se aproximou.

—Nunca faria isso. Ah, esse é meu pai, Tom Curry. Ele cuida do farol. — nos apresentou. — Essa é a Melinda. Ela é a Valente, faz parte daquele grupo de palhaços fantasiados de New York. —

—Como é? Grupo de palhaços fantasiados? Me desculpa, mas não foi por essas bandas que surgiu aquela história lá do meta humano? O Aquaman? — arqueei a sobrancelha. — Pelo que eu saiba ele também usa fantasia, assim como os amiguinhos dele da Liga da Justiça. — enchi meu copo novamente. — Ah, desculpa. — bati na testa, me virando para o dono do farol. — Prazer em te conhecer, Tom. — estendi a mão.

—O prazer é todo meu. E me desculpa pelo meu filho, as vezes ele tem um cérebro de peixe. — falou, apertando minha mão. — Desculpe se eu for indelicado, mas você está um pouco longe de casa, não? —

—Ah, é. — puxei minha mão de volta. — Eu precisava de ar fresco e sai voando sem me ligar para onde estava indo. Quando fiquei cansada e resolvi parar um pouco me vi aqui. Aí eu vi o bar e decidi encher a cara. — ergui meu copo, bebendo logo em seguida.

—Com vodka? Devia estar experimentando a cerveja daqui. —

—E qual você me recomenda? — sorri.

***

Coloquei o copo grande de cerveja vazio sobre o balcão após o último gole da bebida. Ao olhar para o lado encontrei Tom com uma expressão serena e o copo também vazio. Arthur secou o dele uns três segundos depois de mim.

—Eu não consigo acreditar que você consegue beber mais rápido do que eu! A única pessoa que tinha essa proeza era o Thor, mas, bem, ele é um deus asgardiano, não? —

—É, pequena, você pode mexer com energia e tudo mais, mas beber mais rápido que qualquer pessoa é o superpoder do meu velho. — Arthur riu, dando um pequeno tapa nas costas do pai. — Ele consegue ganhar até de mim e olha que eu posso respirar em baixo d'água. — encarei o homem ao meu lado com os olhos arregalados em surpresa. — Ah, cacete. — e então eu soltei uma risada.

—Então é você! Você é o Aquaman. — soltei outra risada.

—Você está bêbada o suficiente para esquecer disso no dia seguinte? — arqueou a sobrancelha.

—Eu não fico bêbada, nunca. — observei a bartender trazer nossos três copos cheios com mais cerveja. — E relaxa, não vou sair por aí espalhando que Arthur Curry é o Aquaman. Não vou contar nem para meus amigos palhaços fantasiados. — pisquei, observando ele sorrir.

—Preparados para mais uma rodada? — Tom indagou já com o seu copo em mão.

—Manda ver. — falei sorrindo enquanto pegava o meu copo.

—Um... — Arthur começou a contar. — Dois... já! —

Viramos o copo simultaneamente. De soslaio vi que o copo do Tom estava secando mais rápido que o do meu e do Arthur, exatamente como das últimas oito vezes atrás. E como das outras vezes, ele foi o primeiro a colocar o copo sobre a mesa, depois Arthur e então eu.

—Ganhei de você? — o homem peixe me encarou. — Você não me deixou ganhar, deixou? — soltei uma risada.

—Não, eu não sou dessas. É que o cansaço está começando a me vencer. —

—É, eu não queria dizer antes, mas você está com cara de quem não dorme há dias. Ou de quem andou fumando umas pedrinhas. — o encarei confusa. — Você não se droga, se droga? —

—Não! E mesmo se me drogasse, não ia surtir efeito em mim. — coloquei a mão na boca, contendo um bocejo. — Acho melhor eu ir para casa. — falei, começando a procurar pela minha carteira. — Porra. —

—O que foi? —

—Está para nascer pessoa mais burra que eu. Meu pai amado. — resmunguei, apoiando os cotovelos no balcão e cobrindo o rosto com as mãos. — Esqueci a carteira em casa. —

—Sério? — Arthur riu. — Você por acaso só pegou um casaco e saiu? —

—Exatamente. — o encarei, observando ele ainda rindo. — O que foi? —

—Eu pago, sem problemas. — arqueei a sobrancelha.

—Não. — neguei. — Eu deixo alguma coisa como garantia. Ou ligo para o Ryan e peço para ele fazer uma transferência e... — comecei a procurar pelo meu celular. — Esquece. Deixei o celular em casa também. — bufei, encostando a testa na madeira fria do balcão.

—Acho que você passou por uma pilha antes de vir para cá. Esqueceu a carteira e o celular. — bebeu mais um pouco da sua cerveja.

Nem notei quando encheram os nossos copos de novo.

—Você não faz ideia. — virei a cabeça na direção de Arthur, continuando com ela sobre o balcão. — Eu meio que surtei e quase acertei uns abajures e a TV no meu... em um dos pessoal lá de casa. —

—Sério? — assenti, sentindo meus olhos pesarem.

—Estou me sentindo mais culpada do que jamais me senti. Esses últimos dias... estão acabando comigo. —

—Com você e todo mundo que sobrou. — ele falou sério, bebendo mais da sua cerveja.

—É. — sussurrei, sonolenta. — Me empresta seu celular? —

—Eu não tenho celular. —

—Você não... meu Deus. — murmurei incrédula.

—Relaxa, pequena. Já disse que eu pago. Você tem muito dinheiro e é uma heroína. Sei que não esqueceu a carteira de propósito. — fechei os olhos por algum momento. — Mas da próxima vez você paga, fechado? —

—Uhum. — murmurei, sem ter certeza se ouvir o que ele falou corretamente.

E aos poucos fui sentindo meu corpo leve, eu estava dormindo.

***

Me sentei na cama num sobressalto, sentindo minha cabeça girar um pouco. Levei a mão a mesma, tentando me acostumar com a pouca claridade do local.

Ao abrir os olhos totalmente, senti meu coração errar uma batida. Aquele não era meu quarto e nem qualquer outro quarto que pertença a alguém que eu conheço.

Olhei para meu corpo, me encontrando com o pijama que eu tinha vestido na noite anterior. Meus pés estavam descalços e eu estava enrolado com um lençol.

Certo. Onde diabos eu estava?

Forcei meu cérebro a lembrar do que aconteceu e a última coisa que lembro é de estar no bar com Arthur e seu pai.

Arthur, o Aquaman.

Afastei o lençol para o lado, levantando e fechando os olhos com um pouco de força quando o piso de madeira rangeu com meu peso. Tentando não fazer muito barulho, caminhei até a janela. O mar tomava conta da maior parte da paisagem, as ondas quebravam nas rochas e se eu olhasse um pouco para o lado podia ver uma estrutura semelhante a de um farol.

—Certo. O Arthur disse que o Tom tomava conta do farol. Então... —

—Você está na minha casa. — a voz atrás de mim me assustou, fazendo-me pegar a primeira coisa que eu vi e jogar na direção do dono da voz.

Quando me virei levei as mãos a boca, observando Arthur encarando a escova de cabelo em sua mão. É, como ele é Aquaman então o reflexo dele deve ser mais do que bom.

—O que foi? A temperatura do aquecedor não estava do seu agrado? — brincou, jogando a escova em cima da cama.

—Me desculpa, Arthur, é que você me assustou. — pedi, observando ele sorrir despreocupado. — Então eu dormi aqui? —

—Na verdade, você dormiu no balcão do bar. — corrigiu. — Então eu e meu pai preferimos te trazer para dormir num lugar mais confortável. Não se preocupe, eu dormi no sofá. —

—E eu sei. Lembraria se tivesse abraçado esse seu corpinho durante a noite. A propósito, eu não vou chegar perto de você, ok? Eu já estou me sentindo uma anã longe, imagine perto. — ele soltou uma risada. — Eu não... não destrui nada enquanto dormia, né? Ou sei lá, fiz algumas coisas flutuarem? —

—Então foi assim que aconteceu na sua casa? Quando você disse que... —

—É, eu... estava dormindo. Pela primeira vez em... duas semanas, praticamente. — encarei minhas mãos, envergonhada.

—Relaxa, você não destruiu e nem fez nada flutuar. — ergui o olhar para Arthur que sorriu, me tranquilizando. — Acho que você estava despreocupada demais enquanto dormia, então isso deve ter te ajudado. —

—É um alívio poder ouvir isso. — sorri, coçando a nuca. — Cadê minhas botas? —

—Ali. — apontou para a cabeceira da cama. — E ali estão seu gorro e sobretudo. Se quiser ir ao banheiro, fica aqui no final do corredor. Desce para cozinha depois. Estamos terminando de fazer o jantar. —

—Ah, claro. Eu vou si... espera. Jantar? Já está na hora do jantar? — perguntei assustada.

—É, tentamos te acordar para almoçar, mas você não acordava. Por um momento achei que estava morta. — falou rindo, antes de sumir pelo corredor.

Comecei a andar pelo quarto que nem uma barata tonta.

—Meu Deus, meu Deus, meu Deus. Natasha vai me matar. — murmurei, parando no lugar. — Ok. Respira fundo, Melinda. — fiz o que estava falando para mim mesma devagar, me acalmando. — Ainda tenho algumas horas antes do meu tempo acabar para ela então começar a me caçar que nem louca. Certo. — deixei meus ombros caírem e me sentei na cama, calçando minhas botas.

Peguei meu sobretudo e gorro sobre a poltrona e sai do quarto, indo até o banheiro. Fiz minhas necessidades e escovei os dentes com o dedo mesmo antes de jogar uma água no rosto.

Encarando meu reflexo no espelho notei que as olheiras tinham diminuído um pouco graças a essas boas horas de sono. Sorri minimamente, fazendo um coque no cabelo e vestindo o sobretudo, o deixando aberto. Enfiei o gorro no bolso do mesmo e respirei fundo antes de sair do banheiro.

O pai do Arthur e o próprio Arthur deviam me achar uma heroína de merda agora.

Conforme eu ia descendo a escada, fui notando que tinha mais gente na casa. Parei no lugar quando me toquei que eram duas vozes femininas.

—Que Zeus me ajude. — murmurei, antes de descer os últimos degraus.

Coloquei meu melhor sorriso no rosto e abracei minha cara de pau, aparecendo na porta da cozinha.

—Ah, olha ela aí. — Tom falou apontando para mim. Arthur e as duas mulheres me encararam. — Dormiu bem? —

—Ah, sim. Eu... eu dormi. — pressionei os lábios. — Vocês devem estar achando que eu sou maluca, né? No mínimo que eu tenho uns parafusos faltando. — o dono da casa riu.

—Não, sabemos que seu dia deve ter sido muito difícil. — assenti, encarando as duas mulheres.

Inspirei fundo antes de ir até elas com a mão estendida.

—Eu sou a Melinda. Espero que não estejam me achando uma doida varrida ou algo do tipo, eu só estava muito cansada e acabei dormindo no balcão do bar. Também é verdade que eu saí de casa sem um mísero documento, dinheiro ou celular, mas eu juro que não sou burra nem nada do tipo. — sorri.

A mulher loira soltou uma risada. Ela era um pouco mais velha que a ruiva.

—Não se preocupe, não achamos nada disso de você. — ela apertou minha mão. A voz dela era doce e calma e isso fez meu peito apertar com saudades da minha mãe. — Me chamo Atlanna, sou a mãe do Arthur. — sorriu.

—É, a vergonha pode ser ainda maior. — falei entredentes, puxando minha mão de volta. — Atlanna. É um belo nome. Nunca conheci ninguém com um nome desses. — me virei para a mulher ruiva que tinha limpado a garganta.

—Eu sou a Mera, par do Arthur. — ela estendeu a mão. — Eu amei seu cabelo. Parece a cor da parte mais profunda do Oceano. —

Franzi as sobrancelhas levemente confusa enquanto apertava a mão dela.

—Obrigada. — sorri. — E par? Quer dizer... namorada? —

Mera recolheu sua mão.

—Ah, sim. É assim que vocês chamam aqui na superfície. — falou, causando-me anovamente uma pequena confusão.

—Superfí... oh! Vocês são de Atlantis! — abri um sorriso. Ao encarar Arthur tratei logo de esclarecer erguendo as mãos. — Não vou contar para ninguém. Sossega. —

—Certo. Podemos comer agora que a Smurfette chegou? Estou morrendo de fome! — Arthur falou, puxando a cadeira dele e sentando a mesa.

—Smurfette? Qual é! Não tinha um apelido melhorzinho? —

Puxei a cadeira que Atlanna indicou e me sentei. Logo todos estávamos se servindo.

—Você é baixinha e tem cabelo azul. Smurfette serve perfeitamente. — explicou.

—Mas o cabelo dela é loiro. Ela que é azul. — tratei de corrigir.

—É? Detalhes. — deu de ombros.

—Melinda, nos fale sobre você. Arthur nos contou que você é uma espécie de heroína aqui na superfície. — Atlanna falou, sorrindo.

—Ele também disse que você tinha poderes. — Mera completou. — Poderia nos mostrar? —

—Eu não... não sei se consigo. — sorri amarelo.

—Ah, qual é. Mostra aí. — Arthur falou com a boca cheia, recebendo um olhar feio de Atlanna. — Não irá machucar ninguém arremessando um abajur ou a televisão. —

—Você pode fazer isso? — a voz de Mera estava empolgada.

—Posso, mas... — pressionei os lábios. — Vocês não vão desistir, né? —

—Não mesmo. — Arthur riu.

—Ok. — murmurei, esfregando as palmas das minhas mãos no sobretudo, limpando o suor.

Ergui minha mão esquerda na direção das três luminárias pequena pendentes de madeira, me concentrando na energia elétrica das lâmpadas.

E respirando devagar, consegui absorver a energia da lâmpada do meio, fazendo ela apagar automaticamente e a energia, que antes estava nela, agora flutuando sobre a minha mão.

—Incrível. — Tom murmurou surpreso.

—Os olhos dela brilham também. — Mera sussurrou.

Sorri, movimentando os dedos minimamente fazendo com que a energia também se movesse. Aproximei minha outra mão, deixando minhas palmas uma de frente para a outra, começando a moldar a energia na forma de uma bola.

E então fiz ela subir, devolvendo a energia para a lâmpada de origem.

—Doideira. — Arthur comentou, me fazendo soltar uma risada. — Mas incrível. Já pensou em mudar de time? —

—Sou leal a minha equipe, obrigada. —

—É, não custava tentar. —

***

—Certo. New York fica para cá. — caminhei um pouco para direita, olhando para o monte de casas e prédios ao longe. — Estou certa, não estou? — olhei sobre o ombro para a família Curry.

Arthur soltou uma risada.

—Você é péssima em geografia. —

—Cala a boca, homem peixe. — olhei para Tom. — Eu confio mais na sua opinião do que na do seu filho. Qual a direção certa? —

—Essa que você indicou, Melinda. Se seguir reto, vai passar vizinho ao Estado. — me virei para Arthur, mostrando a língua.

—Como você é madura. — balançou a cabeça.

—Não enche. — caminhei até eles, parando em frente a Mera. — Foi um prazer conhecer você, ruivinha. Se por acaso você enjoar do peixinho ali, me liga. — a abracei, piscando para ela logo depois.

—Ok. — falou um pouco confusa.

Dei um passo para o lado, parando em frente da mãe de Arthur e a abraçando.

—Sua comida estava divina, Atlanna. Amei te conhecer. — me afastei dela, a olhando nos olhos.

—Eu também amei conhecê-la, Melinda. — ela segurou meu rosto entre as mãos, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Você é uma mulher incrível. Sua mãe deve estar orgulhosa. — sorri, me sentindo aquecida com aquele olhar amoroso dela.

—Obrigada. — ela beijou minha testa carinhosamente, me soltando logo depois.

—Você, sr. Tom Curry, ganhou meu respeito. Em um bar de New York, eu tenho um recorde de quem bebe mais cerveja no menor tempo estimado. Até ontem ninguém tinha batido esse meu recorde. — ele sorriu.

—É porque você não tinha encontrado alguém a altura. — ele me abraçou. — Quando quiser encher a cara de novo é só aparecer. —

—Eu vou. E prometo que trago minha carteira. — Tom riu, me soltando.

Me virei para Arthur que tinha as mãos enfiadas nos bolso da calça.

—Você parece mais alto do que eu achava que era. —

—É porque você disse que não iria ficar perto de mim, Smurfette. — sorri.

—Obrigada por ter ajudado uma louca que saiu de casa só com um casaco, ter pago a conta dela no bar e ter deixado ela dormir na sua casa. —

—Isso é o que os heróis fazem, não? — arqueou a sobrancelha.

Dei um passo a frente, passando meus braços pela cintura dele e o abraçando. Arthur retribuiu o abraço e dois segundos depois me afastei dele. Dando dois passos para trás.

—Ok, chega. Estou me sentindo humilhada pela sua altura! — o Aquaman soltou uma risada.

—Não esqueça que você prometeu que a próxima vez que vier aqui vai pagar as dez rodadas de cerveja. —

—Dez? — perguntei incrédula.

—Dez. — Tom concordou sorrindo.

—Não acredito que concordei com tamanha barbaridade. — coloquei o gorro na cabeça, olhando para eles com um sorriso. — Obrigada, gente. Vocês realmente foram pessoas maravilhosas. —

—Igualmente, Melinda. — Atlanna sorriu.

—Até a próxima. — acenei dando as costas. — E, Arthur e Mera, se rolar casamento quero ser convidada. —

—Smurfette? — encarei Arthur sobre o ombro. — Cuidado para não ir para no Canadá. —

Erguendo o dedo do meio para Arthur e ouvindo a risada dele, comecei a correr e pegando impulso levantei vôo.

Contudo, meu destino não era o Complexo. Precisava passar em um lugar antes.