2007 – Santa Fe

Tudo que queria era manter a latinha de red bull que tinha acabado de pegar no seu campo de visão apenas. Era fácil abrir e tomar seu conteúdo sem ter que olhar para mais nada. Só que não foi bem assim que Anahi fez, com grosseria abriu a lata e tomou dois goles generosos quase desejando que tivesse ao seu alcance algo mais forte para tomar. Talvez com Bicho ela pudesse conseguir, mas aquilo não era importante, e sim a cena que estava infelizmente muito próxima dela.

Vendo de canto de olho. O que ela focou somente no sorriso masculino, por mais que Christian também estivesse por lá, só o dele lhe importava. Podia continuar encarando a cena, mas foi interrompida por um riso debochado.

— Você poderia disfarçar melhor. - Estava tão focada que nem percebeu a aproximação dele.

— Do que esta falando? – Tentou usar um tom moderado, porém talvez não tenha se saído bem.

— Você aí olhando pra eles. – Ele sorriu de novo e ela teve vontade de lhe bater porque estava a irritando com o rodeio todo que fazia.

— Chega direto ao ponto, Alfonso. – Ela foi mais firme ao falar.

— Esta nitidamente com ciúmes e nem esta tentando esconder isso.

— Você está enganado, eu não... – Ela foi interrompida por ele.

— Olha bem para mim. – Ele ficou agora na frente dela e com o indicador apontou para si mesmo e esmagando os lábios num sorriso curvado. – Eu sou o cara que você mais deve ter visto com ciúmes. E nesse quesito, nós jogamos do mesmo lado já que ciumentos se reconhecem. Vejam só eles. – Apontou agora para onde havia um semicírculo. – Teu olhar diz que não gosta do que esta vendo, tem uma voz quase lhe sussurrando que você deveria ir lá e abraça-lo para mostrar que ele tem alguém. Para não tentarem nada. – voz dele foi ficando distante nessa hora Anahi o encarou para ver o que se passava, Poncho não estava exatamente olhando para o mesmo ponto que ela e sim para um outro círculo onde estavam conversando animadamente, em especial para a única mulher desse círculo. – Porém, surge uma outra voz com mais autoridade e lhe diz que não tem direito de fazer por que... Vocês não têm nada. – Ele deu os ombros finalizando e para complementar pegou a lata da mão dela e tomou um gole. Poderia reclamar porque havia várias outras ali disponíveis, mas ele parecia querer mais que ela.

— Você tem razão. – Ela disse. E ele então olhou para ela. – Não estou gostando do que vejo. – Mais próximo por enquanto, que ela assumiria. – Olha a forma como ela age. – Anahi falou pra ele, mas era mais para si. – Porque vocês saem com esse tipo de mulher?

— Por muitos motivos. – Ele deu os ombros sem querer dar muitas explicações. – Ou por nenhum, talvez.

— Não entendo de qualquer forma. Como se desse pra sentir que existe uma energia negativa em volta dela, alguém que esta ali apenas por um mau interesse, não consigo enxergar como o desejo pode falar mais alto numa relação como esta, tóxica. Sobretudo não esse tipo de mulher artificial, que parece só um corpo e não tem conteúdo.

— Ás vezes é melhor lidar com essas mulheres, ou melhor, com pessoas assim porque ao menos mostram de cara como são. Interesseiras. Ponto. Do que você conhecer alguém que acha interessante e no final acabar sendo uma decepção, nós temos uma vida muito tumultuada para ter um relacionamento sério com alguém, conhecer verdadeiramente então, esses tipos de relações tem mais peso na hora de decidir. – Ele falou. – Vocês também saem com caras artificiais. Não vejo diferença nesse ponto.

— Claro que existe, aparecem na vida de vocês muito mais mulheres assim. – Poncho ficou calado com o que Anahi disse por que era verdade e isso ele também não queria admitir porque era tudo exposto e simples demais em sua cabeça, o que complicava entrar nessa conta de atração e mulheres ou homens artificiais, eram os sentimentos.

— Estamos desviando do assunto principal, se me permite te aconselhar, não briga com ele depois. – Chegou ao ponto que queria falar com ela e só pela forma que Anahi fuzilou Poncho pela insinuação da camaradagem masculina, só por isso ele quis se explicar. – Não me interprete mal, só que não pode culpá-lo porque uma mulher esta dando em cima dele.

— Ele esta gostando, olha o sorriso dele. – Ela não pode deixar de mostrar com a mão rapidamente onde eles estavam e coincidiu que justamente nesse momento a mulher deu passo para ficar mais próxima dele e ele lhe brindou um sorriso.

— Não esta vendo que ele não quer nada com ela? – Ele falou e resolveu não deixar Anahi falar nada. – Ele esta sendo educado, sabe que ela esta cantando ele, mas se realmente a quisesse acha que ele teria essa postura, ainda mais aqui? Olha a linguagem do corpo dele. Pé apontado para fora do círculo, casualmente para onde estamos, os braços cruzados e a cabeça dele está parcialmente para trás. Ele esta evitando ficar perto dela, toma todo o cuidado de não se tocarem.

Anahi tinha que admitir que Poncho descreveu totalmente certa a cena, tal como se via. No caso com um olhar mais frio, já que ela só conseguia pensar que se Christopher quisesse num estalar de dedos teria tudo e um pouco mais dessa mulher, que se dizia fã da banda, mas desde que chegou só tinha olhos para ele. Tanto incomodada que resolveu se afastar.

— Por isso digo para não brigar com ele a toa. – Ele falou e depois bebeu mais do energético. – É um conselho meu não vale a pena, entende, e quem fica mal depois é você por perceber isso, ainda mais com a relação que vocês têm.

— Não temos nada. – ela se adiantou a falar sua fala quase automática como se tivesse representando na vida real. Poncho a olhou e soltou um riso, tomando o resto do energético porque representar era o que mais faziam em certos momentos, por outros motivos. E por isso ele sentiu vontade de rir ainda mais, a quem ela queria enganar?

— Não sentimos ciúme de quem não temos nada. – ele falou sabichão e ela ficou quieta, pois naquele instante não tinha resposta.

— É confuso na verdade. – disse algo que fosse mais próximo de uma resposta depois de buscar em sua cabeça, e o viu concordar com a cabeça ajeitando sua toca. - Deveria seguir seus conselhos. Sabia! – Ela lhe deu uma alfinetada por que não podia deixar essa oportunidade passar.

— Eu bem que tento, entretanto é bom entregar alguns para os outros. – Eles partilharam de um sorriso. – Afinal eu tenho muitos.

— Porque esta aqui falando comigo? – Ela o surpreendeu com essa pergunta depois de um tempo pensativos.

— Como? – Ele falou confuso, voltando pra realidade.

— Geralmente você esta falando com Pedro para saber das instruções ou aquecendo a voz com Christian, conversando com Maite ou as duas mais reais hipóteses, ou naquele semicírculo conhecendo aquelas que se dizem fãs— ela foi irônica ao falar e ele deu risada por isso – ou chateando Dulce. – E aí ela olhou para ele e viu a expressão mudar rapidamente para logo estar sereno de novo, aí tinha alguma coisa, podia sentir.

— Ah, pois... Quis vir para cá falar com você. No começo foi divertido fazer brincadeiras, mas pensei que me bateria então resolvi ser mais sério. – Ele não falaria mais nada além disso, porém ela sabia que algo tinha ver com Dulce, talvez tivesse com ciúmes dela também. Algo como sentir, mas não poder. – Como já falei o que queria, vou sentar um pouco. – Ele deu uma desculpa qualquer e saiu, Poncho era assim ás vezes, nesse momento ela o acompanhou com o olhar e viu que antes de se sentar ele deu uma olhada para onde Dulce estava numa roda com Charlie, Eddy e Gonzalo justamente esse a abraçava de lado. Ela soltou um riso ali sozinha pela ironia da situação e logo mais voltou a ficar pensativa.

Virou-se para a mesa e olhando as latas ali, não queria tomar mais nada, talvez nem comer também. Ela só queria ter algo para fazer em vez de ficar pensando bobagens ou pior sentindo.

Nesse instante sentiu dois braços a sua volta a apertando e então o corpo atrás de si se encostar para completar a ação. Pelo encaixe e especialmente pelo perfume ela prontamente reconheceu quem era. Ele. Antes que pudesse fazer qualquer coisa fechou os olhos sem se conter, então ele lhe deu um beijo estalado na bochecha e a soltou ficando ao seu lado.

Quando seus olhos se abriram e encaram de lado, o mesmo que Poncho estava há poucos minutos, Christopher lhe sorria e tudo voltou a tona justamente por causa do sorriso. Logo ela fechou a sua expressão para a seriedade e nem o perfume dele forte a faria esquecer ele sendo educado com sua .

— Amanhã nós vamos num restaurante típico da aqui da cidade, mas eu pensei que nós dois poderíamos sair do hotel um pouco antes e passarmos numa loja de roupas que fica no mesmo quarteirão. O que acha? – Ele tinha um tom despreocupado que mal sabia o que se passava na cabeça de Anahi.

— Eu não sei. – Ela manteve seu olhar para a mesa, por dentro enfrentando a si mesma entra tratar ele mal, mas saber que ele não tem culpa. Que não era da conta dela.

— Você recusando visitar uma loja? – ele usou um tom assombrado com uma mescla de brincadeira e por isso ela o encarou.

— Você vai sair com aquela mulher? – Ela foi mais direta com o rosto então contraído, a pergunta foi tão de repente que Christopher desencostou da mesa que estava apoiado, confuso momentaneamente até ver Anahi apontar com a cabeça onde antes ele estava.

— Não. – ele falou abruptamente e fez uma careta. – Ela é estranha e eu estou bem tranquilo, pra falar a verdade. E bem cansado também. – Ainda que o sentido fosse físico, ele sentia cansaço emocional e também sentia vontade de ficar na sua naquele momento.

Anahi ficou em silêncio absorvendo suas palavras e se lembrando da sua conversa anterior, virou o corpo para frente e então encarou o camarim agora só estavam o pessoal da produção, os músicos e os integrantes da banda. Relativamente uma zona de conforto para uma conversa.

— Eu sinto ciúme até dos seus sorrisos educados. – Ela soltou, por fim admitindo para a pessoa certa. E o encarou assim como ele tanto as palavras como ela o olhando profundamente, para alguém com a personalidade dela dizer assim era algo que no mínimo tinha que se prestar a atenção. E ele não falou nada apenas permaneceu a olhando porque entendia o que ela sentia e suas palavras e significado.

— Eu também tenho ciúmes de você. – Ele disse a sua verdade também, agora virando o corpo na direção dela porque queria ter essa conversa. – Ás vezes é complicado não ter, te vejo o tempo todo. E você é alguém que sempre chama a atenção. – ele sorriu dando os ombros olhando para ela de cima pra baixo, descaradamente, coisa que Anahi não pareceu se importar porque ela não moveu nenhum centímetro. Estava com a roupa da Celestial Tour para show que logo mais fariam, linda como sempre, porém um dos focos dele foi o cabelo. Novamente castanho grande assim como quando namoravam.

— Do que esta falando? Já se olhou no espelho. Você cortou o cabelo e por mais que eu sinta falta dos cachos você conseguiu ficar mais atraente. – ela se aproximou e passou a mão na cabeça dele e ele deu um sorriso de lado porque é a primeira vez que ela fala do cabelo dele realmente, além do “eu gostei” ou “ficou bom”. – Percebi o quanto agora que tem ainda mais mulheres atrás de você. – ela semicerrou os olhos.

— Como se fosse fácil controlar os caras que querem te pagar uma bebida e pedem para eu dar uma força para eles lhe conhecerem numa festa. – Ele fechou a cara porque já foram incontáveis ás vezes que passou por esta situação. – Logo para mim? – Ele apontou para si indignado. Arrancando um sorriso dela, com a situação mais leve, em sua cabeça estava preocupada com os seus sentimentos.

— Me responde uma coisa? – Ela quis aproveitar o momento favorável.

— Claro que sim.

— Porque ficou um pouco distante no meio da entrevista que demos assim que chegamos? – Ela tinha notado porque observar ele era um hábito, por mais que fosse ela quem estava à frente das respostas das entrevistas muitas vezes. Ele ficou olhando para ela como se avaliasse o que dizer, nisso um dos seus olhos piscou mais vezes que o normal e repetidamente, um tique dele.

— É que ás vezes é difícil de engolir quando você fala que somos como irmãos. Como trata do nosso namoro em frente às câmeras. – ele deu os ombros levantou uma das mãos e então coçou o seu maxilar. – Eu sei lidar melhor que antes até pelo tempo que passou, só que não consigo te encarar algumas vezes.

— Eu nunca te expliquei realmente por que eu faço isso. Talvez tenha ficado subentendido. – Ela deu um passo pra ficar mais próxima, era como se os dois estivessem num mundo próprio, porque todos estavam falando com alguém ou fazendo algo e sequer os olhavam estava tudo propício para falarem. – Eu não gosto do tom que eles usam, algumas vezes, ou seja, ao insinuar algo para os fãs ou com relação ao nosso namoro, eu tenho um caso de amor e ódio com a imprensa. Tudo isso você sabe. Só que tive que adotar uma máscara de indiferença para que eles pelo menos pensassem que não me importava, para não cutucarem mais minha ferida. Meu relacionamento com você não tem que ser manchete de nenhum programa matinal de entretenimento, nem de fãs que colocam em nós suas expectativas a de um amor imaginado. Na vida real sou eu que tenho que encarar meus sentimentos e lamber minhas feridas, demorei em conquistar sua confiança e não quero perder ela por pessoas alheias e fúteis. – Parecia que todos os sentidos de Christopher estavam voltados para Anahí a medida que as palavras saiam. – Por vezes eu sou um tanto orgulhosa com você pela forma como tudo se deu, em ver que o menino que eu conheci se tornou o homem que convive diariamente comigo, que me conhecem como ninguém. Eu adoto uma máscara de menosprezo porque talvez essa seja a melhor forma de me proteger dos demais que querem me atingir.

— Como é diferente imaginar isso tudo e então você dizer. – foi o que ele comentou, saberia que agora para frente ele pensaria no que ela havia lhe dito e veria tudo em outra proporção.

Ela buscou o pulso dele e acariciou suavemente para voltar a falar.

— Não é que não te respeite, ou respeitasse a relação que tivemos, é só a forma mais fácil de fugir. Sabe que apesar de toda minha armadura eu demonstro em detalhes o que sinto realmente.

Ele deu um sorriso de lado porque inconsciente aprendeu a ler essa linguagem torta dela. Como o carinho que fazia agora, ou como se portava em algumas entrevistas cada implicância, ou das poucas vezes que estavam em casa e fazia-o ir lhe visitar em casa porque sentia sua falta. A Anahi real estava ali na sua frente. E por isso ele lhe puxou para um abraço e que prontamente ela se alinhou em seus braços manhosa como muitas vezes, como ainda seria. Agora ele entendia algumas atitudes dela, como antes ela entendia certas atitudes dele, a discrição, vencer o medo de reaproximar dela para prevalecer o contato que ambos não queriam que fosse extinto.

Ele deu um beijo no topo da sua cabeça e ela soltou um suspiro sobre o seu peito.

— Eu sou completamente louco por você. – ele falou baixo pra ela escutar e quando ela se afastou o suficiente para olhá-lo. – Como irmão é claro. – ele brincou.

Além do tapa recebido os dois deram risada da piada. E ele voltando à seriedade fez com que ela também voltasse, agora abraçados e se encarando.

— Apesar de ser diferente a minha armadura, sempre que eu puder vou abaixar a guarda para você. Em qualquer aproximação tua porque pra você pode e porque eu também - um tom quase num sussurro grave que ela pensou em ter imaginado – te – e voltou a um tom mais audível - quero.

Ela entendeu o que ele mais quis dizer, a maior definição, além da preservação da amizade que tinham, ele não precisava colocar em palavras exatas e mais específicas. Por isso ela lhe presenteou um sorriso e ele também lhe sorriu e ela o vendo assim sem nenhuma máscara viu algo sincero, nada educado, mas um presente do que aquilo representava para ambos. Assim sem mais nem menos como em uma história contada no cinema em meio a diversas releituras desse clássico, ela lhe deu um beijo demorado estalado no canto da boca, como a Wendy deu ao Peter Pan seu dedal, ou melhor, seu beijo escondido.